Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS: REALIDADES E
PERSPECTIVAS
Luziray Barbosa Graça
Marcella Pereira
da Cunha Campos
Luziray Barbosa Graça, Bacharel em Ciências
Políticas, Especialista em Educação Ambiental, email: luziray@ifam.edu.br
Marcella
Pereira da Cunha Campos, Mestre em Biologia Animal, Docente da Universidade do
Estado do Amazonas, UEA. Email.: mpdacunha@hotmail.com RESUMO
O texto
aborda a dificuldade das instituições escolares em adaptar-se a condições que
permitam um aprendizado mais amplo e instituam princípios norteadores da Educação
Ambiental.
Não
é possível tratar de um dado problema ambiental sem considerar todas as suas
dimensões
e, o conhecimento é de grande ajuda nesse sentido. Ignorar fatores que
contemplem princípios de sustentabilidade é deixar de lado aspectos relevantes
capazes de contribuir para a introdução dos temas sociais, econômicos e
culturais na realidade dos docentes, indispensáveis à vida do ser humano. O estudo
descrito neste texto objetiva registrar o verdadeiro olhar da Educação
Ambiental (EA) no contexto escolar, oferecendo meios e alternativas que
oportunizem aos educadores a possibilidade de (re) avaliar seu cotidiano na
busca incessante por
mais qualidade nas interações educativas. Palavras-chave: Educação Ambiental, Ensino, Docentes, Meio Ambiente. 1. INTRODUÇÃO
A nossa sociedade carece cada vez mais de oportunidades.
Em todos os setores sofremos as conseqüências da atuação de maus gestores e da
falta de políticas públicas que possam minimizar as mazelas que assolam o país
e o seu povo. Ela necessita de chances nos campos do trabalho, da economia, da
saúde e da educação. E a ordem de importância desses itens para boa parte das
pessoas, dependerá de sua posição e situação social baseando-se na realidade
enfrentada diariamente. Somos um dos campeões deste tipo de desigualdade no mundo e essa
“conquista” reflete bem a realidade nacional. A falta da educação, e em
especial a ambiental, surge como um grande defeito entre aqueles que têm o
papel de intervir nos ambientes naturais em maior ou menor intensidade. A
ausência de conhecimento ou de interesse é gritante, elevando ainda mais os
sérios danos causados a natureza. A educação pode e deve ser a vertente da esperança para
alcançarmos objetivos comuns ao bem estar da coletividade. Partindo deste
pressuposto, é que se pretende neste trabalho, oferecer uma reflexão sobre a
Educação Ambiental, considerando que esta é uma alternativa para orientar as
atitudes humanas no seu meio natural e social, pois simboliza a busca de um
novo pensamento, na
tentativa de fazer com que os agentes envolvidos percebam a visão da totalidade
e não do mero papel individual dentro de sua cadeia social. Em linhas gerais, pode-se dizer que a Educação Ambiental,
conforme BRANCO (1998), é todo processo cultural que objetive a formação de
indivíduos capacitados a coexistir em equilíbrio com o meio. Processos não
formais, informais e formais já estão conscientizando muitas pessoas e
intervindo positivamente, se não solucionando, despertando para o problema da
degradação crescente do meio ambiente, buscando novos elementos para uma
alfabetização ecológica. A oficialização da Educação Ambiental no
Brasil aconteceu através da lei federal de nº 6.938, sancionada a 31 de agosto de
1981, que criou a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA). Apesar do atraso
em relação às recomendações da Conferência de Estocolmo, esta lei foi
promulgada graças ao trabalho e empenho de setores da sociedade. Ressalta-se a importância da Educação Ambiental para o
desenvolvimento de uma postura crítica diante da realidade, de informações e
valores veiculados pela mídia e daqueles trazidos de casa pelos alunos, devendo
permitir a compreensão da natureza apresentada nesse estudo, tentando resgatar
a necessidade de participação dos educandos na solução dos problemas
ambientais, harmonizando as ações humanas em relação à sua própria espécie e
aos demais seres vivos do planeta, bem como ao conjunto de fatores que compõem
