Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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04/09/2012 (Nº 41) Avicennia schaueriana Stap. & Leech. ex Mold. e Rhyzophora mangle L.: CONHECIMENTO E CONSERVAÇÃO DA FLORA DE UM ECOSSISTEMA ODIVELENSE
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Avicennia schaueriana Stap. & Leech. ex Mold. e Rhyzophora mangle L.: CONHECIMENTO E CONSERVAÇÃO DA FLORA DE UM ECOSSISTEMA ODIVELENSE

 

Neila de Jesus Ribeiro Almeida- Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Gestão dos Recursos Naturais e Desenvolvimento Local - NUMA∕UFPA, Licenciada Plena em Biologia pelo Instituto de Desenvolvimento Educacional do Pará - IDEPA (neilalmeida2000@hotmail.com)

 

 

RESUMO

 

     Neste trabalho, procura-se desenvolver sensibilização sobre Educação Ambiental, a partir de situações concretas de conhecimento do espaço de manguezal, com alunos da Educação Básica no município de São Caetano de Odivelas, na Região do Salgado no Estado do Pará. Busca-se provocá-los como multiplicadores de conhecimento sobre as questões ambientais do espaço em que vivem, a partir da inquietação visando a construção de comportamentos mais coerentes com as necessidades de conservação ambiental local. Para preencher algumas lacunas, procura-se montar algumas peças de um enorme quebra-cabeça chamado socialização de conhecimento. Inicialmente com a observação dos alunos, envolvidos na pesquisa, quanto sua sensibilização para seus conhecimentos sobre a flora do manguezal, levando em conta as preocupações com as questões ecológicas do entorno e prováveis interferências sugestionadas por eles, após suas sensibilizações quanto a degradação do ecossistema circundante a cidade. Na verdade, foi parte de uma luta incessante em busca da ajuda na formação de um educando crítico, tanto sob os aspectos teóricos como na operacionalização de alguns métodos que visam ajudar nesta formação, a partir da Educação Ambiental, usando como instrumento socializador e de análise crítica à prática de campo. Assim como as necessidades de parcerias com organizações, da Educação Básica com as IES e até mesmo práticas de manejo. Portanto, confirmou-se a ajuda de outros meios para o fomento de uma sensibilização mais concreta.

 

Palavras-chave: Educação Ambiental, Sensibilização, Manguezal, Flora, Socialização

 

 

1. INTRODUÇÃO

 

      O mundo está sendo questionado sobre os problemas naturais relacionados aos ecossistemas, levando a movimentar todos os segmentos das sociedades em direção aos problemas ambientais. E quais poderiam ser seus desdobramentos no destino da espécie do ser humano? A partir das problemáticas globais, muitos caminhos estão sendo analisados e dentro desse panorama de afetação temos um ecossistema chamado manguezal, pois a região de mangues não está fora dessa realidade, quase catastrófica.

      Assim, é importante pensar: como despertar o interesse em conhecer melhor o meio em que se vive para poder continuar sobrevivendo a partir de uma lógica de conservação do ecossistema.

     Em um processo de pedido de ajuda constante, o manguezal do município de São Caetano de Odivelas-PA, que dá o título a cidade como a “cidade dos caranguejos”, precisa também do conhecimento e respeito por parte dos moradores e visitantes. 

     O que mais chama atenção é esse “berçário natural”, com tanta diversidade, e o homem com quase nenhuma preocupação de conservação. Apenas explorando sem dar chance para o ecossistema se regenerar da degradação já existente. Tem que ser buscadas muitas maneiras para tentar reverter essa situação

      A Escola, como espaço de construção de conhecimento, torna-se um lugar privilegiado por ser o campo prioritário de formação, da sociedade contemporânea. Porém, o que se pode perceber na maioria das vezes em que é levantada questões de conhecimento e preservação do meio ambiente é que os discentes não estão sendo suficientemente, estimulados em relação à tomada de sensibilização para necessidade de conhecer a diversidade do meio em que vivem.

