Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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04/09/2012 (Nº 41) DESAFIOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO FORMAL
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Educação ambiental em Ação 41

 

DESAFIOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO FORMAL.

Ivete Prosenewicz Spada - Bióloga, Mestranda do Curso de Ciências da Saúde do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual de São Paulo (IAMSPE). Professora do Curso Ciências Biológicas e Gestão Ambiental da Faculdade de Educação de Jaru (UNICENTRO), e professora do Curso de Ciências Biológicas das Faculdades Integradas de Ariquemes (FIAR).

Endereço: Rua Mato Grosso, 794, ap 01, Bairro Setor 02. CEP 76890-000- Jaru- RO, Brasil. Telefone: (69) 99267944. E-mail: biologaivete@bol.com.br

 

RESUMO

Este estudo avaliou a importância da Educação Ambiental no contexto escolar diante dos problemas ambientais ocasionados pela ação antrópica, de acordo com a legislação e os PCNs a educação ambiental deve ser incluída de forma interdisciplinar no ensino formal. No entanto muitas dificuldades e questionamentos surgem quanto à prática de Educação Ambiental nas escolas. O estudo foi realizado por meio de análise documental da legislação e pesquisas realizadas na Educação Ambiental, onde demonstrou que os docentes tem um papel fundamental na formação de cidadãos conscientes com as questões ambientais e são os agentes facilitadores do processo. Os currículos escolares também devem abordar a temática da Educação ambiental havendo articulação das disciplinas e  resgatando, além dos problemas ambientais, os valores econômicos, sociais e culturais, obtendo assim uma visão holística da temática ambiental para que atinja os propósitos propostos pela legislação no Ensino formal.

Palavras Chaves: Educação Ambiental, Ensino Formal, Interdisciplinaridade, Educadores Ambientais.

INTRODUÇÃO

A educação ambiental teve uma trajetória muito importante e significativa na qual a educação no ensino formal conta com muito de professores conscientes, preocupados com os problemas ambientais e sensibilizados com as consequências que esses desequilíbrios causam no ecossistema, tanto para a espécie humana como para as demais espécies viventes. Os alunos se espelham em profissionais que possuem na sua concepção de que deve haver uma sensibilização em conjunto para unir forças e criar métodos de participação

Nas últimas décadas a educação ambiental vem sendo tratada como assunto primordial tanto no ensino formal como não formal, na sensibilização quanto aos problemas ambientais referentes ao comportamento humano, decorrentes do consumismo, da poluição e capitalismo. E como consequências, temos as guerras, desigualdades sociais, falta de saneamento básico, entre outros.

A evolução industrial e tecnológica dos últimos tempos levou o Meio  Ambiente  a um  estado  de  depreciação  nunca  visto  anteriormente. O homem  acreditou  poder  tirar  o  máximo  proveito  dos  recursos  naturais  do  planeta,  sem sofrer  as  conseqüências  de  seus  atos (NARCIZO, 2009).

Com isso surge a preocupação com problemas ambientais, gerados de forma direta ou indireta pela ação antrópica, devendo haver uma sensibilização por parte dos seres humanos neste processo. Apesar de ser atribuída como lei a educação ambiental vem sendo tratada como instrumento de comemorações em eventos de datas especiais. A questão ambiental consiste num conjunto de temáticas relativas não  só  à proteção da vida no planeta, mas também, à melhoria do meio ambiente e da qualidade de vida das comunidades, compõe a lista dos temas de relevância internacional (CAMARGO, 2008).

2. MATERIAL E MÉTODO

O presente estudo tem como principal objetivo os desafios da inserção da educação ambiental no contexto escolar, realizando uma análise documental das perspectivas e valores que a educação ambiental traz para o individuo no ensino formal.

3. REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 Histórico da Educação Ambiental

Em 1972, a ONU patrocinou a Conferência de Estocolmo, em que, pela primeira vez, chegou-se a idéia de que a Educação Ambiental é o instrumento para a promoção das mudanças. Em 1977, reuniu-se a Primeira Conferência  Intergovernamental  sobre Educação  Ambiental,  promovida  pela  UNESCO  e  pela  PNUMA  -  Programa  das  Nações Unidas para o Meio Ambiente, na qual definiram-se objetivos e princípios norteadores para a Educação Ambiental em todo o mundo. Em Buenos Aires, em 1988, no Seminário Latino-Americano de Educação Ambiental (onde o Brasil participou), foram formuladas recomendações específicas para o continente.

Se observarmos pelo histórico da educação ambiental no processo de sensibilização ela vem sendo demarcada desde 1972, porém fundamentou-se com maior ênfase com a ECO 92, e a partir do ano de 1999, foi instituída a Política Nacional de Educação Ambiental, na qual traz o conceito:

De acordo com a Lei 9.795/99.

“Entende-se por educação ambiental os  processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltada para a  conservação  do  meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade”.

