Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
Início Cadastre-se! Procurar Área de autores Contato Apresentação(4) Normas de Publicação(1) Dicas e Curiosidades(7) Reflexão(3) Para Sensibilizar(1) Dinâmicas e Recursos Pedagógicos(6) Dúvidas(4) Entrevistas(4) Saber do Fazer(1) Culinária(1) Arte e Ambiente(1) Divulgação de Eventos(4) O que fazer para melhorar o meio ambiente(3) Sugestões bibliográficas(1) Educação(1) Você sabia que...(2) Reportagem(3) Educação e temas emergentes(1) Ações e projetos inspiradores(25) O Eco das Vozes(1) Do Linear ao Complexo(1) A Natureza Inspira(1) Notícias(21)   |  Números  
Artigos
10/09/2018 (Nº 38) A PREOCUPAÇÃO SOCIOAMBIENTAL NO CONTEXTO EMPRESARIAL
Link permanente: http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=1175 
  
Educação Ambiental em Ação 38

 

 

A PREOCUPAÇÃO SOCIOAMBIENTAL NO CONTEXTO EMPRESARIAL

 

 

 

 

 

 

 

 

Autores

Carlos Rafael Röhrig da Costa, Francies Diego Motke, Jordana Marques Kneipp, Kamila Frizzo, Lúcia Rejane da Rosa Gama Madruga

 

 

 

  

 

Instituição:

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

 

 

 

E-mail para contato:

 

jordana.mk@gmail.com

 

 

 

  

 

 

A PREOCUPAÇÃO AMBIENTAL NO CONTEXTO EMPRESARIAL

 

 

Carlos Rafael Röhrig da Costa – Graduando em Administração pela Universidade Federal de Santa Maria – crcost@gmail.com

 

Francies Diego Motke - Graduando em Administração pela Universidade Federal de Santa Maria – fd.mokte@gmail.com

 

Jordana Marques Kneipp – Mestranda em Administração pela Universidade Federal de Santa Maria – jordana.mk@gmail.com

 

Kamila Frizzo - Graduando em Administração pela Universidade Federal de Santa Maria – kamila.frizzo@gmail.com

 

Lúcia Rejane da Rosa Gama Madruga – Professora do Departamento de Ciências Administrativas da Universidade Federal de Santa Maria, Doutora em Agronegócios pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul - lucia.rejane@hotmail.com

 

 

RESUMO

Como produtoras de bens e serviços, as organizações geram impactos na sociedade, sendo desafiadas a operarem por meio do equilíbrio das dimensões econômica, ambiental e social, a partir do enfoque sustentável. Este trabalho buscou analisar a gestão para a sustentabilidade em uma empresa familiar. Após investigadas as práticas sustentáveis utilizadas pela empresa, estas foram relacionadas com as dimensões da sustentabilidade propostas por Ignacy Sachs e por fim analisados os impactos que estas ações trouxeram à empresa. Para tanto, foi realizada uma pesquisa qualitativa de natureza exploratória. Como principais resultados evidenciou-se que a empresa estudada possui várias práticas sustentáveis e possui a visão de que uma gestão para a sustentabilidade além de todos os benefícios gerados para a empresa, representa uma obrigação com as futuras gerações. Além disso, este trabalho demonstra que as práticas sustentáveis adotadas pela empresa se correlacionam diretamente com as dimensões da sustentabilidade propostas por Sachs.

 

Palavras-chave: Desenvolvimento sustentável, Dimensões da sustentabilidade, Práticas de gestão

 

1. INTRODUÇÃO

           

Os problemas ambientais cada vez mais recorrentes acarretam novas prerrogativas para as empresas, que tendem cada vez mais a adotarem uma postura social e ambientalmente correta.

Para Hart et al. (2004), o interesse crescente pela sustentabilidade se deve por quatro fatores essenciais. O primeiro é a crescimento da industrialização e suas implicações, como aumento do consumo, poluição e geração de resíduos. O segundo fator está no aumento da cobrança de atitudes conscientes por parte dos stakeholders. O terceiro item se relaciona com as novas tecnologias que se apresentam como soluções que podem tornar obsoletas a forma de produção de muitas indústrias atuais. Finalmente, o quarto fator está relacionado com aumento da população, pobreza e desigualdade social.

