Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2018 (Nº 42) A HORTA ORGÂNICA COMO INSTRUMENTO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DA QUESTÃO AMBIENTAL PARA PESSOAS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS
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A HORTA ORGÂNICA COMO INSTRUMENTO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DA QUESTÃO AMBIENTAL PARA PESSOAS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS

 

Sílvio Roberto Fernandes Soares

Engenheiro Agrônomo; Mestrando em ciência do solo; UFERSA; Av. Francisco Mota, 572, Bairro Costa e Silva, Mossoró-RN, CEP: 59.625-900,  silviorfs@live.com

 

Luiz Leonardo Ferreira

Doutorando em Fitotecnia; UFERSA , Av. Francisco Mota, 572, Bairro Costa e Silva, Mossoró-RN, CEP: 59.625-900, leoagrozoo@hotmail.com

 

Vânia Christina Nascimento Porto

Docente adjunto II; UFERSA , Av. Francisco Mota, 572, Bairro Costa e Silva, Mossoró-RN, CEP: 59.625-900, vania@ufersa.edu.br

 

Marcelo Tavares Gurgel

Docente adjunto II; UFERSA , Av. Francisco Mota, 572, Bairro Costa e Silva, Mossoró-RN, CEP: 59.625-900, marcelo.tavares@ufersa.edu.br

 

Lucas Ramos da Costa

Graduando em Agronomia; UFERSA; Av. Francisco Mota, 572, Bairro Costa e Silva, Mossoró-RN, CEP: 59.625-900, Lucas_ramosjp@hotmail.com

 

 

Resumo

 

Educação especial é oferecida para pessoas com Necessidades Educacionais Especiais – NEE. , cada criança tem características, interesses, capacidades e necessidades de aprendizagem que lhe são próprias, e que os sistemas de educação devem ser planejados e os programas educativos implementados, tendo em vista a vasta diversidade destas características e necessidades. Objetivou-se com este trabalho identificar como a utilização de uma horta orgânica pode melhorar o ensino-aprendizagem de estudantes com NEE. O trabalho foi desenvolvido no Centro Regional de Educação Especial de Mossoró – CREE-MOS. As atividades referidas ao trabalho ocorreram entre os anos de 2007 a 2009. O trabalho então consistiu na construção de uma unidade de horta orgânica, com atividades desenvolvidas desde preparo da área para confecção dos canteiros a colheita das hortaliças cultivadas. As atividades realizadas na horta orgânica proporcionaram ao decorrer do trabalho, maior interação dos estudantes, quando em sala de aula, despertando o senso de organização, divisão de tarefas, companheirismo e trabalho em grupo. As atividades desenvolvidas propiciaram uma vivência prática para os professores/as e alunos/as nas questões ambientais, no que diz respeito a produção de um alimento saudável e que não é necessário o uso de agentes noviços a fauna, flora, solo e ao ambiente escolar. Enfim pode-se concluir que a utilização da horta orgânica contribuiu e contribuirá para melhorar o ensino-aprendizagem dos estudantes no CREE-MOS.

 

Palavras-chave: Pessoas especiais, educação ambiental, agricultura orgânica.

Introdução

 

  A mudança de um sistema educacional, que se caracterizou tradicionalmente por ser excludente e segregatório, para um sistema educacional que se comprometa efetivamente a responder, com qualidade e eficiência, às necessidades educacionais de todos, inclusive às dos alunos que apresentam necessidades educacionais especiais, exige um processo complexo de transformação, tanto do pensar educacional, como da prática cotidiana de ensino (SILVA et al., 2005a).

  Por tanto, educação especial é oferecida para pessoas com Necessidades Educacionais Especiais – NEE que segundo a Resolução CNE/CEB 2/2001 no seu art. 5º são educandos que durante o processo educacional, apresentem dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações no processo de desenvolvimento que dificultem o acompanhamento das atividades curriculares, compreendidas em dois grupos: a) aquelas não vinculadas a uma causa orgânica específica e b) aquelas relacionadas a condições, disfunções, limitações ou deficiências.

