Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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04/09/2012 (Nº 41) Percepção ambiental de comunidade rural Eldorado do Carajás em Macaíba – RN sobre a espécie vegetal M. caesalpiniifolia Benth
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Percepção ambiental de comunidade rural Eldorado do Carajás em Macaíba – RN sobre a espécie vegetal M. caesalpiniifolia Benth

 

Clarice Sales Moraes de Souza1; Patrícia Pereira Mattos2; Adna Laís Leocádio Furtado3; Magdi Ahmed Ibrahim Aloufa 4

 

1Engenheira Agrônoma, Mestranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) – UFRN. Centro de Biociências/LABCEN – Campus Universitário, s/n 59072-970 - Natal/RN. Bolsista Capes/ REUNI, clarice_agro@hotmail.com

2 Bióloga, Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente –UFRN. Centro de Biociências/LABCEN – Campus Universitário, s/n 59072-970 - Natal/RN, patricinhapm@hotmail.com

3 Engenheira Agrônoma, lato sensu em Gestão e Perícia Ambiental UNI-RN, adnalais@hotmail.com

4 Engenheiro Agrônomo, Doutor em Biologia e Fisiologia Vegetal pela Universidade Pierre & Marie Curie, Paris VI, França. Professor da UFRN. Centro de Biociências/LABCEN – Campus Universitário, s/n 59072-970 - Natal/RN, magdi-aloufa@bol.com.br

 

Resumo

 

A Caatinga é o tipo de vegetação do semiárido do Nordeste Brasileiro encontrando-se em diferentes estágios de sucessão secundária. Este bioma possui um patrimônio biológico diversificado, com ocorrência de espécies endêmicas, e vem sofrendo a extinção de populações da fauna e flora, e dentre as estratégias para conservação de espécies, podemos citar a “conservação in situ”, nos locais de ocorrência das espécies, conservam-se ecossistemas e habitats, mantendo e recuperando populações nativas de espécies. No entanto, para conservarmos uma espécie vegetal recorremos para entender como ocorre este elo de exploração e consumo, a partir da visão de populações rurais que lidam diretamente com estas espécies. O objetivo desta pesquisa é a busca de estratégias de conservação da espécie vegetal Sabiá a partir da percepção ambiental de populações rurais. Utilizamos entrevistas abertas, com dados socioeconômicos, conhecimentos sobre a espécie vegetal e de caráter conservacionista. Ocorreram preferências a partir dos discursos que a planta possui uma madeira firma, não é atacada por cupim, é uma espécie da região. A pesquisa caracterizou que a população possui conhecimentos sobre a espécie Sabiá e que percebem que os recursos naturais estão se exaurindo.

 

Palavras-chaves: caatinga; Sabiá, assentamento rural.

 

INTRODUÇÃO

 

A Caatinga é o mais importante tipo de vegetação do semiárido do Nordeste Brasileiro e encontra-se em diferentes estágios de sucessão secundária, dominada por espécies herbáceas anuais e espécies lenhosas arbustivas (NOVELY, 1982). Este bioma possui um patrimônio biológico bastante diversificado, com ocorrência de espécies endêmicas e uma riqueza inestimável de espécies vegetais e animais, sendo o único bioma exclusivamente brasileiro (MMA, 2004). A vegetação do Bioma caatinga é caracterizada por uma floresta arbórea ou arbustiva, composta de arvores e arbustos baixos com algumas características xerofíticas (PRADO, 2003).

As abrangências das espécies estão freqüentemente limitadas pelas condições físicas do ambiente, e em ambientes terrestres, a temperatura e a umidades são as variáveis mais importantes (RICKLEFS, 2009). Tamdjian (2005) afirma que a vegetação é o “espelho do clima”, resumindo uma teoria que se baseia no pressuposto de que o clima constitui o fator determinante da distribuição dos vegetais na superfície terrestre.  Enfatizando que a relativa escassez de água, somada à pobreza dos solos, oferece condições naturais para o desenvolvimento do bioma brasileiro da caatinga.

