Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2018 (Nº 42) ANÁLISE DA SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL DA ELETROSUL CENTRAIS ELÉTRICAS S.A
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Análise da sustentabilidade ambiental da Eletrosul Centrais Elétricas S.A.

 

 

Tiago Lucimar da Silva

Mestrando em Contabilidade pela UFSC

Instituição: Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC

Endereço: Centro Sócio-Econômico – Campus Universitário – Trindade - Florianópolis – Santa Catarina CEP: 88.040-970

E-mail: tlucimardasilva@yahoo.com.br

 

Elisete Dahmer Pfitscher

Doutora em Engenharia de Produção pela UFSC

Instituição: Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC

Endereço: Centro Sócio-Econômico – Campus Universitário – Trindade - Florianópolis – Santa Catarina CEP: 88.040-970

E-mail: elisete@cse.ufsc.br

 

Sandro Vieira Soares

Mestrando em Contabilidade pela UFSC

Instituição: Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC

Endereço: Centro Sócio-Econômico – Campus Universitário – Trindade - Florianópolis – Santa Catarina CEP: 88.040-970

E-mail: sandrovieirasoares@hotmail.com

 

 

 

RESUMO

Durante décadas a degradação do meio ambiente e o uso dos recursos naturais passaram despercebidos aos olhos de uma sociedade que pouco se importava a fatores voltados para a responsabilidade social e sustentabilidade ambiental. Atualmente no setor elétrico, órgãos reguladores como a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), conscientes dos relevantes impactos ambientais gerados pelo segmento de transmissão e geração de energia, vêm se manifestando e apoiando as empresas reguladas por este setor, a investir em ações voltadas a compensação ambiental e responsabilidade social. Assim, a problemática deste artigo fica resumida na seguinte questão-problema: como está à sustentabilidade ambiental da empresa Eletrosul Centrais Elétricas S.A. quanto aos aspectos e impactos ambientais? Desta forma, o objetivo geral deste trabalho é analisar a sustentabilidade ambiental da empresa transmissora/geradora de energia. Para isso, foi realizado um estudo de caso, de natureza descritiva, com abordagem quali-quantitativa. Embora a análise levante, mediante aplicação do instrumento de intervenção SICOGEA – Geração 3, alguns questionamentos considerados deficitários, que foram gerenciados pelo Plano Resumido de Gestão Ambiental – 5W2H, a empresa estudada apresentou bons índices de sustentabilidade ambiental.

 

Palavras-chave: Responsabilidade Social; Sustentabilidade Ambiental; Setor Elétrico.

 

 

1 Introdução

 

A consciência da limitação dos recursos naturais e a degradação do meio ambiente nas duas últimas décadas alavancaram uma preocupação por parte de toda sociedade ao redor do mundo e, impulsionou a necessidade de implementação de medidas socioambientais por parte das empresas.

Esta preocupação acarretada pela sociedade a fatores ambientais dá ensejo a um tema que vendo sendo discutido na atualidade e no ambiente empresarial: responsabilidade social. Para Franco (1999, p. 38) “as empresas que protegem o meio ambiente são bens vistas pelo consumidor e por investidores”. Desta forma, Duarte, Pfitscher e Voss (2010) entendem que as empresas não devem estar somente focadas no seu retorno financeiro. Assumir a preocupação com a questão social é um aspecto fundamental.

De acordo com Silveira e Pfitscher (2011), a proteção e recuperação do meio ambiente através da regulamentação de dispositivos legais foi uma tentativa de reduzir e controlar a utilização excessiva dos recursos naturais. Através de órgãos fiscalizadores, as alternativas que buscam minimizar os impactos ambientais podem ser aprimoradas. (SILVEIRA; CASAGRANDE; UHLMANN, 2010).

Atualmente no setor elétrico, órgãos reguladores como a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), conscientes dos relevantes impactos ambientais gerados pelo segmento de transmissão e geração de energia, vêm se manifestando e apoiando as empresas reguladas por este setor, a investir em ações voltadas para a compensação ambiental e responsabilidade social.