      A partir desse contexto é necessário conhecer melhor o meio em que se vive, evitando interferências desordenadas, não criteriosas e possibilitando a vida com qualidade em nosso espaço social. Porém, é necessário o estudo mais pontual das regiões em que as diversas pessoas estão inseridas. Desta forma, o estudo do manguezal, o conhecimento de sua fauna, flora e o respeito a suas diversidades é uma questão de prioridade no campo do ensino formal e para os moradores destas áreas, a partir de um modelo de sensibilização crítica da comunidade escolar, em particular dos educandos das regiões circundantes. O que reforça a importância de estudo, feito nas áreas de manguezal.

      Levando em conta o tensor antrópico deste ecossistema, a escola como espaço de socialização de conhecimento não poderá está ausente no processo de ajuda na formação de agentes sociais que possam promover discussões que embasem propostas de desenvolvimento social que protejam e preservem os recursos naturais e a qualidade de vida da população, neste trabalho de pesquisa, os que vivem próximos ao manguezal.

      É a partir do sistema ecológico local, levando a cultura nativa como aspecto contribuinte nas questões de cunho biológico, fazendo parte de um agregado de conhecimentos compartilhados, levando em conta a socialização da comunidade, voltadas para um processo de Educação Ambiental. Como espaço de socialização de conhecimento a escola não poderia se ausentar das discussões que embasem propostas de preservação ambiental, proteção e sustentabilidade dos recursos naturais, bem como, a qualidade de vida da população.

 

2. REFERENCIAL TEÓRICO

 

2.1. O ECOSSISTEMA MANGUEZAL

      Trabalhar os conceitos teóricos de referência e agregar paulatinamente conceitos como mangue, que em português, serve para designar as árvores, de diferentes espécies, dessa comunidade, sendo a palavra manguezal utilizada para designar o conjunto de árvores, ou seja, a comunidade em si, o ecossistema de mangues; (VANNUCCI, 2002), ou de manguezais como verdadeiras florestas de ambientes marinhos, desenvolvidas em ambientes que variam de salinos a salobros abrigados (AUGUSTINUS, 1995 apud FERNANDES, 2003). Levando a discussões mais extensas sobre o papel desses ecossistemas como o de exercerem funções primordiais como berçário, meio nutritivo, centro de multiplicações de numerosas espécies animais e fonte de recursos naturais para as comunidades costeiras (PROST e LOUBRY apud FERNANDES, 2003).

      Existem manguezais em quase toda a costa brasileira. Há dúvida quanto à sua área total, sendo citados valores entre 10.000 e 25.000 km² (PRIMACK e RODRIGUES). Esse imenso ecossistema, formado pela floresta de mangue que em português a palavra mangue é usada para designar a flora do ecossistema manguezal (VANNUCCI, 2002). Esta estratégia inicial de buscar os conceitos obtidos em instrumentos do senso comum, facilitando a inserção de um conceito científico. VANNUCCI (2002) afirma que:

 

A origem da palavra mangue (ou manguezal) e sobre a origem da palavra mangrove em inglês; Esse substantivo coletivo designa um ecossistema formado por uma associação muito especial de animais e plantas que vivem na faixa entremarés das costas tropicais baixas, ao longo de estuários, deltas, águas salobras interiores, lagoas e lagunas. Em inglês, a palavra mangrove também pode ser usada para designar a floresta, as árvores e arbustos.

 

 

2.2.       A FLORA DO MANGUEZAL: Avicennia schaueriana Stap. E Leech. Ex Mold. e Rhyzophora mangle L. 

 

      Na Amazônia brasileira, os manguezais apresentam como espécie exclusivas: Rhizophora mangle L. (espécie dominante), Rhizophora racemosa G.F.W. Mayer, Rhizophora barrisonii Leechman, Avicennia germinans L. Stearn, Avicennia schaueriana Stapft & Lechman ex Mold., Laguncularia racemosa (L.) Gaertn e Conocarpus erectus L., além de várias espécies associadas (SENNA e MELO, 1994). 

