Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2018 (Nº 42) CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL DE PRODUTORES DE FARINHA DE MANDIOCA NO ESTADO DA PARAÍBA.
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iii-005 - XXVII Congresso Interamericano de Engenharia Sanitária e Ambiental

 

Conscientização Ambiental de Produtores de Farinha de Mandioca no Estado da Paraíba

 

 

Narcísio Cabral de Araújo (1)

Engenheiro Sanitarista e Ambiental, graduado pela Universidade Estadual da Paraíba e Mestrando em Engenharia Civil e Ambiental pela Universidade Federal de Campina Grande

 

Suenildo Jósemo Costa Oliveira

Dr. em Agronomia e professor titular do Centro de Ciências Agrárias e  Ambientais do Campus II da Universidade Estadual da Paraíba

 

Igor Sousa Ogata

Engenheiro Sanitarista e Ambiental, graduado pela Universidade Estadual da Paraíba e Mestrando em Engenharia Civil e Ambiental pela Universidade Federal de Campina Grande

 

Pablo Luiz Fernandes Guimarães

Engenheiro Sanitarista e Ambiental, graduado pela Universidade Estadual da Paraíba e Mestrando em Engenharia Civil e Ambiental pela Universidade Federal de Campina Grande

 

Francisco de Assis Cabral de Araújo

Graduando em Agronomia pela Universidade Federal da Paraíba

 

Abílio José Procópio Queiroz

Engenheiro Sanitarista e Ambiental, graduado pela Universidade Estadual da Paraíba

 

Kalina Lígia de Sousa Duarte

Engenheira Sanitarista e Ambiental, graduado pela Universidade Estadual da Paraíba e Mestranda em Engenharia Civil e Ambiental pela Universidade Federal de Campina Grande

 

 

Endereço (1): Rua Armando Idalino, 801.  Distrito de São José da Mata, Campina Grande – PB. Cep: 58441- 000 - Brasil. Tel.: (83) 3314 - 1209. E-mail: narcisioaraujo@gmail.com

 

 

Resumo

As casas de farinha são unidades agroindustriais de beneficiamento de raízes de mandioca. Esse processo gera grandes quantidades de resíduos (sólidos e líquidos), dentre os resíduos líquidos destacam-se a manipueira, que apresenta composição química que sustenta a potencialidade do composto como adubo. No município de Puxinanã, Estado da Paraíba encontra-se instaladas vinte e nove casas de farinha lançando seus efluentes de forma errônea no meio ambiente, causando alterações adversas no mesmo. Este trabalho teve como objetivo conscientizar e capacitar produtores rurais e seus familiares para uso sustentável da manipueira, como bioinseticida e adubo foliar nas culturas de subsistência do município de Puxinanã, no Estado da Paraíba. Para a concretização do trabalho, realizaram-se duas palestras de ações educativas, sobre conscientização ambiental e o uso sustentável da manipueira como bioinseticida e biofertilizante, aos produtores de farinha de mandioca e seus familiares, o primeiro evento foi direcionado aos filhos dos produtores visto que estes são multiplicadores do conhecimento, e o segundo evento foi direcionado especialmente para os produtores rurais.

Palavras-chave: Casas de farinha, manipueira, produtores de farinha de mandioca.

 

 

Introdução

As casas de farinha são unidades agroindustriais de beneficiamento de raízes de mandioca, para produção da farinha. Os fornecedores da matéria prima, para as agroindústrias, são pequenos e médios produtores rurais, denominados de mandiocultores. 

Segundo Ferreira (2004) a mandioca é uma “Planta leitosa, da família das euforbiáceas (Manihot utilissima), cujas grossas raízes tuberosas, ricas em amido, são de largo emprego utilizas na alimentação humana e de animais, e da qual há espécies venenosas, que servem para fazer farinha de mesa” (FERREIRA, 2004).