Assim, a problemática deste artigo fica resumida na seguinte questão-problema: como está a sustentabilidade ambiental da Eletrosul Centrais Elétricas S.A. quanto aos aspectos e impactos ambientais?

Desta forma, o objetivo geral deste trabalho é analisar a sustentabilidade ambiental de uma empresa transmissora/geradora de energia. Como objetivos específicos têm-se: conhecer o processo de transmissão e geração de energia; identificar as ações causadoras do impacto ambiental; e propor um plano resumido de gestão ambiental.

Justifica-se a realização desta pesquisa pelo fato do setor elétrico representar relevância econômica para o país, da mesma forma, que é um setor que causa grande interferência no e dependência do meio ambiente (LINS; OUCHI, 2007). Analisar a sustentabilidade ambiental de uma empresa do setor elétrico, nada mais é, do que assumir um caráter voltado para a responsabilidade social.

 

2 Metodologia da Pesquisa

 

Em relação ao enquadramento metodológico, o presente artigo é de natureza descritiva, que, conforme Andrade (2005, p. 19-20), “neste tipo de pesquisa, os fatos são observados, registrados, analisados, classificados e interpretados, sem que o pesquisador interfira sobre eles”.

Quanto aos procedimentos técnicos foi adotado o estudo de caso. Para Yin (2001) a necessidade de adoção pelos estudos de caso surge no intuito de compreender os fenômenos sociais complexos.

A coleta de dados foi realizada dentro da empresa através da aplicação de um relatório de verificação contendo 60 questões, subdivididas em 6 critérios, adaptado conforme as particularidades e segmento de atividade da empresa pesquisada.

No que se refere à abordagem da pesquisa, este trabalho caracteriza-se como quali-quantitativo. A abordagem qualitativa é utilizada em vários momentos no decorrer do artigo. Da mesma forma, são analisados os aspectos estatísticos e a pesquisa ganha caráter quantitativo.

A trajetória metodológica estruturou-se em duas fases: descrição do caso estudado e análise da sustentabilidade ambiental através do Sistema Contábil Gerencial Ambiental (SICOGEA - Geração 3) com proposta de implantação de um plano resumido de gestão ambiental, nos critérios considerados deficitários, tendo como limitação as informações obtidas com os entrevistados e o método de análise utilizado pelos pesquisadores.

 

3 Revisão da Literatura

 

Na tentativa de nortear esta pesquisa e apresentar conceitos inerentes ao tema, abordam-se os seguintes tópicos na fundamentação teórica: responsabilidade social; sustentabilidade ambiental e o setor elétrico; e gestão ambiental, com enfoque no modelo de gestão ambiental chamado SICOGEA – Geração 3.

 

3.1 Responsabilidade social

O tema responsabilidade social corporativa está tendo repercussões e debates no meio organizacional ao longo dos últimos anos (SMITH, 1994). Ao longo das duas últimas décadas, a divulgação de aspectos sociais e ambientais por parte das grandes companhias vem aumentando significativamente. Empresas de maior visibilidade e dimensão tendem a exibir uma predisposição maior no que tange a divulgação de informações sociais e ambientais (GRAY et al., 2001).

A responsabilidade social e ambiental está ligada com os princípios do desenvolvimento sustentável, que enfatiza que as organizações devem tomar decisões não apenas visando fatores financeiros, como lucros, dividendos, mais também promover ações sociais e ambientais de curto e longo prazo. (GOKULSING, 2011).

As ações de responsabilidade social dão ênfase à melhoria do relacionamento das empresas com seus diversos públicos. (MELO NETO; FRÓES, 1999). De acordo com Melo Neto e Fróes (1999, p.93) “a responsabilidade social, assumida de forma consciente e inteligente pela empresa, pode contribuir de forma decisiva para a sustentabilidade e o desempenho empresarial”.

Segundo Franco (1999) as empresas ao protegerem o meio ambiente, são bem vistas pela comunidade. Existe em alguns países fundos especializados para investir em organizações que zelam pela proteção do meio ambiente.