Apesar do registro de novas espécies da caatinga o conhecimento botânico e zoológico ainda é bastante precário. Temos 932 espécies de plantas, mas esse número pode chegar a 2 mil ou 3 mil (ALVES & LESSA, 2010). Para alguns pesquisadores este ecossistema é considerado o menos conhecido e estudado dentre os ecossistemas brasileiros, neste sentido, sua importância biológica e seu potencial econômico ainda são pouco valorizados (KIILL, 2002). E ainda estamos à mercê da possibilidade do desaparecimento de espécie. 

A caatinga ocupa uma área com cerca de 844,453 km2, o equivalente a 11% do território nacional, engloba todos os estados do Nordeste e o norte de Minas Gerais. É o bioma semiárido mais biodiverso do mundo e o único exclusivamente brasileiro. Cerca de 27 milhões de pessoas vivem na região, a maioria carente e dependente dos recursos do bioma para sobreviver. No entanto, é o principal bioma das áreas suscetíveis à desertificação do País e vem sendo seriamente afetado pelo processo de desertificação (MATALLO, 2011).

A região contemplada com a Caatinga é de grandes potenciais, mas que convive com uma desertificação gerada pelas pressões antrópicas, pela caça predatória, bem como o pouco aproveitamento dos seus potenciais econômicos e a exploração dos bicombustíveis de forma não sustentável (ALVES & LESSA, 2010). Essas atividades estão inseridas num campo onde ambiente e sociedade vive uma realidade conflitante, que envolve cultura e tradição, ambientes vulneráveis e sobrexplorados, população com renda per capita muito baixa, espécies ameaçadas e o interesse coletivo de conservação da biodiversidade (MARQUES, 2008).

Este bioma está sofrendo a extinção de populações da fauna e flora, devido ao desmatamento e as queimadas que são práticas comuns no preparo da terra para agropecuária que destrói a cobertura vegetal e, além disso, causam desequilíbrio da qualidade da água, solo e clima (ANDRADE-LIMA, 1981). A extinção é um processo evolutivo natural, mas a taxa atual é estimada em uma magnitude muitas vezes superior à de base inferida a partir de dados fósseis. As respostas ao declínio da diversidade biológica devido a estas extinções têm variado de convenções globais às ações de comunidades locais (SILVA, 2011).

Algumas ações vêm sendo tomadas para reverter às taxas de extinção, como é o caso do Projeto de Avaliação e Identificação de ações prioritárias para a conservação de utilização sustentável e repartição de benefícios da biodiversidade do Bioma Caatinga, o seu objetivo é estabelecer áreas e ações prioritárias para a conservação da diversidade biológica na Caatinga, discutindo-se estratégias para promover a sua proteção e o uso sustentável dos recursos naturais (SCHOBER, 2002).

Lessa (2010) afirma que monitoramentos recentes realizados pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), apontam de que dos estados do Nordeste do país, em que a Bahia e o Ceará estão como os maiores devastados da Caatinga no período de 2002 a 2008, através de mapas de cobertura vegetal e imagens de satélite. Segundo mesmo autor, descobriu-se que o território devastado neste espaço de tempo foi de 16.576 km2. No estado do Rio Grande do Norte a área total do Bioma Caatinga 49.402 km2, a área desmatada antes de 2002 estava em torno de 21.418 km2, e entre 2002 e 2008 foi em torno de 1.142 km2, ou seja, já perdemos 45,67% de todo o Bioma no estado em questão.

O estudo e a conservação da diversidade biológica da Caatinga é um dos maiores desafios da ciência brasileira, pois, estas são proporcionalmente as menos estudadas entre as áreas naturais, com grande parte do esforço científico concentrado em alguns poucos pontos em torno das principais cidades da região, e também por ser a região natural brasileira menos protegida (LEAL et al., 2005).