        Essa diversidade vegetal apresenta um papel primordial dentro da Ecologia, constituindo os produtores da rede trófica. Em 1913, ODUM (2009) já conceituava Ecologia como a ciência que estuda a estrutura e o funcionamento da natureza, e que o Homo sapiens faz parte dela. Portanto o homem tem que perceber que ele faz parte das relações ecológicas, que ele é um predador, um parasita, um competidor e com suas inovações afeta também outras espécies. ODUM (2009) afirma que, “ a tecnologia é, contudo, uma faca de dois gumes: pode ser um meio de se compreender a inteireza do homem com a natureza e também um meio de destruí-la”.

      Nos últimos anos, os avanços tecnológicos permitiram que o homem lidasse com grandes sistemas complexos como os ecossistemas, porém até que ponto a tecnologia ajuda a fauna, a flora e o meio em que esses seres vivem.

      Um fator que pode ser levado em conta em relação a flora do manguezal é que nos manguezais amazônicos, a sucessão de vegetais normalmente é paralela às margens dos cursos d’água, com espécies de menor porte localizadas em primeiro plano, graduando para zonas com espécies de porte mais avantajado. Quando a erosão torna-se o processo dominante, a zona de vegetação mais jovem é removida, prevalecendo árvores adultas de A.schaueriana, que por terem um sistema de enraizamento mais profundo são mais resistentes a ataques erosivos (FERNANDES, 2003). Apesar dos assoreamentos, aterros das margens de rios, os manguezais existem em praticamente todos os continentes que estão nas regiões tropicais e subtropicais, alcançando maiores extensões nos estuários ou locais de geografia plana onde a maré tem maior fluxo. No Brasil representam uma área de cerca de 25.000 Km², e ocorrem em quase todo o litoral brasileiro desde o Oiapoque ao extremo setentrional, até Laguna em Santa Catarina (Schaefer-Novelli;1995).  Fato confirmado na região de mangues no Norte do país, (Figura 01), capturada em um ecossistema de manguezal de São Caetano de Odivelas, onde uma R. mangle à esquerda está entrelaçada com uma A. schaueriana, vulgarmente conhecida como seriba ou siriúba, à direita. Mostrando a diversidade morfológica entre as espécies e ao mesmo tempo a possibilidade de podermos refletir a riqueza que traz para o bom funcionamento do ciclo biológico do ecossistema do manguezal Odivelense.  

 

2.3.       MANGUEZAL: IMPORTÂNCIA E IMPACTOS

 

       Esse ecossistema de ambientes litorâneos são regiões de interação entre o mar e o continente, apresentando por isso, uma grande diversidade de ecossistemas e uma fragilidade peculiar, devido principalmente, à dinâmica costeira, continuamente sob influência dos ventos e do mar (ABDON, 1995). Bem como, que os sistemas de manguezais da Região Norte assumem, juntamente com os do sudeste asiático, uma excepcional importância científica e socioeconômica, devido ao seu espetacular desenvolvimento às histórias práticas de uso por populações tradicionais ou ribeirinhas (FERNANDES, 2003).

      Os manguezais desempenham importante papel como exportador de matéria orgânica para o estuário, contribuindo para produtividade primária na zona costeira. É no mangue que peixes, moluscos e crustáceos encontram as condições ideais para reprodução, berçário, criadouro e abrigo para várias espécies de fauna aquática e terrestre, de valor ecológico e econômico.