  De acordo com a declaração de Salamanca (1994) sobre princípios, política e práticas para as necessidades educativas especiais, cada criança tem características, interesses, capacidades e necessidades de aprendizagem que lhe são próprias, e que os sistemas de educação devem ser planejados e os programas educativos implementados, tendo em vista a vasta diversidade destas características e necessidades.

  Acreditamos que é necessária a transparência dos valores e interesses subjacentes a cada posição, evitando a manipulação, por grupos dominantes, dos grupos historicamente menos favorecidos (SILVA, 2005). Para o Autor a preocupação deste trabalho é com o conhecimento do senso comum, sua dinâmica de produção e inserção social.

Neste linear o processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir, em seus sistemas sociais gerais pessoas com necessidades especiais e, simultaneamente, estas se preparam para assumir seus papéis na sociedade. A inclusão social constitui, então, um processo bilateral na qual as pessoas, ainda excluídas, e a sociedade buscam, em parceria, equacionar problemas, decidir sobre soluções e efetivar a equiparação de oportunidades para todos (SASSAKI, 1997).

De acordo com o Ministério da Educação e Cultura (2006) a educação especial tem sido atualmente definida no Brasil segundo uma perspectiva mais ampla, que ultrapassa a concepção de atendimento especializado, tal como vinha sendo sua marca nos últimos tempos.

Para garantir que o ambiente escolar em todas as suas dimensões, atenda as necessidades e características das NEE, a educação ambiental traz em seus princípios pontos importantes relevantes ao ensino aprendizagem desses indivíduos. Pol (2003) relata que, uma psicologia ambiental com vocação de contribuir para o progresso da sociedade, desenvolvendo conhecimento básico, aplicável e aplicado, requer assumir os desafios sociais de cada momento histórico.

As práticas de educação ambiental segundo Dias (2004) segue princípios como: a) Considerar o meio ambiente em sua totalidade, isto é, em seus aspectos naturais e criados pelo homem (político, social, econômico, científico-tecnológico, histórico-cultural, moral e estético); b) Construir um processo contínuo e permanente, através de todas as fases do ensino formal e não formal; e a) Aplicar um enfoque interdisciplinar, aproveitando um conteúdo específico de cada disciplina, de modo que se adquira uma perspectiva global e equilibrada.

Entre as dificuldades para uma Gestão Ambiental comprometida com a qualidade do ambiente, está à capacidade de programar uma gestão participativa integrando todos os grupos sociais que atuam em um determinado empreendimento, empresa, unidade de conservação, município, etc. Um dos desafios, nesse sentido, é traduzir e conhecer informações de uma área e de outra: técnica/técnica, técnica/popular e popular/técnica (SILVA et al., 2005). 

A horta orgânica é uma horta trabalhada no sistema de produção orgânico onde o manejo sustentável da unidade de produção tem um enfoque sistêmico que privilegia a preservação ambiental, a agrobiodiversidade, os ciclos biogeoquímicos e a qualidade de vida humana.

A implantação da horta orgânica no Centro Regional de Educação Especial de Mossoró – CREE-MOS adicionado a práticas de conservação ambiental, pode vir a promover melhorias nas várias esferas do conhecimento dos estudantes com NEE, partindo do pressuposto que a realização de atividades diversificadas onde se trabalha a parte locomotora, linguagem, expressão corporal dentre outras, vem a ser uma ferramenta muito importante para tornar uma instituição para pessoas NEE, inclusiva de fato.

Todas as atividades realizadas no CREE-MOS foram voltadas para melhorar o ensino-aprendizagem, pois a busca por processos pedagógicos inclusivos é continua como afirma Oesterreich (2007), a educação inclusiva não é um evento, é um processo.

Sendo assim, objetivou-se com este trabalho identificar como a utilização de uma horta orgânica pode melhorar o ensino-aprendizagem de estudantes com NEE, no município de Mossoró – RN.

 

Material e Métodos

 

O trabalho foi desenvolvido no Centro Regional de Educação Especial de Mossoró (CREE-MOS), localizado na Rua Dr. João Marcelino, 220, no Bairro Nova Betânia, no município de Mossoró-RN com área total de 558 m². A instituição tem como finalidade atender estudantes com Necessidades Educacionais Especiais – NEE tais como deficiência auditiva, mental, dificuldade de aprendizagem e paralisia cerebral.

