Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Breves Comunicações
04/09/2012 (Nº 41) Juventude, Arte e Educação Ambiental
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Educação ambiental em Ação 41

Juventude, Arte e Educação Ambiental

 

 

Flávio José Rocha da Silva


Aluno do Programa de Doutorado em Ciências Sociais

da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP

flaviojoserocha@gmail.com

  

Resumo

 

Este artigo é uma reflexão sobre a necessidade de utilização das várias formas de expressões artísticas para a disseminação da Educação Ambiental com a juventude. A arte pode chamar a atenção dos jovens para a causa ambiental e sensibilizá-los para uma mudança do estilo de vida que, atualmente, possibilita a disseminação da crise ambiental que testemunhamos.

 

Introdução

 

        Nunca antes na história da humanidade foi tão clara a necessidade de repensar o modelo de desenvolvimento que nos trouxe ao patamar de destruição ambiental que presenciamos atualmente. A mídia tem nos fartado com notícias, filmes, comerciais e artigos os mais diversos sobre o aquecimento global, as mudanças climáticas, as catástrofes ambientais, os refugiados ambientais, etc. Nunca foi tão possível vislumbrar o futuro do planeta como hoje, e diga-se que não é um futuro promissor, com a precisão tecnológica de que dispomos atualmente.

       Se por um lado somos bombardeados com notícias sobre catástrofes ambientais, por outro é possível perceber que as mudanças de comportamento exigidas para reverter tal situação têm sido poucas, especialmente se comparadas com a gravidade do problema. É como se a grande maioria dos seres humanos que têm acesso a essas informações não as processassem e não dessem a elas o devido valor que merecem. Ou mudamos a nossa maneira de viver ou não viveremos para mudar.

 

 

Juventude: catalisadora e irradiadora de novas mudanças

 

        Por onde começar, então? De onde partir para a mudança comportamental tão necessária, se não para parar, ao menos para diminuir as conseqüências dos desastres que estaremos a testemunhar no futuro e que são anunciados pela comunidade científica? Conquistar as novas gerações deve ser a resposta. Sempre foram os mais jovens, ou quase sempre, que se despojaram das amarras morais, sociais e econômicas em nome das causas que acreditam. Não será diferente agora. É lá que está depositada a possibilidade real de mudança. Não importa a que classe social pertençam ou o nível de formação educacional que possuam, muitos jovens estão dispostos a encarar os problemas de frente e a encontrar, irradiar, praticar meios de desordem organizada ou de desorganizada ordem em nome das mudanças essenciais para validar suas utopias.

        Mas como conquistá-los? Como fazer com que abracem uma causa em um mundo cada vez mais desiludido com as causas? Como promover uma sensibilização para os problemas ambientais que enfrentamos e que tem no consumo praticado por muitos deles próprios uma de suas origens? A resposta não é tão simples. O mundo passou por mudanças drásticas nas últimas décadas. O planeta é cada vez mais urbano, conectado por rede, decifrado por imagens e funciona a uma velocidade nunca antes experimentada pelas gerações que nos precederam. É preciso muita criatividade para ganhar a atenção desses jovens. Junte-se a tudo isso o fato de que muitos deles vivem nas periferias das grandes cidades envoltos pela violência, dentro e fora do lar; acesso, ou não, a uma escola pública de má qualidade e sem uma perspectiva de futuro que os leve a esperançar o sucesso profissional. Não é fácil fazer com que grupos humanos, com estas características, dediquem seu tempo para refletir e atuar de forma prática em suas comunidades abordando a questão do meio ambiente de forma crítica. Como já afirmado anteriormente, é preciso usar a criatividade como estratégia para conquistá-los para esta causa.

 

A arte como resposta      

        A arte tem se constituído em uma forte aliada na luta pelo cuidado com a “nossa casa comum”, visto que “tem feito parte de nossas vidas há pelo menos 40 mil anos. Hoje a encontramos em muros, paredes, outdoors. Saindo de ambientes fechados e sagrados como igreja, museus, galerias e residências” (TOUSO, 2000, p. 26). Ela é parte da história da espécie humana na Terra, pois “A arte é imanente a TODOS os homens e não a apenas alguns eleitos” (BOAL, 2005, p. 167). A necessidade de se expressar das maneiras mais diversas, faz do ser humano um ser artístico que usa a sua potencialidade criativa para expor os seus sentimentos, ou expressar uma realidade que ainda não encontrou palavras para ser descrita por meio da pintura, do desenho, da escultura, etc. (GOLDBERG, 2006). Ela é, pois, o instrumento materializador desta necessidade inerente a própria sobrevivência humana. Segundo Boal (2003, p. 44), “qualquer arte, é sempre um conjunto de sistemas sensoriais que permitem aos seres humanos – e só a eles! – fazer representações do real”. Já nas palavras de Tolstoi (2002, p. 76),

A arte não é, como dizem os metafísicos, manifestação  de uma idéia misteriosa, ou beleza, ou Deus;  não é, como os esteto-fisiologistas dizem, uma forma de  brincar  em que  o homem  libera um excedente de energia estocada; não é a manifestação de emoções por meio de sinais exteriores; não é  a  produção de objetos agradáveis; não é, acima  de  tudo, o  prazer; é, sim, um meio de intercâmbio humano, necessário para a vida e para o movimento em direção ao bem de  cada  homem e da humanidade, unindo-os em um mesmo sentimento.