O beneficiamento de raízes de mandioca para produção de farinha e/ou fécula gera grande quantidade de resíduos sólidos (cascas, cepas, crueira, farelo) e líquidos (água de lavagem das raízes, instrumentos e máquinas utilizadas no processo e manipueira). A manipueira é um líquido extraído das raízes de mandioca, através do processo de prensagem da massa, este se apresenta com aspecto leitoso, cor amarelo-claro e forte odor. Segundo Cereda (2001) os problemas ambientais causados pela disposição inadequada de manipueira estão relacionados à sua composição química e ao grande volume de resíduo líquido gerado no processo de beneficiamento de raízes de mandioca. No entanto, a utilização agroindustrial do processamento de raízes de mandioca pode causar sérios problemas ambientais, pois até mesmo por pequena que sejam as unidades fabris podem gerar quantidades significativas de resíduos, visto que geralmente costumam instalar-se em uma mesma comunidade ou município um grande número de casas de farinha.

Segundo Fioretto (2001), uma tonelada de raiz de mandioca pode conter em média 600 litros de manipueira, onde na operação de prensagem, durante os processos de fabricação de farinha 20 a 30% do líquido é eliminado. Em conformidade com o autor, uma tonelada de raiz de mandioca corresponde a uma poluição de 200300 habitantes/dia. Um dos sérios problemas da Terra como um todo é a poluição dos recursos de água doce, principalmente se considerados os pequenos curso d’água, onde acontecem os despejos dos resíduos líquidos de indústrias que utilizam raízes de mandioca como matéria-prima (FIORETTO 1994, apud PANTAROTO & CEREDA, 2001). Em conformidade com Fioretto (2001), a manipueira quando lançada em corpos d’água apresenta dupla ação poluidora, pois apresenta elevada carga de DBO (30000 mg/L) e íon cianeto associado a linamarina. Vários autores (TAKAHASHI, 1987; PANTAROTO & CEREDA, 2001; MELO et al., 2006; BORGHETTI, 2009) apontam os efeitos adversos no meio ambiente que este efluente pode acarretar, se descartado de forma errônea. Nestes aspectos ficam claro e, evidente que as casas de farinha são fontes geradoras de produtos poluentes que podem afetar tanto a natureza como colocar em risco, a saúde das pessoas que habitam as proximidades das mesmas, pois, segundo Araújo et al. (2009), estes lugares são propícios à proliferação de insetos, mosquitos e a exalação muito forte de odores fétidos. A composição química da manipueira sustenta a potencialidade do composto como adubo, haja vista sua riqueza em Potássio, Nitrogênio, Magnésio, Fósforo, Cálcio, e Enxofre, além de Ferro e micronutrientes em geral (PANTAROTO & CEREDA, 2001).  Portanto, pode-se depreender que a manipueira apresenta-se como um material não esgotado, podendo ser utilizada como fertilizante, de forma aproveitar e recircular os nutrientes no solo, evitando-se, assim, os despejos nos curós d’ água (FIORETTO, 2001). Ainda em conformidade com Pantaroto & Cereda (2001), a manipueira também pode ser utilizada no controle de insetos, pois, a presença de cianetos pode ter explicações aos efeitos nematicidas e inseticidas inerentes ao efluente.

            Este trabalho teve como objetivo conscientizar e capacitar produtores rurais e seus familiares para uso sustentável da manipueira, como bioinseticida e adubo foliar nas culturas de subsistência do município de Puxinanã, no Estado da Paraíba.

 

 

 

Metodologia

O município de Puxinanã, no estado da Paraíba, está localizado na microrregião de Campina Grande e Mesorregião do Agreste Paraibano, contando com uma população de aproximadamente 13.354 habitantes, ocupando uma área territorial de 73,67 Km².

 A agricultura é a atividade predominante do município, com destaques para o feijão, milho, batata inglesa e mandioca. Neste município, estão instaladas 29 (vinte e nove), casas de farinha lançando seus efluentes de forma descontrolada no meio ambiente, podendo prejudicar a população e principalmente o Rio do Cruzeiro que compõe a bacia hidrográfica do Rio Paraíba.

