Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2018 (Nº 42) CRIANDO SUSTENTABILIDADE COM A LOGÍSTICA REVERSA
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CRIANDO SUSTENTABILIDADE COM A LOGÍSTICA REVERSA

 

Autores:

 

Título acadêmico: Especialista em Gestão Estratégica de Logística pelo Centro Universitário UNA

Nome: Filipe Alvarenga Baumgratz de Miranda

Referência profissional: Centro Universitário UNA

Endereços para correspondência: Rua Desembargador Alfredo de Albuquerque 240 - apt 501 - Bairro Santo Antônio - Belo Horizonte - CEP: 30.330-250

Telefones: (31) 3296-6131 / (31) 9530-1983

E-mail: filipealvarenga2003@yahoo.com.br

 

Título acadêmico: Mestre em Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina

Nome: Danilo de Melo Costa

Referência profissional: Universidade Federal de Minas Gerais (Doutorando em Administração)

Endereços para correspondência: Rua Lafersa, 595, Ouro Branco, Minas Gerais. CEP 30.575-410

Telefones:  (31) 9212-4985

Fax: (31) 3653-4985

E-mail: danilo_mcosta@yahoo.com.br

 

Título acadêmico: Graduado em Publicidade e Propaganda – Centro Universitário de Belo Horizonte

Nome: Cláudio Heleno Pinto da Silva

Referência profissional: Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais (IFSEMG)

Endereços para correspondência: Rua Expedicionário Jose Leite Furtado, 80 

Barbacena- MG – CEP:36204138

Telefones: (32) 88085993 / (32) 33322264

E-mail: claudiohps@gmail.com

 

RESUMO

 

Com o endurecimento das legislações ambientais, além da maior e melhor  consciência  por  parte  dos consumidores, as empresas necessitam encontrar formas de agir de forma mais sustentável.  Iniciativas como Rio +20 são responsáveis por trazer o tema para as diversas esferas da sociedade, inclusive o meio acadêmico e empresarial. Enquanto a logística tradicional trata do fluxo de saída dos produtos, a Logística Reversa tem que se preocupar com o retorno de produtos, materiais e peças ao processo de produção da empresa. O seguinte trabalho procura abordar e conceituar os temas acima citados e analisar casos de sucesso da logística reversa em duas empresas brasileiras, que perceberam que, através da utilização de meios reversos poderiam agregar valor aos seus produtos e serviços obtendo ganhos competitivos em vários aspectos.

 

Palavras-chave: Logística Reversa; Meio Ambiente; Sustentabilidade; Redução de Custos; Educação Ambiental

1 INTRODUÇÃO

 

Devido à crescente importância das questões ambientais e à altíssima competitividade existente no âmbito empresarial, as organizações, atualmente, precisam buscar caminhos para atender a estas questões, com o intuito de se tornarem mais competitivas, melhorando sua imagem corporativa.

Nesse cenário, a logística reversa configura-se como uma importante ferramenta para que as empresas possam atingir estas metas de responsabilidade ambiental e sustentabilidade econômica. O estudo deste tema é de significativa relevância, pois mostra que, através de determinadas práticas, é possível progredir em qualquer ramo de negócio, respeitando o meio ambiente.

O presente trabalho demonstra o quanto é importante o investimento das empresas e indústrias em logística reversa, pois assim estarão reutilizando resíduos e descartes de produtos que já tiveram suas vidas úteis encerradas, ou que, por algum outro motivo, foram inutilizados ou não aproveitados. Assim, geram-se materiais, insumos, que serão reutilizados no processo de produção, criando outros produtos de valor para serem consumidos posteriormente. As empresas tornar-se-ão economicamente mais sustentáveis, pois ao invés de estarem utilizando matérias-primas virgens, estarão usando matérias-primas recicladas/reutilizáveis, além de eliminar e/ou diminuir ao máximo a poluição e desgaste do meio ambiente, com a sobrecarga desses descartes e resíduos. Assim sendo, serão capazes de aumentar a satisfação dos clientes, pois estes estão cada vez mais preocupados e interessados na defesa do meio ambiente, priorizando produtos/serviços de organizações que atuam com responsabilidade ambiental. “Os clientes de hoje são mais difíceis de agradar. São mais inteligentes, mais conscientes em relação aos preços, mais exigentes, perdoam menos e são abordados por mais concorrentes com ofertas iguais ou melhores.” (KOTLER, 2000, p.69). 

