Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2018 (Nº 38) Incentivo à Educação Ambiental em unidades de conservação
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Incentivo à Educação Ambiental em unidades de conservação

Incentivo à educação ambiental em unidades de conservação

 

Débora Cristina Nasorry1

[1]Bióloga, Pós- Graduanda em Biotecnologia, Universidade Estadual de Maringá –Apoio Técnico ao Programa de Melhoramento de Soja – Universidade Federal de Uberlândia. debora_crsn@hotmail.com

Endereço: Rua Alex Fernandes França, 60. Bairro Industrial. Araguari – Minas Gerais. CEP: 38442-020.

 

Resumo

 

A Educação Ambiental em Unidades de Conservação permite uma maior aproximação com os elementos da natureza e a realização de atividades de educação ambiental dinâmica. Através dela, indivíduos, grupos escolares ou outros grupos de afinidade podem desvendar o ambiente, conhecê-lo melhor e atuar com maior consistência na sua preservação. A crescente expansão urbana e a deterioração da qualidade de vida das grandes cidades vêm despertando uma demanda por espaços naturais. A proposta de implantação de incentivos à Educação Ambiental na Nascente das Araras, localizada no Município de Araguari – Minas Gerais surge com a constatação do uso desta Unidade, pelas comunidades circunvizinhas, carentes de áreas verdes para lazer.

 

Palavras – chave: Trilhas. Educação Ambiental. Preservação.

 

 

Introdução

 

O cerrado é um dos biomas mais ricos e ameaçados do planeta, representando uma das áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade (LARA & FERNANDES, 1996).

A vereda se constitui de um importante subsistema do Bioma Cerrado, possuindo, além do significado ecológico, um papel sócio – econômico e estético- paisagístico que lhe confere importância regional, principalmente quanto ao aspecto de constituírem refúgios  fauno – florísticos, onde várias espécies da fauna e da flora são encontradas e dependem desse ambiente para sobrevivência (FERREIRA, 2008).

As Veredas representam um tipo fito fisionômico exclusivo desse bioma, sendo de extrema importância para a manutenção do seu ciclo hidrológico. Além disso, durante várias décadas sofreram intensa degradação com a drenagem ou o soterramento desses ambientes em áreas urbanas, ou do desmatamento e da utilização desenfreada nas áreas rurais.  Localiza-se em áreas de nascentes, com elevado nível de umidade no solo e representam uma fito fisionomia de grande relevância na região do Cerrado.

Segundo a Lei n. ° 9.985, de 18 de julho de 2000 que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), unidades de conservação (UC) são espaços territoriais e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituídos pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção (MEDAUAR, 2007).

Na concepção atual, a paisagem deixou de ser apenas uma fonte de inspiração artística ou meramente um cenário, adquirindo uma dimensão ambiental. Considerada como um recurso vem ganhando importância e preocupação por parte da sociedade. O surgimento das áreas de proteção ambiental se deu a partir de atos e práticas das primeiras sociedades humanas que, reconhecendo valores especiais de determinados espaços de cobertura vegetal tinham grande importância, dispuseram-se a protegê-los. As referências mais antigas remontam da Índia, da Indonésia e do Japão, que protegiam áreas associadas à presença de animais sagrados, fontes de água pura, existência de plantas medicinais, mitos e fatos históricos (BRITO, 2000).

Surgiu-se a necessidade de contemplação da natureza, e a consciência ecológica impulsionou algumas discussões de como conservar as áreas representativas da vida natural no planeta, iniciando pela necessidade de um consumo sustentável.

Entende-se por consumo sustentável o consumo de bens e serviços promovido com respeito aos recursos ambientais, que se dá de forma que garanta o atendimento das necessidades das presentes gerações, sem comprometer o atendimento das necessidades das futuras gerações. A promoção do consumo sustentável depende da conscientização dos indivíduos da importância de tornarem-se consumidores responsáveis. Depende ainda de um trabalho voltado para a formação de um “consumidor-cidadão”. (FURRIELA, 2001).

