Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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16/03/2012 (Nº 39) Instituições de Ensino Superior na transição para uma sociedade ambientalmente mais sustentável: grandes temas em debate à luz do conceito de sistema de gestão ambiental
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Instituições de Ensino Superior na transição para uma sociedade ambientalmente mais sustentável: grandes temas em debate à luz do conceito de sistema de gestão ambiental

autores:

Marina Pereira Ferranti: Graduanda em Administração de empresas na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto – USP e Bolsista de Iniciação Científica da FAPESP.

Endereço: Rua Antonio Carlucci, nº 512, AP. 33, Ribeirão Preto, SP – Brasil, CEP: 14026-050

 Telefone: (16) 81886336

Email: mpferranti@gmail.com

Charbel José Chiappetta Jabbour: Pós-Doutor pela United Nations University (Japão), Livre-Docente e Doutor pela USP, Graduado pela UNESP. Professor da UNESP-Bauru e da USP-Ribeirão Preto.

Endereço: Av. Eng. Edmundo C. Coube, 14-01, Bauru, SP-Brasil, CEP 17360-030 DEP-FE.

E-mail: prof.charbel@gmail.com

                               

1.    Resumo

 

Este artigo tem o propósito de examinar os desafios e oportunidades relacionados à implementação de sistemas de gestão ambiental baseados na Norma ISO 14001:2004 nas Instituições de Ensino Superior e como elas podem se adequar aos requisitos para possuir um sistema de gestão ambiental (SGA). O estudo envolve análises sobre as implicações da adoção de sistemas de gestão ambiental por universidades e sobre os aspectos relevantes na adoção de SGAs com base na Norma ISO 14001, como barreiras, benefícios, motivações, práticas e fatores críticos de sucesso.  Luzes são lançadas, assim, a um tema de crescente importância (sistemas de gestão ambiental), com foco em objeto analítico ainda pouco analisado do ponto de vista ambiental (Instituições de Ensino Superior).

2.    Introdução

 

O desenvolvimento da consciência ambiental tem atingido um notável crescimento no cenário mundial. Essa mudança de visão global tem se mostrado através da continua propagação da preocupação com o desenvolvimento sustentável e das práticas de gestão ambiental pelos cidadãos, entidades governamentais, organizações privadas e Instituições de Ensino Superior. As práticas ambientais destas últimas vêm ganhando cada vez mais atenção de todos os setores da sociedade, já que hoje em dia as universidades podem ser consideradas como “pequenas cidades”, devido seu tamanho, população, e varias atividades complexas executadas nos campi (ALSHUWAIKHAT e ABUBAKAR, 2008). Dentre os significativos impactos ambientais gerados pelas universidades, destacam-se uso de pesticidas, fertilizantes que contribuem para poluição da água, sistemas de refrigeração, consumo de água, emissão de gases, fluxo de automóveis que freqüentemente pode causar barulho, congestionamento e comprometimento da qualidade do ar, e principalmente o consumo e gerenciamento de energia e desperdícios em geral, como o uso excessivo de papel e tintas de impressão, além do lixo eletrônico constantemente produzido (DAHLE e NEUMAYER, 2001).

Diante disto apresenta-se uma serie de estudos sobre a gestão ambiental nas universidades, o papel destas como agentes de mudança ambiental (STEPHENS et al, 2008), geradoras de conhecimento científico sobre gestão ambiental e como estas podem ser exemplos da incorporação das praticas sustentáveis nos campi universitários, gerando, deste modo, benefícios para a comunidade e conscientização em todos os seus níveis (TAUCHEN e BRANDLI, 2006).

A literatura referente a este assunto traz temáticas consistentes como desenvolvimento de consciência ambiental nas Instituições de Ensino Superior através da abordagem educacional e a implantação de sistemas de gestão ambiental legitimados com a certificação ISO 14001 (por exemplo, FISHER, 2003). A preocupação da sociedade sobre a poluição, esgotamento de recursos, desperdícios, e outras questões ambientais tem crescido e um número substancial de leis ambientais e regulamentações tem sido promulgadas para assegurar que as organizações mantenham suas responsabilidades ambientais (RAZAEE e ELAM, 2000).  Portanto é dada considerável relevância ao assunto da legitimação pela ISO 14001, já que esta proporciona a estrutura de SGA mais reconhecida em todo o mundo que fornece ferramentas para uma organização gerenciar melhor os impactos ambientais de suas atividades, melhorar seu desempenho ambiental e, além dos benefícios de melhoria ambiental, traz uma série de benefícios operacionais, financeiros e societários (GAVRONSKI, FERRER e PAIVA, 2006).

A norma ISO 14001 especifica os requisitos para que um sistema de gestão ambiental capacite uma organização a desenvolver e implementar política e objetivos que levem em consideração requisitos legais e informações sobre aspectos ambientais significativos (ABNT NBR ISO 14001, 2004), fornecendo bases para se avaliar o grau de aproximação ou distanciamento que uma unidade universitária possui de um sistema de gestão ambiental ideal.