A espécie Mimosa caesalpiniifolia Benth. é conhecida popularmente por Sabiá em toda região do Nordeste brasileiro, devido à semelhança da cor da casca da planta jovem com a plumagem do pássaro sabiá (Corrêa, 1975), pássaro este do gênero Turdis (BRAGA, 1960, TIGRE, 1970). São consideradas plantas de múltiplos usos, apresentam boas características de adaptação ambiental e uma alternativa de conservação ainda são os agricultores familiares que nos dias atuais cultivam e consomem essas espécies.

Dentre as estratégias para conservação de espécies, podemos citar a “conservação in situ”, ou seja, nos locais de ocorrência das espécies, conservam-se ecossistemas e habitats, mantendo e recuperando populações nativas de espécies de interesse (CAVALCANTE et al., 1998). No entanto, para conservarmos uma espécie vegetal recorremos para entender como ocorre este elo de exploração e consumo, a partir da percepção de populações rurais que lidam diretamente com estas espécies.

A espécie Sabiá é encontrada no estado do Rio Grande do Norte, e historicamente, a região Nordeste apresenta dependência socioeconômica na demanda de recursos florestais (CAMPELLO et al., 1999). Segundo informações apresentadas pela FAO/IBAMA (1993), 90% de toda a demanda é abastecida pela vegetação nativa; no entanto, esta matéria-prima não é explorada em regime de manejo sustentado o que, vem comprometendo o abastecimento e principalmente a espécie. Estima-se que cerca de 35% de toda a energia consumida pelo setor industrial do Estado são derivados da biomassa florestal (CARVALHO et al., 1999).

Então, para tentarmos reverter quadros de vulnerabilidade de espécies a risco de extinção, nada mais coerente do que procurar trabalhar com grupos de pessoas que estão envolvidos no habitat das espécies vegetais. E como forma de conhecer a realidade local destas pessoas e da sua relação homem-ambiente, nada mais justo do que entender como eles percebem, reage e sente insatisfações diante de suas necessidades.

Sendo assim o estudo da percepção ambiental é de fundamental importância, pois por meio dele teremos a possibilidade de conhecer a cada um dos grupos envolvidos, facilitando a realização de um trabalho com bases locais, partindo da realidade do público alvo, para conhecer como os indivíduos percebem o ambiente em que convivem, suas fontes de satisfação e insatisfação (FAGGIONATO, 2007).

A percepção ocorre no momento em que as atividades dos órgãos dos sentidos estão associadas com atividades cerebrais (MELAZO, 2005). Ela pode, portanto, ser desenvolvida através da funcionalidade dos sentidos, tornando assim diferente em cada indivíduo, pois, o significado que os estímulos sensoriais despertam é o que distingue a forma como cada indivíduo compreende a realidade em que está imerso (RIBEIRO, 2003).

Leff (2001) diz que “na história humana, todo saber, todo conhecimento sobre o mundo e sobre as coisas tem estado condicionado pelo contexto geográfico, ecológico e cultural em que produz e se reproduz determinada formação social”.

Do ponto de vista científico, é interessante notar como o conceito de percepção ambiental tem estabelecido conexões entre um estudo sobre o meio físico, afeito aos métodos da geografia, e uma reflexão sobre as relações desse meio com a subjetividade, própria do instrumental psicológico (PACHECO & SILVA, 2005). De acordo com Domingues (2004) parece ser exatamente por se colocar no meio do terreno que esse conceito tem sido definido de maneira ora mais próximo as ciências físicas, ora mais próxima aos saberes que, no passado, foram chamados “ciências do espírito”.

Oliveira (2006) percebe que cada indivíduo tem sua interpretação de espaço, de acordo com a realidade em que vive. O espaço vivenciado é que será refletido nas percepções e esse parâmetro justifica a necessidade de compreender as ações de cada indivíduo, pois cada um tem uma percepção diferente. No entanto, não existe percepção errada ou inadequada, existem sim, percepções diferentes, condizentes com o espaço vivido.

