Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2018 (Nº 42) O USO DE ESTRATÉGIAS DIDÁTICAS DIFERENCIADAS SOBRE A TEMÁTICA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO MÉDIO NUMA PERSPECTIVA FORMATIVA
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O desenvolvimento de valores e competências necessários a formação ambiental crítica por meio de estratégias didáticas de ensino no ensino médio

O USO DE ESTRATÉGIAS DIDÁTICAS DIFERENCIADAS SOBRE A TEMÁTICA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO MÉDIO NUMA PERSPECTIVA FORMATIVA

Eliander Antônio Costa e Rita de Cássia Frenedozo

Mestrando em Ensino de Ciências, Universidade Cruzeiro do Sul, São Paulo, SP.

e-mail: elianderantonio@yahoo.com.br

Professora titular do Curso de Pós-graduação em Ensino de Ciências, Universidade Cruzeiro do Sul, São Paulo, SP.

 e-mail: rita.frenedozo@cruzeirodosul.edu.br

Resumo

O presente artigo trata de uma pesquisa de caráter qualitativa, que teve como objetivo verificar a eficácia educacional de estratégias didáticas diferenciadas em turmas dos primeiros anos do ensino médio em aulas de biologia.  O assunto abordado foi educação ambiental numa perspectiva formativa. O interesse pelo assunto se deu em virtude da necessidade cada vez mais urgente de  formar cidadãos conscientes frente às questões ambientais que assolam o planeta. Após os resultados de uma pergunta diagnóstica aplicada aos alunos sobre educação ambiental,  percebeu-se a necessidade de se trabalhar o tema numa perspectiva formativa. Para tal foram utilizados o  quadro e trechos de revistas,  não se observando  resultados satisfatórios  com estes recursos  numa determinada turma (B). Pensamos assim em trabalhar um filme e um poema na referida turma, como estratégias didáticas diferenciadas para que pudéssemos alcançar os anseios e expectativas dos alunos.

Percebeu-se que as estratégias didáticas diferenciadas se constituíram em importantes instrumentos pedagógicos não só para o desenvolvimento de valores e competências para a formação de cidadãos mais conscientes, mas também um aporte poderoso para estimular alunos desinteressados a tornar sujeitos de suas próprias aprendizagens.

Palavras chave: Educação ambiental,  estratégias didáticas.

 

Summary

 

This article is a qualitative research study, which aimed to determine the educational effectiveness of different teaching strategies in classes of first year students in biology classes. The subject matter was environmental education in a formative perspective. The interest in this subject occurred due to the increasingly urgent need to train people aware face to environmental issues plaguing the planet. After the results of a diagnostic question applied to students on environmental education, it was realized the need to work on this subject in a formative perspective. For this we used the picture and excerpts from journals, no satisfactory results were observed with these resources in a given class (B). We work well in a movie and a poem in that class, as differentiated teaching strategies so that we could achieve the aspirations and expectations of students.

It was noticed that the differentiated teaching strategies were constituted in important educational tools not only for developing values ​​and skills to train citizens more aware, but also a powerful contribution to encourage students to become disinterested subjects of their own learning.

Keywords: environmental education, teaching strategies.

 

Introdução

 

Diante da complexidade dos problemas sociais e ambientais que ora vivenciamos e da necessidade da construção de uma sociedade mais justa, solidária e humana é de vital importância que os cidadãos tomem consciência de que a harmonia e o equilíbrio entre os interesses humanos e a exploração dos recursos naturais só se darão com tomadas de atitudes e comportamentos que não apenas sejam condizentes com os princípios básicos de educação ambiental, mas que nasçam de uma reflexão profunda do  “eu” de cada um. Nesse sentido, o processo educativo torna-se fator essencial, constituindo-se, predominantemente, a partir de experiências educativas que facilitem a percepção integrada do ambiente, percepção de que ser humano é natureza, e não apenas parte dela. De acordo com Guimarães (2005), ao assimilar essa visão (holística), a dominação do ser sobre o ambiente perde o seu valor, podendo resultar em atitudes harmoniosas tanto individuais como coletivas, por parte do ser humano, que possibilitarão, segundo Dias (1999), uma "ação mais racional e capaz de responder às necessidades sociais" (p. 107).