Para a concretização deste trabalho, foram realizadas duas palestras de ações educativas sobre conscientização ambiental e o uso da manipueira como bioinseticida e biofertilizante aos produtores de farinha de mandioca e seus familiares.

O público alvo dessas ações foram produtores rurais e seus familiares que participam como agentes processadores de farinha de mandioca no município de Puxinanã, no Estado da Paraíba. Para reunir este pessoal foram distribuídos convites aos 29 proprietários das casas de farinha instaladas no município. As reuniões foram ministradas na Escola Estadual Severino Pedro do Nascimento, localizada no distrito de Jenipapo, município de Puxinanã/PB e na Escola Técnica Agrícola Joaquim Limeira de Queiroz, localizada na cidade de Puxinanã/PB, nos dias 21 e 28 de maio de 2010 respectivamente, pelo estudante de Engenharia Sanitária e Ambiental e o coordenador do projeto, professor da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Estes locais foram previamente selecionadas. Os eventos tiveram duração de três horas em sala de aula com atividades expositivas de práticas de aproveitamento da manipueira.

            Nas ações educativas foram discutidos os possíveis danos sociais, econômicos e ambientais que a destinação final incorreta da manipueira possa acarretar, também foram evidenciados os danos à saúde e ao meio ambiente, causados pela utilização de agrotóxicos, sem acompanhamento técnico.

 

 

Resultados e Discussões

O processamento de raízes de mandioca para a produção de farinha de mesa ou extração da fécula gera quantitativo bastante significante de manipueira, que é um subproduto líquido riquíssimo em macro e micronutrientes que pode ser utilizado como biofertilizante na agricultura familiar. Segundo Araújo et al. (2009) o destino final que está sendo dado pelos produtores rurais de farinha de mandioca do município de Puxinanã/PB, ao efluente é o descarte no solo sem nenhum tratamento prévio e sem acompanhamento técnico, causando alterações adversas no meio ambiente. Nestas condições, este trabalho conscientizador, faz-se necessário para que os produtores e familiares rurais de casas de farinha possam dar uma destinação final correta a manipueira, não depositando de forma errônea no meio ambiente, bem como expor as vantagens de se utilizar os biofertilizantes e bioinseticidas (como a manipueira) frente aos agrotóxicos minerais comercializados atualmente.

As Figuras 1 e 2 ilustram os eventos realizados nos dias 21 e 28 de maio de 2010. No primeiro encontro (Figura 1) estavam presentes como ouvintes, 25 (vinte e cinco) filhos de produtores rurais e 03 (três) proprietários de casas de farinha.

 O segundo evento (Figura 2) foi realizado no dia 28 de maio na Escola Técnico Agrícola Joaquim Limeira de Queiroz na Cidade de Puxinanã, portanto, contaram com a presença de 05 (cinco) proprietários de casas de farinha e 30 (trinta) familiares rurais (filhos, sobrinhos, tios, pais de proprietários das casas de farinha e agricultores que habitam as proximidades das agroindústrias do supracitado município).

 

Figura 1 Filhos dos produtores rurais e familiares participando do evento realizado no dia 21 de maio de 2010, na Escola Estadual Severino Pedro do Nascimento no distrito de Jenipapo, Puxinanã/PB.

Figura 2 Produtores rurais e familiares participando do evento realizado no dia 28 de maio de 2010 na Escola Técnica Agrícola na Cidade de Município de Puxinanã/PB.

 

A participação dos filhos dos produtores rurais na realização deste trabalho é de fundamental importância, pois, eles são multiplicadores do conhecimento, visto que em um tempo futuro poderão ser produtores rurais.

A educação ambiental (EA) é um tópico transcurricular que promove a conscientização global, vida sustentável e cidadania ativa (TALERO, 2004). Portanto, a sensibilização desses produtores é fundamental para a aceitação, apropriação e uso continuado e auto-sustentável da tecnologia apresentada, gerando condições de sustentabilidade para os processos de beneficiamento de raízes de mandioca no Município de Puxinanã, Estado da Paraíba como um todo, integrado à vida cotidiana de familiares e produtores rurais ao ambiente equilibrado e sadio, para as presentes e futuras gerações.