O tema da sustentabilidade confronta-se com o paradigma da “sociedade de risco”. Isso implica a necessidade de se multiplicarem as práticas sociais baseadas no fortalecimento do direito ao acesso à informação e à educação ambiental em uma perspectiva integradora (JACOBI, 2003.)

A noção de sustentabilidade implica, portanto, uma inter-relação necessária de justiça social, qualidade de vida, equilíbrio ambiental e a ruptura com o atual padrão de desenvolvimento (JACOBI, 1998).

A Educação Ambiental entra no contexto para desenvolver cidadãos capazes de identificar as necessidades do planeta e incentivar à conservação do mesmo. Segundo Layrargues (2003), “Atualmente não é mais possível entender a educação ambiental no singular, como um único modelo alternativo de educação que simplesmente se opõe à educação convencional, que não é ambiental”. Pode-se identificá-la como alfabetização ecológica, educação para o desenvolvimento sustentável, educação para a sustentabilidade, ecopedagogia e educação no processo de educação ambiental.

Tomando-se como referência o fato de a maior parte da população brasileira viver em cidades, observa-se uma crescente degradação das condições de vida, refletindo uma crise ambiental. Isto nos remete a uma necessária reflexão sobre os desafios para mudar as formas de pensar e agir em torno da questão ambiental numa perspectiva contemporânea. (JACOBI, 2003.)

A conscientização ambiental deverá se dar de forma gradativa, enfocando cada círculo que envolve cada cidadao, enfatizando com que ele reflita sobre si, desenvolva o seu senso crítico, sobre o que está certo e errado, e procure ver de que forma ele poderá contribuir com a melhoria ou com a eliminação de situações danosas ao homem ou à natureza (DOHME, et.al. 2002).

A educação ambiental como formação e exercício de cidadania refere-se a uma nova forma de encarar a relação do homem com a natureza, baseada numa nova ética, que pressupõe outros valores morais e uma forma diferente de ver o mundo e os homens. A educação ambiental deve ser vista como um processo de permanente aprendizagem que valoriza as diversas formas de conhecimento e forma cidadãos com consciência local e planetária. (JACOBI, 2003.)

Um dos meios divulgados na interpretação ambiental é o dos percursos interpretativos. Estes podem ser temáticos, com a predefinição de um tema antes da caminhada, ou de descoberta, ou turísticos e de lazer. As trilhas ecológicas interpretativas se enquadram dentro dos percursos interpretativos orientados metodologicamente e, não devem ser confundidas como meras picadas abertas na mata (VILARIGUES, 1998).

Andar, caminhar, passear, escalar, excursionar; longe do atropelo, da aglomeração, do ruído e do tráfego de veículos é, hoje em dia, um dos passatempos favoritos da maior parte das pessoas. É a forma de recreação mais econômica, mais sadia e que maiores oportunidades oferecem de observação, pesquisa, tranqüilidade e lazer. O uso de trilhas interpretativas em unidades de conservação permite uma maior aproximação com os elementos da natureza e a realização de uma educação ambiental dinâmica. Através destas, indivíduos, grupos escolares ou outros grupos de afinidade podem desvendar um ambiente, conhecê-lo melhor e atuar com maior consistência em sua preservação (BELART, 1978).

As trilhas, enquanto instrumentos pedagógicos para a Educação ambiental e biológica devem “explorar o raciocínio lógico, incentivar a capacidade de observação e reflexão, além de apresentar conceitos ecológicos e estimular a prática investigatória” (LEMES et. al. 2004)

Este trabalho implica na tomada de consciência do consumidor na transformação do modelo econômico em vigor em uma maior presença do ser humano na Terra, exigindo um padrão de desenvolvimento socialmente justo e ambientalmente equilibrado. Com o objetivo de conscientizar nossas crianças e adolescentes quanto à importância da conservação e recuperação dos recursos naturais, investimos em um projeto ecológico, composto por uma trilha ecológica.