A sociedade, de uma forma geral, e principalmente as empresas, começam a entender que são responsáveis pela preservação e todo cuidado com o meio ambiente, não bastando pensar apenas no presente, mas também nas gerações futuras, herdeiras do legado de gerações passadas.

 

2.1 Logística Reversa: conceitos e definições

 

Tanto a Logística quanto a Logística Reversa evoluíram através do tempo. Assim, dentro do espírito da empresa moderna pode-se conceituar logística adotando uma definição mais atual sugerida por CSCMP (2012), que apresenta a Logística ser um importante processo, que visa planejar, implementar e controlar, da maneira mais eficiente possível, o fluxo e também a armazenagem dos produtos. Além disso, ela implementa e controla os serviços e informações associadas, cobrindo desde o ponto de origem até se chegar ao ponto do consumidor, tendo como principal objetivo o atendimento das necessidades daquele consumidor. Esta assertiva também é defendida por Novaes (2001).

Segundo Mueller (2005, p.01), “logística reversa pode ser classificada como sendo apenas uma versão contrária da logística como a conhecemos”. O mesmo autor (2005) discorre que tanto a logística reversa como a convencional apresentam processos semelhantes, porém a logística reversa precisa ser mais bem tratada pelas organizações, pois trata-se de uma ferramenta que, se bem utilizada, trará maior lucratividade empresarial.

Do ponto de vista de Lacerda (2002, p.02):

 

(...) por trás do conceito de logística reversa está um conceito mais amplo que é o do ciclo de vida. A vida de um produto, do ponto de vista logístico, não termina com sua entrega ao cliente. Produtos se tornam obsoletos, danificados, ou não funcionam e devem retornar ao seu ponto de origem para serem adequadamente descartados, reparados ou reaproveitados.

 

A logística reversa é um termo muito recente no mundo empresarial, daí a importância de conceituar esta atividade. Para Leite (2002, p.03):

 

Entendemos a Logística Reversa como a área da Logística Empresarial que planeja, opera e controla o fluxo, e as informações logísticas correspondentes, do retorno dos bens de pós-venda e de pós-consumo ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo, através dos Canais de Distribuição Reversos, agregando-lhes valor de diversas naturezas: econômico, ecológico, legal, logístico, de imagem corporativa, entre outros.

 

A definição da atividade de logística reversa é, para Lacerda (2002, p.03):

 

(...) o processo de planejamento, implementação e controle do fluxo de matérias-primas e produtos acabados (e seu fluxo de informações) do ponto de consumo até o ponto de origem com o objetivo de recapturar valor ou realizar um descarte adequado.

 

            Stock (1998, p.20) afirma que logística reversa

 

(...) em  uma perspectiva de logística de negócios, o termo refere-se ao papel da logística no retorno de  produtos,  redução  na  fonte,  reciclagem,  substituição  de  materiais,  reuso  de materiais, disposição de resíduos,  reforma, reparação e remanufatura.

 

Neste contexto de definições acerca da logística reversa, cabe dizer que existem diferenças fundamentais entre a logística convencional e a reversa. Para Mueller (2005, p.01), “Na Cadeia Logística convencional os produtos são puxados pelo sistema, enquanto que na Cadeia Logística Reversa existe uma combinação entre puxar e empurrar os produtos pela cadeia de suprimentos”. Do ponto de vista de Mueller (2005), os fluxos reversos podem ser ao mesmo tempo divergentes e convergentes, não se apresentando de forma apenas divergente como no caso do sistema convencional.

