Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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19/09/2003 (Nº 4) Ecologia e desenvolvimento humano, uma compreensão segundo a interpretação de U. Bronfenbrenner
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Ecologia e desenvolvimento humano, uma compreensão segundo a interpretação de U. Bronfenbrenner

 

Carmem Regina Nogueira

Msc em Educação ambiental - FURG

 

Sumário: A problemática ambiental esta presente nos meios acadêmicos, jurídicos, diplomáticos, nacionais e internacionais. A relação homem x meio ambiente é considerada como um dos tema de maior repercussão atualmente. O homem vive em seu meio e deve interagir com o mesmo, ele sofre a ação do meio da mesma forma em que é atingido pelo meio. Deve existir uma cumplicidade entre o homem e o meio ambiente para que a circunstancia que desejou permanece existindo. A educação é uma solução coerente e definitiva para que a sustentabilidade seja alcançada.

Summary: The environmental problem this present in the means academic, juridical, diplomats, national and international. The relationship man x environment is considered as one of the theme of larger repercussion now. The man lives in his/her half and it should interact with the same, he suffers the action of the middle in the same way in that it is reached by the middle. A complicity should exist between the man and the environment so that the circumstance that wanted stays existing. The education is a coherent and definitive solution so that the sustentabilidade is reached.

A problemática ambiental é atualmente, um dos temas mais discutidos em eventos que vão desde a instância regional até internacional, cientistas e pesquisadores do mundo inteiro buscam soluções e posicionamento políticos na tentativa de deter o avanço da degradação ambiental-social ocorrente nas ultimas décadas na grande maioria dos países. Discutisse a origem desta degradação, algumas tendências dizem que seu começo foi com o advento da era industrial ou com o crescimento da agricultura, enfim, de tantas hipóteses ou teorias, fica evidente que o planeta passa por uma alteração acelerada com perda considerável de seus recursos naturais ou do poder de recuperação inerente aos ecossistemas naturais.

Poucos cientistas, no entanto delegam criticas aos parâmetros educacionais ou a interação existente entre homem e meio ambiente. Esta relação ora de predação, ora mutualismo, ora comensal, ora de parasitismo é a responsável pela condição precária em que o planeta se encontra atualmente. O homem não se sente interagindo com os vários meios em que percorre ao longo de sua vida; o homem não se percebe integrante de vários estágios e sistemas diferentes que logicamente para cada um são necessários comportamentos diferentes, falta-lhe a sensibilidade de perceber que exatamente como um jogo de dominó onde se uma pedra caí todas seguem o mesmo curso, seus atos desencadearão conseqüências em sistemas diferentes e por tempo indeterminado.

U. BRONFENBRENNER citado por PORTUGAL (1992) define um modelo ecológico onde é possível melhor compreensão através de um fluxograma, a relação entre homem e meio ambiente e o conseqüente desenvolvimento desta. O sujeito é colocado no centro, de forma dinâmica, não estática como definido por algumas tendências, em seu entorno vão se criando níveis diferenciados de interações ou transições. O homem define-se como um ser óbvio, sabe - se que nascer, crescer e morrer faz parte de seu ciclo, porém não é determinante a forma de impactar o meio ambiente com que irá se comportar este homem durante seu ciclo de existência.

BRONFENBRENNER (2002) diz que a ecologia do desenvolvimento humano obrigatoriamente sofre uma divisão em sua estrutura, definindo então, padrão de avaliação para cada estrutura da relação “homem x meio ambiente”: microssistema – seriam as experiências pessoais vividas pelo ser em um ambiente restrito; direcionando este item para as questões educacionais ou ambientais, analisa-se que o individuo chega a escola através de uma família e vai receber um novo código de conduta, as regras antes rígidas, impostas pela família tornam-se diferenciadas no novo ambiente, porém este fato ocorrerá temporariamente, por curto período, sim, pois logo voltará ao convívio da família e consecutivamente volta a conduta inicial. Nota - se que nesta instância já ocorrem o rompimento da relação, o que desencadeará problemas futuros caso não se integrem os sistemas, poderíamos ainda levar esta discussão para um nível mais amplo como o macrossistema, que seria a relação do individuo além da escola chegando até a sociedade ou um código de posturas mais exigente que nos é imposto pelo meio social, seja de forma ética ou moral. O que fica claro através da abordagem feita por BRONFENBRENNER (2002) é que o desenvolvimento ocorre sempre e se dá entre os diferentes contextos em que o individuo está envolvido; que as mudanças são inevitáveis e são perceptíveis a medida que o individuo se envolve e interage com o meio ambiente em que esta inserido no momento; as interações entre homem e meio ambiente tem reflexos recíprocos que provocam conseqüências em cadeia de forma generalizada .