            Há algum tempo atrás, as empresas vislumbravam as questões da sustentabilidade como um mal necessário, se submetendo apenas ao controle de órgãos do governo. No entanto, muitas organizações a partir da última década, passaram a adotar uma postura pró-ativa em prol da sustentabilidade (ALMEIDA, 2002).

Para Kraemer (2004), a responsabilidade social representa uma questão de visão, de estratégia e, muitas vezes, de sobrevivência para empresas, deixando de ser simplesmente uma opção.

A partir do exposto, este estudo busca investigar quais são as práticas sustentáveis desenvolvidas por uma empresa familiar, denominada para fins deste estudo como Alpha. Desse modo, este trabalho busca analisar a gestão para a sustentabilidade da Alpha e mais especificamente: (i) investigar as práticas sustentáveis utilizadas, (ii) relacionar estas práticas com as dimensões da sustentabilidade propostas por Ignacy Sachs e (iii) analisar os impactos que estas ações trouxeram à empresa.

Além desta seção introdutória, a seguir será apresentado o referencial teórico, o método para o desenvolvimento da pesquisa, a análise e discussão dos resultados e por fim, as considerações finais.

 

2. REFERENCIAL TEÓRICO

 

2.1 O desenvolvimento sustentável

A sociedade está cada vez mais ciente e preocupada com os problemas atuais e com o destino do planeta, estas preocupações se manifestam tanto na esfera social quanto na ambiental. Estes assuntos tornaram-se, ao longo dos anos, temas de debates e discussões em busca de novas formas de lidar com os desafios impostos por estes problemas. Com esta nova mentalidade, as organizações são consideradas, não só geradoras de rendas mas também, colaboradoras neste processo de mudança, ao levar em conta que suas atividades atuais não podem comprometer os recursos de longo prazo (HOURNEAUX, 2010).

O desenvolvimento sustentável é aquele que “satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras satisfazerem suas próprias necessidades”. Os princípios do desenvolvimento sustentável são baseados nas necessidades essenciais e, principalmente, aquelas das populações mais pobres; e as limitações impostas pela tecnologia e pela organização social ao meio ambiente, restringindo a capacidade de atender às necessidades presentes e futuras. (CMMAD, 1991, p. 46).

Para que haja, efetivamente um desenvolvimento de grandeza global e sustentável, é preciso não somente um grande crescimento econômico das nações mais pobres, mas também são necessárias garantias de que esta parcela pobre da população receba uma parte dos recursos necessários para manter este crescimento (CMMAD, 1991, p. 48).

A sustentabilidade deve ser vista como uma agenda global, na qual mudanças econômicas e políticas sejam realizadas em prol da sociedade e do meio ambiente, através de um novo mercado (PAIVA, 2008).

Nesse aspecto, as empresas têm um papel relevante, pois ao atuarem sob a lógica da sustentabilidade estarão contribuindo para o bem estar social, prosperidade econômica e preservação ambiental.

 

2.2 O tripé do desenvolvimento

Para Elkington (2001), a base do desenvolvimento sustentável está nas dimensões social, ambiental e econômica, as quais devem ser garantidas as condições básicas para manutenção do desenvolvimento nas três esferas ao mesmo tempo.

Este conceito determina que as empresas devem mensurar o que geram, ou destroem, não só no âmbito econômico, mas também nos âmbitos social e ambiental. Conceito, este, que ficou conhecido como 3P´s, ou seja, PPP – People, Planet and Profit (Pessoas, planeta e lucro) (PAIVA, 2008).

É necessário, para o desenvolvimento pleno, um cuidado com estes três setores. Torna-se impossível sustentar o desenvolvimento em um setor sem que os outros acompanhem este crescimento. Esta preocupação com outros fatores senão o econômico que gerou o pensamento de sustentabilidade.

 

2.3 Dimensões de sustentabilidade segundo Ignacy Sachs (2009)

Sachs (2009) desenvolve a idéia de desenvolvimento sustentável para além do ‘Tripé do Desenvolvimento’. Para Sachs o desenvolvimento é “a universalização efetiva do conjunto de direitos humanos, por direitos humanos se entende não só os cívicos, mas também os econômicos, culturais, sociais e todo um conjunto de direitos coletivos” (TV CULTURA, 2006).

 

Quadro 2. Critérios de Sustentabilidade segundo Sachs

Critério

Características

1.    Social

Alcance de um patamar razoável de homogeneidade social; distribuição de renda justa; emprego pleno e/ou autônomo com qualidade de vida decente; igualdade no acesso aos recursos e serviços sociais.

