Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2018 (Nº 42) RELEVÂNCIA DE SE TRABALHAR O USO CONSCIENTE DE AGROTÓXICOS NO CURSO DE GRADUAÇÃO EM AGRONOMIA
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RELEVÂNCIA DE SE TRABALHAR O USO CONSCIENTE DE AGROTÓXICOS NO CURSO DE GRADUAÇÃO EM AGRONOMIA

 

 

 JOSELI VIVIANE DITZEL NUNES

FACULDADE ASSIS GURGACZ E UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ

joselinunes@yahoo.com.br

 

DANIELA MARTINS SIMÕES

FACULDADE ASSIS GURGACZ

daniela@fag.edu.br

 

 

Engenheira Agrônoma, Especialista em Docência do Ensino Superior, Mestranda em Engenharia Agrícola – UNIOESTE – Cascavel/PR, Joseli Viviane Ditzel Nunes, Rua Universitária nº 2060, Bairro Universitário, Cascavel/PR. (45) 99175204, joselinunes@yahoo.com.br

 

 

Graduada em Filosofia com habilitação em História, Especialista em Metodologia do Ensino e Mestrado em Filosofia, atualmente Professora titular da Faculdade Assis Gurgacz – FAG – Cascavel/PR, Daniela Martins Simões, Avenida das Torres nº 590, Bairro Santa Cruz, Cascavel/PR. (45) 33213964, daniela@fag.edu.br

 

 

 

RESUMO

 

O homem desenvolve atividades agrícolas desde o princípio de sua existência para sanar uma de suas necessidades básicas, que é a alimentação. Um método utilizado para obter melhores resultados de suas produções agrícolas e alcançarem maiores produtividade é a utilização de produtos químicos, conhecidos popularmente como “agrotóxicos”. Esses produtos podem beneficiar as lavouras impedindo o ataque de pragas, controle de doenças e de plantas indesejadas, mas, também podem trazer riscos à população como doenças crônicas e agudas e em muitos casos levando até a morte, bem com prejudicarem grandemente o meio ambiente. Os professores do ensino superior de graduação do curso de agronomia podem contribuir de forma muito importante para uma mudança de visão e comportamento de seus alunos, pois nos currículos das diversas instituições destas graduações encontram-se disciplinas voltadas plenamente para este enfoque. Este trabalho teve o objetivo de mostrar a importância destas questões, e que estas disciplinas podem ser trabalhadas com consciência e um pensamento voltado para o equilíbrio que sempre deve haver entre o homem e o meio ambiente.

 

Palavra chave: produtos químicos, conscientização, meio ambiente.

 

 

 

Introdução

 

            Desde o início da existência do homem, este teve que cultivar seu próprio alimento para suprir suas atividades físicas, passando assim a utilizar todos os recursos naturais que tinha a sua disposição.

            Com o passar do tempo sentiu necessidade de aumentar sua produção, utilizando novas tecnologias, novas alternativas, novos produtos como os agrotóxicos que beneficiam a lavoura controlando ataque de pragas, doenças e plantas indesejadas na cultura.

            Apesar do uso destes produtos beneficiarem a produção agrícola, a utilização de  forma descontrolada e muitas vezes sem consciência, passou a trazer sérios riscos para o meio ambiente, e para a população que de forma direta ou indireta entra em contato com estes produtos.

            A cada momento se faz necessário uma conscientização quanto ao uso destes produtos e um desenvolvimento maior da educação ambiental, e as universidades não só podem como devem fazer parte desta nova postura perante o mundo.

            Com estes argumentos percebe-se a importância de se destacar a importância do professor de agronomia, que pode orientar, moldar, desenvolver nos alunos do curso de graduação uma mentalidade mais crítica, pensante e consciente com a visão de obter boas produções visando sempre a sustentabilidade.

            Este trabalho tem como objetivo mostrar que o ensino superior, de acordo com suas diretrizes curriculares, e várias disciplinas que tratam de assuntos voltados para o meio ambiente, pode contribuir grandemente para esta mudança de consciência que viria a beneficiar a todos no planta.