      Nesta área de terra costeira, sujeita a marés, inundada perenemente por uma mistura de água doce e água salgada , ou seja, na região estuarina, onde se proliferam plantas características dos hábitats palustres, como as Avicennias, Rhyzophoros e Lagunculárias (SOARES, 2005). A conservação do manguezal é fundamental para a subsistência das comunidades pesqueiras que vivem nessa região. A vegetação de mangue serve para fixar as terras, impedindo assim a erosão e ao mesmo tempo estabilizando a costa e serve também como alimento, para grande parte da fauna, e as raízes desses vegetais funcionam como filtros na retenção dos sedimentos.  Apesar de todo ecossistema de manguezal ser Área de Preservação Permanente (APP), apresentam muitos tensores tanto natural como antrópicos, sendo que este último é considerado um dos piores, pois dificilmente é recuperado. O homem não respeita a tendência que poderia existi entre ele e a natureza, desrespeitando o limite deste ecossistema fazendo com que sejam freqüentemente desmatados para o cultivo de arroz e criação de crustáceos com fins comerciais, para particularmente no sudoeste da Ásia, onde cerca de 15% dos manguezais já foram desmatados para a aqüicultura deixando de serem resilientes e tão pouco resistentes, não levando em consideração o uso sustentável como: fatores econômicos de caráter social e ecológico, a disponibilidades dos fatores biótico e abióticos, as vantagens de curto a longo prazo e a ética para usar conservando para que não falte para futuras gerações. As Filipinas perderam mais da metade de sua área de manguezal nos últimos 100 anos (PRIMACK e RODRIGUES, 2001).

 

3.     O MUNICÍPIO DE SÃO CAETANO DE ODIVELAS

 

      Os fundamentos históricos da referida cidade foram lançados na era colonial, pelos jesuítas quando desbravaram a região, através do rio Mojuim. No local onde se encontra a atual sede municipal, fundaram uma fazenda denominada São Caetano, a qual mais tarde, ficara sob a administração de prepostos do Governo (Biblioteca IBGE). Alguns relatos dizem terem sido índios, os primeiros habitantes do município de São Caetano de Odivelas da Divina Providência.

      Os habitantes do lugar recebem o nome de “odivelenses” com a denominação de São Caetano das Odivelas, em 1757. Em divisão administrativa referente ao ano de 1933, o distrito de São Caetano de Odivelas figura no município de Vigia. (IBGE, 2000)

      O Município de São Caetano de Odivelas se localiza na Costa Atlântica do Estado do Pará, na Mesorregião do Nordeste Paraense, Microrregião do salgado, distante da capital do Estado 93 km em linha reta e 120 km pela rodovia, possuindo uma área de 464km² com 15.616 habitantes (IBGE 2000). A figura 02 mostra a região onde se situa São Caetano de Odivelas, a partir da captura da imagem de um satélite geoestacionário. Nesta figura, podemos observar a situação geográfica da cidade e perceber a influência do Oceano Atlântico na águas do rio Mojuim.

      O município é banhado pelo rio Mojuim que possui um ecossistema muito rico composto por diversificadas espécies de fauna e flora, sem falar no solo, ar, água e em outros componentes que o constitui.

 

 

4. ABORDAGEM METODOLÓGICA

 

      Esta pesquisa foi realizada inicialmente com mini-curso na Escola de Ensino Fundamental e Médio Desembargador Osvaldo Brito de Farias, no município de São Caetano de Odivelas no Pará. Com alunos do 1º ano do Ensino Médio, com idades entre 14 e 21 anos. Colocando-se em destaque o manguezal Odivelense, em particular a diversidade da flora, bem como as formas de uso deste ecossistema.

      A partir do mini-curso foi feita a prática de campo em um manguezal próximo a sede do município. Foram selecionadas duas espécies de flora que compõem o ecossistema, a Avicennia Schaueriana Stapf. & Lechman ex Mold. e Rhizophora Mangle L., onde foi discutido a importância do conhecimento e conseqüentemente a preservação do ecossistema. Levando em consideração a grande questão: “Como preservar sem conhecer?” Assim, a necessidade de entender o manguezal. Após a prática de campo os alunos retornaram à sala de aula, onde foi aplicado o questionário em relação os conhecimentos obtidos no mini-curso e na pesquisa de campo.