O intuito deste artigo é apresentar:

·         Uma revisão da literatura sobre a adoção de práticas e de sistemas de gestão ambiental em universidades;

·         Uma revisão da literatura sobre oportunidades, benefícios e dificuldades para a adoção de sistemas de gestão ambiental em universidades, com base na ISO 14001;

 

Este trabalho, que está sendo desenvolvida com apoio da FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo,  justifica-se por trazer à tona a necessidade das universidades assumirem seu papel de destaque (TAUCHEN e BRANDLI, 2006) como propulsoras da consciência ambiental em todos os níveis da sociedade, a partir da adoção de práticas ecologicamente sustentáveis dentro dos campi universitários; a pesquisa promete verter a visão para as práticas atuais da FEA-RP, comparando-as com as oportunidades de melhoria, deste modo, fundamenta-se por fornecer um ponto de partida para que haja na FEA-RP a fomentação de idéias e atitudes que favoreçam a preservação ambiental.

Destaca-se a internacionalização da Norma ISO 14001 que assiste as companhias e organizações a desenvolver pró - ativamente seus próprios sistemas de gestão ambiental, levando a obter inúmeros benefícios quando uma organização adota a norma voluntariamente (FISHER,2003), como por exemplo a legitimação das universidades. A “atitude verde” de uma instituição de ensino superior fornece uma imagem positiva para quem está olhando de fora, e, portanto pode ser um ponto de venda (DAHLE e NEUMAYER, 2001).

2.      Metodologia

Com base nos objetivos desta pesquisa descritos na introdução, uma revisão da literatura foi realizada com os seguintes propósitos: (a) identificar os principais conceitos pertinentes; e (b) sistematizar as principais evidências empíricas de artigos selecionados que abordam as questões concernentes a implantação de sistemas de gestão ambiental com base na Norma ISO 14001 em Instituições de Ensino Superior. Os artigos revisados nesta pesquisa foram coletados durante o período de janeiro de 2010 a julho de 2011, por meio da inserção dos argumentos de busca”ISO 14001 , ISO 14001 em Universidades, Gestão ambiental em Universidades e Instituições de Ensino Superior e Sustentabilidade em Universidades e Instituições de Ensino Superior nas bases de dados Scielo, Scopus e Emerald.

3.    Fundamentos teóricos

1       

2       

3       

3.1      Práticas ambientais, gestão ambiental e consciência ambiental nas universidades

 

O debate acerca da consciência ambiental nas instituições de ensino teve os primeiros indícios a partir da Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano publicada em 1972, em Estocolmo, onde a preocupação com os problemas ambientais foi levantada em todos os setores da sociedade, incluindo o educacional (PRICE, 2005).

Em 1990, na França, a declaração “Talloires” foi assinada por 22 presidentes e reitores representando universidades, que se comprometeram a desenvolver a educação, liderança e pesquisa ambiental (FISHER, 2003).

A Agenda 21, resultado da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (RIO – 92) declara que os países devem estender o alcance da educação para apoiar o desenvolvimento sustentável.

O período entre as Conferências de Estocolmo em 1972 e do Rio de Janeiro em 1992, foi marcado pela emergência de instituições, parcerias e redes de trabalho particularmente empenhadas em (re) conduzir as IES para o lugar que lhes estava reservado (ECOCAMPUS, 1997 apud TAUCHEN e BRANDLI, 2006).

Dentre as inúmeras definições para o termo “gestão ambiental”, nesta pesquisa considera-se que gestão ambiental trata-se do conjunto de esforços, ações, práticas e políticas, dentro de um contexto organizacional, direcionados a mitigação dos impactos ambientais gerados pelas atividades organizacionais.

Considerando o conceito de consciência ambiental, Bedante e Slongo (2004, apud GONÇALVES-DIAS et al, 2009) definem como:

A tendência de um indivíduo em se posicionar frente aos assuntos relativos ao meio ambiente de uma maneira a favor ou contra. Assim, indivíduos com maiores níveis de consciência ambiental tenderiam a tomar decisões levando em consideração o impacto ambiental de suas posturas e ações.

A literatura sobre gestão ambiental e consciência ambiental nas universidades tem progredido de maneira relevante mundialmente; autores de todas as partes do mundo discutem esta temática manifestando o crescente consenso de opinião que o desenvolvimento sustentável não pode ser apenas uma questão de preocupação governamental, ONGs e empresas privadas, mas sim de todas as instituições, inclusive as Instituições de Ensino Superior; esta responsabilidade atribuída às universidades pode ser justificada através de dois elementos expressivos:

·         As Instituições de Ensino de Superior têm potencial único de catalisar e acelerar a transição da sociedade em direção a sustentabilidade, já que estas são lugares criticamente importantes na produção, perpetuação e disseminação de conhecimento (STEPHENS, HERNANDEZ, et al, 2008).

·         As mesmas produzem impactos ambientais significantes a partir de suas atividades e operações; Neste contexto, Alshuwaikhat e Abubakar (2008) esclarecem que “as universidades podem ser comparadas a locais complexos como hospitais e grandes hotéis em termos de geração de resíduos, água e consumo de materiais, assim como eletricidade e combustíveis de hidrocarboneto na operação de máquinas, aquecimento, iluminação, transporte, etc. com implicações para a qualidade ambiental.”