                                                                                  

Agrotóxicos e sua utilização

            Desde os primórdios da vida humana, em se tratando de agricultura o homem passou de coletor a produtor, e as atividades de produção dos alimentos necessários a sua sobrevivência foram baseadas nos recursos naturais disponíveis internamente em cada ecossistema (Cavallet, 1999).

Em decorrência do crescimento da população, fez-se necessário aumentar a demanda de alimentos, e para isto o homem procurou novas alternativas para desenvolver tanto quantitativamente e qualitativamente os produtos agrícolas, para tanto foram desenvolvidas novas técnicas de plantio, aprimoramento de equipamentos e desenvolvimento de agroquímicos (Santos, 2009).

Agrotóxicos são produtos que agem tanto em processos físicos, químicos ou biológicos, utilizados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento, tendo a finalidade de preservar a flora e a fauna da ação danosa de seres vivos considerados nocivos, podendo atuar desde os setores de produção, armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas (Lei Federal 7.802 de 11.07.89).

Os agrotóxicos segundo Naidin (1985), também pode ser definido como produto químico que possui efeito seja ele de atração, repulsão, prevenção ou eliminação sobre ervas daninhas, micróbios, insetos, ácaros e outros, que se tornam nocivos à cultura agrícola e seus produtos.

O uso destes produtos começou por volta dos anos de 1920, e durante a Segunda Guerra Mundial, onde estes foram utilizados até mesmo como arma química (Leite e Torres, 2008).

Em 1938 Paul Muller descobriu as propriedades inseticidas do organoclorado DDT, embora sua síntese tenha ocorrido em 1874, sua difusão se deu no processo de expansão industrial durante a II Guerra Mundial. Até então as técnicas de combate às pragas, doenças e ervas daninhas consistiam no uso em pequena escala de produtos inorgânicos (derivados de chumbo, mercúrio, arsênico, enxofre, cobre e outros de origem vegetal), além de práticas de controle biológico pelo manejo integrado de agentes ou fatores antagônicos (Futino e Filho, 1991).

O Brasil, bem como outras economias capitalistas nas décadas de 1960 e 1970, adotou um pacote tecnológico de modernização na agricultura, conhecido como “Revolução Verde” que tinha como objetivo a expansão na agricultura e o fortalecimento da industrialização. Neste período, mais precisamente em 1965, foram implantados pelo Governo Federal o Sistema Nacional de Crédito Agrícola, e em 1975 foi criado o Programa Nacional de Defensivos Agrícolas, procurando trazer novas tecnologias que estavam surgindo no mercado internacional no ramo da química (Terra e Pelaez, 2008).

O Estado do Paraná também passou a fazer parte deste modelo de crescimento a partir de 1970, esta modernização foi percebida através de uma grande expansão de uso de defensivos, fertilizantes e com a instalação de indústrias de máquinas e equipamentos agrícolas, contou-se também com o auxílio do Governador Pedro Parigot de Souza e sua equipe quando assumiu o comando em 1972, pois adotaram medidas que buscavam modernizar a agroindústria paranaense favorecendo a criação de emprego e renda no Estado (Izepão, 2008).

Segundo Terra e Pelaez (2008), entre os anos 2001/2004 o faturamento das indústrias de agrotóxicos no Brasil cresceram 96% atingindo o valor faturado de US$ 4,495 bilhões, o ano de 2006, foi o de maior consumo com marcas de 718.836 toneladas de produto consumido, e concluíram que de forma geral nos anos de 2001 a 2007 o grau de concentração das indústrias de agrotóxicos no Brasil foi elevado, assim como o aumento no consumo, e no

faturamento do mercado das mesmas.

De acordo com Filho (2011), hoje o Brasil lidera o ranking de países que usam agrotóxicos para incrementar a produção agrícola, pois na última safra o país consumiu um bilhão de litros de agrotóxicos, equivalente a um consumo anual de cinco litros de produto por cada cidadão brasileiro.

