Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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04/06/2012 (Nº 40) Evolução e Biodiversidade: interação escola-museu em Ouro Preto, Minas Gerais.
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Educação Ambiental em Ação 40

Evolução e Biodiversidade: interação escola-museu em Ouro Preto, Minas Gerais.

 

Prado, A.C.1; Antonucci, A. G.²; Lamim-Guedes, V.³, 4.

 

1 - Bióloga e Mestranda em Ecologia de Biomas Tropicais pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP);

2 - Bióloga pela UFOP, Professora de Ciências na rede municipal de ensino de Mariana-MG, Aluna da Especialização em Métodos e Técnicas de Pesquisa em Educação do DEEDU/ UFOP;

3 - Biólogo e Mestre em Ecologia pela Universidade Federal de Ouro Preto. Professor-Visitante na Universidade Nacional de Timor-Leste;

4 - E-mail: dirguedes@yahoo.com.br

 

Resumo: Durante a Semana de Ciência e Tecnologia de 2008, foi realizado o curso de atualização para professores “Evolução e Biodiversidade”, organizado pelo Museu de Ciência e Técnica (MCT) da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e pelo projeto TEIA (Tecendo com a Escola a Integração Ambiental), projeto de Extensão Universitária da UFOP. Neste curso, foram trabalhados conceitos relacionados aos dois temas, além de discutir sua importância para o ensino de Ciências e para a sociedade. Além disto, foram apresentados a história do conceito e práticas de Educação Ambiental e sugestões aplicáveis em sala de aula para contemplar a evolução e a biodiversidade nas diferentes disciplinas. As formas de se tratar destes temas fora da escola também foram trabalhadas, como por exemplo, visitas ao próprio MCT, já que este museu apresenta um setor de História Natural com fósseis, esqueletos, conchas e um cenário com animais taxidermizados, com representantes da fauna de Ouro Preto e região. Os professores, dispondo destas informações e novas possibilidades de desenvolver atividades com os alunos, poderão enriquecer a prática docente, de forma autônoma, tornando o ensino mais produtivo e interessante para os alunos, visando a formação da consciência ambiental e de cidadãos atuantes nesta temática.

Palavras-Chave: Formação Continuada de professores, Educação Ambiental, Museu Universitário;

 

Introdução:

Os padrões dominantes de produção e consumo estão causando devastação ambiental, redução dos recursos e uma maciça extinção de espécies (MMA, 1992). Em seu princípio 19, a Declaração da Organização das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano (Estocolmo, Suécia, 1972) afirma ser indispensável um trabalho de educação relacionado às questões ambientais, disponível para toda a sociedade, a fim de se obter uma população informada e consciente de sua responsabilidade na proteção do meio ambiente. Responsabilidade essa que envolve tanto setores públicos como privados da sociedade. Assim, retoma-se a possibilidade de se utilizar a Educação Ambiental como instrumento prático e ativo na promoção de atividades de extensão universitária, funcionando como peça chave para a ação das Universidades na formação de comunidades conscientes e responsáveis ambientalmente  CITATION DIA01 \p 372 \l 1046  (DIAS, 2001, p. 372).

As recomendações nº. 17 e 18 da Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental (Tbilisi, Geórgia, 1977) tratam da formação de recursos humanos, “considerando a necessidade de que os docentes compreendam a importância de incluir em seus cursos o ensino da questão ambiental”. Recomenda aos Estados-Membros “que incorporem, deste o início, nos programas de formação de docentes o estudo das ciências do ambiente e da Educação Ambiental”. Somado a isto, considerando que parte do corpo docente diplomou-se sem uma formação adequada em termos de questões ambientais e de metodologia da Educação Ambiental, “recomenda aos Estados Membros que adotem medidas que tenham como objetivo proporcionar, àqueles que exercem funções docentes, a necessária formação em Educação Ambiental” (SMA-SP, 1994, p. 39).

A partir destas recomendações, fica clara a importância da criação e manutenção de cursos que promovam um maior domínio das questões ambientais por parte dos docentes, promovendo a atualização deste em um processo contínuo de formação, objetivando uma Educação Ambiental que seja realmente efetiva e duradoura.