 

3.2 Sustentabilidade ambiental e o setor elétrico

De acordo com Hinz, Valentina e Franco (2006), o grande consumo de recursos naturais despertou nas empresas o interesse em incorporar em suas estratégias, o conceito de sustentabilidade, devido às novas expectativas quanto as suas responsabilidades para com a sociedade e por serem agentes fornecedores de recursos financeiros e tecnológicos essenciais para uma atuação mais ágil, decisiva e direta na amenização dos problemas ambientais e sociais.

A cada ano que passa percebe-se que o impacto da interferência do homem sobre o meio ambiente, está mais complexo e nocivo, tanto em termos quantitativos quanto qualitativos. A problemática envolvendo a sustentabilidade assume neste novo século que surge, um papel central na reflexão de alternativas que busquem estagnar este contexto (JACOBI, 2003).

O uso da energia elétrica provoca dano ambiental superior a qualquer outra atividade humana (exceto talvez a de reprodução) (SOUSA, 2000).

Segundo Udaeta (1997, p. 2) “os níveis de suprimento energético e a sua infraestrutura interagem biunivocamente com o desenvolvimento sócio-econômico, e conseqüentemente impactam o meio ambiente e, portanto a sua sustentabilidade”.

De acordo com Lins e Ouchi (2007), a busca pela sustentabilidade no setor elétrico está diretamente atrelada a fatores fundamentais do seu negócio, tais como: (i) necessidade de altos investimentos para a construção de redes de transmissão e distribuição e usinas geradoras de energia; (ii) significativos impactos ambientais gerados por barragens e linhas de transmissão e, e em menor escala, pela convivência da rede com o ambiente urbano; (iii) externalidades sociais negativas causadas pelo remanejamento de comunidades para a construção de barragens e positivas quando se dá acesso a energia distribuída; e (iv) atuação por meio de concessão de serviço público essencial para a sociedade.

No segmento de geração de energia elétrica, as usinas hidrelétricas impactam no meio ambiente, pelo fato das construções de represas afetar o fluxo dos rios, inundar imensas áreas de matas, destruir inúmeras espécies vegetais, prejudicar a fauna, interferir na ocupação humana (INATOMI; UDAETA, 2000), afetar na hidrologia, clima, causar erosão e assoreamento (LEITE, 2005).

Da mesma forma, embora a geração de energia eólica possa ser considerada como uma fonte energética sustentável, essa alternativa também causa efeitos nocivos ao meio ambiente. Conforme Inatomi e Udaeta (2000), os ruídos, os impactos visuais e sobre a fauna são os principais impactos ambientais gerados pela energia eólica.

O segmento de transmissão de energia gera relevantes impactos ambientes. Contudo esses impactos podem ser minimizados através de um planejamento. Os danos ao meio ambiente vinculado a esta atividade de setor elétrico, estão associados à convivência de linhas de transmissão com o ambiente e a poda de árvores em área urbana para alocação de torres que servem que alicerce para essas linhas. (LINS; OUCHI, 2007).

 

3.3 Gestão ambiental

O tema sustentabilidade ganhou força nos últimos anos, seja no contexto prático ou no contexto acadêmico (KRUGER et al., 2011). Desta forma, em sintonia com a crescente demanda pela sustentabilidade e como maneira de torná-la possível em suas operações cotidianas, as empresas têm aderido ao conceito de gestão ambiental.

Na percepção de Silveira e Pfitscher (2011) a gestão ambiental está relacionada diretamente com a empresa, com sua atividade e com o meio onde está inserida. No que tange o aspecto empresarial, a relação surge por meio das ações para gerir suas atividades afetando o mínimo o meio ambiente. Com a atividade, pelo fator, de geração de resíduos nocivos, e com o meio onde está inserida, pois pode receber diretamente as conseqüências de suas ações.

Gerir uma empresa não envolve somente questões econômicas, financeiras e patrimoniais. Há o comprometimento da mesma forma, com questões associadas a fatores ambientais, sendo este um processo complexo. (DUARTE; PFITSCHER; VOSS, 2010).