2.     Cultural

Mudanças no interior da continuidade (equilíbrio entre respeito à tradição e inovação); capacidade de autonomia para elaboração de um projeto nacional integrado e endógeno (em oposição às cópias servis dos modelos alienígenas); autoconfiança combinada com abertura para o mundo.

3.     Ecológico

Preservação do potencial do capital natureza na sua produção de recursos renováveis; limitar o uso dos recursos não-renováveis.

4.     Ambiental

Respeitar e realçar a capacidade de autodepuração dos ecossistemas naturais.

5.     Territorial

Configurações urbanas e rurais balanceadas (eliminação das inclinações urbanas nas alocações do investimento público); melhoria do ambiente urbano; superação das disparidades inter-regionais; estratégias de desenvolvimento ambientalmente seguras para áreas ecologicamente frágeis (conservação da biodiversidade pelo ecodesenvolvimento).

6.     Econômico

Desenvolvimento econômico intersetorial equilibrado; segurança alimentar; capacidade de modernização contínua dos instrumentos de produção; razoável nível de autonomia na pesquisa científica e tecnológica; inserção soberana na economia internacional.

7.     Político Nacional

Democracia definida em termos de apropriação universal dos direitos humanos; desenvolvimento da capacidade do Estado para implementar o projeto nacional, em parceria com todos os empreendedores; um nível razoável de coesão social.

8.     Político Internacional

Promoção da cooperação internacional; um pacote Norte-Sul de co-desenvolvimento, baseado no princípio de igualdade; controle institucional efetivo do sistema internacional financeiro e de negócios; controle institucional efetivo da aplicação do Princípio da Precaução na gestão do meio ambiente e dos recursos naturais; prevenção das mudanças globais negativas; proteção da diversidade biológica (e cultural) e gestão do patrimônio global como heranças comum da humanidade; sistema efetivo de cooperação científica e tecnológica internacional e eliminação parcial do caráter de commodity da ciência e tecnologia, também como propriedade da herança comum da humanidade.

FONTE: SACHS (2009)

 

O quadro 2 mostra como Sachs define os critérios de sustentabilidade, que abrangem, além dos critérios social, ambiental e econômico, também aspectos como cultura, ecologia, território e políticas nacional e internacional.

Para Sachs (2009), é necessário que haja um engajamento para que sejam superadas as disparidades sociais, que têm aumentado e que são mais visíveis na comparação entre países do norte e do sul. É imprescindível também, o respeito pelas características culturais da comunidade, deve-se focar o desenvolvimento sem ignorar a tradição do povo.

Aspectos ambientais/ecológicos são, para este autor, questões que exigem uma reeducação no pensamento produtivo e no modo de consumo vigente. Reeducação, esta, que se configura na melhor utilização dos recursos, nos cuidados com resíduos produtivos, preservação das fontes naturais e consumo consciente.

Sachs (2009)  vê os problemas territoriais como aqueles causados, geralmente, pela má utilização ou interpretação das características de cada região e a disparidade existente entre elas. E acredita que devem ser feitos investimentos para fortalecer os pontos fortes das regiões e amparar as carências.

Segundo o mesmo autor (2009)  para que aconteça a implantação plena e realmente eficaz do desenvolvimento sustentável, é necessário que exista um acordo entre todos os envolvidos nos processos organizacionais e uma cooperação entre as organizações.

Para amparar e dar garantias para que haja o desenvolvimento sustentável, são necessárias políticas (nacionais e internacionais) que assegurem, incentivem e alavanquem a sustentabilidade. Estas políticas devem, primeiramente, garantir os direitos sociais mais básicos, mas também focar para o controle de aspectos que possam afetar o desenvolvimento e ampliar as possibilidades para que a sustentabilidade seja aplicada (SACHS, 2009).

De acordo com Veiga (2005), a forma como Sachs estrutura as premissas para o desenvolvimento sustentável tem como objetivos formar uma visão de futuro da sociedade em sua relação com a natureza, criando uma consciência que permita buscar novas formas de produção, com uma utilização mais racional dos recursos, visando a manutenção dos mesmos. Além disso, busca formas de inclusão social, que sejam ao mesmo tempo economicamente viáveis.