O intuito da instituição é desenvolver atividades que venham a favorecer a aquisição de habilidades que permitam ao público assistido, desenvolver aportes de inclusão social, tanto nas escolas do ensino regular, assim como na sociedade.

As atividades referidas ao trabalho ocorreram entre os anos de 2007 a 2009. Neste período as atividades do CREE-MOS foram assistidas por um público de 170 estudantes, distribuídos em dois turnos, sendo, 60 no turno matutino e 110 no turno vespertino.

O trabalho então consistiu na construção de uma unidade de horta orgânica, com atividades desenvolvidas desde preparo da área para confecção dos canteiros a colheita das hortaliças cultivadas. A horta foi composta por oito canteiros funcionais, dimensionados com 1,20 m de largura por 10,0 m de cumprimento. Outro espaço utilizado para o ensino-aprendizagem foi à sala de aula verde. Esta consistiu num espaço ao ar livre localizada embaixo de uma Oiticica próxima a horta orgânica.

Em sala de aula foram ministradas oficinas de Língua Portuguesa, matemática, artes e atividades lúdicas. Todas as ações foram contextualizadas com as atividades da horta ou com alguma data comemorativa, onde os alunos foram expostos a temas pelos lecionadores, com os conteúdos expostos em apresentações.

 

Resultados e Discussão

 

As atividades realizadas na horta orgânica proporcionaram ao decorrer do trabalho, maior interação dos estudantes, quando em sala de aula, despertando o senso de organização, divisão de tarefas, companheirismo e trabalho em grupo.

Nas oficinas de Matemática foram desenvolvidas atividades como contagem de sementes a ser semeada em covas, contagem de folhas em plantas, mensuração da área dos canteiros e volume de calda nutritiva aplicada no cultivo das hortaliças.

“Os conceitos básicos da matemática também são trabalhados de acordo com a necessidade de cada criança. As operações matemáticas são realizadas através de jogos educativos (dominó, ábaco, jogo da memória, etc.), atividades práticas na horta (contagem do n°. de sementes e mudas plantadas, diferenciação dos tamanhos, forma das folhas, metragem dos canteiros, etc. com esses procedimentos metodológicos estimulamos o desenvolvimento do raciocínio lógico matemático e a compreensão destes referidos conceitos (citado pelos professores/as).

Nas oficinas de Língua Portuguesa foi trabalhada com palavras, frases e textos sobre a vivência dos estudantes nas atividades da horta orgânica e conceitos do meio ambiente.

A horta orgânica é uma coisa muito importante para todos nós porque é natural, não tem agrotóxicos para prejudicar a nossa saúde (citado por um aluno).

As competências da leitura e escrita são consideradas como objetivos fundamentais de qualquer sistema educativo, ao nível da escolaridade elementar, a leitura e a escrita constituem aprendizagens de base e funcionam como uma mola propulsora para todas as restantes aprendizagens (Silva, 2011).

Nas oficinas de Arte foram desenvolvidas priorizando os dias temáticos, abordando temas como a reciclagem, confecção de brinquedos, desenhos, recortes de papel e confecções de arranjos.

As atividades lúdicas serviram para por em prática todas as vivências, pois neste momento os educandos/as fizeram apresentações em forma de teatro, coral e músicas dentro dos temas abordados em sala de aula com os educadores/as. Os temas sempre tinham alguma ligação com os trabalhos de educação ambiental e cultivo na horta orgânica. 

“As atividades artísticas também são vivenciadas na prática por nosso alunos recorte e colagem, desenho e pintura, reciclagem de garrafas pet, confecção de cartazes, embalagens, artesanato em e.v.a., música, dança e dramatizações” (citado pelos professores/as).

As oficinas de arte possibilitaram aos estudantes evoluírem nas habilidades motoras, de percepção e concentração.