O processo educativo, nesse contexto, deve ser planejado e vivenciado no sentido de possibilitar, aos indivíduos, uma compreensão, sensibilização e ação que resulte na formação de uma consciência da intervenção humana sobre o ambiente, que seja ecologicamente equilibrada. Para isso, espera-se que o mesmo seja conduzido no sentido de possibilitar a formação de um pensamento crítico, criativo e conectado com a necessidade de propor respostas para o futuro, capaz de analisar as complexas relações entre os processos naturais e sociais e de atuar no ambiente em uma perspectiva global, respeitando as diversidades socioculturais. Isso requer um pensamento crítico com relação à Educação Ambiental e, portanto, a definição de um posicionamento ético-político, "situando o ambiente conceitual e político onde a educação ambiental pode buscar sua fundamentação enquanto projeto educativo que pretende transformar a sociedade" (CARVALHO, 2006, p. 158).

Portanto, para se promover uma educação cidadã, que possibilite uma mudança social libertadora, como também a formação de cidadãos e cidadãs com capacidade para participarem da tomada fundamentada de decisões e que sejam comprometidos com as questões ambientais, faz-se necessária uma nova proposta educativa, centrada na conscientização, na mudança de atitude e nas práticas sociais, no desenvolvimento de conhecimentos, na capacidade de avaliação e na participação dos educandos.

Com relação ao ensino de Ciências, Cachapuz et al (2002) consideram importante possibilitar ao aluno a condição de cidadão ativo. O ensino de Ciências tem de desempenhar papéis e partilhar responsabilidades para mudar o atual quadro de crise ambiental. Para isso, é necessário que mais do que informação e conceitos, a escola se proponha a trabalhar com atitudes, com formação de valores, como nos assinalam os Parâmetros Curriculares Nacionais, PCN (BRASIL, 1998a), e nas novas orientações para o Ensino de Ciências (BRASIL, 2004).

Objetivos

a)Investigar o conhecimento dos alunos sobre educação ambiental

b)Avaliar estratégias de ensino nas aulas de Biologia.

Um pouco do histórico da E.E “Professora Anilza Pioli”, bem como da clientela por ela atendida.

Segundo informações da direção atual, a E. E Professora “Anilza Pioli” há muito tempo funcionou num galpão, mas com esforço da professora Anilza Pioli, conseguiram junto ao estado de São Paulo um espaço próprio para a construção da escola. Mas a referida professora morreu de câncer tão logo conseguiu seu objetivo, sendo assim como forma de homenageá-la a escola tem seu nome. A escola situa-se à Rua Vale do Sol s/nº, no bairro Cohab Brazilândia, zona norte de São Paulo- SP. Trata-se, no entanto, de uma região periférica, a clientela, com raríssimas exceções, demonstra pouca expectativa com relação ao poder da educação para mudar a realidade socioeconômica a qual se encontram. Sendo assim a gestão enfrenta sérios problemas com relação ao vandalismo, a predação do espaço público, a indisciplina e outros problemas afins. O presente artigo foi fruto do trabalho de estágio supervisionado na referida escola, sendo este um dos pré-requisitos para a qualificação no curso de mestrado em Ensino de Ciências da Universidade Cruzeiro do Sul.

Metodologia

A metodologia consistiu inicialmente na aplicação de uma pergunta  a  turmas  dos primeiros anos (A, B e C) do ensino médio  da E. E “Professora Anilza Pioli” relacionada à percepção que os alunos tinham sobre o termo educação ambiental. A pergunta foi a seguinte: Qual a percepção que você tem a respeito da temática Educação  Ambiental? As respostas à pergunta diagnóstica mostraram que 91% dos alunos relacionaram educação ambiental a preservação, conservação, e respeito à natureza, ou seja, as  respostas deixaram transparecer que Educação Ambiental é algo fora do sujeito, 9% relacionaram a educação ambiental a possibilidade de se desenvolver nas pessoas valores e competências para harmonizar o convívio dos seres vivos com os recursos naturais, resultado este que guarda relações estreitas com a formação de sujeitos conscientes capazes de atuar de modo inteligente no meio em que vive.  É plausível pensar que apenas uma pergunta seria insipiente para verificar a percepção dos alunos  acerca do tema “ Educação Ambiental”, mas ao considerarmos os passos da pesquisa, principalmente no que concerne as estratégias didáticas que promoveram a inclusão dos alunos alheios aos assuntos trabalhados em sala de aula, acreditamos que a pesquisa cumpriu uma função nobre, eventualmente outros trabalhos poderão corroborar com os dados da pesquisa.