Percepção ambiental é uma representação científica e, como tal, tem sua utilidade definida pelos propósitos que embalam os projetos do pesquisador. Como adverte Becker (1996), as representações científicas são como mapas que “fornecem um retrato parcial que é, todavia, adequado a alguma proposta. Todos eles surgem em ambientes organizacionais, que restringem o que pode ser feito e definem os objetivos a serem alcançados pelo trabalho”

Para Ferrara (1993), a percepção ambiental é definida como a operação que expõe a lógica da linguagem que organiza os signos expressivos dos usos e hábitos de um lugar. Sabe-se que a questão ecológica é atravessada, no seu todo, por questões ideológicas traduzidas como perspectivas biocêntricas ou antropocêntricas, preservacionistas ou conservacionistas (DIEGUES, 2001; CARVALHO, 2003).

Dessa maneira, a percepção é, a todo o momento, construída do momento presente em adição ao passado que não está absolutamente separado do primeiro (MARIN et al, 2003).

Tuan (1980) chega a abordar a questão do indivíduo nativo do ambiente e do indivíduo visitante, afirmando que “O nativo tem uma complexa e derivada percepção do meio por estar inserido nele, baseado em mitos e valores locais” enquanto que o indivíduo visitante levaria em consideração os critérios estéticos, regulados por um juízo de valor inerente ao visitante. As sensações é que determinam a qualidade, as impressões, os significados e os valores atribuídos ao meio por cada indivíduo e por isso o estudo de percepção se torna difícil, pois cada indivíduo atribui valores distintos ao meio, sejam eles ecológicos econômicos ou simplesmente estéticos (MELAZO, 2005).

O objetivo desta pesquisa é investigar a percepção ambiental de populações rurais do assentamento rural Eldorado do Carajás (Macaíba-RN) acerca da espécie vegetal M. caesalpiniifolia B. (sabiá), a fim de contribuir para a conservação da espécie.

 

 

METODOLOGIA

 

Área de Estudo

 

A pesquisa foi realizada em um assentamento rural localizado no município de Macaíba, no Estado do Rio Grande do Norte (5º51’30’’ Sul e 35º21’14’’Oeste). O município abrange uma área de 490 km² e tem uma distância da capital Natal de aproximadamente 17 km. A região compreende os biomas Caatinga e Mata Atlântica, apresenta clima tropical com verão seco e estação chuvosa, possui uma precipitação pluviométrica anual de 1.442,8 mm e temperatura média de 27,1ºC (IBGE, 2010).

Logo abaixo (fig. 1) em mapa de localização, encontra-se Macaíba ao qual faz parte da mesorregião do Leste Potiguar, limitando-se com os municípios de São Gonçalo do Amarante, Natal, Parnamirim, São José do Mipibu, Vera Cruz, Bom Jesus, São Pedro e Ielmo Marinho, abrangendo uma área de 490 km².

 

Figura 1: (A) Entrada do Município de Macaíba – Avenida Jundiaí. (B) Assentamento Rural Eldorado do Carajás. Fonte: própria.

 

A população total do município, segundo o Censo do IBGE (2010), é de 69.467 habitantes, com uma densidade demográfica de 136,01hab/km2. Da população total 34,31% da população vivem na zona rural do município de Macaíba.

O bioma da região é caracterizado como Caatinga e Mata Atlântica. O clima tropical chuvoso com verão seco e estação chuvosa adiantando-se para o outono possui uma precipitação pluviométrica anual de 1.442,8 mm, com uma temperatura média de 27,1ºC.

A agricultura praticada no município é baseada em mandioca, banana, feijão, milho, soja e trigo (IBGE, 2010).