Ao aplicar ações ambientalmente sustentáveis nos campi universitários, as Instituições de Ensino Superior podem reduzir os efeitos cumulativos dos problemas ambientais que causam, e, portanto prevenir a degradação ambiental (DAHLE E NEUMAYER, 2001).

Para alguns autores (CREIGHTON, 1999; STEPHENS et al, 2008; JABBOUR, 2010) as faculdades e universidades podem contribuir de varias formas para o desenvolvimento sustentável, e uma delas é como modelo de praticas sustentáveis, baseado na premissa que o comportamento sustentável deve começar dentro da própria, para que assim possa disseminar as atitudes “verdes” para a sociedade.

Problemas ambientais estão se tornando cada vez mais complexos, multidimensionais e interconectados; a sustentabilidade ambiental requer, por sua própria natureza, uma abordagem sistêmica e integrada para os tomadores de decisão, investidores e gestores. Portanto, há a necessidade de uma abordagem, para gestão ambiental, profissional e sistêmica a fim de reduzir o consumo de recursos e impactos negativos nas operações das universidades (ALSHUWAIKHAT e ABUBAKAR, 2008).

Neste quadro encaixa-se a proposição de sistemas de gestão ambiental para a constituição mais harmônica e ordenada de praticas e processos para a mitigação dos impactos ambientais dentro das faculdades e universidades. Bem como, a legitimação do desempenho ambiental destas pela implantação de um sistema de gestão ambiental edificado sobre a Norma, de caráter global, ISO 14001.

3.2      Sistemas de gestão ambiental (SGAs) com base na Norma ISO 14001

 

Sistema de Gestão Ambiental é uma estrutura desenvolvida por uma organização, voltada a solucionar e prevenir os problemas de caráter ambiental, com o objetivo de desenvolvimento sustentável. Como demonstrado por Fresner, 1998 na Figura 1.

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FIGURA 1 - Modelo de um sistema de gestão ambiental. Fonte: adaptado de Fresner (1998).

 

Um SGA, segundo a NBR ISO 14001, é definido como “a parte do sistema de gestão que compreende a estrutura organizacional, as responsabilidades, as práticas, os procedimentos, os processos e recursos para aplicar, elaborar, revisar e manter a política ambiental da empresa a fim de obter desenvolvimento ambiental sustentável”.

A ISO 14001 é uma norma internacionalmente aceita que define requisitos legais para estabelecer e operar um SGA. A finalidade geral da ISO 14001 é equilibrar a proteção ambiental e a prevenção de poluição com as necessidades socioeconômicas.

As normas de gestão ambiental têm por objetivo prover as organizações de elementos de um sistema de gestão ambiental (SGA) eficaz que possam ser integrados a outros requisitos da gestão, e auxiliá-las a alcançar seus objetivos ambientais e econômicos (ABTN NBR ISO 14001, 2004).

A Norma baseia-se na metodologia Plan-Do-Check-Act (Planejar, executar, verificar e agir – PDCA):

·         Planejar: Estabelecer os objetivos e processos necessários para atingir os resultados em concordância com a política ambiental da organização.

·         Executar: Implementar processos.

·         Verificar: Monitorar e medir os processos em conformidade com a política ambiental, objetivos, metas, requisitos legais e outros, e relatar os resultados.

·         Agir: Agir para a melhoria continua do desempenho do sistema de gestão ambiental.

Além dos requisitos gerais que englobam a política ambiental, a Norma especifica os requisitos para a implantação do sistema de gestão ambiental para cada um dos artigos expostos acima, fornecendo recomendações em alguns itens, o que culmina em um modelo de sistema de gestão ambiental de acordo com esta, exibido na Figura 2.

O desenvolvimento da política ambiental da instituição é uma atividade que exige considerável atenção e empenho das partes interessadas. Isto porque a política ambiental é a força motriz para a implementação e aprimoramento do sistema de gestão ambiental de um organização, permitindo que seu desempenho ambiental seja mantido e potencialmente aperfeiçoado (ABTN NBR ISO 14001, 2004). A base sobre a qual a instituição estabelece seus objetivos e metas. A política ambiental é o comprometimento da alta administração a sustentabilidade, por escrito (FISHER, 2003).

É recomendado, na Norma ISO 14001, que a política ambiental seja comunicada a todas as pessoas que trabalhem na organização ou que atuem em seu nome.

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FIGURA 2 - Modelo de sistema de gestão ambiental para a Norma ISO 14001. Fonte: baseado na ABTN NBR ISO 14001 ( 2004).