As diferenças entre os sistemas de logística com fluxo normal e a Logística Reversa são quatro, de acordo com Krikke (1998, p154):

 

A primeira diferença é que a logística tradicional à frente é um sistema onde os produtos são puxados (“pull system”), enquanto que na Logística Reversa existe uma  combinação  entre  puxar  e  empurrar  os  produtos  pela  cadeia  de suprimentos.[...]  Como  resultado  de  uma  legislação  mais  restritiva  e  a  maior responsabilidade  do  produtor,  na  Logística  Reversa,  a  quantidade  de  lixo produzido (e a distinção entre o que é reciclável do que é lixo indesejado) não pode  ser  influenciada  pelo  produtor  e  deverá  ser  igualada  à  demanda  de produtos, já que a quantidade de descarte já é limitada em muitos países. Em  segundo  lugar,  os  fluxos  tradicionais  de  logística  são  basicamente divergentes, enquanto que os fluxos reversos podem ser fortemente convergentes e divergentes ao mesmo tempo. Terceiro,  os  fluxos  de  retorno  seguem  um  diagrama  de  processamento  pré-definido,  no  qual  produtos  descartados  são  transformados  em  produtos secundários,  componentes  e  materiais.  No  fluxo  normal,  esta  transformação acontece em uma unidade de produção, que serve como fornecedora da rede. Por último, na Logística Reversa, os processos de transformação tendem a ser incorporados na rede de distribuição, cobrindo todo o processo de ‘produção’, da oferta (descarte) à demanda (reutilização).

 

2.2 Logística Reversa: aplicabilidade

 

Visto alguns conceitos sobre este tema, é necessário saber onde é aplicada a logística reversa, ou seja, em quais atividades as empresas e indústrias podem e devem utilizar essa ferramenta com o objetivo de gerar um diferencial competitivo sustentável. Em suma a logística reversa pode ser aplicada em basicamente duas situações, são elas: Produtos de Pós-Venda e Produtos de Pós-Consumo, de acordo com o pensamento de Leite (2002).

            É chamada Logística reversa de pós-venda a área responsável pela administração de informações e fluxo físico de bens que devido ao pouco uso, ou ao desuso, voltam à cadeia de distribuição direta (ZIMERMANN; GRAEML, 2003). Como exemplo, pode-se citar aparelhos eletrônicos com defeito. Em contra partida, o pós-consumo trata da gestão da informação e fluxo de físico de bens que chegaram ao final de sua vida útil ou, em ultimo caso, foram parcialmente utilizados, porém permitem reutilização, como embalagens e metais (ZIMERMANN; GRAEML, 2003).

 

Continuando a abordagem das funções primordiais da logística reversa, do ponto de vista de Bertaglia (2008) as principais atividades realizadas pela logística reversa dizem respeito ao manuseio de mercadorias retornadas, sejam elas danificadas/defeituosas, de estoques sazonais, de revenda, vencidas e/ou retornadas devido ao balanceamento de estoques. Outras atividades, ainda segundo Bertaglia (2008), são a reciclagem e reutilização, e a destruição de materiais perigosos.  

 

2.3 Principais razões para a implementação da logística reversa

 

Vista a aplicabilidade da logística reversa e suas principais atividades, é importante ressaltar as razões pelas quais as organizações devam utilizá-la. Segundo Leite (2009, p.105), “a substituição de matérias-primas virgens por recicladas permite, além da economia obtida pelo diferencial dos preços entre elas, a obtenção de uma série de outras economias”. Por exemplo, uma empresa que se utiliza da logística reversa, obtém ganhos econômicos na quantidade de energia elétrica, térmica e de outros tipos de energia que já foram gastas na primeira fabricação de determinado bem, complementa o autor.

De acordo com o grupo RevLog, as principais razões que levam as firmas a atuarem mais fortemente na Logística Reversa são:

(1) Legislação Ambiental, que força as empresas a retornarem seus produtos e cuidar do tratamento necessário;

(2) Benefícios econômicos do uso de produtos que retornam ao processo de produção, ao invés dos altos custos do correto descarte do lixo;

(3) A crescente conscientização ambiental dos consumidores.