A pesquisa é de forma qualitativa, buscando levantar opiniões dos participantes da pesquisa, interagindo de forma neutra, não generalizável, mas exploratória, de acordo com Vieira (2009). As etapas da pesquisa ocorreram nos meses de outubro a novembro de 2011. Os métodos utilizados foram observação direta e entrevistas semiestruturadas. A observação direta do comportamento humano no ambiente é um metodo básico para as abordagens da percepção ambiental participante e é apropriada para os primeiros contatos com a comunidade, de modo a possibilitar um momento de exploração da realidade (WHYTE, 1977; COMBESSI, 2004). Realizaram-se visitas no período matutino, com o objetivo de passar períodos indeterminados com cada participante.

A comunidade selecionada para o estudo foi a do Eldorado do Carajás por possuir o maior número de assentados. Utilizou-se a metodologia de Albuquerque (2010) para estimar a amostra dos participantes e neste caso, foram aplicadas 26 entrevistas semiestruturadas, no período matutino, distribuídas entre as pessoas em suas residências ao acaso. A autorização das entrevistas realizada mediante consentimento verbal individual e legalizada através do termo por escrito fornecido pelo presidente da associação do Assentamento Rural.

Realizaram-se visitas para as entrevistas e observações diretas da população do assentamento em Macaíba – RN para conhecimento da realidade da população, sem entrevistas inicialmente, obtendo apenas a observação, em que segundo Combessi (2004) a observação participante é apropriada para os primeiros contatos com a comunidade, de modo a possibilitar um momento de exploração da realidade. Whyte (1977) afirma que a observação direta do comportamento humano no ambiente é um metodo básico para todas as outras abordagens da percepção ambiental, fornecendo um contexto: quais são os métodos desenvolvidos e testados? tempo, custo, conceitos e técnicas. Então, a partir dos relatos em campo, a metodologia das entrevistas foi elaborada para atingir o publico alvo.

Na entrevista foram abordados os seguintes dados sociais: tempo de moradia de cada participante, local de origem, ocupação, escolaridade, composição familiar e renda familiar.

Detemo-nos também a perguntar quais plantas são cultivadas no local, se a quantidade da planta variou no tempo em que habitam o assentamento, utilização da espécie em relação às partes da planta, se preferem a planta de Sabiá como cerca viva ou apenas a estaca, se alguma vez já plantaram a espécie e de como foram realizados os plantios. As escolhas das técnicas e a estrutura das perguntas estiveram relacionadas com a qualidade do informante, fornecendo respostas precisas e diretas.

Os dados foram analisados a partir de análise de conteúdo (Bardin, 2004), em que se pretendeu tomar em consideração totalidade do texto, passando-o pelo crivo da classificação e do recenseamento, segundo a freqüência ou ausência de itens de sentido. Realizamos uma pré análise das respostas, exploramos o material, categorizamos os dados e finalmente interpretamos.

 

 

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

Para os dados sociais da população rural de Eldorado do Carajás, as pessoas que fizeram parte da amostragem possuíam idade entre 18 a 74 anos. Em relação ao tempo de moradia no assentamento rural, foi de 10 a 13 anos, ou seja, quando o órgão federal Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) disponibilizou a área para o cultivo de populações rurais. De acordo com a pesquisa 73% dos assentados são originados da região de Macaíba, mas principalmente dos povoados próximos do município como Riacho do Sangue e Tabatinga.

Para o quesito estado civil, possuem como casados, 69,23% deles, os outros eram constituídos por união estável, viúvos e solteiros. Nos componentes de constituição familiar variavam de duas a oito pessoas, onde em media possuía 4,9 indivíduos por residência. Sobre o nível de escolaridade 76,9% eram alfabetizados e menos de 1% destes possuem nível superior completo.

O dado mais difícil foi o da renda, pois se sentiam constrangidos, pelo fato da mesma ser anual, caracterizando salários baixos e que dificilmente chegaria ao salário mínimo.

Dos moradores aproximadamente 70% vive da agricultura, o restante adicionam a renda com a pesca, alguns aposentados e outros com bolsa família. O tamanho da área agricultável é padrão, em torno de 6 a 6,5 há (fig.2).