 

        A crise ambiental que testemunhamos exige novas formas de exercitar a Educação Ambiental no que concerne à busca de alternativas para forjar sujeitos que modifiquem e multipliquem novas práticas comportamentais na relação entre espécie humana e meio ambiente (RUSS; ALMEIDA; SAVI, 2009; GOLDBERG, 2006). É cada vez mais necessário o exercício de uma Educação Ambiental que questione o modelo atual de desenvolvimento (SILVA; ABÍLIO, 2010). Um dos caminhos apontados para subverter a ordem cartesiana da educação é a presença das várias formas de expressões artísticas no processo de aprendizagem. Araújo e Pasquarelli afirmam que,

As artes e a religiões desenvolveram caminhos para integrar o ser humano com o cosmos. Cada uma delas em seu contexto cultural e histórico, a seu modo. Nosso papel talvez seja o de resgatar e re-significar  esses conhecimentos para nos re-encontrarmos com o mundo e, através da educação, ajudarmos outras pessoas a se re-encontrarem  (2007, p. 328).

        A arte é uma forte aliada no processo educativo. Para Morais e Sato (2008, p. 2050), “A arte-educação e a Educação Ambiental por serem muito semelhantes trabalham juntas na transformação do homem, por isso, estão sempre ligadas numa estreita relação, sendo a linguagem artística natural ao desenvolvimento do ser humano”. Ela pode estreitar a distância entre os conhecimentos científicos e o cidadão comum e ajudar na sensibilização dos problemas ambientais (GOLDBERG, 2006). Suas diversas linguagens podem atingir  pessoas de diferentes idades, classes sociais, etc. ao mesmo tempo, diferentemente de outras abordagens.

 

Conclusão

        A Educação ambiental deve buscar todos os caminhos possíveis para conseguir atingir o seu alvo, isto é, a sensibilização de todos, principalmente dos jovens que buscam um novo sentido para a vida em um mundo que se apresenta em crise de valores. Ademais, somente de forma criativa é possível mostrar alternativas ao modelo capitalista de sociedade que causou a degradação a que assistimos atualmente.

       A arte pode e deve ser elemento essencial nesta luta. Ela aglutina, expande, possibilita novas formas de olhar as diferentes situações geradoras de crises ambientais. Com ela podemos sensibilizar tanto os participantes dos grupos como a comunidade que será beneficiada com a obra artística.

        Os jovens clamam por esta possibilidade. É o que se pode constatar com os diversos movimentos culturais que abundam em todo o país nas vertentes musicais, teatrais, etc. Basta dar-lhes oportunidade e eles saberão, exatamente, como utilizar a arte para denunciar e anunciar, através dos seus talentos, que “um outro mundo é possível.”      

 

Referências Bibliográficas

 

ARAÚJO, Alexandre Falcão de e PASQUARELLI, Vital. Teatro e Educação Ambiental. Um Estudo sobre Ambiente, Expressão Estética e Emancipação. Rio Grande: Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental. 2007.

 

Boal, Augusto. Teatro do Oprimido e Outras  Poéticas  Políticas. Rio de Janeiro:  Civilização Brasileira. 2005.

 

_______. O Teatro como Arte Marcial. Rio de Janeiro: Garamond. 2003.

 

GOLDBERG, Luciane Germano. Arte-Educação-Ambiental: O resgate da singularidade e a formação de um imaginário ambiental. In Fundamentos , reflexões e experiências em educação ambiental. PAZ, Ronilson, José da (Org.). João Pessoa: Editora Universitária. 2006.

 

RUSS, Bruna Ribas; ALMEIDA, Doriane Conceição de e SAVI, Maurício. Sensibilização Ambiental Através da Arte. In Revista Educação Ambiental em Ação. Número 28, Ano VIII. 2009.

 

SILVA, Flávio José Rocha da; ABÍLIO, Francisco José Pegado. Por uma Educação Ambiental crítica ao atual modelo de desenvolvimento. Revista Eletrônica do Prodema. V. 6 N. 1 p. 45-52, março 2011.

 

TOLSTOI, Leon. O que é Arte? A polêmica visão do autor de Guerra e Paz. Rio de Janeiro: Ediouro. 2002.

 

TOUSO, Débora Minelli. Arte nas Paredes. In Meio Ambiente: Coleção Temas Transversais. Baccega, Maria Aparecida (Org.). São Paulo: Ícone Editora. 2000.

 

Ilustrações: Silvana Santos