o ambiente. De acordo
com E. Leff (2001), falar em uma consciência ambiental implica na busca e na
consolidação de novos valores na forma de ver e viver no mundo, a partir de uma
complexidade ambiental, que possibilita a construção de novos padrões
cognitivos na relação homem/natureza. 2. REFLETINDO
SOBRE A REALIDADE
A problemática existente com essa questão sócioambiental
tem o seu pilar mestre no processo educacional e na forma como ele é conduzido
dentro dos ambientes escolares. A educação é parte da solução e também do
problema no nosso país. De acordo com SOFFIATI (2002), a educação, em seu
sentido mais amplo, enfrenta acentuados problemas de qualidade e não alcançou
patamares desejáveis de democratização. Isto pode ser exemplificado pelos altos
índices de analfabetismo, crianças fora das escolas, escolas estruturais e
pedagogicamente falidas, etc. Esses são alguns exemplos, de um país que trata a
educação como custo e não como investimento. A visão compartimentada da Educação Ambiental, a pouca
integração entre outras ciências, a própria disciplina curricular nas escolas,
faz com que o aluno não se desperte para o seu papel de cidadão. A falta de
preparação e atualização dos professores, só para citar alguns problemas
enfrentados pela nossa rede educacional, demonstram o quanto temos a caminhar
em busca de
dias melhores.. No entanto, percebe-se como é importante ter um ponto de
partida para se chegar a um objetivo, a definição seguinte reflete a maneira de
como deve ser vista e praticada a educação ambiental no país. DIAS (1993), conceitua a Educação Ambiental como um
conjunto de conteúdos e práticas ambientais, orientadas para a resolução dos
problemas concretos do ambiente, através do enfoque interdisciplinar e de uma
participação ativa e responsável de cada indivíduo e da comunidade. Assim,
pode-se dizer que a Educação Ambiental é o processo contínuo de capacitação do
cidadão para que este participe ativamente da conservação do Meio Ambiente,
contribuindo, portanto, para a sua qualidade de vida. Em outras palavras, a
Educação Ambiental deve configurar-se numa proposta de questionamento, devendo
colaborar neste sentido, a escola como um todo, de acordo com as relações que
se dão no ambiente escolar, a família e a sociedade de maneira geral.
A EA tem como função ultrapassar as barreiras dos currículos escolares
disciplinados em conteúdos, muitas vezes sem ligação; devendo transpor a
distância social, adequando-se à realidade local, às necessidades e diferenças.
Não é um trabalho fácil, por isso exige um grande esforço coletivo, mas que
pode oferecer ótimos resultados e grandes benefícios. Para
Leonardo Boff (2006), se quisermos garantir um futuro comum da Terra e da
humanidade, se impõem duas virtudes: a autolimitação e a justa medida, ambas expressões da cultura do cuidado. Mas como postular
essas virtudes se todo o sistema está montado em sua negação? Desta vez, porém
não há escolha: ou mudamos ou nos pautamos pelo cuidado, nos autolimitando em
nossa voracidade e vivendo a justa medida, em todas as coisas, ou enfrentaremos
uma tragédia coletiva. A escola deve ter a capacidade de intervir nesse
processo a fim de evitar que nossos docentes façam parte dessa tragédia, não
podemos permitir que situações graves como esta continuem nos aterrorizando e
comprometendo nossas próprias vidas e a do planeta. As transformações são necessárias e a escola,
acredita-se, deve exercer o seu papel, o que não significa eximir outras
esferas da sociedade de cumpri-lo também. É
nesse contexto que a EA constitui-se em possibilidades de contribuir para uma
educação de qualidade, garantindo o respeito à singularidade de seus sujeitos.
Nas palavras de Reigota (2002, p.82), a partir da educação ambiental, “a
escola, os conteúdos, e o papel do professor e dos alunos são colocados em uma
nova situação, não apenas relacionada com o conhecimento, mas sim com o uso que
fazemos dele e a sua importância para a nossa participação política cotidiana.”