 

Dentro do objetivo geral da ISO 14001 em desenvolver a proteção ambiental, Simkins e Nolan (apud Alshuwaikhat e Abubakar, 2008) indicam objetivos específicos neste âmbito:

·         Reduzir desperdícios, esgotamento de recursos e poluição ambiental;

·         Promover a sensibilização ambiental junto aos funcionários e comunidade;

·         Fornecer uma plataforma para as organizações demonstrarem seu comprometimento com a proteção ambiental;

·         Ajudar a gerência perseguir o melhoramento continuo no desempenho ambiental;

·         Fornecer uma vertente mundial em gestão ambiental;

·         Promover um consenso voluntário para a abordagem da Norma para problemas ambientais;

·         Demonstrar comprometimento para mover-se além do cumprimento da regulamentação;

A Norma ISO 14001, se apresenta como um modelo legitimado para as Instituições de Ensino Superior formalizar o desenvolvimento sustentável em todas suas operações.

 

3.3      Propostas sobre a implementação de um SGA com base na norma ISO 14001 em universidades

 

Tem havido um movimento crescente para implementar sistemas de gestão ambiental (SGA), a fim de sistematicamente facilitar mudanças ambientais e sustentáveis. Um SGA é uma parte do sistema de gestão geral de uma organização. Inclui a estrutura da organização, atividades de planejamento, responsabilidades, práticas, processos e recursos para implementação e manutenção do SGA (CLARKE e KOURI, 2009).

 Na literatura de sustentabilidade e gestão ambiental nas universidades, é defendido entre vários autores que as faculdades devem ser modelos para os estudantes e para a sociedade, esta deve incentivar a sustentabilidade na sociedade e mostrar-se como um exemplo através de suas práticas sustentáveis.  Para os autores Jain e Pant (2010), a implementação de um SGA na universidade vai ajudar a reduzir o impacto de varias atividades diárias sobre o meio ambienteEle também irá levar ao desenvolvimento de consciência  ambiental nas mentes dos jovens profissionais que se formam na da universidade bem como dos funcionários da universidade.

A implementação de um SGA nos campi universitários é um processo que requer muito planejamento e organização, visto que envolve mudanças intrínsecas no cerne da constituição no sistema administrativo geral da universidade e particular de cada faculdade. Deste modo é ideal que haja algum modelo esquematizado que guie os dirigentes na implementação de um SGA através de etapas coerentes que permitam a adaptação e aceitação dos envolvidos às novas normas e vertentes que permeiam a universidade, como defendido por Nicolaides (2006), Savely, Carson e Delclos (2007) e Razaee e Elam (2000), Viebahn (2002), Simkins e Nolan (2004).

Simkins e Nolan (2004) afirmam que a implantação de um SGA em um ambiente universitário geralmente envolve uma abordagem estagiada cautelosa, pela qual os elementos do SGA são introduzidos lentamente, ou pela qual um SGA é introduzido para departamento ou áreas físicas. E que a abordagem estagiada é a mais apropriada pelas seguintes razões expostas pelos autores:

·         Custa menos inicialmente;

·         Demonstra a adequação e utilidade de um SGA;

·         Demonstra que não é muito burocrático e não dá muito trabalho;

·         Aumenta a confiança no conceito;

·         Fornece uma serie de metas estruturadas.

Pela Norma Brasileira NBR ISO 14001, a adoção e a implementação de forma sistemática de um conjunto de técnicas de gestão ambiental podem contribuir para a obtenção de resultados ótimos para todas as partes interessadas. Para atingir os objetivos ambientais e a política ambiental, pretende-se que o sistema de gestão ambiental estimule as organizações a considerarem a implementação das melhorias técnicas disponíveis, onde apropriado e economicamente viável.

Alguns autores estudados propõe guias compostos por uma série de etapas de implementação de um SGA com base na ISO 14001. Por exemplo, Savely, Carson e Delclos (2007) apresentam um modelo de implementação de sistemas de gestão ambiental desenvolvido para universidades americanas com o objetivo de simplificar esse processo. O modelo desenvolvido pelos autores é demonstrado na Tabela 1.

TABELA 1: Modelo para implementação de sistemas de gestão ambiental

 

Modelo para a implementação de sistemas de gestão ambiental

 

                                   Explicação                                  

Fase 1

 

·         Ganhar o apoio da alta diretoria

·         Primeiro passo necessário para implementação

·         Definir uma estrutura de responsabilidade

·         Incluindo indivíduos em toda instituição em categorias gerais e pelo nome específico.

·         Incorporar estes elementos em  reuniões de comissões institucionais e outras reuniões de rotina como itens da agenda  em vez de criar outras reuniões, quando possível.

·         Identificar requisitos legais

 

·         Ter um procedimento em vigor garante que existe um processo de monitoramento, implementação e atualização os requisitos legais e melhores práticas.

·         Muitas faculdades e universidades usam uma
ferramenta observância de calendário.

·         Revisão das operações e identificação das atividades que podem afetar o meio ambiente

·         Exemplos incluem a manipulação de resíduos perigosos, uso de energia, etc.

·         Desenvolver uma política ambiental

·         Uma confirmação da missão ambiental

Fase 2

·         Criação de programas ambientais com objetivos e alvos e monitoramento e medição de operações ambientais

·         Aspectos ambientais determinadas em passos/elementos anteriores são usados para desenvolver programas ambientais, objetivos e metas numéricas dentro das metas para a instituição.