        

4.1. ÁREA DE ESTUDO:

      Em campo os alunos trabalharam a diversidade do ecossistema identificando as duas espécies botânicas e as particularidades do manguezal como a fauna e os fatores abióticos. Foram trabalhadas áreas diferenciadas, denominadas de área 1 e área 2, como mostradas nas figuras 1, 2, 3 e 4.

 

 Área 1

Manguezal no final da Rua General Gurjão (próximo a casa do Sr. José Costa), LONG. 0º44’35.33”S e LAT. 48º01’04.61” O; Medindo 40x40.

 

 

 

FIGURA 1- MANGUEZAL CONSERVADO                              FIGURA 2- ANÁLISE DA BIODIVERSIDADE.

FONTE: Almeida, 2009                                                               FONTE: Almeida, 2009

 

Área 2

Manguezal ao lado do Hotel Mangal, LONG. 0º44’37.90”S e LAT. 48º01’02.35” O. Medindo 40x40. Conforme ilustram as Figuras 3 e 4.

 

 

FIGURA 3- DIFICULDADE DE DESENVOLVIMENTO                       FIGURA 4- IMPACOS ANTROPOGÊNICOS

FONTE: Almeida, 2009                                                                 FONTE: Almeida, 2009

 

      Espaços estes, onde foram utilizados como suporte teórico, os conhecimentos construídos nos momentos das discussões conceituais, priorizando o conhecimento adquirido tradicionalmente, pelos alunos, divididos em duas equipes de 04(quatro) integrantes e denominadas Equipe Mangueiro e Equipe Siriubeira, os alunos foram divididos em grupos para facilitar as análises do ecossistema.  Foram utilizadas cadernetas de campo, lápis e borrachas, nas anotações de todas as características do ecossistema do manguezal, como: as condições ambientais, biodiversidade, fauna e flora, levando em consideração, principalmente as características morfológicas das duas espécies estudadas na pesquisa, A. schaueriana e R. mangle.

     

5.            RESULTADOS E ANÁLISES DA PESQUISA

 

       É importante observar que já em campo os alunos perceberam a diversidade do ecossistema e começaram a fazer análises críticas a respeito da relação homem/espaço, como relatados do Grupo Mangueiro e Siriubeira, respectivamente, que ao chegarem ao local de pesquisa questionaram sobre a biodiversidade e o descaso do homem com o meio.

Área 1. Grupo Mangueiro: (Referente a Área 1)

 

“...muitas árvores são encontradas na volta do manguezal. ao chegar no manguezal deparamos com a maré cheia. Apesar dessas dificuldades mas nem  por isso deixamos de apreciar as maravilhas o que o manguezal nos oferece...”

 

Área 2. Grupo Siriubeira: (Referente a Área 2)

 

“...água suja, com muitos lixos, de todas as variedades a área foi completamente devastada. As plantas que são da própria região que sevem como alimentação para os animais estão se acabando pois o homem não pensa que o que ele está fazendo ta prejudicando não só os animais. Como ele próprio e todas as pessoas que fazem o uso da natureza”

 

      Analisando os relatos dos alunos sobre a percepção quanto ao ecossistema, revelaram que a comunidade estudantil já apresenta um conhecimento prévio sobre a diversidade e os impactos desta região, apesar da variação de idade desses discentes, como mostrado na figura 7, todos fazem análises de criticidade, a partir da reflexão da destruição do meio em que vivem. E que qualquer interferência, em qualquer ambiente ecossistêmico de alguma forma tem inevitavelmente conseqüências negativas para este espaço.

      A difusão de conhecimentos é muito importante em qualquer nível, e a experiência de campo desses alunos é apenas um incentivo para as propostas de conservação e do uso sustentável do manguezal.

      Levando em conta a questão do conhecimento para a preservação, este conhecimento começou a partir de identificação dos vegetais que foi feita a partir das características da estrutura física de cada espécie, construídas nas observações dos alunos, em campo, sendo levada em consideração a morfologia.

 

 

 

 

 

5.1.       MORFOLOGIA DAS ESPÉCIES ESTUDADAS:

 

·                    Avicennia schaueriana Stapft & Leechman ex Mold.