Outro ganho econômico proveniente da utilização da logística reversa são as economias obtidas pelas diferenças entre os investimentos em fábricas de matérias-primas primárias, e as de matérias-primas recicladas. De acordo com Leite (2009, p.107), “os investimentos em fábricas de materiais reciclados são menores que os correspondentes em fábricas de matérias-primas primárias, tornando-se, portanto, fonte de economia de custos importantes”.

O crescente número de leis que regem o descarte de materiais e incentivam a reciclagem de recipientes, como latas de alumínio e sacolas plásticas, juntamente com a busca de novos modos de reduzir custos, tem demandado que as empresas utilizem a logística reversa (Gonçalves e Marins, 2006). No Brasil, há leis que estabelecem como devem ser feitas as coletas e descartes de produtos, como pilhas e pneus. Em outros países, como Europa e EUA, há leis mais severas em relação à destinação de bens pós-consumos. Assim, o fluxo de suprimentos torna-se bidirecional, entre fornecedores e clientes (Chaves e Batalha, 2006).

 

2.4 Principais ganhos competitivos gerados por meio da logística reversa de bens de pós-venda e de bens de pós-consumo

 

A seguir são apontados os principais benefícios competitivos que são concebidos através da utilização da logística reversa nos produtos de pós-venda e nos produtos de pós-consumo.

 

2.4.1 Ganhos competitivos na logística reversa dos bens de pós-venda

 

No que tange à logística reversa dos produtos de pós-venda, Leite (2009) explica que, quando a logística reversa consegue realizar determinadas funções como, a retirada e destinação de produtos com baixo giro, garantindo um destino dos produtos retornados, a organização consegue atingir a fidelização dos seus clientes, uma repercussão muito boa de sua imagem corporativa e de sua imagem de responsabilidade empresarial. Quando esta logística consegue otimizar a redistribuição de estoques, ela está oferecendo uma competitividade de custos e de serviços ao cliente.

Para Leite (2009) a logística reversa, conseguindo recapturar o devido valor do produto retornado destinando-o para o mercado primário ou para o secundário, permite à organização atingir uma altíssima competitividade nos custos. Quando a rede logística reversa possui alta responsividade a organização irá obter ganhos competitivos no serviço de pós-venda, nos custos e na imagem corporativa organizacional. O autor conclui que uma rede reversa que consegue otimizar a rastreabilidade dos motivos de retorno, apoiando o projeto dos produtos e processos, proporcionará à empresa ganhos competitivos nos custos e principalmente de imagem da marca.

 

2.4.2 Ganhos competitivos na logística reversa dos bens de pós-consumo

 

De acordo com Leite (2009), no que diz respeito aos ganhos de competitividade no retorno dos produtos de pós-consumo, a logística reversa sendo eficiente consegue fazer com que a organização reaproveite os componentes e os materiais constituintes, através de uma eficiente montagem da rede reversa, coletando e suprindo os produtos de retorno às linhas de desmanche, distribuindo os produtos e componentes remanufaturados nos mercados secundários e apoiando o processo industrial, a organização obterá ganhos competitivos no que diz respeito aos custos operacionais, devido às economias na elaboração dos produtos, além de melhorar sua imagem corporativa.

Na estratégia organizacional de adequação fiscal, a logística reversa deve adequar a cadeia reversa às condições ideais, o que proporcionará um ganho competitivo em seus custos. Leite (2009) explica que a empresa, conseguindo através da logística reversa enquadrar seus produtos em um perfil de não impactar negativamente no meio ambiente, otimizando as condições de reuso, proporciona à organização ganhos competitivos no que tange a uma força maior de imagem corporativa e à ética empresarial.

 

 

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

 

Nesta etapa serão abordadas as características da metodologia utilizada para a realização deste trabalho, demonstrando à tipologia da pesquisa, a delimitação da pesquisa, a técnica de coleta de dados e a análise e tratamento dos dados.

