Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Reflexão
Paulo Cardozo Costa*
De oculta fonte provinda Inaudita força portando Instala-se no vácuo, abstrata, Grandiosa missão programada A criar o que não existia Dando início a todas as coisas Respeitando beleza e harmonia
Lançando as sementes da vida Por todo o orbe, exultante, Vibra de amor e desejo De ver concluída a façanha E com arrojadas medidas Propagar-se obra tamanha Nas formas já consentidas
Inicia-se, então, a tarefa Povoa-se o espaço em aberto Produz-se milhões de estrelas Todo universo é coberto Mantendo forma e textura Seguindo as mesmas premissas Variando só a moldura
Partindo das formas mais simples Buscando o desenho perfeito A perfeição é a meta Do já traçado conceito: Do pouco notado verme Em marcha constante, correta, Ao gigante paquiderme
No solo já preparado A vida toma suas formas Viceja tênue a gramínea Sobeja o gigante carvalho Povoando todo o recanto Formosa e pujante verdura Faz do solo seu manto
É grande a labuta, se sabe. Mas grandiosa é sua missão É obra que nunca termina E que consolida a razão Não há obra em segredo Apenas se espera a ocasião Pois não há nem tarde nem cedo
Traçados os paralelos Do orbe em construção Busca-se a parte mais bela Obra prima da criação E moldada é a espécie Que vem coroar com orgulho A tão sagrada missão
Fisicamente perfeito Capaz de vencer qualquer travo E executar qualquer feito É sensível e um bravo Movido por seu tirocínio Dotado de força e razão Já despreza qualquer patrocínio
E investe com galhardia Sem consultar a razão Pressupondo-se com autonomia Para ditar os caminhos Que o levem à consagração Porém, os percalços à frente O conduzem à meditação
A criadora que ao mundo Tal criatura gerou Sofre agora por seu feito Não sabendo onde errou De agonia é sua voz Sua obra mais perfeita É agora seu algoz
Calcada em seus estertores Combalida e mal resistente Suplica por atenção Ainda no tempo presente Pois apesar de sua pujança Ante o que à frente vislumbra Resta-lhe pouca esperança
* Nascido em Alegrete, RS, no ano de 1935, mudando-se para Porto Alegre aos dois meses de idade. Em 1999 mudou-se para Canela, onde reside atualmente. É casado, tem dois filhos e quatro netos. O pai era mestre de música, com quem estudou, além de desenho e pintura. Quando adolescente fazia histórias em quadrinhos para vender. Aos l4 anos fundou com amigos um jornal que durou alguns meses. Colaborou em jornais escolares enquanto estudante. É formado em contabilidade e estudou ciências econômicas até o segundo ano. É aposentado da Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Faz da Literatura, mais lendo que escrevendo, seu passatempo favorito. E-mail para contato: paulo.cardozo2011@terra.com.br
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