 

Folhas: apresentam nervuras principal e secundárias, são coriáceas por apresentarem o limbo espesso e consistente, são esbranquiçadas na parte abaxial devido a presença de minúsculas escamas, são opostas cruzadas simétricas, obovadas, inteira, unilobada, possuem base cuneada, ápice retuso com ângulo obtuso e iserção de pecíolo marginal. Observa-se abaixo as duas faces adaxial e abaxial respectivamente (VIDAL e VIDAL, 200).                                                                        

Fruto: apresentam geometria assimétrica.

Raíz: horizontais e radiais a poucos centímetros abaixo da superfície, de onde surgem os pneumatóforos. Apresentam geotropismo negativo, crescendo para fora do solo encharcado. Seu revestimento é relativamente esponjoso, permitindo a difusão de oxigênio, constituem uns dos tipos de “raízes respiratórias” (GONÇALVES e LORENZI, 2007).

                            

·                    Rhizophora mangle L.

 

Folha: simples, rijas e coriáceas, inteiras, levemente mais claras na face inferior, ápice obtuso, mas encontra-se do tipo retuso, sua forma é obovada, mede de 8 a 10 cm de comprimento (FERRI, 1978).                                                      

Fruto: são do tipo baga alongada, coriácea, de cerca de 2,2 cm de comprimento, pêndulas e de cor  acinzentada, contendo uma única semente (VIDAL e VIDAL, 2000).  Fruto de Rhyzophora conhecido vernacularmente como “caneta”.

Raíz: originadas de rizóforo, que é uma estrutura de natureza caulinar na forma de um eixo lateral com geotropismo positivo, que produz raízes adventícias regularmente ao longo de seu crescimento (GONÇALVES e LORENZI, 2007). Essas pseudoraízes ampliam a base da planta e com isso aumenta seu sistema de fixação, o que lhe é muito conveniente no solo movediço do mangue (FERRI, 1978).

 

5.2.       DIVERSIDADE DAS ESPÉCIES ESTUDADAS

       Com base nas pesquisas de campo, observou-se que a grande maioria das árvores típicas do manguezal apresentam reprodução por viviparidade, ou seja, consiste na permanência das sementes na árvore-mãe até que se transformem em embriões, chamando-se estas estruturas de propágulos que acumulam reservas nutrientes para que sobrevivam por períodos longos até que encontrem o local apropriado para fixação (FERRI, 1978). Além destas espécies que determinam as características principais de um mangue, existem outras formas vegetais como várias espécies de epífitas como bromélias. Há, ainda, várias formas de gramíneas. Porém, a preponderância aplica-se a apenas três espécies arbóreas: Avicenia, Rhizophora e Laguncularia, onde foram encontradas uma grande diversidade de espécies epífitas, dentre elas bromélias, pteridófitas e briófitas.

      O nível do estado de conservação foi baseado em comparações entre as áreas estudadas. Os resultados obtidos mostram o quanto a ação antrópica afeta o meio ambiente, já que na área 2 existe um hotel, ponte e residências. É o crescimento populacional desordenado. ODUM (2009) relata que quando se consideram projetos de construções e modificações do meio na região estuarina, que é a transição entre água marinha e água continental, tem que ser levado em consideração, duas precauções. A primeira é evitar a perturbar a circulação normal de água, como aterros, por exemplo, e outra evitar perturba as zonas de produção dessas águas, tais como área de vegetação.

      Portanto, com essas experiências de campo os alunos podem disseminar à comunidade a importância da conservação do meio e que o referido é fundamental para a tendência da cadeia trófica mostrando para o homem que ele faz parte desta cadeia. Porém para que ocorra esta tendência é preciso entender que a relação entre os fatores bióticos e abióticos é essencial para a manutenção desta teia, onde no manguezal odivelense a Rhyzophora e Aviccenia são os produtores, os crustáceos os consumidores primários (Ucides cordatus-herbívoro) e o homem o consumidor secundário. E se as condições climáticas e físico-químicas não forem respeitadas esses produtores irão desaparecer e conseqüentemente toda a cadeia trófica, e o maior prejudicado será o homem, pois a tedência desta teia controla a economia do município. Levando em conta o desmatamento maioria das conclusões construídas pela pesquisas dos alunos já eram observadas por outros pesquisadores, como mostra o mapa abaixo a questão do desmatamento na região do município.