Na recomendação nº. 19 da conferência de Tbilisi, que trata do material de ensino e de aprendizagem, “considerando a maior eficácia da Educação Ambiental, em função da possibilidade de se dispor de recursos e materiais didáticos adequados [...] recomenda aos Estados Membros que estimulem, na formação dos docentes, a utilização de materiais e recursos didáticos, com ênfase naqueles de baixo custo e com possibilidade de adaptações e improvisações, de acordo com as circunstâncias locais” (SMA-SP, 1994, p. 40).

Esta recomendação, destacando a utilização de recursos didáticos acessíveis aos professores, deixa evidente que as soluções para se trabalhar a Educação Ambiental em sala de aula estão na própria escola, ou na comunidade que a abriga, no caso da utilização de atividades extraclasse ou em espaços não formais, como Museus e Parques. No caso de Ouro Preto, Minas Gerais, a história local permitiu o surgimento e manutenção de diversos museus, que podem ter uma contribuição relevante para as atividades educacionais, inclusive as que abordem questões ambientais.

Um museu é uma “instituição permanente, sem fins lucrativos, a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento, aberta ao público, que adquire, conserva, pesquisa, divulga e expõe, para fins de estudo, educação e lazer, testemunhos materiais e imaterial dos povos e seu ambiente” (ICOM, 2004). Os museus são espaços multiculturais e interdisciplinares por natureza e, nesse contexto, é importante pensar a parceria em duas vertentes: uma de caráter interno e, a outra, de caráter externo - ambas de igual peso e importância, pois envolvem a ação de somar, de completar  CITATION CUR06 \l 1046 (CURY e CABRAL, 2006).

Neste contexto, o Museu de Ciência e Técnica da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto (MCT), como instituição promotora da educação nos seus diferentes conhecimentos, busca desenvolver práticas especiais voltadas para a democratização de sua infraestrutura e de seu acervo museológico  CITATION DEL09 \l 1046  (DELICIO, GANDINI e NUNES, 2007), pois a participação da comunidade no processo de valorização e conservação deste acervo é tão importante quanto os estudos e procedimentos técnicos para este fim.

Entendendo que o público escolar merece atenção especial no que diz respeito ao acesso e utilização das informações disponibilizadas nos museus, o MCT oferece visitas monitoradas para grupos escolares e estabelece parcerias com os agentes educacionais locais, promovendo eventos temáticos para a divulgação de temas relevantes  CITATION DEL09 \l 1046  (DELICIO, GANDINI e NUNES, 2007). São palestras, cursos, debates, seminários, dentre outras atividades que proporcionam, além de aprofundamento teórico, oportunidades para a divulgação e aplicação dos conhecimentos produzidos no Município. Esta ação é muito importante para a melhoria do ensino público da cidade, uma vez que promove o intercâmbio entre os educadores e o intercâmbio entre iniciativas já existentes. Além disso, considera-se que escola e museu possuem objetivos comuns como educar, facilitar o acesso à cultura, socializar, favorecer a prática da cidadania, formar indivíduos críticos, criativos e autônomos (CURY & CABRAL, 2006).

A educação formal (escolar) tem sido complementada ou acrescida de uma educação extraescolar (não formal) que, de certa forma, tem oferecido à sociedade o que a escola nem sempre pode oferecer, incluídos os museus de ciências  CITATION OVI10 \p 97 \l 1046  (OVIGLI, FREITAS e CALUZI, 2010, p. 97)

 

Curso de Formação Continuada "Evolução e Biodiversidade".

Para as atividades da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia de 2008, o MCT realizou uma parceria com o Projeto TEIA - Tecendo com a Escola a Integração Ambiental, projeto de extensão da UFOP, com o apoio do MEC/Sesu/PROEXT/Edital 2008, que atua desde 2007 em escolas de ensino público fundamental de Ouro Preto, realizando um trabalho conjunto com os professores para otimizar a abordagem interdisciplinar da Educação Ambiental (EA). Este projeto baseia-se nas recomendações dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s; BRASIL, 1997), dos Conteúdos Básicos Comuns (CBC’s) do Estado de Minas Gerais (SEE-MG, 2005) e da Lei n° 9795 de 1999, que institui a Política Nacional de Educação Ambiental (BRASIL, 1999) e vem colaborando especificamente para o aprofundamento teórico no debate sobre meio ambiente nas instituições parceiras, analisando a disponibilidade de recursos físicos, materiais didáticos e o estado de capacitação dos educadores para este fim.