            Apesar do uso de agrotóxicos beneficiarem muitos produtores rurais, com o aumento expressivo da produtividade e da produção de suas áreas cultivadas, o uso indiscriminado destes produtos produziu sérias consequências ao meio ambiente e aos trabalhadores rurais do estado do Paraná, pois muitos podem ter sua saúde prejudicada por práticas com estes produtos sem as devidas precauções (Natali e Izepão, 2011).

            O uso indiscriminado de agrotóxicos em todo o mundo tem gerado grandes impactos negativos para o meio ambiente e para saúde humana, pois as estimativas realizadas pelas agências internacionais de saúde indicam que não só problemas de intoxicação aguda determinadas pelo contato direto com produtos tóxicos podem levar a morte, mas também, e principalmente problemas crônicos causados pelo contato direto, como, indireto com produtos de baixa toxidade e por tempo prolongado (Trapé, 2003).

            Para Mengel et al.,(2007), a saúde da população exposta a estes produtos químicos refletem a altos índices de intoxicação e morte, que pode ser por exemplo pelo contato como a ingestão de alimentos que possuem resíduos  destes,  já os problemas ambientais são expressos por solos  e águas superficiais e subterrâneas contaminadas, extinção de insetos, aves e outras espécies desestruturando cadeia alimentares.

 

           

Meio ambiente e os agrotóxicos

De acordo com Abreu (2008), vivemos numa época onde acontecimentos estranhos ou fatos inusitados acontecem em relação ao clima e o aparecimento de problemas nas áreas produtivas, devido a influencias e práticas maléficas que a humanidade resolveu seguir. Deixamos o planeta fraco e doente, pois usamos praticas danosas, provocando a ira da natureza. Sendo tal a importância de uma mudança de rumo, através de programas capazes de promover a educação ambiental e praticas que visem a sustentabilidade diminuindo assim os impactos das nossas atividades ao ecossistema.

Para Mateus et al., (2011), o meio ambiente e o homem estão intimamente relacionados, sendo de vital importância uma abordagem mais ampla e transversal da educação ambiental nas escolas, nas casas e na comunidade em geral, formando assim uma consciência capaz de minimizar os impactos provocados pelo ser humano.

Ao longo das últimas três décadas, o meio ambiente vem sofrendo uma série de intervenções, como a implantação de grandes empreendimentos turísticos, desmatamento, poluição nas mais diversas formas, que colocam em risco toda a vida do planeta haja vista os últimos acontecimentos referentes às mudanças climáticas que vem ocorrendo de forma gradativa sobre todo o planeta (Almeida, 2009).

Na atual sociedade que vivemos, cada vez mais vemos a necessidade de uma visão de mundo que permita ao ser humano agir socialmente, minimizando os efeitos danosos ao ambiente natural, esta visão deve ser construída a partir de uma concepção de educação norteada pelas questões ambientais, promovendo a formação de indivíduos ambientalmente solidários, através a aproximação da prática pedagógica pelo processo de construção do conhecimento (Araújo, 2004).

Mais do que uma ação educativa a Educação ambiental deve ser permanente, formadora de consciências e reflexiva, voltada para a realidade global e as relações dos indivíduos com o meio ambiente. Pode ser tratada também como uma temática interdisciplinar, importante e necessária dentro do contexto de sala de aula, proporcionando uma postura crítica e participativa dos alunos em relação a suas ações alternativas e proteção da natureza (Moura e Lira, 2011).

 

Importância da Educação Ambiental

Para Carvalho (2001), um dos objetivos da educação é desenvolver valores ambientais, não apenas adquirindo informações, mais fazendo com que o aluno tenha uma aprendizagem ativa, construindo novos sentidos e nexos para a vida, para tanto este processo envolve transformação do indivíduo e uma nova postura sobre o mundo.