 

Tratando da educação ambiental dispõe sobre a educação ambiental, instituindo a política nacional de educação ambiental, que trata sobre a educação tanto no ensino formal quanto não formal, e deve ser inserida nas escolas como conteúdo interdisciplinar. Entre 2001 e 2003, o censo escolar feito pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) inseriu uma pergunta sobre a presença da EA nas escolas brasileiras de ensino fundamental, e segundo a pesquisa, a inserção da EA nas escolas públicas brasileiras teve um rápido crescimento entre os anos 2001 e 2004. Em 2001, 61,2% das escolas declaravam inserir a EA em seu trabalho; já em 2004, esse percentual chegou a 94%, com certa homogeneização regional, rompendo com os desequilíbrios anteriormente existentes (LIMA, 2007).

Apesar de ser exigência legal, a Educação ambiental de ser vista de forma  prazerosa, e não somente porque a legislação trata. Ainda que difícil de ser desenvolvida, pois requer atitudes concretas, como mudanças de comportamento pessoal e comunitário, tendo em vista que as dificuldades são grandes quando se quer trabalhar verdadeiramente a Educação Ambiental, mas precisam ser enfrentadas (NARCIZO, 2009).

Deve-se configurar em uma questão que diz respeito a um conjunto de atores do universo educativo, potencializando o envolvimento dos diversos sistemas de conhecimento, a capacitação de profissionais e a comunidade universitária numa perspectiva interdisciplinar (JACOBI, 2003).

De acordo com os PCNs, a melhor maneira de trabalhar a educação ambiental nas escolas é de forma interdisciplinar, onde todos os professores contribuem para a sensibilização do educando.

A Educação Ambiental, teoricamente, é tema transversal nos programas pedagógicos, porém, na prática isso não acontece. Falto incentivo e muitas vezes conhecimento do próprio professor nessa área (SARAIVA,2008).

No entanto, Boutinet (2002) em sua pesquisa ao elaborar uma reflexão a respeito dos projetos, encontrou confusões de seu entendimento no campo educacional, provocadas provavelmente por uma valorização excessiva, como se estes fossem dotados de “virtudes  mágicas” que pudessem de uma  hora para outra, quebrar a rigidez dos programas escolares e seu  caráter coercivo, ou resolver os problemas de aprendizagem dos alunos.

Corroborando com a pesquisa realizada por Lamosa (2011) às dificuldades enfrentadas para a inclusão da EA nas escolas, cerca de 50% dos professores apontam a precariedade de recursos materiais e humanos, bem como a falta de previsão de tempo para planejamento e realização de atividades extracurriculares como os principais problemas a serem enfrentados.

De acordo com Narciso (2009), a Educação Ambiental ainda gera inúmeros questionamentos entre estudiosos e professores da educação básica, acostumados a  lidar,  respectivamente,  com  a  teoria  e  a  prática  do  tema  em  questão.

É comum observar que nas produções de projetos de educação ambiental, a falta de análise dos fundamentos históricos dessa educação é quase uma constante. Observa-se também a ausência de explicações políticas, sociais e econômicas que fundamentem o surgimento de uma educação ambiental consistente e de conhecimento público (TRAVASOS, 2001)

De acordo com Pelegrini (2011) se não levarmos em conta a interferência dos fatores econômicos, sociais e culturais, os resultados no campo da educação serão muito pequenos.

Pessoas ligadas à prática de educação ambiental, muitas vezes, realizam eventos isolados, como caminhados para recolher o lixo em determinado local ou como a comemoração do Dia Mundial do Meio Ambiente, e se detêm nesse aspecto sem realizar discussões ou aprofundamento (TAVARES,2003).

Cabe aos professores  e  demais  pessoas  ligadas  ao  ensino,  possibilitar  a aquisição  de  conhecimentos  relativos  ao  ambiente,  tendo  em  vista  a  realidade  local,  do País, como também a mundial, com diferentes experiencias vividas com relação a problematica ambiental, sendo este trabalho deve ser realizado com envolvimento de toda a comunidade (CAMARGO, 2008).

Colaborando com a análise de Knorst (2010) Analisando como trabalhar a consciência ambiental no processo de ensino-aprendizagem nas escolas de educação básica, percebe-se que atuar na educação ambiental, atualmente, tornou-se um amplo desafio para todos os cidadãos. É preocupante a crise ambiental, e a sobrevivência dos seres vivos no planeta já é muito questionada.

A educação ambiental tem que se desenvolver dentro da própria escola.  De nada adianta as determinações das leis ou normas específicas, se o professor não estiver consciente ou com suficiente preparação para o papel de educador que lhe caberá desempenhar (CAMARGO 2008).

As escolas são responsáveis pela transformação da sociedade. Então, estudar as questões ambientais nas aulas é contribuir para a formação de discentes conscientes, responsáveis e críticos, mas, com certeza, isso é um grande desafio aos docentes (KNORST, 2010).