Essa parceria resultou em um curso cujo eixo norteador fundamentou-se na interdisciplinaridade, para uma compreensão mais abrangente sobre “Evolução e Biodiversidade”. Estes assuntos inserem-se no Tema transversal Meio Ambiente e, portanto, conforme as orientações atuais, devem ser incluídos no currículo do Ensino Fundamental não como uma área de conhecimento específico, mas como conteúdo a ser tratado pelas várias áreas do conhecimento. Buscando contemplar tais recomendações, o conteúdo programático do curso abrangeu aspectos científicos sobre a evolução da vida e a diversidade biológica, incluindo recentes descobertas e informações para a atualização dos profissionais sobre esta temática, e aspectos educacionais relacionados ao ensino da EA e à utilização de espaços não formais como ferramenta didática.

O objetivo geral foi atender à exigência atual de conferir uma maior capacitação aos profissionais da educação para o ensino atento às questões ambientais. Os objetivos específicos foram:

·         Democratizar o espaço museológico, com vista às suas possibilidades pedagógicas;

·         Fomentar a inserção dos temas evolução e biodiversidade, de maneira contextualizada, às disciplinas curriculares;

·         Promover um nível maior de qualificação dos conhecimentos específicos sobre evolução e biodiversidade;

·         Instrumentalizar a clientela-alvo para o ensino interdisciplinar da EA;

·         Promover o intercâmbio e a parceria entre os educadores locais;

·         Possibilitar o trabalho autônomo e contínuo de cada profissional neste contexto;

·         Despertar a consciência ambiental para a formação de cidadãos atuantes nesta temática.

Desenvolvimento:

Foram oferecidas dez vagas gratuitas para professores do município, por meio de carta às escolas públicas. O curso realizou-se nos dias 31 de outubro e 01 de novembro de 2008, no MCT, integrando a Programação da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, e estruturou-se em dois módulos, de quatro horas cada, e uma dinâmica de encerramento chamada “Teia da Vida”. Os módulos foram:

·         1° módulo: Evolução e Biodiversidade, com uma visita monitorada ao MCT;

·         2° módulo: A abordagem interdisciplinar para a sala de aula;

Para dar início à reflexão sobre a temática ambiental, antes do início das atividades, os participantes foram convidados a confeccionar seus próprios crachás, reutilizando materiais. Este foi o momento de apresentação do grupo, no qual cada um compartilhou suas experiências profissionais e as motivações que os trouxeram ao curso.

 

1° módulo: Evolução e Biodiversidade

A escolha destes dois temas deve-se à complementaridade entre eles, já que o processo evolutivo é responsável pela diversificação das espécies e, desta forma, na formação da biodiversidade de cada local  CITATION RID06 \l 1046 (RIDLEY, 2006).

A adaptação evolutiva é o processo que eventualmente leva a novas espécies e ao aumento da diversidade biológica. Portanto, permitir às populações evoluir in situ é positivo. As atividades humanas que limitam a habilidade das populações de evoluir, tais como reduzir severamente o tamanho de uma população de espécies através da extração excessiva, são negativas  CITATION PRI01 \p 10 \l 1046  (PRIMACK e RODRIGUES, 2001, p. 10).