 

2.4 Sustentabilidade nas empresas

            A partir deste novo contexto, algumas empresas passaram a utilizar estratégias sustentáveis, apresentando um comportamento socialmente responsável. Estas empresas, que agem contemplando a responsabilidade social, além da mera obrigação, buscam formas de resolver os problemas tanto sociais quanto ambientais (LOURENÇO et al. 2003).

Para Lourenço (2003), as empresas estão percebendo que uma gestão estratégica sustentável traz, cada vez mais, diversos benefícios para a empresa, como:

·      Produtividade e pessoal, pois é um instrumento de motivação para a equipe saber que faz parte de uma organização que colabora com práticas de sustentabilidade;

·      Ganhos sociais, pois a organização tem retornos provenientes da sociedade ao seu redor. A organização só é verdadeiramente forte se tem ao seu redor uma sociedade também desenvolvida, que cresça junto com a organização e que seja base para este crescimento.

Guedes (2000) afirma que o retorno destas práticas, tanto social quanto ambientalmente responsáveis, para a empresa é caracterizado pelos seguintes ganhos:

·      Imagens e vendas, pois estas ações fortalecem a marca, não só na localidade onde as ações são desenvolvidas mas também  alcançam uma faixa de mercado extremamente interessada nestes assuntos;

·      Aos acionistas e investidores, pois a empresa é valorizada pela sociedade e, consequentemente, no mercado de ações;

·      Retorno Publicitários, pois quem apóia estas causas se utiliza de exemplos para fortalecer argumentos, então, a propaganda espontânea é vinculada ao produto;

·      Tributação, pois o governo, como forma de motivar ações socialmente responsável, fornece isenções fiscais para diversos casos;

Com a conscientização da sociedade sobre os problemas enfrentados nos dias atuais, muitos consumidores valorizam atributos de empresas que adotam ações sustentáveis. Estes consumidores se propõem a pagar mais por produtos que tenham características social e ambientalmente responsáveis embarcados, se comparando com um produto sem estas características (PEIXOTO, 2003).

Para Vassalo (2010), as vezes, a grande dificuldade está no momento de colocar em prática as idéias elaboradas nos projetos das organizações. Não existe um roteiro pré-definido de gestão sustentável que contemple todas as organizações, mas alguns passos podem ajudar na implantação de estratégias sustentáveis na organização, como:

·      Desenvolva missão, visão e valores a serem seguidos;

·      Faça com que a responsabilidade social seja, efetivamente, parte do processo da organização. Esta é a única forma de a responsabilidade social se tornar realidade dentro e fora da empresa;

·      Coloque seus valores em prática. Não adianta ter um conjunto de valores se estes, realmente, não fazem parte das tomadas de decisões da empresa;

·      Promova a gestão executiva responsável. É necessário que os gestores tenham consciência da importância das suas decisões, e que pesem os interesses de todos os envolvidos e afetados por suas decisões antes de tomá-las;

·      Comunique, eduque, treine. É necessário que os valores da empresa façam parte do dia-a-dia dos colaboradores. Estes só irão colocá-los em prática se tiverem familiaridade com os valores e se souberem como aplicá-los;

·      Publique balanços sociais e ambientais. Elaborados por auditores externos, pois eles garantem uma visão crítica de como os stakeholders enxergam a organização;

·      Use sua influência de forma positiva. Todas as organizações se relacionam com diversas outras, com clientes, com a sociedade e com seus colaboradores, possuindo diferentes graus de influência. Esta influência deve ser utilizada para garantir que os demais stakeholders também sintam-se interessados em aderir aos valores cidadãos e práticas sustentáveis.

 

3. MÉTODO DO ESTUDO

 

O presente estudo caracteriza-se como qualitativo e exploratório. Buscou-se levantar dados acerca do caso em questão e analisar estas informações, relacionando-as com teorias e características conceituais.

Conforme Gil (1999), a pesquisa exploratória fornece meios de elaborar e esclarecer conceitos e idéias, além de possibilitar estabelecer parâmetros de pesquisas em buscas de uma melhor definição ou solução para o problema proposto.

 

3.1 Unidade de análise

O estudo foi realizado em uma empresa familiar denominada para fins deste estudo como empresa Alpha, que possui 45 anos de existência, e passou por diversas mudanças na gestão devido as necessidades geradas pelo seu crescimento. A empresa atua no mercado varejista e atacadista brasileiro comercializando móveis, eletrodomésticos, eletroeletrônicos, utilidades domésticas, consórcios, seguros e serviços. O grupo possui dez unidades de negócio.