·         Depois de identificar as atividades ambientais, aspectos objetivos e metas, a instituição é capaz de
determinar o que medir e monitorar.

 

·         Estabelecer um sistema de controle de documentos e documentação

·         Documentação referente ao SGA e os procedimentos associados são normalmente mantidos on-line, com as únicas versões atuais designadas. As versões impressasnão são controladas. Um sistema eletrônico é muitobenéfico em reduzir volumes de papelada. Prazos para o armazenamento de registros ambientais devem ser estabelecidos.

 

·         Criação e implentação de processos ambientais

·         Muitos tipos de procedimentos ambientais são necessários para ter um SGA formal em vigor, tais como aqueles para minimizar os desvios da política ambiental, objetivos e metas, para identificar criterios operacionais para controlar os aspectos ambientais significativos, para identificar potenciais e responder a situações de emergência, e para prevenir e mitigar o
impactos ambientais que podem estar associados a eles, para corrigir não-conformidades ambientais, e para gerenciar e armazenar registros ambientais.

 

·         Treinamento e comunicação

·         Treinamento deve ser adaptado para a instituição e as diferentes partes interessadas na instituição para aumentar o apoio.

Fase 3

·         Auditoria por partes interna e externa

·         Auditorias internas são importantes, mas geralmente tendenciosa.

·         É fundamental para obter auditorias de terceiros, no entanto, elas podem ser caras. A rota mais econômica é arranjar análises especialistas a partir de outras faculdades e universidades.

Fonte: Adaptado de Savely et al (2007).

Segundo Razaee e Elam (2000), a complacência efetiva com as leis ambientais e regulamentações requer comprometimento das organizações em relação a assuntos ambientais bem como a responsabilidade e auditoria para com os sistemas de gestão ambiental. Os autores propõe um modelo de 15 etapas as quais os responsáveis de uma instituição devem seguir para conquistar a certificação ISO14001. A seguir é apresentado o modelo adaptado de Razaee e Elam (2000) com 14 etapas:

Etapa 1:  Obter comprometimento da alta gerencia em relação as preocupações ambientais

Etapa 2: Estabelecer um comitê e direção ambiental

Etapa 3: Determinar a dimensão dos dispêndios ambientais e requisitos da organização

Etapa 4: Treinar o time ambiental e funcionários

Etapa 5: Estabelecer um sistema de gestão ambiental efetivo

Etapa 6: Estabelecer políticas e procedimentos ambientais

Etapa 7: Criar  um programa de gestão ambiental

Etapa 8: Manter documentação apropriada do sistema de gestão ambiental

Etapa9: Estabelecer e manter registro apropriado do SGA

Etapa 10: Revisão do SGA por parte da gerência

Etapa 11: Conduzir auditoria ambiental

Etapa 12: Selecionar a norma ISO adequada

Etapa 13: Escolher entre as opções de registro da norma ISO

Etapa 14: Realizar registro para ISO 14001

Uma abordagem bem difundida na literatura sobre implementação de sistemas de gestão ambiental em universidades, é o “Modelo de Gestão Ambiental de Osnabrück para Universidades” de Viebahn (2002), no qual o autor propõe “blocos de construção” que são designados aos departamentos considerados mais competentes para concebê-los e opera-los, como por exemplo, o sistema de informações ambiental será responsável por coletar e administrar as informações relevantes para a gestão do sistema. Os “blocos de construção” desenvolvidos por Viebahn (2002) são demonstrados a seguir:

1.    Estrutura organizacional

2.    Diretrizes ambientais

3.    Regulamentos ambientais

4.    Auditorias ambientais

5.    Metas ambientais

6.    Programa ambiental

7.    Relatórios ambientais

8.    Sistema de informação ambiental

9.    Educação e treinamento ambiental

10. Envolvimento dos funcionários e trabalho de relações públicas.

De acordo com Nicolaides (2006), colocar um SGA em operação deve ser um processo estagiado em que uma revisão ambiental  nas operações da instituição é gradualmente introduzida. Talvez pudesse ser desenvolvido em uma faculdade ou departamento específico de uma universidade. Este tipo de cuidado não envolve uma quantidade excessivamente grande de dinheiro e iria inspirar confiança e também servir como função de demonstrar a faculdade que não é uma grande dificuldade para realmente implementar o sistema.

3.4      Considerações relevantes a implantação de SGA nas universidades

3.4.1     Motivações e benefícios

 

A literatura ocupa-se em trazer as possíveis fontes de motivação para a implantação de SGAs baseados na ISO 14001. Do mesmo modo traz variados benefícios advindos do uso da Norma.

Em sua pesquisa nas universidades suecas Sammalisto e Arvidsson (2005) encontraram treze possíveis fontes motivadoras para a implantação de sistemas de gestão ambiental nas Instituições de Ensino Superior: administração/coordenação; estudantes; ensino, aprendizagem e pesquisa; faculdade e quadro de funcionários; imagem, marketing e credibilidade; acompanhar o desenvolvimento da sociedade; engajamento voluntário; legislação; diretrizes do governo.