Segundo Prado et. al., (2009), a universidade com função de ser promotora da educação superior em diferentes níveis de conhecimentos busca promover ações que incrementem iniciativas da educação ambiental, portanto atividades voltadas para resgatar o papel social de cada um, o seu papel de integração da comunidade assim como auxiliar e fomentar a produção de insumos para a melhoria da qualidade do ensino, sobretudo no que diz respeito à promoção da educação ambiental de maneira transversal.

Mesmo com a aprovação da Lei Nº 9.795 de 27 de abril de 1999, que institui a Política Nacional de Educação Ambiental no Brasil, a educação ambiental (EA) sendo um componente essencial e permanente da educação nacional, e deve estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, ainda assim, a maioria das escolas ainda não consegue implementa-la. (Prado et. al., 2009).

A educação ambiental é interdisciplinar e deve envolver a responsabilidade de todos (Mateus et al., 2011; Santos 2011), a interdisciplinaridade se faz necessária no âmbito escolar e no processo de desenvolver uma relação entre várias disciplinas, fazendo com que cada uma dê um suporte de conhecimento e auxílio na compreensão mais eficaz das mesmas.

Segundo Leff (2000), quanto à interdisciplinaridade:

A interdisciplinaridade implica assim um processo de inter-relação de processos, conhecimentos e práticas que transborda e transcende o campo da pesquisa e do ensino no que se refere estritamente às disciplinas científicas e a suas possíveis articulações. Dessa maneira, o termo interdisciplinaridade vem sendo usado como sinônimo e metáfora de toda interconexão e “colaboração” entre diversos campos do conhecimento e do saber dentro de projetos que envolvem tanto as diferentes disciplinas acadêmicas, como as práticas não científicas que incluem as instituições e atores sociais diversos. (LEFF, 2000, p.22).

A interdisciplinaridade pode ser entendida como uma alternativa para superar a atomização do conhecimento humano e superar a cartorialização do ensino, levando o conhecimento com vida e possibilitando a transformação, sendo necessário então, que seja um processo de reflexão e determinação continuada, numa constante troca de idéias, comunicação de experiências, estudos e sistematização das ações dos profissionais que trabalham juntos (Lück 1994).

 

A relação do meio ambiente com a agronomia

A origem da palavra agrônomo se deu em Atenas, e designava o magistrado encarregado da administração da periferia agrícola da cidade, anos 1300.  Na Europa, e na França, o termo agrônomo surge nos dicionários a partir de meados dos anos 1700, com o sentido de “técnico que entende de agricultura” ou “aquele que escreve sobre agronomia”. Nesta época surge também a expressão “agricultor físico” para designar o agrônomo, o termo “físico” significando “aquele que estuda cientificamente a natureza” (Almeida, 2004).

A agronomia é um ramo das ciências naturais, e tem atribuição de estudar cientificamente o desenvolvimento da agricultura, pensando em suas relações, buscando soluções, e avanços para esta atividade, com base em um saber científico, porém, dentro da filosofia do sistema capitalista (Cavallet, 1999).

A ciência da agronomia em âmbito internacional tem o objetivo central de produzir mercadorias agrícolas em quantidade suficiente para abastecer as demandas de uma sociedade que se urbanizava, portanto desenvolveu-se influenciada pela indústria capitalista que, visualizando na agricultura grandes oportunidades de crescimento, investiu neste desenvolvimento tecnológico para o setor, segundo Cavallet (1999), já a agronomia no Brasil teve ligação aos interesses da aristocracia agrária, que buscava, através da modernização tecnológica, superar as dificuldades conjunturais para a tradicional lavoura de monocultura de latifúndios, naquele momento fortemente representado pela cana-de-açúcar, com predominância da mão-de-obra escrava que aqui era praticada.

 

Função do professor no Ensino Superior

O relatório da UNESCO (2006), da Comissão Internacional sobre educação para o Século XXI, comenta que a ação do professor deve ser norteada pelos quatro pilares da educação superior contemporânea, os quais são: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser.