 

Figura 2: Lote de terra.

 

Com relação à percepção sobre as plantas de Sabiá, observou-se que das plantas que possuem no assentamento rural Eldorado do Carajás a maioria foram plantadas pela comunidade. Aurino (2007) afirma que atitudes como estas é positiva, em que a maioria dos agricultores perceba que a caatinga deva ser preservada, estando dispostos a aprender e ajudar neste processo, mas contempla explanando que não há incentivos para que isto ocorra, nem mesmo o conhecimento adequado por parte dos possíveis agentes multiplicadores.

O conhecimento mais abrangente sobre a espécie foi principalmente do sexo masculino, o que foi observado pelo conhecimento de imediato da espécie e das sementes levadas durante as entrevistas.

Das plantas cultivadas no local, 100% dos entrevistados na comunidade rural cultivam mandioca, as outras culturas para complementar a renda vem a ser milho, feijão, macaxeira, manga, coco, cajueiro, jaca, banana, goiaba, laranja, jerimum, mamão, graviola e sabiá. Vale salientar que quando perguntamos que plantas eles cultivam, observamos que são apenas plantios de subsistência. A espécie Sabiá não se manifesta como uma planta representativa nos cultivos, quando comparada com a mandioca.

A existência de plantas arbóreas nos terrenos apenas 3,84% dos participantes não soube responder. Os restantes dos entrevistados foram bem enfáticos na citação das espécies presentes, e observamos que apesar da espécie Sabiá não ser cultivada, ela ainda está presente em seu habitat de origem. Representando como a segunda espécie mais citada, depois do cajueiro anão precoce.

 A partir das variedades de espécies cultivadas pelos assentados rurais Eldorado do Carajás, podemos inferir a semelhança com que Andrade et al. (2005), afirmam que a presença de algumas famílias de plantas pode indicar o estado de conservação da flora de determinados ambientes.

As mudas de cajueiro foram compradas pelo Banco do Nordeste – BNB conforme relatos da comunidade, como forma de incentivo a agregação de valores na renda, apesar de que a produção atualmente está em baixa devido à ausência de manejo regular na adubação nos plantios. Em trabalhos com agricultores realizados por Aurino (2007), observou a semelhança em relação aos cultivos de cajueiro neste trabalho, em que foi o mais citado dentre as outras plantas, enfatizando o grau de importância econômica da espécie nestas duas comunidades rurais.

Com relação ao uso de espécies madeireiras para estacas, mourões e vergas, verificamos que 69,23% se dispuseram a citar que a estaca da planta Sabiá é uma das preferidas, o restante dos informantes não souberam responder. A justificativa pela preferência decorreu a partir dos discursos que a planta de Sabiá possui uma madeira firma, não é atacada por cupim, é legalizada para a exploração pelo órgão ambiental federal (IBAMA), e é uma espécie da região. Albuquerque & Andrade (2002a) demonstram a importância de se desenvolver estudos sistemáticos com as plantas nativas de uma dada região, em que podemos identificar alternativas eficazes que diminuam o impacto da coleta sobre as populações naturais.

Com estes argumentos da população sobre a espécie, podemos afirmar que a partir da observação direta destas comunidades rurais possuímos a possibilidade de caracterizar uma espécie vulnerável a extinção desde suas qualidades para o cultivo até a questão de uso e exploração enquanto suas leis ambientais.

Apesar destas informações, obtivemos que 100% das estacas do local foram compradas a partir de projetos financiados pelo Banco do Nordeste - BNB, em que realizaram empréstimos em conjunto com todos os moradores. Justificaram que as estacas foram compradas por que quando iniciaram a moradia no assentamento rural há 11 anos, não tinham de onde retirar estacas, e necessitavam o mais rápido possível para a divisão dos lotes.