 

3.2 Modelo conceitual

Os dados foram coletados e analisados conforme as dimensões de Sachs (2009), descritas no Quadro 2, buscando enquadrá-los nas dimensões correlatas e contemplar as implicações destas ações para a empresa e stakeholders.

 

3.3 Coleta dos dados

Os dados foram coletados através do Balanço Social da empresa. As informações constantes do Balanço Social fornecem informações, qualitativas e quantitativas, sobre a empresa e seu planejamento estratégico com enfoque ao desenvolvimento sustentável.

 

3.4 Análise e Interpretação dos dados

            Com os dados coletados, a analise é feita, em um primeiro momento, comparando-os com as dimensões da sustentabilidade, ou seja, as informações da empresa a cerca de ações sustentáveis serão correlacionadas com as dimensões em busca de verificar a existência de uma fundamentação teórica na tomada de decisões sobre estes assuntos.

Posteriormente, cabe ressaltar quais os efeitos que estas ações geram sobre a empresa e os stakeholders, verificando se o que a empresa percebe de retorno destas ações está próximo do projetado por ela ou do que teoricamente se espera de ações de cunho sustentável.

 

4. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

 

4.1 Visão de sustentabilidade na Alpha

A empresa vislumbra que o futuro está nas suas mãos e que é obrigação de todos não medir esforços para que as próximas gerações possam usufruir do planeta e satisfazer suas necessidades.

O Balanço Social e Relatório Anual 2010 da empresa tem como ênfase maior a “Sustentabilidade, novas cores na vida e nos negócios”. E com este conceito acredita na necessidade da inovação social a fim de alcançar objetivos maiores a curto prazo e garantir a saúde da empresa a longo prazo.

No ano de 2010 a Alpha teve como tema a evolução sustentável, seguindo uma linha de raciocínio de comparação das organizações com seres humanos, que sua vida longa depende de seus hábitos e forma de se organizar, que os seres humanos e as corporações têm muito em comum, mas algo que as difere. As pessoas por mais que se cuidem ao longo dos anos, terão finitude. Já as corporações nascem e de acordo com sua capacidade de se cuidar e de se reinventar frente aos cenários terão vida ilimitada, serão longevas.

A Alpha acredita que para o sucesso das ações sustentáveis é indispensável a inovação no planejamento e execução das atividades da empresa.

Indivíduos intraempreendedores, bem como, os empreendedores farão a diferença, pois a responsabilidade social corporativa não é mais suficiente. Pensar em sustentabilidade é fato inquestionável. Por isso, é importante compreender que tal conceito não é o mesmo que responsabilidade social corporativa, nem pode ser reduzida a um melhor equilíbrio entre valor econômico, social e ambiental. Pelo contrário, diz respeito à tarefa fundamental, que ocupará várias gerações, de desmantelar modelos econômicos e de negócios obsoletos e criar outros mais apropriados para o século 21. (BALANÇO SOCIAL ALPHA 2010)

 

A empresa entende que para obter resultados em suas ações é necessário construir uma estrutura sólida a partir da colaboração da equipe e da participação da sociedade.

Segundo o Presidente da Alpha:

 

 “É preciso criar o conceito da sustentabilidade, ou seja, uma nova filosofia de atuação na empresa, engajando todos os seus componentes. Isso passa pela conscientização total de todos em relação a novos valores relacionados ao respeito com o planeta. Enfim, para a prática da sustentabilidade é necessário um conjunto de ações, posturas, idéias, crenças e realizações, alinhadas à visão e aos valores da empresa. Acredito que esse é um caminho que não pode ter volta, pois sempre coube somente a nós mesmos a preservação do planeta e suas riquezas que, aliás herdamos em perfeito estado. (PRESIDENTE, 2010)”

 

A empresa tem consciência de que implantar o conceito de sustentabilidade em todas as suas atividades representa um esforço muito grande, pois envolve o compromisso em atuar de forma ampla e responsável em questões ambientais e sociais sem perder o equilíbrio e a viabilidade dos negócios. Afinal, gerenciar recursos que possibilitem a sustentabilidade em diversas frentes é uma tarefa complexa que deve integrar a sustentabilidade ao negócio. Com isso, espera-se, através destas atitudes, criar valor, não só a marca, mas aos produtos, colaboradores, sociedade e meio ambiente.