Com o auxílio de material audiovisual, foi realizada uma palestra interativa, na qual foram abordados o histórico e os conceitos relacionados ao tema, além de enfocar os temas atuais e os paradigmas éticos que envolvem a sociedade nesta temática. Por meio de relatos de experiência, a palestra foi conduzida de modo participativo, de forma a incentivar o intercâmbio de dúvidas e impressões sobre os assuntos em questão. Os tópicos abordados são detalhados a seguir:

Darwinismo: em uma perspectiva de histórica da ciência, foi apresentada a vida e obra do naturalista Charles Darwin (1809-1882), que lançou as bases da teoria de evolução pela seleção natural. Foi destacada também a participação do inglês Alfred Russel Wallace (1823-1913), coautor de um ensaio sobre a teoria desenvolvida por ambos de forma independente. Em seguida, o desenvolvimento do campo de pesquisa em torno da teoria de evolução pela seleção natural, até o surgimento da Teoria sintética da evolução, nas décadas de 1930-50  CITATION RID06 \l 1046 (RIDLEY, 2006).

Biodiversidade: A Convenção sobre Diversidade Biológica, assinada durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada na cidade do Rio de Janeiro, no período de 5 a 14 de junho de 1992 (Rio-92 ou Eco-92), definiu biodiversidade ou diversidade biológica como a variabilidade de organismos vivos de todas as origens, compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e dulcícolas, assim como os complexos ecológicos de que fazem parte; abrangendo ainda a diversidade dentro e entre espécies e, principalmente, dos variados ecossistemas (MMA, 2000).

Valoração da biodiversidade: Uma estimativa do valor da Biodiversidade é uma pré-condição necessária para qualquer discussão sobre a distribuição da riqueza da diversidade biológica. Com o estabelecimento da comparabilidade entre dinheiro ou desenvolvimento econômico - que pode ser expresso em unidades monetárias - e a preservação ambiental, abre-se a possibilidade de medir materialmente a manutenção total ou parcial de ecossistemas e, por fim, mesmo da biodiversidade. Assim, espera-se garantir o peso da questão ambiental frente ao poder público e à iniciativa privada, buscando subsídios para defender a conservação e o manejo sustentável e consciente dos recursos naturais (TEEB, 2010).

Principais fatores que influenciam a perda de biodiversidade: A interferência do homem em habitats naturais ou pouco alterados aumentou significativamente nos últimos anos, gerando perda de biodiversidade. Isso pode ser percebido através do aumento da devastação de florestas e do desequilíbrio na utilização sustentável da diversidade biológica. Outros fatores também influenciam esta perda, como a introdução de espécies e doenças exóticas, o uso de híbridos e monoculturas na agroindústria e nos programas de reflorestamento, além da contaminação do solo, água e atmosfera por poluentes e as mudanças climáticas  CITATION PRI01 \p 10 \l 1046  (PRIMACK e RODRIGUES, 2001, p. 10).

Visita monitorada

Num segundo momento, os participantes fizeram uma visita monitorada pelo setor de História Natural do MCT, onde puderam observar fósseis, esqueletos, conchas e um cenário com animais taxidermizados, com representantes da fauna de Ouro Preto e região. Durante o percurso, os professores foram orientados a vislumbrarem assuntos de sua disciplina ou atividades extraclasse que podem ser trabalhados com uma visita a algum museu. Os professores, dispondo destas informações, poderão enriquecer a prática docente, de forma autônoma, tornando o ensino mais produtivo e interessante para os alunos, assumindo o espaço museológico de educação não formal para incrementar as aulas com interatividade, experimentação e elementos lúdicos.

Uma abordagem relacionada à situação atual da biodiversidade, em parte representada nas montagens museológicas disponíveis no MCT, sobretudo nas exposições que utilizam animais taxidermizados existentes no setor de História Natural, enraíza em seus espectadores a ideia da necessidade de se preservar o meio ambiente para que o desenvolvimento socioeconômico seja sustentável. Assim, estas exposições contribuem para a consciência ambiental das pessoas, característica fundamental ao desenvolvimento sustentável, sobretudo atualmente, por inúmeras questões inerentes ao acelerado processo de degradação ambiental e suas possíveis formas de contenção (LAMIM-GUEDES et al., 2011).