 

3.1 Tipologia da pesquisa

 

A pesquisa utilizada neste trabalho apresenta-se de forma explicativa e qualitativa. No que tange à pesquisa explicativa, de acordo com Gil (2002, p.42), “esse é o tipo de pesquisa que mais aprofunda o conhecimento da realidade, porque explica a razão, o porquê das coisas”. No que diz respeito ao caráter qualitativo, a pesquisa se apresenta desta forma, pois não trabalha com análise estatística, apenas com análise de conteúdo.

 

3.2 Delimitação da pesquisa 

 

Esta pesquisa tem como objetivo o estudo dos processos logísticos dentro das organizações brasileiras, limitando-se ao estudo da logística reversa como geradora de diferencial competitivo para estas empresas. No Brasil várias empresas utilizam-se desta prática, porém esta pesquisa se limitará à apresentação de resultados em duas organizações.

 

3.3 Técnica de coleta de dados 

 

A coleta de dados foi realizada através da pesquisa bibliográfica. Segundo Gil (2002, p.44), “a pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos”. Ainda para Gil (2002, p.45), “a principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente”.

 

3.4 Análise e tratamento dos dados

 

Após a coleta dos dados, estes foram analisados e selecionados de acordo com os objetivos específicos deste trabalho, visando demonstrar com clareza a(o)s principais definições, atividades, razões para utilização e benefícios em torno da logística reversa, bem como, demonstrar alguns resultados de certas empresas brasileiras que se utilizam desta ferramenta.

 

4 RESULTADOS

 

Como foi visto nas seções anteriores deste artigo, a logística reversa é uma ferramenta que, bem implementada e monitorada, recebendo a devida atenção por parte dos gestores, trará inúmeros ganhos não só para as empresas que a utilizarem, mas também para a sociedade e meio ambiente. Nesta etapa do trabalho, será abordado um breve histórico de duas empresas brasileiras que se utilizam da logística reversa, usando-a como forma de conseguir diferencial competitivo, logo depois será apresentado um quadro comparativo entre elas com os principais ganhos obtidos através da logística reversa e, posteriormente a análise dos resultados apresentados destas empresas.

 

4.1 Histórico das duas empresas que utilizam a Logística Reversa

 

Nos dois próximos tópicos será abordado um breve histórico sobre as empresas analisadas, contando a principal função de cada uma e a motivação inicial delas em adotar procedimentos de logística reversa.

 

4.1.1 Breve histórico: empresa de laminação de vidros

 

A primeira empresa em questão se encontra no Estado de São Paulo, e produz o PVB (Polivinilbutiral) que funciona como uma película de proteção intercalada nos vidros de automóveis e até de aviões, podendo também ser utilizado como proteção acústica, blindagem e reflexões de imagens. A empresa trabalha com uma gama diversificada de produtos, a partir de várias formulações, que objetivam o atendimento das especificações fixadas pelos clientes, sendo estes produtos vendidos/armazenados em forma de rolos, podendo ser intercalados ou refrigerados, com a faixa dégradée ou não, com diversas cores e propriedades visuais.

De acordo com Gonçalves e Marins (2006, p.07),

 

(...) os clientes desta empresa realizam a laminação dos vidros a partir do produto acabado. No final sobram as rebarbas deste processo, as quais são denominadas aparas. As aparas não possuem valor agregado para o beneficiador do vidro laminado.

 

Segundo Gonçalves e Marins (2006), essas aparas eram simplesmente descartadas pelos beneficiadores de vidro, porém por uma questão de responsabilidade ecológica algumas exigências passaram a vigorar e as empresas passaram a ter que atender normas como, por exemplo, a ISO 14000. Além disto, do ponto de vista financeiro, a organização percebeu que poderia obter uma redução de custo com a reutilização das aparas no processo produtivo.