Muitos são os conceitos citados para Ecologia ou Meio Ambientes, porém o que melhor define ecologia num sentido objetivo para o desenvolvimento humano creio, ser a definição de Bronfenbrenner (2002) – são séries ou sistemas encaixados, semelhante as bonecas russas. Exemplo disto pode ser considerado analisando o texto de PALACIOS – Familia y escuela: padres y profesores – onde a interpretação de relação/encaixada fica explicita, quando o autor comenta sobre a interação entre escola e família e a responsabilidade de ambas na formação de crianças e adolescentes, porém o autor também manifesta sua preocupação de que esta relação ocorra mais eficientemente na prática, pois em estudos chegou-se à conclusão de ser mais evidente na teoria do que na prática, o que certamente desencadeará conseqüências ambientais futuras.

Seguindo a abordagem de BRONFENBRENNER (2002) a ausência de estudos ou pesquisas apropriados sobre o tema, podem desencadear situações com efeitos em longo prazo. Também esta interpretação é feita por PORTUGAL (1992), citando que a permanência do sujeito em determinado meio ao longo do tempo, desencadeia uma interação tal que se torna difícil  avaliar as influencias sofridas pois a mesmo, passa a comportar-se com a conduta exigida no local, porém deve ficar claro que nem sempre este comportamento é absorvido e incorporado pelo individuo, por vezes ele torna-se parte do senso de sobrevivência, somente sendo aplicado em determinada situação ou em determinado meio, quando em outra situação ou meio irá adaptar-se as normas locais. Este pensamento mais uma vez reforça as colocações feitas por Bronfenbrenner (2002), referentes a ecologia do desenvolvimento humano, esta adaptabilidade entre homem e meio ambiente deverá ocorrer sempre e de forma sadia, esta é um dos pressupostos da sustentabilidade, que as situações sejam variáveis assim como as atitudes e perspectivas futuras.

CALDAS (1999) cita Ortega y Gasset, num contexto semelhante ao descrito por Bronfenbrenner (2002), quando o homem se questiona sobre seu EU: Ortega y Gasset diz ‘...eu sou eu e minha circunstância, e se não salvo minha circunstância, não me salvo também...” esta colocação amplia a discussão das relações homem e meio ambiente. Dentro de temas como educação, saúde ambiental pode-se tomar como base os enfoques descritos anteriormente, buscando assim amparar uma conscientização coletiva para a busca de soluções aos problemas ambientais. A Ecologia, neste contexto citado por Ortega y Gasset tornou-se atualmente, um tema ético, para aqueles que estão interessado na proteção da vida, degradação de solos, conservação da biodiversidade, exploração dos recursos naturais de forma consciente, redução da camada de ozônio, redução da miséria e da fome, logicamente estas questões estão dispostas numa seqüência hierárquica de valores e importâncias, pressupondo então como conseqüências e busca de soluções que ocorram as mudanças de comportamentos de paradigmas.

Então o homem desenvolve tecnologias para combater os efeitos de suas ações, de sua insensatez e conciliando-se com a sua circunstância mostra-se interessado nas mudanças englobando estratégias de ações, criando instrumentos para a valorização da vida humana e do meio ambiente, segundo esta é vivida por cada homem, mediante seus valores, suas necessidades. Historicamente o homem tem se questionado sobre seu desempenho na sociedade, na natureza, no planeta, dando a si mesmo uma conotação de Ser Superior, destruidor de todas as benfeitorias existentes no mundo todavia também  é o destruidor de toda a harmonia existente no planeta, porém tendo consciência de sua interação com o meio ambiente  a espécie humana assume um novo projeto no qual a interação entre homem e meio ambiente é vista como algo que sustenta uma base, uma exigência entre estes elementos e sua nova cultura.