Os desafios envolvendo a abordagem sobre a biodiversidade, tanto nos espaços formais, quanto nos não formais, englobam a necessidade das pessoas conhecerem a biodiversidade brasileira (LAMIM-GUEDES & SOARES, 2011). Um dos problemas nesta área, como comenta Liana John (2006, p. 397):

E de elefante, H de hipopótamo, Z de zebra. Ao aprender a ler e escrever, as crianças brasileiras ainda usam as espécies das savanas africanas como referência (...). Na hora de soletrar, nas brincadeiras, nas páginas dos livros – didáticos, paradidáticos e de literatura, para todas as idades – ainda prevalecem os bichos exóticos, mantendo no anonimato, desvalorizadas, as numerosas espécies nativas.

2° módulo: A Abordagem Interdisciplinar para a sala de aula

Palestra interativa: com o auxílio de material audiovisual, foram apresentadas informações atualizadas sobre as tendências da EA e se conduziu um debate sobre as formas de aplicação dos temas tratados como ferramentas pedagógicas. As experiências dos envolvidos foram compartilhadas e interpretadas sob o enfoque interdisciplinar, buscando sempre adequar a teoria à realidade vivenciada pelos participantes dentro da sala de aula. Os tópicos abordados são detalhados a seguir.

Conceito de Educação Ambiental: a definição do que é EA varia de interpretações, de acordo com cada contexto, conforme a influência e vivência de cada um. Estas diferenças geralmente correspondem à ideia do indivíduo acerca do que é meio ambiente. Ampliando a maneira de perceber a EA, podemos dizer que se trata de um processo participativo através do qual se busca despertar a preocupação individual e coletiva para a questão ambiental, garantindo o acesso à informação em linguagem adequada, contribuindo para o desenvolvimento de uma consciência crítica e estimulando o entendimento das questões ambientais e sociais. Desenvolve-se num contexto de complexidade, procurando trabalhar não apenas a mudança cultural e ambiental, mas também a transformação social, assumindo a crise ambiental como uma questão ética e política.

Construção da consciência ambiental: devido ao caráter multifacetado da questão ambiental, sugere-se que as atividades de EA tenham o conhecimento prévio e o cotidiano dos estudantes como ponto de partida para os questionamentos, utilizando-se de atividades interativas para a construção da consciência ambiental. Sob este enfoque, as práticas devem ser orientadas para possibilitar que o educando assuma o papel de elemento central do processo de ensino/aprendizagem, participando ativamente no diagnóstico dos problemas ambientais em busca de soluções e sendo preparado como agente transformador, por meio do desenvolvimento de habilidades e da formação de atitudes éticas, condizentes ao exercício da cidadania.

Descompartimentalização do saber: para a reintegração de aspectos da vida que ficaram isolados uns dos outros pelo tratamento disciplinar, busca-se conseguir uma visão mais ampla e adequada da realidade, que tantas vezes aparece fragmentada pelos meios de que dispomos para conhecê-la. Os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) e os CBCs (Conteúdo Básico Comum) do Estado de Minas Gerais buscam resgatar a visão holística do conhecimento nas escolas por meio dos Temas Transversais, orientando a adoção de práticas dirigidas, que contemplem a relação entre as diferentes facetas dos assuntos da humanidade.

Papel do educador: Entende-se que os educadores podem direcionar o rompimento da perspectiva disciplinar rígida ao utilizar-se de informações de outras áreas do conhecimento para abordar assuntos específicos em sua aula. O desenvolvimento de ações coordenadas entre os professores, para a construção de conceitos realistas sobre temas importantes da atualidade, também é bastante recomendado, uma vez que a abordagem destas questões não deve constituir uma disciplina específica, mas permear toda a prática educativa. Estes temas devem ser trabalhados de modo articulado, e não como um intruso nas aulas. Tampouco deverão aparecer "espontaneamente", com facilidade, principalmente no começo. Para que a transformação necessária ocorra, exige-se um trabalho sistemático, contínuo e abrangente no decorrer de toda a educação.