Após esta análise em comum acordo com os alunos nos dispusemos a desbravar mais o assunto, tendo em vista principalmente engendrar discussões a respeito da função da educação ambiental, se atentando à formação de valores e competências necessárias para que os alunos pudessem atuar com consciência na escola, em suas comunidades, e nos vários ambientes os quais percorrem.  Entendemos como competências e habilidades a capacidade de argumentar, criticar, estabelecer comparações, propor soluções, etc. Utilizamos como recursos pedagógicos estratégias comuns como o uso do quadro, leituras de trechos de revistas e como estratégias didáticas diferenciadas, atividades com um filme e  um poema.  

Resultados e discussão

 A discussão acerca de temas ambientais por meio de trechos de revistas e o uso da lousa se mostraram eficientes nas turmas A e C, mas a turma B, que também inicialmente havia concordado com estas estratégias de ensino demonstrou pouco interesse, não correspondendo as expectativas de aprendizagens relacionadas à temática. Diante desta situação fomos levados a pensar em estratégias didáticas diferenciadas,  como uma tentativa  de oferecer aos alunos uma oportunidade em tempo real   que  pudesse possibilitar-lhes  uma  participação efetiva .  Sendo assim foi utilizado nesta turma, o filme “Avatar” do diretor James Cameron e o poema “O Bicho” de Manuel Bandeira.

            Segundo Guimarães (2005), quando o ser humano  reconhece   que é natureza, e não apenas parte dela, sua  dominação  sobre o ambiente perde  valor, podendo resultar em atitudes harmoniosas tanto individuais como coletivas.  Sendo assim ao propor estas estratégias pensamos provocar nos alunos reflexões que remetessem as ideias do autor, que se encontram em consonância com a proposta do artigo. Percebemos que os alunos procederam bem durante a exposição do filme. Numa próxima aula em mesa redonda os alunos foram provocados sobre os aspectos ambientais (valores, função, ética, etc) que se encontravam presentes no filme. O debate foi enriquecedor. Houve depoimentos que surpreenderam, pois determinados alunos tidos como casos perdidos, foram os primeiros a se manifestarem. Ainda com o desejo de fomentar a discussão foram lançadas as seguintes perguntas:

a)    Qual o objetivo principal do filme?

As respostas foram unâmines. Afirmaram que o objetivo do filme era a destruição do planeta de Pandora pelos humanos, pois lá se encontrava pedras preciosas de alto valor comercial, para isso teriam que destruir os habitantes de Pandora, os avatás.

a)      O que fez com que o ser humano que inicialmente fora conhecer os costumes, a cultura do planeta de Pandora desistisse de destruí-lo?

A esta indagação o aluno 1 que praticamente não fazia nada em aulas anteriores pronunciou:

“Acho que houve mudança de mentalidade quando ele começou a perceber a cultura dos habitantes do planeta de Pandora, os valores vividos por eles”. Seguiu-se a fala do aluno

2, tido pela escola como um dos problemas de difícil solução, pois além de não fazer nada, era  bastante indisciplinado.

“Os valores devem ser ensinados para que possamos vivenciá-los e estes aprendemos principalmente com os mais velhos”.

b)      O que encantou o personagem principal do filme no planeta de Pandora?

As respostas passaram pelo respeito à natureza, biodiversidade animal e vegetal, solidariedade, etc.

c)      Quando o personagem principal conseguiu se harmonizar com os seres vivos do planeta de Pandora?

O aluno 3 um dos poucos que em aulas anteriores se interessava pronunciou o seguinte:

“Quando se esvaziou de si mesmo para vivenciar os valores do novo mundo”. O aluno 2 demonstrou concordar com o colega e frisou que os habitantes do nosso planeta têm muito a aprender com os habitantes do planeta de Pandora e se assim as coisas se sucedessem com certeza a realidade de nosso planeta seria outra.