O espaço escolar pode oferecer, aos sujeitos envolvidos no fazer pedagógico
diário, a interlocução com os pressupostos da EA, como forma de contribuir para
a reflexão do modo de vida na sociedade contemporânea. Barcelos (2003, p.30) acredita que: várias são as
possibilidades de intervenção sobre os problemas ecológicos que afetam nossa
sociedade. Elas vão desde uma visão tecnicista tipicamente moderna, que
acredita na capacidade ilimitada da ciência de resolver todos os problemas, até
outra que procura entender esses problemas como intrínsecos ao modo de vida de
homens e mulheres e que, em função disso, obriga-nos a reavaliar nossos modelos
de pensar e agir em um mundo cada vez mais interligado. Analisando o exposto, considerando as dificuldades em
introduzir de forma satisfatória os parâmetros de educação ambiental no sistema
de ensino brasileiro é que se apresenta, a seguir,
meios e alternativas que consigam minimizar os problemas e modificando o real
quadro encontrado atualmente. 3.
OPORTUNIZANDO A CONCRETIZAÇÃO DE UM IDEAL
A
Educação Ambiental é uma práxis educativa e social que tem por finalidade a
construção de valores, conceitos, habilidades e atitudes que possibilitem o
entendimento da realidade de vida e a atuação lúcida e responsável de atores
sociais individuais e coletivos no ambiente. Nesse sentido, contribui para a
tentativa de implementação de um padrão civilizacional
e societário distinto do vigente, pautado numa nova ética da relação
sociedade-natureza (LOUREIRO, 2002). A
preocupação ambiental inserida nas várias áreas do saber é decisiva. Na
elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais, esses devem apontar a relação
de seus conteúdos com o tema Meio Ambiente e alguns destacar um bloco de
conteúdos ou eixo temático que trate diretamente da relação sociedade/natureza
ou vida e ambiente. Isso retrata a dimensão do trabalho que se deseja com essa
questão, diante das necessidades impostas pela realidade sócio-ambiental. É
necessário um
Projeto Curricular que seja mediador entre uma determinada intencionalidade educativa e social e
os processos práticos de introdução da dimensão ambiental na rotina das aulas e
na escola como um todo (BONAFÉ, 1997), sugere um projeto que inclua a dimensão
ambiental de um modelo escolar numa
forma de entender, selecionar e valorizar processos e produtos culturais,
através de uma dinâmica organizativa da escola . Segundo
BRASIL (1998), cada professor, dentro da especificidade de sua área deve
adequar o tratamento dos conteúdos para contemplar o Tema Meio Ambiente. Essa
adequação pressupõe um compromisso com as relações interpessoais no âmbito da
escola, para haver explicitação dos valores que se quer transmitir e coerência
entre esses e os experimentados na vivência escolar, buscando desenvolver a
capacidade de todos para intervir na realidade e transformá-la. É fundamental
trabalhar a partir da visão que cada grupo social tem do significado “Meio
Ambiente” e, principalmente, de como cada grupo percebe sua economia, o seu
ambiente e os ambientes mais abrangentes em que está inserido. Para DIAS (1994,
p. 8) “[...] a Educação Ambiental se caracteriza por incorporar as dimensões
sociais, políticas, econômicas, culturais, ecológicas e éticas”, devendo
contemplar a sociedade como um todo, conseqüentemente, o planeta. O trabalho pedagógico com a questão ambiental requer
empenho e, principalmente uma interação da escola com os demais setores
sociais. As atividades a ser desenvolvidas demandam aspectos interdisciplinares
que contribuirão para que a compreensão dos alunos ocorra de maneira mais
fácil, favorecendo o seu entrosamento e atuação junto aos temas ambientais,
passando assim, a fazer parte importante de um processo de conhecimento e
cooperação com o seu bem estar, dos outros, do meio ambiente e, é claro, do