 

4.1.2 Breve histórico: empresa exportadora de cabeçotes pra motores

 

A segunda empresa em questão é uma organização que monta, além de motores completos, cabeçotes utilizados em duas famílias de motores, cuja montagem final ocorre em um cliente, em Melrose Park, nos EUA. O início das exportações de cabeçotes para Melrose Park ocorreram em Novembro de 2003 e as primeiras entregas de motores no mercado interno norte-americano ocorreram no primeiro trimestre de 2004.

De acordo com Adlmaier e Sellitto (2007, p.04), “a motivação inicial do projeto foi a exigência do cliente em receber, exclusivamente, materiais embarcados com embalagens retornáveis.” Ainda segundo os autores, esta empresa exportava para outros destinos com uma embalagem de papelão descartável, inicialmente foi considerado usar uma embalagem descartável de papelão reforçado, com capacidade de empilhamento triplo no contêiner. A integridade dos cabeçotes contra a oxidação é de apenas três meses, já que a empresa não utiliza o óleo protetivo.

Porém, a empresa percebeu que a manutenção das embalagens descartáveis de papelão implicaria em receber as remessas em armazéns perto de Melrose Park, e realizar a troca das embalagens antes da entrega final, fato este que acarretaria um aumento nos custos e um sério problema de qualidade dos cabeçotes após três meses de armazenagem. De acordo com Adlmaier e Sellitto (2007, p.04), “embalagens de papelão descartáveis comportam menos cabeçotes, exigem racks e bandeijas metálicas para o acondicionamento e proteção, e restringem o contêiner por volume, não podendo ser transportado o máximo peso líquido possível.” Portanto a empresa resolveu mudar o conceito e passou a utilizar embalagens retornáveis nas exportações, visando atender as determinações do cliente com um custo mais baixo sem comprometer a qualidade dos produtos. O Quadro 1, na próxima secção, apresenta alguns fatores preponderantes da utilização da logística reversa nas duas empresas.

 

4.1.3 Logística Reversa nas duas empresas: Quadro comparativo

 

Quadro 1 – Quadro Comparativo - Logística Reversa nas duas empresas

Fonte: Elaborado pelos autores

 

4.2 Análise dos resultados das empresas

 

Nos dois tópicos a seguir serão analisados os principais resultados obtidos pelas empresas em foco, após a implementação da logística reversa.

 

4.2.1 Análise dos resultados na empresa de laminação de vidros

 

A logística reversa nesta empresa teve uma relevância muito grande, pois, permitiu com que a organização conseguisse obter uma redução no custo de produção com o reaproveitamento das aparas no processo produtivo. Além disto, proporcionou à empresa atender requisitos primordiais para se enquadrar dentro da certificação ISO 14000.

Também foi percebido que a implantação da logística reversa nesta organização proporcionou uma política de ganha-ganha com os clientes da empresa. Por exemplo, de acordo com Gonçalves e Marins (2006), o volume de um dos principais materiais nesta manufatura era 200.000 metros quadrados, sabendo-se que a área referente aos insumos de reuso (aparas) é de 5%, ou seja, 10.000 metros quadrados, o cliente obtém um decréscimo de US$ 70.000,00 com relação ao preço de venda, já o produtor conseguiu uma grande economia referente à US$ 30.000,00 nos custos produtivos.

Desta forma produtor e clientes passaram a negociar melhores preços tornando seus produtos mais baratos e competitivos. Além disto, segundo Gonçalves e Marins (2006, p.11), “o fluxo reverso melhorou a rotatividade do inventário de matéria-prima e reduziu os estoques.” Sendo assim fica muito claro que a logística reversa nesta empresa só trouxe melhoras, sejam, no âmbito financeiro, de legislação, imagem corporativa e fidelização de clientes.

 

4.2.2 Análise dos resultados na empresa exportadora de cabeçotes

 

Assim como na empresa de laminação de vidros, a utilização de meios logísticos reversos nesta empresa exportadora de cabeçotes para motores trouxe inúmeros ganhos de diferentes aspectos.