É indiscutível que a educação é à base desta pirâmide de valores. A educação trás a contribuição pedagógica, lúdica e futurista do que hoje esta sendo um dos grandes temas discutidos mundialmente: o homem e as relações com o meio ambiente. As questões comerciais, ideológicas, ambientais e sociais estão refletidas nas políticas sócio-educativa-ambientais, discutidas e propostas por países de primeiro e terceiro mundo, sem no entanto se considerar a hipótese de flexibilidade que o homem tem, de criar e adaptar-se a novos meios. CALDAS (1999) descreve “que as circunstâncias são tudo aquilo com que nos temos de haver para realizar a pretensão que somo, sem que se nos permita escolher ou aderir antecipadamente” ou seja, o homem vive situações em seu meio das quais obterá os resultados para suas metas, seus desejos. Não possuindo metas ou desejos não pensara nas formas de alcançá-las então seu meio ambiente estará a esmo, sem uma estratégia ou um planejamento, nesta seqüência de idéias e fatos chaga-se a realidade atual de muitos ambientes degradados ou até extintos. A experiência de muitas gerações fez com que o homem despertasse de sua soberania e busca-se vivenciar um período de interação com o seu meio, esta integralização como resultado nos dá a certeza de que “ o mundo se compõe de poucas coisas essenciais em determinado momento, porém ocultas existem inúmeras coisas que não estão a vista mas sabemos que existem” já determinada como uma das leis da teoria de circunstância descrito por Ortega y Gasset.

Num determinado momento da historia o homem sentia-se nitidamente separado da natureza, do meio ambiente, esta distinção se dava pelo fato do homem ser um PENSADOR, enquanto que os demais seres não manifestavam com nitidez suas ansiedades e necessidades, porém a filosofia e as demais ciências trouxeram para discussões a necessidade da integração entre homem e meio ambiente, surgindo a partir da consciência humana uma busca de soluções para os problemas sócio-ambientais, assim o homem traz consigo atualmente, uma preocupação com o meio ambiente bem como com sua relação com o próprio homem. A fome, a miséria, as crises pelas quais passa o mundo são conseqüências de uma época de descaso entre o homem e o meio ambiente, lamentavelmente as conseqüências se espalharam de forma incontrolável e desastrosa, provocando tragédias mundiais, conseqüências de um período em que o homem não percebia sua integração com o meio ambiente.  BRONFENBRENNER (2002) traz um comparativa com a teoria de Ortega y Gasset quando descreve as atividades molares de uma criança e seus reflexos no meio ambiente ecológico (natureza), nos diz que as crianças são envolvidas nas atividades molares em função da participação efetiva das pessoas envolvidas nestas atividades, bem como nos fala da capacidade da criança de participar ativamente do meio ambiente ecológico e também de modificar e aumentar a estrutura de seu conteúdo. O desenvolvimento da criança ou seu envolvimento com o meio ambiente é maior quanto maior for sua linha de responsabilidade, definidas a partir de um compromisso entre adultos de seu meio ambiente, como dito anteriormente, o ciclo de vida do homem faz com que todos os seus atos desencadeiem uma série de novos atos e assim em seqüência, como a queda de uma peça do jogo de Dominós.

No momento em que o homem, em todos os lugares do mundo, definir sua circunstância, repensar seus valores, numa realidade contemporânea, no instante em que as discussões levantadas por  BRONFENBRENNER (2002) forem demasiado esmiuçadas, então teremos dado um sentido ao contexto educação/meio ambiente, sem desprezar quaisquer conteúdos, a circunstância certamente contribuirá para que o homem mantenha uma relação de troca mutua e justa com o seu meio. Ortega y Gasset traz em sua teoria do conhecimento uma fonte de reflexão e sustentabilidade para as discussões propostas por Bronfenbrenner, a filosofia tem explicado ou direcionado para soluções muitos dos conflitos do homem em seu meio e com o meio ambiente ecológico, as ideologias são as metas de uma cultura, de uma comunidade. As mudanças passam a acontecer na medida que  o homem se mostra amadurecido e voltado para o futuro pensa em integralidade e não somente com individualismo e pretensionismo de Ser superior.

A dualidade e cumplicidade entre os seres promovem e provocam conseqüências desastrosas ou benéficas, o que determinará sempre será a forma com que foi traçada a conduta. A linha da mudança sempre denota perdas, porém num contexto geral a perda é necessária para a sobrevivência, nossa capacidade de resiliência está proporcional ao nosso compromisso assumido com a interação homem x meio ambiente.

 

Bibliografia Básica

 

Bronfenbenner, Urie. A ecologia do desenvolvimento humano: experimentos naturais e planejados. Trad. Adriana Veríssimo Veronese - Porto Alegre: Artes Médicas. 2002. 267p

Auxiliar

Caldas, Sergio. O conceito de circunstância. 1998 – Artigo – Semana Acadêmica Bacharelado em Ecologia – Universidade Católica de Pelotas.

Palácios, M. J. R. Família y desarrollo humano.  Ed. Alianza . psicología y educación. Cap . 16 – 333 – 350p.

Portugal, Gabriela. Ecologia e desenvolvimento humano em Bronfenbenner.1992. Ed. CIDINE. 133p

 

Ilustrações: Silvana Santos