Porquê da gestão ambiental na escola: A escola é o espaço social e o local onde o aluno dará sequência ao seu processo de socialização. É de extrema importância que cada aluno desenvolva as suas potencialidades e adote posturas pessoais e comportamentos sociais construtivos, colaborando para a contemplação de uma sociedade socialmente justa, em um ambiente saudável. Por isso, comportamentos ambientalmente corretos devem ser aprendidos na prática, no cotidiano da vida escolar, contribuindo para a formação de cidadãos responsáveis. Para atingir esses objetivos, a escola é usada como base fundamental, onde o aluno aprende formalmente aquilo que será tratado sucessivamente na vizinhança, na cidade, região, no estado, país, continente e finalmente no planeta.

Reflexões e perpectivas sobre o tema: Se por um lado o tratamento interdisciplinar da EA favorece a articulação dos conhecimentos de várias disciplinas, contextualizando os debates para uma percepção sistematizada dos conceitos sobre o meio ambiente; por outro, essa definição contraria o formato compartimentalizado dos programas educacionais e impõe um grave desafio à execução de projetos educativos nesse formato. Para a contemplação de resultados satisfatórios, é necessário que a temática ambiental seja englobada por todas as disciplinas, agregando os conhecimentos científico e popular dentro e fora da sala de aula, em busca da valorização regional e da percepção sistematizada dos conceitos sobre o meio ambiente.

A importância do registro e análise das iniciativas: Nas escolas, já existem muitas iniciativas para o ensino da EA, como atividades comemorativas envolvendo o Dia do Meio Ambiente e o Dia da Árvore, ou ainda a reciclagem de resíduos e a conservação das águas. Porém, existem poucos estudos sobre as iniciativas desenvolvidas localmente, de forma que a maioria dos dados perde-se durante o processo. Neste contexto, é imprescindível o desenvolvimento de um trabalho mais sistemático, abrangente, que propicie a construção de um projeto pedagógico afinado com tais pontos de vista.

Sugestões para a sala de aula: Foram apresentados vários planos de aula elaborados pela equipe do TEIA, em parceria com os professores das escolas cadastradas no projeto. Buscou-se não definir a quais matérias os planos de aula poderiam se adequar, estimulando os professores a identificarem espontaneamente todas as possibilidades acerca das ideias apresentadas, além de trabalhar os temas de forma interdisciplinar, propondo a professores das áreas distintas um trabalho em grupo. A seguir, apresentamos as ideias e considerações centrais debatidos:

·         Tratar das Eras Geológicas: o que ocorreu em cada era, quando surgiu o homem e quais foram suas mudanças até os dias atuais;

·         Trabalhar a história das viagens de Darwin e Wallace, até a publicação da Teoria da evolução: por onde passaram, quando se encontraram, quando apresentaram o manuscrito conjunto para a sociedade, quando foi a publicação de A Origem das Espécies e sua repercussão na sociedade daquela época;

·         Trabalhar a biodiversidade a partir da relação existente entre os ambientes - biomas (região em que se encontram, solos, temperatura, umidade) e as modificações dos seres vivos para se adaptarem em cada um deles: “por que existem diferenças entre as espécies? Qual a importância dessas diferenças?”. Abordar que a definição do que é “diferente” transita pelas idiossincrasias acerca de um padrão de “normal”, imposto pela maioria ou aceitável dentro de um contexto histórico e cultural.

·         Na Biologia, o próprio conceito de espécie foi primariamente elaborado baseando-se em “tipos” e as diferenças entre indivíduos da mesma espécie eram consideradas meros artefatos, desvios ou imperfeições do padrão ideal. A partir de Darwin, com a Teoria da Seleção Natural, a diversidade intraespecífica começou a receber a devida importância, mesmo que somente devido a tais variações é possível a sobrevivência dos organismos frente às variações ambientais.

·         Construção de uma horta escolar: o uso de espaços escolares, como as hortas, são momentos muitos importantes para a aplicação de princípios ecológicos: ao capinar a horta está se evitando que a regeneração natural ocorra e que diminuindo a competição entre as espécies vegetais, ou mostrar que as folhas caídas no chão são decompostas e os nutrientes voltam para o ambiente. Ainda dentro do tema biodiversidade, trabalhou-se a ideia da construção da horta na escola, para tratar das variações vegetais. Porém, neste contexto, discutimos várias outras utilizações da horta e a importância do contato dos estudantes e professores com essa prática. Dentre o manejo da horta como instrumento didático, pudemos desenvolver vários temas interdisciplinares: respiração; fotossíntese; produção de plaquinhas com nome científico dos vegetais; variedade de sementes, raízes, folhas e frutos; métodos e materiais de plantio; medidas dos vegetais; localização dos canteiros a partir da rosa dos ventos e de acordo com a localização da escola; uso da água, entre outros.