 

4.2 Ações Estratégicas Sustentáveis da Alpha e os critérios de Sachs (2009)

A Alpha apresenta ações estratégicas focadas no plano ambiental e de relacionamento com público estratégico (comunidade interna e externa). São diversas atividades, soluções e aplicações que viabilizam a estrutura de um planejamento estratégico voltado para a sustentabilidade.

No que se refere ao critério econômico, além de buscar a ampliação do retorno financeiro de suas ações, a empresa busca também, o fortalecimento econômico da região em que está inserida, pois este é condição para o próprio crescimento. A Alpha acredita que o crescimento é fruto de um conjunto de conquistas por parte de todos os envolvidos, investindo para o desenvolvimento de atividades correlacionadas às suas necessidades buscando o vinculo da comunidade nas atividades fornecedoras da empresa, o que garante maior giro de capital no micro-mercado.

Estas ações de caráter econômico tem por finalidade fazer com que a sociedade ao redor da organização tenha mais acesso a recursos, bens e serviços. Através desta facilitação do acesso, a comunidade passa a ser um público consumidor com mais condição de adquirir os produtos da empresa, aquecendo o mercado e girando capital. Como resultado, tem-se um fortalecimento seqüencial da economia.

Com relação aos critérios ambiental e ecológico, identificou-se que a empresa busca contribuir através da conscientização interna dos colaboradores para medidas de economia de luz e água, separação do lixo. Incentiva ações comunitárias como o plantio de árvores e dá benefícios mediante a participação. Também investe em projetos auto-sustentáveis de coleta seletiva e reciclagem de lixo. A empresa mantém um programa de reciclagem de ferro velho dos materiais descartados do setor de transporte e oficina.

Estes incentivos, além de favorecer a preservação do meio ambiente, também favorecem ao desenvolvimento de atividades econômicas para a comunidade e contribuem com a redução de custos através da reutilização de materiais.

Para reduzir impactos provenientes da sua produção, a Alpha mantém sistemas específicos de armazenamento e tratamento de resíduos industriais, bem como adota práticas para o destino adequado de seus resíduos.

Estas práticas tem por objetivo reduzir os danos causados pelo homem à natureza. Durante muito tempo, a natureza vem sendo utilizada como depósito de resíduos industriais. Isto gerou inúmeros malefícios ao ambiente. E estes malefícios retornam ao homem através de efeitos que vão de características prejudiciais a vida até o enfraquecimento produtivo do ambiente e, consequentemente,  na diminuição da sua capacidade de oferecer os insumos necessários ao homem.

Ainda para reduzir os impactos, a empresa mantém várias áreas de reflorestamento para minimizar a extração de madeira da natureza, sendo estas reservas localizadas em Douradina-PR e Vilhena-RO. Estas ações auxiliam na preservação do ecossistema, pois a flora é menos afetada.

Com a exploração dos insumos deixando de ser feita na mata nativa, e passando a ser em áreas de reflorestamento, é possível manter as características do ambiente mais próximas das originais, o que beneficia o desenvolvimento da biosfera local. Além disso, desenvolve-se na região, também, o ganho financeiro com a atividade de reflorestamento.

No que tange ao critério social, a empresa tem ações que contribuem para o acesso a serviços e maior qualidade de vida. A empresa divide as ações conforme o público alvo.

Para a comunidade interna, a empresa apresenta ações com o enfoque na saúde e  bem estar dos colaboradores, dentre as quais destacam-se os programas de bem estar e lazer, onde a empresa oferece áreas de recreação para os colaboradores; programas de acompanhamento de saúde, onde profissionais acompanham e monitoram a saúde dos colaboradores, auxiliando no controle e perda de peso e adesão a novos hábitos alimentares. Também é oferecido serviços como acompanhamento psicológico, medico e ginástica laboral.

Ainda para a comunidade interna, a Alpha oferece programas com o intuito de capacitação profissional, como cursos e palestras dentro das instalações da fábrica. Também focado na capacitação profissional, são oferecidos cursos de aperfeiçoamento, incentivos aos colaboradores para fazer graduação ou pós graduação. Além disso, a Alpha mantém uma Universidade Corporativa, com o intuito de oportunizar formação de natureza técnica e em liderança para seus colaboradores.

A empresa mantém uma biblioteca com acervo de livros, revistas e vídeos, atualizado, que está disponível a todos os colaboradores, mesmo os que estão em regiões mais distantes, pois os livros são enviados via correio interno.

