Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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04/09/2012 (Nº 41) ...O USO DE AGROTÓXICOS NO BRASIL É FRUTO DE UM DESENVOLVIMENTO INSUSTENTÁVEL?
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FLORESTA ESTACIONAL SEMIDECIDUAL

VOCÊ SABIA QUE...

Leonardo Francisco Stahnke – Biólogo

leosinos@gmail.com

 

 

...O USO DE AGROTÓXICOS NO BRASILÉ FRUTO DE UM DESENVOLVIMENTO INSUSTENTÁVEL?

Leonardo Francisco Stahnke – Biólogo

 

Não é de hoje que o Brasil vem utilizando agrotóxicos e outros químicos no intuito de “melhorar” a sua produtividade agrícola, mas você já parou para pensar a que custos isso ocorre? Quem se beneficia com isso? E quem se prejudica? Os agrotóxicos, ou defensivos agrícolas (um nome mais bondoso para o termo), nada mais são do que venenos. Produtos químicos utilizados nas grandes guerras e que, ao seu término, encontraram na agricultura uma forma de manterem-se ativos, tendo como objetivo, minimizar a problemática da fome no mundo. Mas será que esses “benefícios” vêm realmente ocorrendo?

Bem, se analisarmos mais a fundo os pós e contras ao uso de agrotóxicos, veremos que os mesmos geram benefícios apenas para aqueles grandes produtores que dominam o mercado (mas que nem sequer chegam perto de seus produtos). A fim de incentivar seu consumo, os mesmos investiram na modificação genética de alimentos, fazendo com que estas culturas dependessem desta aplicação regular. Deste modo, as vastas áreas agriculturáveis de nosso gigante país foram sendo envenenadas, tendo proporções assustadoras no período entre 2001 e 2008, quando a venda de venenos agrícolas no país saltou de pouco mais de US$ 2 bilhões para mais US$ 7 bilhões, dando-nos o lastimável título de maior consumidor mundial de venenos, com 986,5 mil toneladas de agrotóxicos aplicados, chegando a próximos 5,2 Kg de veneno por habitante (Sindag – Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola).

Além disso, nos tornamos também o principal destino de produtos banidos no exterior, com cerca de pelo menos 10 produtos proscritos na União Europeia (UE), Estados Unidos, China e outros países, segundo dados da Anvisa. Estes contém componentes carcinogênicos (que causam câncer), mutagênicos (que causam mutações), neurotóxicos (que podem causar distúrbios cognitivos e neuropsiquiátricos, gerando um quadro de depressão e até mesmo suicídios), além de substâncias nocivas sobre os sistemas endócrino, reprodutor e sobre o desenvolvimento embriofetal, que nos afetam diretamente. Ficaram assustados? Pois bem, agora pense: Se um pouco disso ingerido em alguma fruta mal lavada já faz mal ao corpo, imagine ingerí-las durante uma vida toda? E como está a saúde daqueles agricultores que manuseiam e aplicam estas substâncias diariamente? E a qualidade ambiental destes locais encharcados por agrotóxicos? Pense que muitas destas substâncias são bioacumulativas, podendo ficar no ambiente por muitos anos.

Além disso, imaginem que nestas lavouras há outras espécies circundantes, que também são afetadas (e modificadas) por estes produtos. Garças, sapos (que respiram pela pele), e peixes, que recebem em seus rios as águas residuais vindas destas propriedades... Alia-se à esta análise mais holística, o fato de que, posteriormente, as companhias de abastecimento público dos municípios (a jusante deste ponto), captarão desta água para a distribuição à população, não tendo estas como remover os agrotóxicos ali diluídos, sendo então ofertados em todas as torneiras de uma cidade sedenta (composta por humanos que possuem cerca de 70% de seu corpo composto por água).

E então? Há vantagem nessas práticas agrícolas? Poucas (e ricas) empresas empurram-nos agrotóxicos “guela-a-baixo”, escravizando agricultores (que necessitam de recursos financeiros para sobreviver), reduzindo a rica e equilibrada biodiversidade de suas terras ao cultivo de apenas uma espécie (que em alguns casos não são nem utilizadas para fins alimentares, como o fumo, a mamona, etc), além de afetar negativamente a saúde das pessoas e do ambiente. Estimulamos uma produção que não respeita os fatores climáticos, forçando alimentos a serem produzidos em uma estação diferentes da sua de origem. Assim, temos melancias e abacaxis no inverno e pimentões, pepinos e morangos com excedentes de agrotóxicos acima dos permitidos. Temos conversões de áreas naturais em lavouras (como as do bioma Pampa, presente no Brasil apenas no Rio Grande do Sul, que são alteradas para o plantio de soja e arroz) e altos custos econômicos e ambientais relacionados à logística de transporte dessas mercadorias da zona rural até os grandes centros urbanos. Com isso, liberamos mais Dióxido de Carbono na atmosfera (piorando ainda mais os efeitos das mudanças climáticas globais), criamos um caos no trânsito (o que exige a construção de mais estradas, que fragmentam novas áreas naturais), e sociedades mais estressadas, consumistas e até mesmo obesas, apesar de ainda termos a fome como um grande problema mundial.

Exposto isso, o que eu e você podemos fazer? Segue abaixo uma relação de ações sustentáveis relacionadas à produção e consumo de alimentos:

·         Produza seu próprio alimento: um pequeno espaço (em vasos ou floreiras) já é suficiente para produzir alimentos sem agrotóxicos. Você perceberá que ele terá muito mais cor e sabor;

·         Evite alimentos industrializados ou com agrotóxicos: apesar de ter valor superior nos mercados, os alimentos orgânicos não geram danos ao ambiente e aos agricultores que os produzem;

·         Incentive o consumo em Feiras Comunitárias e de produtos certificados: você estará contribuindo para a melhoria da qualidade de vida do ambiente, do agricultor e sua;

·         Consuma frutas e verduras da estação e produzidas em locais próximos: plantas produzidas fora de época ou em regiões distantes podem ter sido modificadas geneticamente e consomem o dobro de recursos que utilizariam para produzir na estação correta;

·         Lave bem os alimentos antes de prepara-los ou consumí-los: uma dica importante é esfrega-los bem com uma esponja, retirar-lhes as folhas mais externas e as cascas (onde se concentram em maior proporção os agrotóxicos); e deixa-los descansar por alguns minutos em uma solução composta por um litro de água e uma colher de sopa de água sanitária sem cheiro (que também elimina possíveis parasitas do alimento, como ovos de lombrigas e solitárias);

·         Produza de forma diversificada: a monocultura é mais suscetível ao ataque de pragas e doenças, por isso plante espécies diferentes próximas, pois muitas vezes a ação de uma contribui para o crescimento da outra;

·         Faça você também Educação Ambiental para uma Educação Alimentar: repasse essas dicas para outras pessoas!

Para saber mais sobre os Agrotóxicos no país, leia o livro de Flávia Londres (Agrotóxicos no Brasil: um guia para ação em defesa da vida), lançado em 2011 e disponível para baixar pelo link:

http://br.boell.org/downloads/Agrotoxicos-no-Brasil-mobile.pdf

 

 

 

Esculturas de Caveiras de frutas e vegetais feitas por Dimitri Tsykalov (3)Esculturas de Caveiras de frutas e vegetais feitas por Dimitri Tsykalov (2)Esculturas de Caveiras de frutas e vegetais feitas por Dimitri Tsykalov (6)

Vegetais com Agrotóxicos matam! Fonte: Esculturas feitas por Dimitri Tsykalov.

Ilustrações: Silvana Santos