 

 

Conclusão

Apesar de estes eventos terem sido realizados com sucesso, observa-se que os proprietários das casas de farinha do município em estudo, mostraram pouco interesse por estas ações, pois apenas 08 deles (27,6%) estavam presentes.

As práticas apresentadas sobre o aproveitamento sustentável da manipueira foram vistas pelos produtores como novidades, pois poucos conheciam o valor fertilizante e fitossanitário presente no efluente. Portanto estes mostram bastante interesse pelo assunto exposto interagindo com diversas perguntas.

A conscientização ambiental de produtores rurais para utilização de práticas e tecnologias científicas mais favoráveis a conservação dos recursos naturais deverá ser difundida com mais freqüência nos dias atuais, principalmente pelas instituições de ensino e pesquisa.

 

 

Referências Bibliográficas

ARAÚJO, N. C.; DUARTE, K. L. S. & DANTAS, J. P. Avaliação da Quantidade e Destino dos Resíduos Líquidos Gerados pelas Casas de Farinha do Município de Puxinanã – PB. I Congresso Paraibano de Gestão do “Lixo”: Educação Ambiental e Sustentabilidade. UEPB Ed. Campina Grande/PB, 2009.

 

BORGHETTI, Ivo Alberto. Avaliação do Crescimento da Microalga Chlorella minutíssima em Meio de Cultura com Diferentes Concentrações de Manipueira. 103f. Dissertação (Mestrado em Processos Biotecnológicos) – Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2009.

 

CEREDA, M. P. Caracterização dos Subprodutos da Industrialização da Mandioca. In: CEREDA, M.P (coord): Manejo, Uso e Tratamento de Subprodutos da Industrialização da Mandioca.  Fundação Cargill, v. 4, p. 13 – 37, São Paulo, 2001.

 

FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. Curitiba: Ed. Positivo, 2004, p.1263.

 

FIORETTO, R. A. Uso Direto da Manipueira em Fertirrigação. In: CEREDA, M.P (coord): Manejo, Uso e Tratamento de Subprodutos da Industrialização da Mandioca.  Fundação Cargill, v. 4, p.67 – 79, São Paulo, 2001.

 

MELO, R. F.; FERREIRA, P. A.; MATOS, A. T.; RUIZ, H. A.; OLIVEIRA, L. B. Deslocamento Miscível de Cátions Básicos Provenientes da Água Residuária de Mandioca em Colunas de Solo. Rev. Bras. Eng. Agrícola e Ambiental, Campina Grande – PB, v.10, n.2, p.456 – 465, 2006.

 

PANTAROTO, S. & CEREDA, M. P. Linamarina e sua Decomposição no Ambiente. In: CEREDA, M.P (coord): Manejo, Uso e Tratamento de Subprodutos da Industrialização da Mandioca. Fundação Cargill, v.4, p.38 – 47, São Paulo, 2001.

 

TAKAHASHI, M. Aproveitamento da Manipueira e de Resíduos do Processamento da Mandioca. Informe Agropecuário, ano 13, nº 145. Belo Horizonte, jan. 1987. p. 83 - 87.

 

TALERO, G. Revisão da Literatura: Educação Ambiental e Conscientização Pública Revisão Bibliográfica. Tradução por Giuliano Pagy dos Reis. Victoria, Canada, 2004. Disponível em < http://www.google.com.br/search?q=REVIS%C3%83O+DA+LITERATURA%3A+Educa%C3%A7%C3%A3o+Ambiental+e+Conscientiza%C3%A7%C3%A3o+P%C3%BAblica+Revis%C3%A3o+Bibliogr%C3%A1fica&ie=utf-8&oe=utf-8&aq=t&rls=org.mozilla:pt-BR:official&client=firefox-a>. Acesso em 18 de jul. de 2010.

 

 

Ilustrações: Silvana Santos