Roque (2009) verificou em seus trabalhos que existe por parte da comunidade, uma falta de manejo das espécies que fornecem madeira, ou seja, o não corte das árvores jovens e fornecedoras de sementes, o replantio e o respeito ao tempo necessário para que a vegetação possa se restabelecer. Este descuido tem resultado na baixa ocorrência de algumas espécies e na dificuldade de encontrá-la, obrigando o informante se deslocar grandes distâncias em assentamentos rurais.

Para observamos se possuía algum tipo de interesse em conservação da planta de Sabiá, nos detemos a indagar se para eles é melhor uma estaca de Sabiá viva ou estaca morte, obtivemos 65,38% responderam que é melhor a estaca viva, 32 % preferia a estaca morta e 2,62% se mantiveram neutros. Das respostas em que a espécie seria melhor estando como cerca viva alguns justificaram dizendo:

 

 “Prefiro plantas vivas por que dão sustento da família, mas só quem conhece é quem anda nos roçados” (Informante, 42 anos).

 

“A planta viva a estaca não apodrece”(Informante, 48 anos). 

 

“Viva, por que gera sombra, não desgasta o solo e gera alimentos” (Informante, 23 anos). 

 

“Viva é melhor, você não queira comparar uma arvore viva, pois ela dar outras estacas, e a planta morta com cinco anos já está atacada por cupim” (Informante, 45 anos). 

 

As pessoas que afirmaram preferir a estaca morta foram devido aos materiais de grampo de arame farpado segurar melhor com a estaca nua e a cerca morta requer um menor espaçamento do que a cerca viva. Abaixo observamos como é realizada a infra-estrutura justificada pela cerca morta (fig. 3).

 

Figura 3: Cercas mortas no assentamento rural.

 

Em relação à possibilidade da ausência da espécie Sabiá na região obtivemos 92,30% que sim, faria falta e dentre a resposta temos que “Qualquer planta se deixasse de existir faria falta para o homem e o ambiente”, outro informante afirma que “cada planta que você perde a natureza perde também”

Quando realizamos a pergunta a respeito do plantio da espécie Sabiá através de doações de mudas pela Universidade, obtemos 57,69% de como seria bom para eles, e uma das justificativas, é que “incentivaria o plantio da espécie no assentamento”, no mesmo quesito 26,92% achariam ótimo a doações de mudas, 7,69% não sabem e a mesma porcentagem para os moradores que achariam ruins, pelo fato deles dizerem que “não possui espaço no terreno” e “que nunca plantaram a espécie”.

 

CONCLUSÃO

 

A pesquisa demonstrou que a população rural possui conhecimentos sobre a espécie Sabiá e percebem que os recursos naturais estão se exaurindo. É observada a sensibilização da comunidade com relação à flutuação da quantidade da espécie na região desde a formação do Assentamento Rural Eldorado do Carajás. Apesar deles não cultivarem a espécie, pode ser justificado pelo tamanho do terreno, em que para eles o plantio do Sabiá poderia concorrer por espaço com o plantio da mandioca, que é um produto agrícola mais valorizado pelo elevado consumo e comercialização.

Um fator relevante é que as estacas mortas compradas há 11 anos pelo BNB da espécie Sabiá estão se deteriorando e ainda não foi realizado o pagamento destas estacas. Assim, para a população rural um plantio de Sabiá no atual momento se fazia necessário, pois se tivessem incentivos poderiam explorar a espécie Sabiá de forma sustentável.

 A proposta que a comunidade rural supôs foi à doação de mudas da espécie Sabiá a partir do período das chuvas. Em que as mudas seriam plantadas na divisão entre os lotes, em plantios individuais.

Esta pesquisa vem a contribuir para as estratégias de conservação da espécie Sabiá, proteção do meio ambiente e melhoria da qualidade de vida, fornecendo subsídios fundamentais para futuros trabalhos de um manejo sustentado da espécie para a região de Macaíba - RN.  

 

REFERÊNCIAS

 

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Ilustrações: Silvana Santos