O conhecimento acerca da empresa e do meio ambiente permite aos usuários destas informações gerenciarem os impactos ambientais causados por estas entidades. A gestão ambiental visa dar suporte às ações desenvolvidas pela empresa a fim de amenizar os efeitos nocivos ao meio ambiente, e é divulgada através da contabilidade ambiental. (FREITAS; RICHARTZ; PFITSCHER, 2009).

Através da gestão ambiental as entidades podem monitorar o impacto ambiental proveniente de alguma atividade, e receber amparo para que a conquista da qualidade ambiental almejada possa ser alcançada. (KRAEMER; TINOCO, 2004). A utilização da gestão ambiental no meio empresarial oportuniza a utilização de recursos naturais com responsabilidade. (SILVEIRA; CASAGRANDE; UHLMANN, 2010).

Para fundamentar uma análise eficiente da forma pela qual a organização gere os aspectos e impactos ambientais, utiliza-se nesta pesquisa, um método de apoio chamado Sistema Contábil Gerencial Ambiental (SICOGEA).

O SICOGEA foi um sistema desenvolvido na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) pela professora Dra. Elisete Dahmer Pfitscher, e tem por finalidade a gestão ambiental integrada com a contabilidade. Silveira e Pfitscher (2011, p. 4) relatam que “o objetivo desse sistema é gerar informações ao gestor sobre os impactos das suas ações sobre o meio ambiente”.

O Sistema Contábil Gerencial Ambiental é dividido em três etapas: integração da cadeia produtiva, gestão do controle ecológico e gestão da contabilidade e controladoria ambiental. Contudo, nesta pesquisa aborda-se apenas a terceira etapa. De acordo com Pfitscher (2004), na terceira etapa é realizada a análise e investigação dos setores da entidade através da mensuração de aspectos operacionais, econômicos e financeiros interagindo com o meio ambiente, com o intuito de verificar as ações que influenciam no processo de decisão.

A terceira etapa do SICOGEA divide-se em três fases: investigação e mensuração; informação; e decisão. A Figura 1 demonstra uma visão ampla dos processos que compõem esta etapa do SICOGEA.

 

Figura 1 - Estrutura da terceira etapa do SICOGEA

Fonte: Pfitscher (2004, p.119)

 

Na primeira fase desse processo (investigação e mensuração) faz-se necessário uma lista de verificação, onde questões são direcionadas em critérios e subcritérios. (SILVEIRA; PFITSCHER, 2011). Desta forma, Nunes et al. (2007), relatam que a elaboração dessa lista de verificação e sua análise, estruturada pelo SICOGEA, possibilita o conhecimento as diversas áreas da instituição.

A partir das ações propostas por este sistema buscou-se evidenciar o nível de comprometimento da Eletrosul com o meio ambiente.

 

4 Resultados

 

A Eletrosul Centrais Elétricas S.A. é uma sociedade de economia mista de capital fechado que atua nos segmentos de geração e transmissão de energia elétrica. É uma empresa subsidiária das Centrais Elétricas Brasileiras S.A. – Eletrobrás e vinculada ao Ministério de Minas Energia. Foi constituída em 23/12/1968 e autorizada a funcionar pelo Decreto nº 64.395, de 23/04/1969. Sua sede está localizada em Florianópolis/SC e suas atividades abrangem os estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rondônia. Atende mais de 30,5 milhões de habitantes que correspondem, aproximadamente, a 20% do mercado nacional de energia elétrica e cerca de 18% do Produto Interno Bruto. (ELETROSUL,  2011).

 

4.1 Resultados obtidos com a aplicação do SICOGEA-Geração 3

No presente estudo aplicou-se parcialmente a primeira fase da terceira etapa do SICOGEA-Geração 3, que compreende uma lista de verificação adaptada à empresa transmissora/geradora de energia elétrica. Conforme já comentado em tópicos anteriores, na primeira fase desse processo (investigação e mensuração) faz-se necessário uma lista de verificação, onde questões são organizadas em critérios e subcritérios, sendo que a terceira etapa do SICOGEA-Geração 3 constitui a Gestão da Contabilidade e Controladoria Ambiental.