Todas estas ações voltadas para a comunidade visam a manutenção e aumento da qualidade da equipe produtiva, pois se tratam de ações que mantém a equipe motivada, aproximam os interesses dos colaboradores com os da empresa e aumentam a capacitação técnica e intelectual do grupo. Com estas ações a empresa já conseguiu destaque em gestão de pessoas e foi lembrada várias vezes entre as ‘melhores empresas para se trabalhar’ até em âmbito de América Latina (BALANÇO SOCIAL, 2010).

Voltado para a comunidade externa, a Alpha proporciona visitas de escolas às instalações das fábricas, para os alunos conhecerem a realidade da empresa, mantém escolinhas de futsal para crianças carentes, com o intuito de tirá-las das ruas. A Alpha mantém uma campanha de arrecadação de agasalhos, materiais escolares e alimento para quem necessita. A empresa é parceira da APAE, auxiliando financeiramente e organizando eventos para arrecadar donativos. Também é realizado, anualmente, um movimento social no qual são disponibilizados serviços em bairros carentes, como cortes de cabelo, confecção de documentos e tratamentos médicos e odontológicos.

As ações direcionadas a comunidade externa tem como enfoque principal a inclusão social, amenizando os problemas causados pela má distribuição de recursos, e abrangem as comunidades mais carentes. Assim, além de colaborar com um aumento da qualidade de vida destas comunidades, a empresa também fortalece sua marca. Pois com esta participação comunitária, a empresa se faz presente na realidade destas pessoas e, com isso, ganha a confiança da sociedade e conquista apreço por suas ações e não só pelos seus produtos.

Focando no critério cultural, a empresa incentiva e participa de eventos cívicos e festividades regionais que abordam a tradição nacional e regional. Também, convida-se os colaboradores, toda segunda-feira, a cantarem o hino nacional. Na semana da Pátria, canta-se todos os dias. São promovidas festividades para a comunidade local com temáticas culturais, como festas juninas, além de festividades da cultura de cada região. A empresa incentiva  a criatividade com eventos e concursos culturais abertos a comunidade.

Valorizando a tradição e a cultura da comunidade, é possível elevar a autoconfiança e a autonomia deste povo para buscar formas de desenvolvimento pois se tem um entendimento maior dos pontos fortes e fracos desta sociedade. E através desta valorização, também tem-se uma identidade da comunidade com a empresa.

Atentando ao critério territorial, pode-se destacar a implantação de filiais por diversas regiões do país, buscando sempre potencializar os pontos fortes da região e melhorar as vulnerabilidades, pois a empresa entende que o fortalecimento dela depende de uma comunidade forte que dê suporte a sua produtividade. Como forma de fortalecer a sua sociedade, a empresa investe no crescimento local, através de incentivo ao ensino técnico e oficinas profissionalizantes, a ser aproveitado pela empresa. A Alpha também busca valorizar a comunidade local com o projeto Prata da Casa, onde, um dos critérios de avaliação em entrevistas é a residência do candidato na localidade. Isto contribui com o aumento de renda da comunidade.

É necessário ter uma visão sobre os aspectos positivos e negativos de cada região, para poder localizar os pontos que podem ser melhorados. Utilizando-se das potencialidades da região e tratando seus problemas, é possível alcançar resultados muito maiores. Porém, focar-se em uma única região abrindo mão do desenvolvimento de outras pode causar uma escassez da demanda, visto que o mercado consumidor fica muito limitado a esta região. A promoção do desenvolvimento de várias regiões em paralelo permite uma maior movimentação de capital e uma economia muito mais rica e diversificada.

Os critérios de política nacional e internacional têm enfoque no estabelecimento de políticas públicas. No entanto a Alpha está atenta as regras e busca colaborar com a manutenção destas políticas, como programas de estagiários, aprendizes, leis florestais e demais movimentos que necessitam do apoio das organizações.

 

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

A sociedade está mais consciente sobre os problemas ambientais e sociais cada vez mais recorrentes e que precisam ser minimizados. Nesse sentido, as organizações, estão cada vez mais preocupadas com os impactos acarretados por suas atividades.

Analisando o Balanço Social da Alpha, podemos evidenciar que a empresa trata com consciência o assunto de sustentabilidade, tanto pela exigência de um mercado consumidor mais consciente, quanto pela visão do papel da empresa para colaboração na solução dos problemas e busca soluções coerentes, e aplicáveis, nas mais diversas áreas.