Taddei-Bringas, Esquer-Peralta e Platt-Carrillo (2008) consideram diferentes motivações para a implantação do SGA: motivações externas, como governo e organizações promovendo iniciativas de proteção ambiental e a necessidade de experimentar a operação do SGA usado pela maioria das indústrias para ajudar os futuros profissionais a se familiarizarem com este. Os autores indicam como benefício de um SGA baseado na ISO 14001, “a contribuição deste na transição em direção à sustentabilidade, já que são estabelecidas linhas de responsabilidade e relatórios para avaliar o desempenho ambiental através de acordos baseados na melhoria continua do processo”.

No estudo de Clake e Kouri (2009), os autores identificam vários impulsionadores-chave para implementação de SGAs em um campus universitário com base no estudo de caso na Universidade de Dalhousie, mostrados na Tabela 2.

 

TABELA 2: Impulsionadores–chave para implementação de SGAs

 

Impulsionadores

Desempenhar um papel de líder e ser um modelo em Educação Superior

Desempenhar boa cidadania através da responsabilidade educacional

Potencial de redução de custos e pay-offs a longo prazo

Melhorar moral dos funcionários e saúde

Reduzir o impacto ambiental

Melhorar a imagem da universidade diante a comunidade

Necessidade de se autoeducar

Papel da universidade nas pesquisas, e praticar o que é pregado

Códigos e guias ambientais

 Iniciativas de outras universidades

Pressão interna para realizar mudanças

Fonte: Adaptado de Clarke e Kouri (2009).

As motivações específicas para as universidades, descritas por Simkins e Nolan (2004), são basicamente: um SGA pode melhor a percepção do público através do fornecimento de evidencias sobre a sua responsabilidade social (talvez atrair estudantes), auxiliar na formação dos alunos e treinamento, proporcionar o acesso a bolsas de pesquisa e encorajar a colaboração inter-departamental.

Um dos méritos da ISO 14001 é a padronização de sistemas de rotinas e procedimentos necessários para a certificação ambiental devido ao cumprimento de uma “checklist” internacionalmente reconhecida de exigências da norma (OLIVEIRA E PINHEIRO, 2009).

Fisher (2003) delineia as vantagens proporcionadas as Instituições de Ensino Superior que implementam a ISO 14001:

·         Legitimidade;

·         Economia de custos;

·         Diligência e segurança;

·         Complacência legislativa;

·         Marketing;

·         Saúde humana.

Morrow e Rondinelli (2002) mencionam diversos benefícios reportados por organizações que adotaram SGAs tais como: redução do custo de energia, tratamento e eliminação de resíduos tóxicos, redução de custos associados com acidentes ambientais, melhorias no desempenho ambiental nas áreas de desperdício de água e reciclagem, melhorias na conscientização dos funcionários, melhoria da eficiência e eficácia operacional e melhoria da consciência da gestão.  

Nicolaides (2006) cita alguns benefícios da gestão ambiental nas universidades:

“A parte de seus imperativos éticos e o fato de que é um bom catalisador para a práxis acadêmica, a sustentabilidade em universidades pode levar a grandes economias financeiras que pode ser o resultado de uma imagem de relações publicas reforçada e de melhor recrutamento de alunos.”

Há a concordância entre os autores Dahle e Neumayer (2001); Pombo e Magrini (2008) que a Norma ISO 14001 fornece ferramentas para o gerenciamento e controle de seus aspectos ambientais e para melhoria do seu desempenho ambiental, podendo oferecer diversos benefícios econômicos, que estão associados a benefícios ambientais.

3.4.2     Fatores críticos de sucesso

 

Os fatores críticos de sucesso para a implantação de um sistema de gestão ambiental com base na Norma ISO 14001, podem ser reconhecidos como as melhores praticas a implementação desta, bem como os fatores particularmente relevantes para este processo.

É possível elucidar as seguintes melhores práticas em relação à gestão da
mudança organizacional para o desenvolvimento sustentável (OLIVEIRA E PINHEIRO, 2009):

·         Comprometimento da alta administração através do investimento, interação, acessibilidade e apoio das decisões tomadas pela comissão de gestão ambiental;

·         Formação de um comitê multidisciplinar e integrado para gestão ambiental, onde a informação sobre o sistema de gestão ambiental seja trocada diariamente;

·         Avaliação da visão da organização, missão, valores e políticas antes e durante o processo de implementação da ISO 14001, se esforçando para manter o foco e reforçar as estratégias de gestão ambiental;

·         Investimento no treinamento ambiental técnico e desenvolvimento humano dos funcionários, para que deste modo melhore a compreensão da norma ISO 14001;

·         Intensivo de investimento em comunicação interna, de acordo com os meios mais adequados para cada organização;

Zutshi e Sohal (2004) apontam fatores críticos de sucesso de natureza generalista, com a possibilidade de uso por qualquer tipo de organização. Estes fatores são organizados dentro de quatro fatores primordiais: liderança e suporte da administração (gerência), treinamento e aprendizagem, análise interna e sustentabilidade.