A lista de verificação estruturou-se com 60 questões, subdividida nos seguintes critérios/subcritérios conforme o Quadro 1:

 

Quadro 1 - Critérios e Subcritérios da lista de verificação

Fonte: adaptado de Souza et al. (2011)

 

Cabe ainda ressaltar, que devido à estrutura organizacional da empresa estudada estar dividida em departamentos/divisões, as questões foram direcionadas e respondidas pelas pessoas/departamentos aptos a tais informações dentro da Eletrosul.

Avaliação da sustentabilidade da empresa e dos critérios que compõe o questionário foi calculada conforme o Quadro 2.

 

Quadro 2 - Avaliação da sustentabilidade da empresa

Fonte: adaptado de Lerípio (2001) e Pfitscher (2004)

 

4.2 Critério 1 – Fornecedores

O cálculo da sustentabilidade do Critério 1 – Fornecedores, resultou num índice de sustentabilidade de 77,78%, índice este que obtém uma avaliação boa segundo a classificação de Lerípio (2001) e Pfitscher (2004).

Grande parte dos fornecedores da Eletrosul possui certificações relacionadas ao meio ambiente. Contudo, estas certificações ainda não são exigidas pela empresa em seus processos licitatórios. Embora haja ainda o consumo de matérias-primas não oriundas de recursos renováveis dentro da empresa, as compras da instituição incluem alguns produtos recicláveis como papel, cartuchos de tinta, material de expediente, entre outros.

 

4.3 Critério 2 – Processo produtivo e prestação de serviços

O critério 2 refere-se ao processo produtivo e prestação de serviços e está divido em três subcritérios conforme o Quadro  3.

 

Quadro 3 - Critério 2 - Processo Produtivo e Prestação de Serviços

Fonte: adaptado de Silveira e Pfitscher (2011)

 

No Subcritério A: Eco-eficiência no processo produtivo e de prestação dos serviços, o departamento da empresa responsável por estas informações, menciona que para participar dos leilões de transmissão/geração é necessário atender a legislação ambiental e os processos de licenciamento. Portanto, a empresa leva em consideração os aspectos e impactos ambientais, visando desta forma, a recuperação das áreas afetadas pela transmissão e geração de energia.

A instituição utiliza materiais considerados ecologicamente corretos como resmas de papel reciclado e materiais de expediente oriundos de recursos renováveis. Quanto aos projetos alternativos para transmissão e geração de energia elétrica, a empresa investe e destina recursos para serem aplicados em projetos com esta finalidade. Atualmente na Eletrosul estão sendo desenvolvidos projetos na área de energia eólica e fotovoltaica (energia solar).

 

4.4 Critério 3 – Indicadores contábeis

O Quadro 4 apresenta as questões relativas aos indicadores contábeis. Neste critério foram levantados dois pontos considerados deficitários: lucro com investimentos em meio ambiente e o fato da empresa possuir grande quantidade de resíduos que causam impacto ambiental.

 

Quadro 4 - Critério 3 – Indicadores Contábeis

Fonte: adaptado de Souza et al.(2011)

 

Existem na empresa, custos para controle, preservação e proteção ambiental, através dos programas ambientais dos empreendimentos exigidos pelos órgãos ambientais. A Eletrosul paga taxas, contribuições e demais gastos relacionados com a área ambiental.

Finalizando o critério 3, o subcritério C, assim como os demais subcritérios relacionados a indicadores contábeis, apresentou resultados considerados ótimos. Embora a empresa possuir grande quantidade de resíduos que causam impactos ambientais, existe ações dentro do ambiente organizacional relacionadas à divulgação da área ambiental, através de folders, cartilhas, etc., que buscam amenizar, senão combater esses impactos.

 

4.5 Critério 4 – Indicadores gerenciais

O cálculo dos Indicadores Gerenciais resultou num índice de sustentabilidade de 85,56%, o que é considerado ótimo segundo a avaliação de Lerípio (2001) e Pfitscher (2004).