Discutindo ainda sobre a importância da maneira de como deve ser o agir pedagógico dentro desta nova caminhar da educação Rios (1999) escreve que:

 

(...) o saber fazer bem tem uma dimensão técnica, a do saber e do saber fazer, isto é, do domínio dos conteúdos de que o sujeito necessita para desempenhar o seu papel, aquilo que se requer dele socialmente, articulado com o domínio das técnicas, das estratégias que permitam que ele, digamos, “dê conta de seu recado” em seu trabalho. (RIOS, 1999, p.47)

 

            Devido a estas muitas transformações que estão ocorrendo no mundo, faz-se necessário desenvolver autonomia nos alunos, para que estes venham a aprender a aprender, resultando na reflexão, na análise na tomada de decisões consciente do que sabe e a mudar de conceitos seja para processar novas informações, seja para substituir conceitos adquiridos no passado e adquirir novos conhecimentos (Dos Santos, 2006).

            Pode-se afirmar que a capacitação científica não é necessariamente sinônimo de capacitação docente, pois não basta o domínio da ciência e da metodologia de sua investigação, é importante a habilidade de relacionamento professoral, da capacidade de transmitir conhecimentos , de estimular a criatividade e de provocar no aluno, o espírito de dúvida, da criatividade e da busca do novo. Esse conjunto de habilidades é que dá ao cientista a possibilidade de ser chamado de "professor" (Barros e Selva, 1993).

A função do professor é fundamental importância, pois deve informar e orientar o aluno da melhor forma possível, sobre a atual relação do ser humano com a natureza e como ele pode atuar para modificar essa relação, transformando o meio ambiente em algo melhor, pois, como diz Freire (1983), a ideia de conhecimento necessita que o sujeito participe do mundo ao seu redor, requer sua modificação perante a realidade, exige a reflexão crítica.

O professor do curso de agronomia tem papel muito importante na formação dos futuros profissionais, pois estes continuam sendo peça importante na adoção de modelos de produção e de desenvolvimento agrícolas. No entanto a formação destes profissionais é ainda muito restrita ao foco do tecnicismo e do produtivismo, e assim carente de reflexão crítica da realidade e em relação às contradições da tecnologia, o que o leva a pouca abertura para outros formatos e perspectivas tecnológicas (Mengel et. al., 2007).

Com certeza, paira entre muitos professores e estudantes questionamentos sobre a formação acadêmica, e estes expressam a permanente busca de um ideal, inatingível, muitas vezes, mas que estimula o repensar e o contínuo aperfeiçoamento. Existe também uma inquietude em saber qual o perfil mais adequado do profissional que queremos formar, para quê e para quem estamos formando, é plenamente compreensível num país de tantas desigualdades sociais e regionais (Maia e Rombaldi, 2001).

Segundo Coll (1996), o currículo para o professor é o projeto que preside as atividades educativas escolares, define suas intenções e proporciona guias de ação adequadas e úteis, sendo assim, o currículo é o elo entre a declaração de princípios gerais e sua tradução operacional, entre a teoria educacional e a prática pedagógica, entre o planejamento e a ação, entre o que é prescrito e o que realmente sucede nas aulas.

Muito diferente do que ocorre nos níveis básicos de educação, os trabalhos de estudos específicos sobre currículo no ensino superior são escassos, e pela característica de profissionalização, que domina a graduação, os poucos estudos existentes tratam de determinadas profissões e ficam limitados a análises de conteúdos e formas de grade curricular (Cunha,1992; Paraíso, 1994).

De acordo com as diretrizes curriculares propostas pelo Ministério da Educação para as unidades de ensino da área das Ciências Agrárias, o desenvolvimento de suas atividades, referenciadas num Projeto Pedagógico, deverá nortear-se para a construção do saber, respaldando-se na indissociabilidade entre o ensino, a pesquisa e a extensão, em consonância com a missão das Instituições de Ensino Superior, no atendimento às demandas da sociedade (Maia e Rombaldi, 2001).