      As espécies vegetais escolhidas nesta pesquisas por serem as mais altas e espessas, ou seja, de grande porte, acabaram sendo as mais predadas pelo homem. É muito comum nesta região as canoas seres fabricadas do tronco da A. schaueriana e muitos móveis da R.mangle.  A relação ecossistêmica do manguezal Odivelense, o mesmo considerado costeiro de transição entre os ambientes, terrestre e marinho, é a riqueza biológica dos ecossistemas costeiros fazendo com que essas áreas sejam os grandes "berçários" naturais, tanto para as espécies características desses ambientes, como para peixes e outros animais que migram para as áreas costeiras durante, pelo menos, uma fase do ciclo de sua vida. A fauna dos manguezais representa significativa fonte de alimentos para as populações humanas. Os estoques de peixes, moluscos e crustáceos apresentam expressiva biomassa, constituindo excelentes fontes de proteína animal de alto valor nutricional. Os recursos pesqueiros são considerados como indispensáveis à subsistência das populações tradicionais da zona costeira.

     

5.3.       ANÁLISE DOS QUESTIONÁRIOS

      Na volta à sala de aula foi aplicado um questionário para verificação da aprendizagem, essa atitude propiciou o levantamento do nível de entendimento de cada um sobre a diversidade e conservação da flora do manguezal estudado, constituindo-se assim o terceiro momento do trabalho. Esta situação é bem evidenciada quando se observam as respostas dos alunos ao questionário, avaliando sua percepção sobre o assunto, onde a maioria dos alunos envolvidos na pesquisa, através de suas respostas evidenciou em algumas questões, já ter algum conhecimento sobre o manguezal, por viverem em torno dele ou até mesmo trabalharem nele, ajudando seus pais.

      Os resultados dos posicionamentos dos discentes foram interpretados e tabelados, de acordo com as notas obtidas nos questionários.                                 

·                    Absorção dos alunos quanto a conservação do manguezal: neste objetivo observou-se que a maioria dos alunos tiraram a nota 8 e poucos tiraram a nota 9, e que não houve nota 10 para a reflexão do contexto atual na conservação do manguezal.

                                             

·                    Desenpenho dos alunos quanto a estimulação para as quentões ecológicas: houve um aspecto positivo, pelo crescimento das notas dos alunos em relação a estimulação para as questões ecológica.

 

·                    Preocupação dos alunos quanto ao meio ambiente: foi alçançada a nota 10 com pequeno número de alunos, sendo que as notas 8 e 9 pertencenram ao mesmo número de alunos.

                                            

·                    Análise dos alunos quanto o conhecimento da diverdidade vegetal:  este objetivo foi o único  que recebeu nota 7, porém em pequeno número de alunos e os demais tiraram nota  8, o que prova menor absorção ao nível de conhecimento comparado aos outros objetivos.

                                                

·                    Sensibilização dos alunos em termos de proteção do manguezal:  houve mais alunos com a nota 9, o que comprova um excelente entendimento do objetivo por parte dos aluno

      A partir dos questinários elaborados, analisa-se que os alunos tiveram uma boa absorção da pesquisa em campo levando em consideração as três fases do mini-curso que serviram de base para as respostas dos questionários, pois como mostrado no gráfico teve um percentual de notas que variam de 7,0 a 10,0.

      Depois das notas geradas foram elaborados certificados junto à escola e entregues aos alunos.