planeta, permitindo que as próximas gerações também possam usufruir dos enormes
benefícios que a natureza é capaz de proporcionar. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A realidade da educação em nosso país ainda não é a que sonhamos, graves problemas ainda impedem um bom desempenho
escolar e resultados positivos do sistema de ensino. Esses empecilhos
repercutem no próprio desenvolvimento brasileiro, porém não podemos esquecer
que os danos ambientais aumentam assustadoramente, em conseqüência da ausência
de cuidados e do descaso provenientes da ação humana. As
escolas ainda não disponibilizam do ensino baseado em temas transversais e/ou
possibilitam que a interdisciplinaridade faça parte de seus currículos
escolares. Muitas
tragédias naturais poderiam e poderão ser evitadas, só dependem do esforço e
dedicação de cada um de nós. Temos sido durante milhares de anos capazes de
modificar o meio em que vivemos para benefício próprio, mas não percebíamos o
perigo que estávamos correndo. Hoje, enfrentamos a resposta do que causamos. È
hora de “modificar” também, porém o que deve ser mudado são nossas atitudes e
pensamento em relação ao planeta, trabalhamos tanto para destruir, chegou a hora de trabalharmos para reverter este triste quadro,
antes que seja tarde demais... "Hoje nos encontramos numa fase nova na humanidade. Todos estamos regressando à Casa Comum, a Terra: os povos,
as sociedades, as culturas e as religiões. Todos trocamos experiências e
valores. Todos nos enriquecemos e nos completamos mutuamente. (...) (...)
Vamos rir, chorar e aprender. Aprender especialmente como casar Céu e Terra, vale dizer, como combinar o cotidiano com o surpreendente,
a imanência opaca dos dias com a transcendência radiosa do espírito, a vida na
plena liberdade com a morte simbolizada como um unir-se com os ancestrais, a
felicidade discreta nesse mundo com a grande promessa na eternidade. E, ao final, teremos descoberto mil razões para viver mais e
melhor, todos juntos, como uma grande família, na mesma Aldeia Comum, generosa
e bela, o planeta Terra” ( Leonardo Boff, 2001). REFERÊNCIAS
BARCELOS,
Valdo. Infância, Imaginação e Ecologia: que lugar ocupam
na formação de professores e professoras? II Simpósio Sul Brasileiro de
Educação Ambiental. Itajaí, SC: 2003. BOFF, Leonardo. Casamento entre o
céu e a terra. Salamandra, Rio de Janeiro, 2001. BOFF, Leonardo.Virtudes para outro
mundo possível II: convivência, respeito e tolerância. Petrópolis, Vozes, 2006. BONAFÉ, Jaume M. Proyectos Curriculares y
Práctica Docente. Sevilla : Díada, 1997. BRANCO,
S. M. O meio ambiente em debate. São Paulo: Moderna, 1998. BRASIL, Ministério da Educação.Políticas de melhoria da qualidade da educação:
um balanço institucional/Secretaria da Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF,
2002. BRASIL,
Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Meio
ambiente e saúde. Brasília, MEC/ SEEF, 1997. DIAS, G. F.
Atividades interdisciplinares de educação ambiental. São Paulo:
Global, 1994. DIAS,G. F. Educação ambiental: princípios e
práticas. São Paulo:Gaia, 1993. LEFF, E.
Saber Ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder.
Petrópolis: Vozes,2001. LOUREIRO,
C.F.B. Educação ambiental e movimentos sociais na construção da cidadania ecológica e planetária. Educação ambiental:
repensando o espaço da cidadania. São Paulo: Cortez Editora, 2002, cap. 3,
p.69-107. REIGOTA,
Marcos. A Floresta
e a escola: por uma educação ambiental pós-moderna. 2ª ed. São Paulo:
Cortez, 2002. SOFFIATI,
A. Fundamentos filosóficos e históricos para o exercício da ecocidadania e da educação. Educação ambiental: repensando
o espaço da cidadania. São Paulo: Cortez Editora, 2002, cap. 2, p.23-67.
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