A liderança e suporte da administração é vital para assegurar a conscientização e entendimento dos problemas ambientais e comprometimento a implementação da Norma por toda organização (ZUTSHI E SOHAL, 2004). Neste tópico os autores trazem os fatores: comprometimento da administração do topo, mudança cultural, alocação de recursos, nomeação de um responsável, importância da comunicação. Fogel e House (2010) destacam igualmente, a importância da liderança: “A cultura de apoio com a liderança autentica é fundamental para qualquer esforço de mudança, porque é a maneira como as pessoas conseguem discernir o comportamento aceitável do inaceitável e avaliar a seriedade do esforço de mudança”.

Deve ser o objetivo da universidade, fazer com que cada operação do campus seja um modelo de boas práticas no que diz respeito ao meio ambiente e a sustentabilidade. Educação é um componente essencial para alcançar sustentabilidade e Instituições de Ensino Superior devem isto à sociedade, promover altos valores éticos em seus clientes. O segredo é educar estudantes como os futuros guardiões do planeta, para agir de forma ética e responsável e para demandar menos recursos, bens de consumo e produção associada de poluentes. A este respeito, o currículo deve ser revisado (NICOLAIDES, 2006, v.7, n. 4, pg. 7).

O treinamento e aprendizado dos participantes da organização são fatores extremamente enfatizados pelas organizações estudadas pelos autores, traz elementos como: aprendizagem com outras organizações; indução e treinamento dos funcionários; treinamento e conscientização de todos os envolvidos com a organização.

Um fator crítico de sucesso proferido com ênfase pela maioria dos autores estudados é a necessidade de treinamento e comunicação para os agentes da instituição. Em sua pesquisa sobre a implantação de um SGA com base na ISO 14001 na Universidade de Gävle, na Suécia, Sammalisto e Brorson (2006) observam que o treinamento é considerado um fator chave para a implementação bem sucedida do SGA, e que o treinamento pode mudar o comportamento ambiental. O estudo realizado mostra que a participação no treinamento tem uma correlação positiva com a conscientização dos fatores chave do SGA. Outro fator de destaque para a difusão da consciência ambiental identificado pelos autores é a comunicação dos problemas ambientais através de vários canais de divulgação.

O treinamento dos funcionários é um aspecto fundamental para a alteração da percepção dos indivíduos com relação às questões ambientais (THOMAS OLSSON, 1998 apud NICOLAIDES, 2006). Para Jain e Pant (2010), o treinamento e a comunicação são considerados fatores-chave para o sucesso da implementação de um SGA no set-up da universidade, e a maioria dos alunos, docentes e funcionários devem ser incluídos neste processo.

O apoio dos vice-reitores e todos os diretores seniores são imperativos para o sucesso das mudanças da política ambiental  de um SGA começa com um compromisso da gestão sênior em uma "abordagem top-down" onde as ideias positivas permeiam toda a universidade (Emerson e Welford, 1997 apud Nicolaides, 2006).

É muito importante realizar um diagnóstico exato da estrutura acadêmica da instituição a fim de atingir uma articulação adequada da estrutura proposta pelo SGA (TADDEI-BRINGAS, ESQUER-PERALTA e PLATT-CARRILLO, 2008).

Não obstante os vários benefícios ambientais e as muitas vantagens econômicas obtidas pela implantação de um sistema de gestão ambiental com base na Norma ISO 14001 existem barreiras e dificuldades notáveis envolvidas neste processo.

 

3.5      Barreiras a implantação de SGAs com base na ISO 14001 nas universidades

 

A implantação de um SGA dentro de uma instituição de ensino superior pode enfrentar resistência e dificuldades em favor das mudanças que este traz em sua aplicação, tanto estruturais, quanto culturais. Além das barreiras tangíveis que podem ser enfrentadas pelas universidades, como por exemplo, a restrição financeira e as barreiras burocráticas.

Embora a alteração devido à implementação do SGA em si não seja radical, é provável que encontre resistências, o que também dependem de onde o foco do SGA está sendo colocado, ou seja, quais os aspectos ambientais da universidade estão sendo trabalhados (SAMMALISTO E ARVIDSSON, 2005).

 Os obstáculos e barreiras à adoção da ISO 14001 citados por Taddei-Bringas, Esquer-Peralta e Platt-Carrillo (2008) são: “a reação natural à mudança dos professores e alunos, as atitudes negativas de alguns membros e setores da comunidade universitária; e o tempo requerido para a implantação do processo”.

Creighton (1999) indica como as principais barreiras para a sustentabilidade ambiental dentro do campus universitário a profunda falta de interesse e comprometimento em relação às iniciativas ambientais junto aos administradores, funcionários e estudantes; e outras barreiras como falta de recursos financeiros e educação ambiental dentro da comunidade do campus.

A partir de sua pesquisa em universidades de Londres, Dahle e Neumayer (2001) apontam como barreiras para o desenvolvimento ambiental dentro das universidades:

·         Falta de recursos financeiros;

·         Falta de educação ambiental;

·         Cultural, com uma prevalência de atitudes não ambientais;

·         Espacial, com falta de espaço para construir prédios novos e com maior eficiência energética.