Para explorar ainda mais o filme, tendo em vista os objetivos de  provocar mudanças de comportamentos ambientais a turma foi dividida em dois grupos. A um grupo foi pedido que retratasse por meio da escrita os valores ambientais percebidos no filme, ao outro que usasse desenhos ou esquemas para representar os valores. Logo desenvolvido este trabalho, houve a troca das atividades, os que desenharam ou fizeram esquemas passaram suas atividades para os colegas que escreveram os valores, a estes couberam  descobrir os valores que estavam implícitos nos desenhos ou esquemas  e escrevê-los. Os que receberam os valores escritos os traduziram na forma de desenhos ou esquemas.

Com relação ao ensino de ciências, Cachapuz et al. (2002) considera que importa possibilitar, ao aluno, a condição de cidadão ativo, que tem de desempenhar papéis e partilhar responsabilidades para mudar o atual quadro de crise ambiental. Para isso, é necessário que, mais do que informação e conceitos, a escola se proponha a trabalhar com atitudes, com formação de valores, como nos assinalam os Parâmetros Curriculares Nacionais, PCN (BRASIL, 1998a), e nas novas orientações para o Ensino de Ciências (BRASIL, 2004). Seguindo esta linha de pensamento, tendo em vista suscitar valores ambientais, que abarquem a responsabilidade individual e coletiva  dos cidadãos  trabalhamos  o poema “O Bicho”, de Manuel Bandeira. Discutimos o mesmo em mesa redonda onde se deu um debate riquíssimo.

Após o debate, através de um desenho houve a projeção do poema numa visão humanística. Quase a totalidade da turma se debruçou sobre a atividade, sendo que o aluno 2, tido como caso perdido, se interessou pela atividade, realizando-a com singular simpatia e responsabilidade.  

As atividades relativas à projeção humanística do poema “O Bicho” de Manuel Bandeira ressaltaram:

→Coleta seletiva

→Acondicionamento adequado do lixo

→Usina de reciclagem

→Associação de catadores de lixo

Percebeu-se assim que os alunos têm consciência dos problemas ambientais, e muito mais, são capazes de apontar caminhos para a solução desses problemas. O desafio é encontrar estratégias diferenciadas  que sejam atrativas para os mesmos, para que possam compartilhar, argumentar,  remeter juízo de valores, etc.   

Considerações finais

As atividades desenvolvidas permitiram constatar que mesmo sem se lançar a textos formais, o professor usando criatividade consegue envolver efetivamente os alunos em suas aulas, se não todos pelo menos a maioria. O filme e o poema utilizados como estratégias didáticas diferenciadas estimularam a participação e o poder de argumentação dos alunos.  Percebeu-se também, que estes recursos se constituíram  num potente instrumento que trouxe  para o palco do processo ensino aprendizagem muitos alunos que sem mostraram resistentes as práticas tradicionais de ensino. As estratégias didáticas diferenciadas  podem contribuir para a aprendizagem efetiva, desde que o professor se aproprie em tempo real das reais necessidades da clientela que lhe é confiada.

Referências bibliográficas

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Orientações curriculares do ensino médio: ciências da natureza, matemática e suas tecnologias. Brasília: MEC/SEB, 2004.

 ______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: ciências naturais. Brasília, 1998a.

 CACHAPUZ, A. F.; PRAIA, J. F.; JORGE, M. P. Ciências, educação em ciências e ensino de ciências. Lisboa: Ministério de Educação, 2002.

CARVALHO, I. C. M. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2006.         

DIAS, G. F. Atividades interdisciplinares de educação ambiental. São Paulo: Global/Gaia, 1999.     

GUIMARÃES, M. A dimensão ambiental na educação. 7. ed. Campinas: Papirus, 2005.

http://www.bvs-sp.fsp.usp.br/tecom/docs/2002/pi1001.pdf, acesso em 15/05/2012.

http://www.encontroacp.psc.br/site/educacao-ambiental-e-processos-grupais-um-encontro-de-valores, acesso em 15/05/2012.

Ilustrações: Silvana Santos