Neste indicador a empresa apresentou dois pontos considerados deficitários: ações relacionadas à indenização de faixa de terra e o pouco conhecimento da teoria “Economia de Comunhão”. Contudo, o primeiro é justificável pelo fato de ser um processo rotineiro nos investimentos do setor elétrico. Embora conhecer pouco sobre a teoria “Economia de Comunhão”, algumas ações desenvolvidas pela empresa já citadas anteriormente, ganham características desta filosofia.

 

4.6 Critério 5 – Utilização do produto e serviço

            O índice de sustentabilidade do critério Utilização do Produto e Serviço de 84% é considerado ótimo segundo a avaliação de Lerípio (2001) e Pfitscher (2004). Pelo fato do segmento da Eletrosul ser o de transmissão/geração de energia, e não ter a relação direta com os consumidores finais deste serviço de utilidade pública, a empresa não possui um serviço sobre questionamento da qualidade do produto, justificando a não aplicabilidade da questão do questionário original. Tal serviço compete a empresas distribuidoras de energia e não as companhias geradoras e transmissoras.

 

4.7 Critério 6 – Auditoria ambiental

            O índice de sustentabilidade calculado para o Critério 6 – Auditoria Ambiental resultou em 80,91%, índice este que segundo a classificação de Lerípio (2001) e Pfitscher (2004) é avaliado como ótimo.

            No critério 6, verifica-se que existe uma política para a qualidade ambiental do sistema Eletrobrás adotado pela Eletrosul. Contudo, o plano de qualidade ambiental e o sistema informatizado sobre questão da qualidade ambiental na instituição ainda se encontra em situação “precária”.

 

4.8 Análise da sustentabilidade e desempenho ambiental

Com a lista de verificação respondida, faz-se necessário determinar o índice de sustentabilidade ambiental da empresa estudada através da seguinte fórmula de cálculo proposta pelo SICOGEA:

O resultado dessa equação indica o percentual de sustentabilidade ambiental da empresa. Desta forma, os resultados obtidos são correlacionados aos parâmetros de avaliação de sustentabilidade da empresa, conforme o Quadro 2. 

Através da aplicação da fórmula supracitada foi possível calcular o índice de sustentabilidade ambiental da Eletrosul. Este resultado é apresentado na Tabela 1.

 

Tabela 1 - Índices de sustentabilidade da empresa pesquisada

Fonte: Dados da pesquisa

 

Diante desta análise e segregando os seis critérios da lista de verificação, a avaliação global da sustentabilidade da Eletrosul alcançou um índice de 85,30%, sendo considerada ótima. Embora alguns itens apresentarem resultados deficitários, nenhum deles comprometeu o resultado global dos critérios.

 

4.9 Plano resumido de gestão ambiental – 5W2H

Mediante análise da sustentabilidade ambiental da empresa concluída e levantamento de alguns pontos críticos, faz-se necessário propor um plano resumido de gestão ambiental – 5W2H (What? Why? When? Where? Who? How? e How much?).  O plano resumido de gestão ambiental proposto pelo SICOGEA engloba medidas corretivas e ações de melhoria dos pontos deficitários levantados na avaliação da sustentabilidade ambiental.

Os primeiros pontos deficitários foram levantados no Critério 1 – Fornecedores. O Quadro 5 demonstra que embora já ocorra a utilização de matérias primas oriundas de recursos renováveis, a instituição pode exigir cada vez mais de seus fornecedores produtos com esta origem.

 

Quadro 5 - 5W2H – Plano resumido de gestão ambiental – Critério 1

Fonte: adaptado de Leripio (2001)

 

O terceiro ponto crítico constatado está relacionado à geração de resíduos perigosos durante o processamento do produto. Grande parte das subestações são estruturadas com transformadores e máquinas que geram resíduos nocivos - óleos e gases - ao meio ambiente e aos serem humanos. No Quadro 6 evidencia algumas ações que podem amenizar este problema.

 

Quadro 6 - 5W2H – Plano resumido de gestão ambiental – Critério 2: Subcritério A

Fonte: adaptado de Leripio (2001)

 

No que se refere aos indicadores contábeis, o desempenho global deste critério foi avaliado como ótimo, contudo, foi detectado um item que apresentou resultados regulares. A empresa possui grande quantidade de resíduos como copos, papéis, dejetos da construção civil, etc., que causam impactos ambientais.