Para que haja uma transformação é necessário a reformulação do pensamento didático pedagógico do professor agindo como agente facilitador do processo articulando as disciplinas. (NARCIZO, 2009).

Corroborando com Knorst (2010) Um bom educador precisa utilizar estratégias de ensino para a prática de educação ambiental que estimulem o aluno a preservar o meio ambiente, além de promover a integração entre a escola e a comunidade, objetivando a proteção ambiental em harmonia com o desenvolvimento sustentável.

De acordo com o MMA (2004) O primeiro passo é apresentar este painel com retratos da educação ambiental brasileira, destacando algumas entre aquelas denominações que vêm despontando pelo país: educação ambiental crítica, emancipatória ou transformadora, ecopedagogia, educação no processo de gestão ambiental ou ainda, alfabetização ecológica.

4. CONCLUSÃO

Este artigo buscou evidenciar as dificuldades de implantação da Educação ambiental no ensino formal. De acordo com a legislação a educação ambiental deve ser trabalhada não como uma disciplina, mas de forma interdisciplinar na educação básica, então surgem as dificuldades dos professores em trabalhar em conjunto e de forma planejada. A Educação ambiental deverá ser planejada, de forma em que todos os professores em seus conteúdos possam trabalhar em sincronia, como agentes facilitadores do processo de sensibilização com relação aos problemas ambientais ocasionados pela ação antrópica, sem deixar de lado as questões econômicas, sociais e culturais. A Educação Ambiental está limitada a projetos isolados em comemorações ambientais. O projeto Pedagógico de cada escola deve abordar ações conjuntas envolvendo todas as disciplinas e a comunidade. Projetos isolados raramente causam resultados em longo prazo se não houver a participação de todos os envolvidos. O docente desempenha um papel fundamental na sensibilização de discentes, porém deve haver mais contribuição e envolvimento da comunidade escolar e comunidade externa.

5. REFERÊNCIAS

BARCELOS, T. M. Subjetividade: inquietações contemporâneas. Educação e filosofia 32, (16), 149-159, 2002

BOUTINET, J-P. Antropologia do projeto. Artmed, Porto Alegre, 5.ed. 218 p  Trad.  Patrícia  Chitonni  Ramos. 2002

BRASIL, PCN- Parâmetros Curriculares Nacionais: Meio Ambiente, 1996

BRASIL, Identidades da educação ambiental brasileira- Brasília, Ministério do Meio Ambiente, 2004.

BRASIL, Lei 9795-99. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 1999.

CAMARGO, Rosane. Educação ambiental e cidadania no currículo escolar. Guarapuava. Rev. Eletrônica Lato sensu- UNICENTRO, 6  A, 2008.

JACOBI, Pedro. Educação Ambiental, Cidadania e Sustentabilidade. Cadernos de Pesquisa, São Paulo n. 118 p. 189-205 março, 2003

KNORST, Patricia Andréia. Rauber. Educação Ambiental: um desafio para as unidades escolares., Joaçaba, Rev. Unoesc & Ciência – ACHS v. 1,  n. 2, p. 131-138, 2010

LIMA, M. J. G. S.; VASCONCELLOS, M. M. N. A educação ambiental como disciplina escolar: explicitando a tensão entre teoria e prática. In: encontro de pesquisa em educação ambiental, 4., 2007, Rio Claro. Anais... Rio Claro: UNESP, 2007.

LAMOSA, Rodrigo de Azevedo C; LOUREIRO, Carlos Frederico B. A Educação Ambiental e as políticas educacionais: Um estudo nas escolas públicas de Teresópolis (RJ).Educação e Pesquisa, V .37, p 277- 292, 2011.

NARCIZO, Kaliane Roberta dos Santos. Uma análise sobre a importância de trabalhar educação ambiental nas escolas. Mestrado Educ. Ambiental. V 22 2009.

PELEGRINI, Djalma Ferreira; VLACH, Vânia Rubia Farias. As múltiplas dimensões da educação ambiental: por uma ampliação da abordagem. Sociedade e natureza. V 23. Uberlandia, Agosto-2011.

SANTOS, Elaine Teresinha Azevedo dos; Educação ambiental na escola: conscientização da necessidade de proteção da camada de ozônio, Rio Grande do Sul (monografia). 2007

SARAIVA, NASCIMENTO e COSTA. A prática pedagógica do ensino de educação ambiental nas escolas públicas de João câmara – RN, Holos, Ano 24, Vol. 2  81,  2008

TAVARES, Fernanda Reis de Pinho Tavares. Educação Ambiental na Escola: A perspectiva estudantil sobre o meio ambiente e a propaganda ambiental na internet, UFMG 2003.

TRAVASSOS, Edson Gomes; A educação ambiental nos curriculos: dificuldades e desafios. Revista de Biologia e Ciências da Terra. Vol 1 - N 2, 2001

 

 

 

Ilustrações: Silvana Santos