·         Trabalhar mapeamento, a partir da observação do entorno, utilizando elementos de cartografia para o reconhecimento do entorno, abordando a diversidade ambiental e acrescentando elementos urbanos, para que os estudantes discorram sobre os prós e contras da urbanização.

·         Utilização de elementos textuais e musicais nas disciplinas: durante esse tópico, apresentamos músicas e textos que podem ser utilizados em sala de aula, para tratar da biodiversidade e da evolução.

 

Encerramento

Dinâmica: Teia da vida

·         Cada participante escolhe um envelope, contendo uma ficha.

·         Cada ficha tem o nome de um organismo de uma cadeia trófica escrito de um lado, e o nome de uma profissão escrito no verso.

·         Os participantes devem abrir o envelope e ler o nome do organismo que ele irá representar (o nome da profissão no outro lado ainda não deve ser lido).

·         Orientar os participantes para caminharem pela sala livremente enquanto escutam uma música e tentam imaginar o modo de vida do organismo que representa (o que ele come, quais são seus predadores naturais, qual é o seu habitat).

·         Ao final da música, os participantes devem ficar parados no lugar onde estão.

·         Um novelo de barbante será entregue ao participante que tiver a ficha escrito o nome de um predador.

·         O predador deve entregar uma ponta do barbante para o organismo de que ele se alimenta, e assim por diante, até que o predador seja consumido por micro-organismos.

·         O resultado será uma teia onde o movimento de cada participante afeta o dos outros.

·         Então os participantes devem virar as fichas e ver o nome das profissionais que representam.

Ao final dessa dinâmica, fez-se uma avaliação com o grupo, sobre as possibilidades de utilização em sala de aula, aprimorando e adequando às realidades da escola, à faixa etária a ser trabalhada e como incrementá-la de acordo com a disciplina lecionada.

 

Considerações finais

O desenvolvimento sustentável implica, portanto, na melhoria da qualidade de vida para o homem, respeitando-se, no entanto, a capacidade de suporte dos ecossistemas (DRUMMOND et al., 2005, p. 145). A concretização desses resultados pressupõe mudanças de hábitos e de visão social dos atores envolvidos, planejamento diferenciado de ações e estratégias governamentais, bem como avanço das políticas públicas em prol do bem comum (DRUMMOND et al., 2005, p. 145).

O contexto social atual exige o empenho de todas as áreas do conhecimento nas discussões sobre a problemática socioambiental. A Educação em Ciências, em interlocução com os pressupostos da Educação Ambiental Crítica, pode oferecer uma grande contribuição, pois, para discutir e se engajar como cidadão no enfrentamento dos problemas socioambientais, a população precisa estar cientificamente letrada e politicamente consciente (VASCONCELLOS & GUIMARÃES, 2007).

A experiência relatada neste artigo proporcionou a valorização de alguns aspectos na experiência vivenciada na Educação em Ciências no MCT e no processo ensino-aprendizagem de prática em Educação Ambiental no ensino formal. Destacamos a importância de uma avaliação contínua das práticas, a fim de verificar o alcance efetivo dos objetivos propostos nas atividades, bem como das iniciativas. Dentro de própria escola, vários temas podem ser tratados com maior participação dos alunos e evidenciando as características locais.           

Consideramos importante explorar caminhos alternativos para a interação da população com o patrimônio cultural mantido pelos museus, bem como incentivar a valorização do patrimônio natural, no sentido de conduzir à tomada de consciência do cidadão como participante, dependente e agente transformador socioambiental. Neste sentido, pode-se dizer que a estratégia de realização de parcerias representa uma alternativa possível para alcançar resultados educacionais positivos.

 

Referências:

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Ilustrações: Silvana Santos