Quando correlacionamos as ações implantadas com as dimensões propostas por Sachs, podemos constatar que, em suma, todas as ações recaem sobre alguma dimensão. Mesmo que algumas dimensões sejam focadas para políticas públicas, todos podem e devem contribuir com os preceitos adotados por este autor.

Estas ações efetuadas pela empresa podem, em um primeiro momento, representar algum tipo de custo, porém, a médio e longo prazo podem ser percebidos benefícios provenientes das mesmas. Algumas ações já trazem benefícios a curto prazo. Estes benefícios não são somente financeiros, mas também motivacionais e de qualidade de vida e valorização da organização como um todo.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

ALMEIDA, F. O bom negócio da sustentabilidade. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002.

 

ALMEIDA, M. F. L. Sustentabilidade corporativa, inovação tecnológica e planejamento adaptativo: Dos princípios à ação. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica – PUC-RJ, 2006.

 

BERTALANFFY, L. V. Teoria Geral dos Sistemas. São Paulo: Vozes, Petrópoles, 1977.

 

COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO (CMMAD). Nosso Futuro Comum. 2 ed., Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1991.

 

DELGADO, N. A. A inovação sob a perspectiva do desenvolvimento sustentável: os casos de uma cooperativa de laticínios brasileira e de outra francesa. Dissertação de Mestrado – UFRGS. Porto Alegre, 2007.

 

DEPARTAMENTO DE PROPAGANDA. Balanço Social e Relatório Anual 2010. 8ª ed. Douradina: Editora Campana, 2010.

 

Experiências internacionais de um cientista inquieto: entrevista com Ignacy Sachs. Estudos avançados.  São Paulo,  v. 18,  n. 52, Dec.  2004.   Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142004000300023 >. Accesso em  25  jun.  2011. 

 

ELKINGTON, J. Canibais com garfo e faca. São Paulo: Makron Books, 2001.

 

GIL, A. C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. São Paulo: Atlas, 1999.

 

GUEDES, R. C. Responsabilidade social e cidadania empresariais: conceitos estratégicos para as empresas face à globalização. Dissertação (Mestrado em Administração de Empresas da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).São Paulo: PUC/SP, 2000. 170p.

 

HART, S. L.; MILSTEIN, M. B. Criando Valor Sustentável, RAE. São Paulo, 2004.

 

KRAEMER, M. E. P. Responsabilidade Social – Uma alavanca para a Sustentabilidade. 2004. Disponível em: < http://www.gestaoambiental.com.br/articles.php?id=34> Acesso em 24 jun. 2011.

 

LOPES, C.; SACHS, I.; DOWBOR, L. Crises e oportunidades em tempos de mudança. Crises e oportunidades – Uma agenda de mudanças estruturais. São Paulo: Editora Instituto Paulo Freire, 2010.

 

LOURENÇO, A. G., SCHRODER, D. S. Vale investir em responsabilidade social empresarial? São Paulo. 2003

 

PAIVA, A. Clima e pobreza desafiam os modelos de negócios. Jornal Valor Online. Rio de

Janeiro, 12 set. 2008. Entrevista.

 

PEIXOTO, M. C. C. Responsabilidade Social e Impacto no Comportamento do Consumidor: Um caso da indústria de refrigerantes. Rio de Janeiro. 2003.

 

SACHS, I. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro: Garamond, 2009.

 

TV Cultura. Reporter Eco. Ignacy Sachs – O economista e sociólogo que ajudou a formular o conceito que passou a ser chamado de Desenvolvimento Sustentável. 2006. Disponível em: < http://www2.tvcultura.com.br/reportereco/materia.asp?materiaid=516> Acesso em 28 jun. 2011.

 

TV Mercado Ético. Série de Entrevista com Ignacy Sachs. 2010. Disponível em: < http:// mercadoetico.terra.com.br/tv-new/?c=5798> Acesso em: 24 jun. 2011.

 

VASSALLO, C. Um novo modelo de negócios. Guia de boa cidadania corporativa. Revista Exame. São Paulo – SP: nº 728, p.08-11, 2000.

 

VEIGA, J. E. Desenvolvimento sustentável – Desafio do século XXI. Ed. Garamond, Rio de Janeiro, 2005.

 

YIN, R. K. Estudo de caso – Planejamento e Métodos. 2ª ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.

Ilustrações: Silvana Santos