A escola inclusiva não usa práticas específicas para cada tipo de deficiência ou dificuldade do aluno. Eles desenvolvem a aprendizagem em seus respectivos limites, processo no qual os professores buscam explorar os potencias de cada estudante.  Utilizando metodologias e técnicas de ensino variadas para proporcionar a cada aluno a aprendizagem à sua maneira (KARPINSKI e SOPELSA, 2009).

A Horta pode ser um laboratório vivo para diferentes atividades didáticas. Além disso, o seu preparo oferece várias vantagens para a comunidade (IRALA e FERNANDEZ, 2001).

“...com a comunidade escolar, nas manhãs verde, realizada a cada  bimestre, é um dia diferente e muito especial onde pais, alunos, funcionários, convidados e pessoas da comunidade participam de atividades previamente organizadas”(citado pelos professores/as).

 

Conclusão

 

          As atividades desenvolvidas propiciaram uma vivência prática para os professores/as e alunos/as nas questões ambientais, no que diz respeito a produção de um alimento saudável e que não é necessário o uso de agentes noviços a fauna, flora, solo e ao ambiente escolar. Nesse aspecto os trabalhos realizados em sala de aula foram frutos de experiências práticas na horta.

          Com a utilização da horta orgânica, os conceitos ambientais, dinâmicas de grupo e coletividade foram facilitados, pois foi possível praticá-los.

          A relação comunidade-escola também pode ser melhorada, fruto da interação dos pais e mães sempre presentes nas atividades lúdicas e construtivas na área da horta e da sala de aula verde.

          Enfim pode-se concluir que a utilização da horta orgânica contribuiu e contribuirá para melhorar o ensino-aprendizagem dos estudantes no (CREE-MOS).

 

Referências bibliográficas

 

DIAS, G.F. Educação ambiental: princípios e práticas. 9.ed. São Paulo: Gaia, 2004. 551p.

 

IRALA, C.H.; FERNANDEZ, P.M. Manual para escolas: A escola promovendo hábitos alimentares saudáveis. Brasília, 2001. 21p. Disponível em: acessado em: 25 maio 2012.

 

KARPINSKI, C.S.W.  SOPELSA, O. A inclusão social e o desenvolvimento da aprendizagem dos alunos com necessidades especiais nas classes regulares. Actas do X Congresso Internacional Galego-Português de Psicopedagogia. Braga: Universidade do Minho, 2009.

 

OESTERREICH, S.B.A Problemática da inclusão do portador de necessidades educativas especiais na rede de ensino de Charqueadas: o papel do educador neste processo ciência e conhecimento. Revista Eletrônica, Ulbra. v.1, 2007. Disponível em: http://www.cienciaeconhecimento.com/pdf/vol001_PeA2.pdf, acesso em: 22 de maio de 2009.

 

POL, E.A gestão ambiental, novo desafio para a psicologia do desenvolvimento sustentável. Estudos de Psicologia, Natal, v.8, n.2, p.235-243, 2003.

 

SASSAKI, R.K. Inclusão: Construindo uma sociedade para todos.Rio de Janeiro: WVA, 1997. 176p.

 

SECRETÁRIA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL (SEESP). Saberes e práticas da inclusão: recomendação para a construção de escolas inclusivas. 2.ed. Brasília: SEESP/MEC,  2006. 96p.

 

SILVA, J.M.J. 2011. 138f. Necessidades Educativas Especiais/Dificuldade de Aprendizagem Específica/Dislexia. Dissertação (Mestrado em Educação Especial), Escola Superior de Educação Almeida Garrett, ESEAG, Lisboa, 2011.

 

SILVA, L.M.A.; GOMES, E.T.A.; SANTOS, M.F.S. Diferentes olhares sobre a natureza – representação social como instrumento para educação ambiental. Estudos de Psicologia, Natal, v.10, n.1, p.41-51, 2005.

 

SILVA, S.C.; ARANHA, M.S.F. Interação entre professora e alunos em salas de aula com proposta pedagógica de educação inclusiva. Revista Brasileira de Educação Especial, Marília, 2005, v.11, n.3, p.373-394a.

 

UNESCO. Declaração de Salamanca sobre princípios, política e práticas na área das necessidades educativas especiais. Salamanca: ONU, 1994.

Ilustrações: Silvana Santos