De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Engenharia Agronômica ou Agronomia o perfil desejado do formado é:

 

O profissional egresso de um Curso de Engenharia Agronômica ou Agronomia deverá ter sólida formação científica e profissional geral que os capacite a absorver e desenvolver tecnologias; tanto o aspecto social quanto à competência científica e tecnológica que permitirão ao profissional atuação crítica e criativa na identificação e resolução de problemas, considerando seus aspectos políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais, com visão ética e humanística, em atendimento às demandas da sociedade. O formando deverá estar apto a compreender e traduzir as necessidades de indivíduos, grupos sociais e comunidade, com relação aos problemas tecnológicos, sócio-econômicos, gerenciais e organizativos, bem como utilizar racionalmente os recursos disponíveis, além de conservar o equilíbrio do ambiente (MEC, 2011).

 

Ainda de acordo com estas Diretrizes a graduação em Engenharia Agronômica ou Agronomia busca desenvolver no aluno competências e habilidades para garantir a coexistência entre teoria e pratica, para isto os conteúdos curriculares devem ser distribuídas em três núcleos: núcleo de conteúdos básicos, núcleo de conteúdos profissionais essenciais e núcleo de conteúdos profissionais específicos.

Sendo importante destacar que o núcleo de conteúdos profissionais essenciais é composto por campos de saber destinados à caracterização da identidade do profissional, podem-se destacar algumas disciplinas como, Ética, Manejo e Gestão Ambiental, Legislação, Sistema–Agroindustrial, Tecnologia de produção e outros, que são relevantes para o aprendizado e a formação de pessoas conscientes, críticas e preocupadas com o meio ambiente como um todo.

Normalmente os cursos de graduação do Brasil são constituídos por unidades dispersas que são agrupadas administrativamente numa grade curricular, e para Coelho (1994), o máximo que se consegue nestes cursos é repassar aos alunos informações isoladas, treinar algumas de suas habilidades, adestrá-los com mão-de-obra, mas dificilmente será possível, formá-los intelectualmente, ensiná-los a pensar, questionar, compreender o real enquanto totalidade concreta e possível de ser recriada.

Segundo Fleury e Fleury (1995), a formação do engenheiro agrônomo deve ser compatível com sua atuação como agente transformador, adequadas ao tempo e a situação, e viabilizadas proativamente pela efetividade na ação e na produção de conhecimentos.

De acordo com as novas tendências sociais e econômicas é exigida uma maior coerência e integração dos profissionais e das comunidades e seu meio ambiente, proporcionando contribuições que venham repercutir de forma positiva tanto no ambiente acadêmico como no ambiente profissional (Almeida, 2009).

Neste novo século se faz presente a necessidade do professor de agronomia modificar suas abordagens, onde se deve conceber uma nova teoria para a exploração e conservação da natureza, compatível com a existência de habitantes moradores do planeta Terra, portanto, é necessário fazer uso de novos conceitos, de uma linguagem nova, com regras e atitudes novas, e levar em conta, de maneira séria e consequente, tudo que até agora foi negligenciado.

 

Conclusão

 

            Verifica-se que a busca por maiores quantidades de alimentos se faz a cada momento, e para tanto, utiliza-se meios como o uso de produtos químicos que auxiliam neste processo. O problema é que muitas vezes a utilização destes produtos pode ficar sem controle e desiquilibrada trazendo mais malefícios do que benefícios a todos que se beneficiariam dela.

            Portanto faz-se necessário destacar a relevância do professor de agronomia, que pode contribuir grandemente com esta mudança de consciência em seus alunos, trabalhando as várias disciplinas que são de sua responsabilidade uma forma diferenciada de ver o mundo, o ser humano, suas necessidades e sua relação com o meio ambiente, e mostrando que o homem e o ambiente podem voltar a viver em equilíbrio novamente como no princípio.

             

Referências

 

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Ilustrações: Silvana Santos