 

 

6.            CONSIDERÇÕES FINAIS

 

      Levando em consideração as discussões e análises feitas na escola e em campo, junto com os alunos, observou-se a viabilidade de trabalhos de sensibilização ecológica, a partir do envolvimento entre acadêmicos e comunidades escolares locais, confirmando o binômio, pesquisa e extensão universitária. Bem como, abrindo a possibilidade da IES (Instituição de Ensino Superior) através de seus acadêmicos operacionalizarem o compromisso social tão necessário e em falta na atualidade.

      Confirmou a necessidade de parcerias com organizações governamentais e não governamentais no fomento a pesquisa, pois é necessário que as instituições conversem entre si para que suas pesquisas complementem-se. Como foi o caso do Projeto Dinâmica Espacial dos Manguezais, parceria da SECTAM com o Museu Goeldi, que do qual inclusive este trabalho se valeu de dados. Foi analisado, a partir do objetivo geral, uma lacuna no entendimento dos alunos que facilitasse o desenvolvimento da reflexão em relação a conservação do  meio ambiente, bem como,  a ratificação de que os  alunos não foram estimulados suficientemente para as questões ecológicas e conseqüentemente não se preocupam com os problemas  do meio  ambiente. Apesar da maioria dos alunos residirem próximo ao manguezal, muitos desconheciam a diversidade da flora deste local, no inicio da pesquisa não mostrando nenhum tipo de interesse em relação ao assunto.

      Com o trabalho de campo os alunos foram sendo sensibilizados observando a grande dificuldade que as árvores tem em crescer na região estudada, pois, nessa área pôde-se perceber que muitas espécimes de A. schaueriana e R.mangle estão morrendo. Acredita-se que seja pela intensa poluição da área e conseqüentemente o empobrecimento do solo.

      Observaram que também a cadeia alimentar local, onde os vegetais encontrados no campo de pesquisa, considerados produtores, estavam desaparecendo, conseqüentemente faltará alimento para os consumidores primários, a fauna herbívora do manguezal, e logo poderá observar-se também, a falta de alimento na mesa do “catador vivencial”, que nesta cadeia seria o consumidor secundário. Perceberam que a erosão está tomando conta da cidade, e que infelizmente nem a A. schaueriana com suas raízes profundas resistiu, isso levou a refletir o quanto a ação do homem é brutal que nem mesmo as árvores mais fortes conseguem resistir a tanta violência contra o ecossistema, ratificando a necessidade de um trabalho de sensibilização ambiental mais profundo, do contrário resultará em um grande desequilíbrio ecológico e sócio-econômico.  

      Estas observações feitas em paralelo, teoria e prática, bem como, os comentários dos alunos ao final da pesquisa, leva ao entendimento que a proposta de conscientização ecológica, nas regiões em risco de degradação ambiental é possível. Ainda mais, quando esse processo é percebido pelos agentes sociais-pesquisadores, neste caso os alunos, em sua própria região vivencial. O que leva a possibilidade de formação de agentes catalizadores de discussões sobre novas formas de desenvolvimento sustentável. Como encucadores de novas dinâmicas de fiscalização de práticas como a pesca predatória, a pseudo-pesca esportiva, esta muito comum na região em questão. Evitando assim a sobre-pesca, a pesca de pós - larva e, de fêmeas ovadas. Pois estas práticas são desenvolvidas no município, sem que exista qualquer trabalho que iniba tais comportamentos danosos.

      Com os objetivos alcançados pode-se observar que os alunos absorveram consideravelmente sobre esse ecossistema diversificado, buscando a sensibilização para um desenvolvimento que possa conservar o manguezal. A partir de práticas de manejo, algumas já em uso na região como o cultivo de ostras, desenvolvido na vila de Pererú de Fátima, uma comunidade do município de São Caetano de Odivelas, ou outras como o cultivo de plantas ornamentais, e até mesmo a possibilidade de criação de abelhas para a produção de mel, o turismo ecológico e parcerias entre a Educação Básica e IES para pesquisas em áreas de estuário.

 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

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Ilustrações: Silvana Santos