Conforme o Quadro 7, verifica-se as melhorias a serem realizadas na instituição referente ao Critério 3.

 

Quadro 7 - 5W2H – Plano resumido de gestão ambiental – Critério 3: Subcritério C

Fonte: adaptado de Leripio (2001)

 

No critério 4 – Indicadores Gerenciais, dois pontos são evidenciados como deficitários. O primeiro está relacionado a ações judiciais referentes indenizações de faixa de terra. Contudo, este é um processo de praxe nos projetos relacionados ao setor elétrico. O segundo critério é decorrente da falta de conhecimento da teoria “Economia de Comunhão” por parte da gestão da empresa e seus colaboradores. O Quadro 8 apresenta medidas corretivas e ações de melhoria deste ponto deficitário levantado na avaliação da sustentabilidade ambiental.

 

Quadro 8 - 5W2H – Plano resumido de gestão ambiental – Critério 4

Fonte: adaptado de Leripio (2001)

 

Outro ponto crítico levantado está associado ao Critério 5 e refere-se ao consumo de energia elétrica requerer atenção e cuidados por parte dos usuários. No Quadro 9 é apresentado algumas ações que podem amenizar este problema.

 

Quadro 9 - 5W2H – Plano resumido de gestão ambiental – Critério 5

Fonte: adaptado de Leripio (2001)

 

Embora a avaliação da empresa no Critério 6: Auditoria Ambiental apresentar resultados ótimos, foi levantado três pontos deficitários. No Quadro 10 é apresentado algumas ações sugeridas.

 

Quadro 10 - 5W2H – Plano resumido de gestão ambiental – Critério 6

Fonte: adaptado de Leripio (2001)

 

Desta forma, após levantamento de alguns pontos deficitários encontrados mediante lista de verificação, pode-se observar que existem várias ações que podem ser implantadas e avaliadas pela entidade, no intuito de melhorar o índice de sustentabilidade ambiental calculado pelo SICOGEA- Geração 3.

 

5 Conclusões

 

Mediante aplicação do SICOGEA – Geração 3, foi possível avaliar a sustentabilidade ambiental de uma empresa do setor elétrico. A empresa estudada apresentou uma sustentabilidade ambiental ótima, levando em consideração seu índice global de sustentabilidade ambiental, que atendeu a 112,6 (correspondente a 85,30%) dos 132 pontos possíveis.

Através da aplicação da pesquisa, o processo de transmissão e geração de energia e algumas de suas particularidades pôde ser conhecido. As ações causadoras do impacto ambiental destes segmentos do setor elétrico estão relacionadas às construções de represas, que afetam os fluxos dos rios e danifica as espécies vegetais e a fauna, bem como as construções de linhas de transmissão, devastando áreas e destruindo o habitat de espécies animais.

Embora a análise levantar alguns questionamentos considerados deficitários, todos os 6 (seis) critérios propostos apresentaram resultados avaliados como bom ou ótimo. Os pontos que foram levantados como críticos, nocivos ao meio ambiente, foram gerenciados pelo Plano Resumido de Gestão Ambiental – 5W2H.

A partir da adoção do 5W2H foi possível determinar e incrementar algumas ações visando à melhoria do índice de sustentabilidade ambiental da Eletrosul, bem como amenizar, senão extinguir, os danos causados por esta instituição ao meio ambiente.

Para futuros trabalhos recomenda-se a aplicação do SICOGEA – Geração 3 em empresas de setores distintos, sejam elas a nível internacional, nacional ou regional. Também se sugere aplicar esta metodologia em empresas do mesmo setor, contudo, de segmentos distintos, podendo oportunizar a realização de um benchmarking.

O fato das empresas do setor elétrico estarem submetidas a órgãos reguladores como a ANEEL, dá ênfase a uma pergunta problema a ser questionada em futuras pesquisas: Até que ponto a sustentabilidade ambiental e responsabilidade social das empresas do setor elétrico é influenciada pelo marco regulatório deste setor?

 

Referências

 

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Ilustrações: Silvana Santos