Sammalisto e Arvidsson (2005) apresentam alguns obstáculos no processo de implantação da Norma na Universidade de Gävle, Suécia: falta de informações, falta de interesse dos alunos, objetivos conflitantes, falta de recursos, organização, falta de conhecimento, falta de motivação junto aos funcionários, carga de trabalho, fraqueza de acompanhamento da administração, entre outros.

Ao contrário de muitas outras organizações, a natureza descentralizada da faculdade ou departamentos universitários e unidades acadêmicas, o ceticismo inerente sobre os esforços de mudança, e a natureza transitória de um dos principais interessados – o aluno – muitas vezes tornam ambientes universitários particularmente desafiadores para os esforços de sustentabilidade realmente se tornarem institucionalizados (FOGEL E HOUSE, 2010).  O autor Nicolaides (2006), também define alguns obstáculos na implementação de um sistema de gestão ambiental em universidades:

“Um grande obstáculo é a mudança, o que é percebido como uma ameaça por muitas instituições e, assim, evitam a implementação de um SGA e, optam por manter o status quo. Outros obstáculos são a inércia institucional e um espírito conservador rígido que pode permear uma universidade. Também pode haver uma falta de consciência  da alta diretoria no que diz respeito à instituição amigável ao meio ambiente, nervosismo entre acadêmicos, administradores e estudantes e uma dificuldade geral na implementação e auditoria de forma eficaz um SGA. Além disso, os obstáculos seriam dificuldade em alterar mentalidades, a falta de conhecimento e funcionários um pouco resistentes que estão trabalhando em "zonas de conforto"”.

Tais dificuldades encontradas na adoção de um SGA com base na Norma ISO 14001 podem fazer que uma instituição retroceda diante da perspectiva de implantação, no entanto, a literatura traz soluções plausíveis e meios alternativos para reduzir os obstáculos na adoção de um sistema de gestão ambiental.

4.      Conclusão

 

Esta pesquisa partiu do objetivo de proporcionar maior entendimento sobre a temática de gestão ambiental nas Instituições de Ensino superior, através de uma revisão da literatura sobre a adoção de práticas e de sistemas de gestão ambiental em universidades e sobre oportunidades, benefícios e dificuldades para a adoção de sistemas de gestão ambiental em universidades, com base na ISO 14001;

Com base em uma sistematização da literatura existente, pode-se declarar que as principais conclusões são:

As Instituições de Ensino Superior devem ser modelos de educação e comportamento ético na sociedade e, portanto, são dotadas da responsabilidade de manter boas práticas em todos seus pilares de atuação, essencialmente nas práticas sustentáveis e de conservação do meio ambiente, assim como corroborado por Nicolaides (2006): “Como cidadãos globais as universidades devem ser totalmente comprometidas com a pesquisa de questões sobre a sustentabilidade e no avanço do conhecimento que é capaz de significativamente agregar valor à meta de longo prazo de um meio ambiente totalmente sustentável”.

Deste modo, é importante que as universidades desempenhem seu papel como disseminadoras de conhecimento através de um forte a consciência ambiental. Uma forma válida de realizar isto é pela adoção de SGAs - Sistemas de Gestão Ambiental – com base na ISO 14001, os quais possibilitam as universidades gerirem seus impactos ambientais e melhorar seu desempenho ambiental por intermédio de processos estruturados, diretrizes e requisitos legais propostos pela Norma NBR ISO 14001.

É essencial, antes de tudo, num processo de implementação de um SGA que haja o total apoio da diretoria, exista uma liderança focada para tal propósito e a Instituição invista massivamente em treinamento e comunicação dos alunos, funcionários e acadêmicos, já que tais fatores são críticos para o sucesso da implantação.

A forma de implementação por estágios ou fases tem sido demasiadamente destacada como a melhor forma de se implantar um SGA dentro de uma Universidade, devido ao seu notável tamanho e grande número de departamentos e pessoas interessadas envolvidos no processo. Este modo de implantação permite que se reduzam os custos e inspira confiança nas pessoas, aumentando a credibilidade de um SGA é algo benéfico à Instituição.

Algumas barreiras podem ser encontradas, as principais dificuldades difundidas na literatura são: a falta de recursos financeiros, a resistência geral a mudanças e a falta de interesse das partes; Questões que podem ser trabalhadas através de um forte investimento em comunicação e treinamento e obtenção de patrocinadores externos.  Ainda assim, grandes são os benefícios que envolvem melhorias no desempenho ambiental, economia financeira e melhoria da imagem institucional.

Acredita-se que tais resultados possam ser úteis para Instituições de Ensino Superior interessadas em adotar um sistema de gestão ambiental, seja ele certificado ou não pela ISO 14001. Entretanto, pelo caráter essencialmente conceitual dessa pesquisa, sugere-se que outros estudos futuros sejam conduzidos, com o intuito de se produzir evidências empíricas nesse campo de investigação.

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Ilustrações: Silvana Santos