Do ponto de vista financeiro, de acordo com Adlmaier e Sellitto (2007), a empresa obteve ganhos econômicos, pois ela adquiriu de uma única vez as embalagens retornáveis ao ponto que, anteriormente, com as embalagens descartáveis ela necessitava de uma estrutura de aquisição para cada embarque, ou seja, o retorno dos investimentos feitos na nova embalagem foi muito vantajoso para a empresa. Além disto, do ponto de vista ecológico a organização passou a contribuir menos com a poluição e desgaste do meio ambiente, através da redução de resíduos gerados pelo processo anterior.

Outro aspecto relevante foi a agregação de valor no que diz respeito aos processos logísticos da empresa, segundo Adlmaier e Sellitto (2007) a partir da utilização das embalagens retornáveis o espaço físico dos contêineres marítimos utilizados para a exportação passou a ser melhor aproveitado.

De acordo com Aldmaier e Sellitto (2007), outros ganhos também foram obtidos, além da redução no custo de embalagens por viagem, as novas embalagens conferem uma maior proteção aos cabeçotes e proporcionam à empresa maior flexibilidade para realizar determinadas mudanças neste tipo de material mediante à requisitos legais. Lembrando também, da possibilidade de reciclagem de embalagens danificadas ou em fim de vida útil.

Como pode se perceber, a utilização da logística reversa nesta organização foi muito satisfatória, gerando diversos benefícios não só para a empresa em questão, mas também para o principal cliente dela e, ainda evitando a sobrecarga do meio ambiente com descartes e resíduos gerados pelo processo antigo, criando um ganho para a sociedade, de uma forma geral, com a preservação da natureza. 

 

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Nos tempos atuais, uma empresa/indústria que se utiliza e investe seriamente na Logística Reversa, está sendo ambientalmente correta, tem efeito positivo em relação à satisfação dos clientes. Deve-se pensar que materiais, resíduos e descartes que a princípio não representam nada, podem ter um alto valor para as empresas se estas souberem como lidar com eles.

Porém não basta simplesmente a organização querer realizar a Logística Reversa. É necessário que ela esteja apta para isto, apresentando uma estrutura complexa para recolhimento, armazenagem e tratamento desses descartes/resíduos, além, é claro, de um investimento inicial para que tal ferramenta seja bem implementada na organização. Os empreendedores, donos de empresa, acionistas, diretores, etc, devem aumentar seus conhecimentos sobre Logística Reversa, através de estudos, pesquisas, e benchmarking (que é o estudo dos métodos e práticas de empresas que realizam com excelência determinada atividade), dentre outros, para que assim consigam achar os melhores caminhos para a utilização desta ferramenta, que trará ganhos não só para as empresas que a utilizarem, mas também para a sociedade e principalmente para o meio ambiente. Além, claro, de aumentar o lucro para a empresa.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

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KOTLER, Philip – Administração de Marketing – 10ª Edição, 7ª reimpressão – Tradução Bazán Tecnologia e Lingüística; revisão técnica Arão Sapiro. São Paulo: Prentice Hall, 2000. 

 

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LACERDA, Leonardo. Logística Reversa: uma visão sobre os conceitos básicos e as práticas operacionais. Disponível em: http://www.paulorodrigues.pro.br/arquivos/Logistica_Reversa_LGC.pdf. Acesso em: 03 out. 2011.

 

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LEITE, Paulo Roberto. Logística Reversa: meio ambiente e competitividade. 2. ed. São Paulo: Editora Pearson, 2009.

 

MUELLER, Carla Fernanda. Logística Reversa: meio ambiente e produtividade. Disponível em: http://www.valdenirmaia.arq.br/cgi-sys/suspendedpage.cgi. Acesso em: 06 out. 2011.  

 

NOVAES, Antônio Galvão. Logística e Gerenciamento da Cadeia de Distribuição:

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ZIMERMANN, R. A.; GRAEML, A. R. Logística reversa: conceitos e componentes do sistema. Estudo de caso: Teletex Computadores e Sistemas. XXII ENEGEP. Ouro Preto: Out. 2003.

Ilustrações: Silvana Santos