 

Materiais e métodos

 

A nascente do Ribeirão das Araras situa-se no município de Araguari, Minas Gerais.  Está localizada a 1013 m de altitude, coordenadas 18° 38′ 56″ S e 48° 11′ 13″ W, possui clima subtropical de altitude. Possui temperatura média de 21°C. De acordo com a classificação de Köppen (1970), o clima do local é do tipo Cwa, caracterizado por duas estações distintas: uma seca, de abril a setembro, e outra chuvosa, de outubro a março.

Abrange áreas localizadas no perímetro urbano e rural. Por ser do tipo difusa, caracteriza-se como Vereda e forma, na verdade, vários afluentes do ribeirão, o que conjuga um maciço de nascentes (FIGURA 1).

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FIGURA 1 - Ribeirão das Araras

 

Após o reconhecimento da área feito por visitas ao local e consulta bibliográfica, escolheu-se o caminho a ser utilizado para a trilha interpretativa.

Foram formados grupos de estudantes de Escolas Estaduais da região, com capacidade de até 25 crianças e/ou jovens, seguindo a faixa etária de 07 a 16 anos, com uma duração de 05 dias, sendo realizadas durante as férias escolares. As atividades desenvolvidas foram trilhas interpretativas e visita à nascente, com o intuito de salientar a necessidade de preservação do ecossistema (Tabela 1).

 

Tabela 1 - Grupos formados durante a pesquisa.

Dias

Quantidade de crianças

Faixa etária

25

16

20

12

23

15

18

10

22

13

 

 A trilha foi planejada utilizando-se um dos caminhos existentes, levando-se em conta a representação ecológica e atratividade da mesma, além da declividade do terreno para facilitar a passagem de pessoas portadoras de necessidades especiais.

Durante todo programa, foi observado o interesse dos participantes em relação aos temas abordados assim como o desempenho de cada.

 

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FIGURA 2 - Trilha Ecológica com Alunos no Ribeirão das Araras.

 

A cada término, uma avaliação pelos monitores e participantes do grupo foi realizada visando o senso crítico e a autonomia de cada indivíduo, tornando os participantes mais integrados e harmoniosos com o local. E o mais interessante, é que a cada grupo participante do programa “Educação para viver”, notou-se uma integração mútua entre o local e a pessoa (FIGURA 2).

 

 

A visita do grupo à trilha teve de ser precedida de uma explicação sobre as estruturas vegetais, exemplificando onde encontrá-las. Foi necessário que a equipe estimulasse as crianças a procurar estruturas vegetais, frutos e até mesmo fungos nunca antes notados e questionar sobre sua respectiva importância para o meio que o rodeia. O trabalho foi, ao mesmo tempo, uma fonte de informações e um bom atrativo na trilha. O estímulo para uma observação mais atenta às estruturas vegetais, assim como todo o ambiente passa a ser o próprio conteúdo do painel. Conseguimos construir junto ao grupo algumas noções de ecologia de conservação.

 

Resultados

 

            Através do trabalho desenvolvido pode-se notar que é necessário além de planejamento, desenvolvimento de projetos e a implementação, também se necessita da participação de cada cidadão e da sociedade como um todo.

A participação é a promoção da cidadania, a realização do sujeito histórico, o instrumento por excelência para a construção do sentido de responsabilidade e de pertencimento a um grupo, classe, comunidade e local (BAUMAN, 2000).

Torna-se claro a importância da participação da sociedade em programas de educação ambiental, visto que sem isso, nada poderá ser desenvolvido e não haverão melhorias para o nosso meio em que vivemos.

 

Discussão

 

A falta de conhecimento, inicialmente, poderia ser um fator que contribui para a ocorrência dos problemas ambientais. Porém, os países que mais poluem são, justamente, aqueles nos quais a ciência, a tecnologia e também o sistema educativo estão mais desenvolvidos (MAYER, 1998).

Considerando-se Mayer (1998), torna-se imprescindível que sejam realizadas melhorias em relação às informações e divulgação de conhecimento a respeito da necessidade de implantação de educação ambiental em locais onde existam grandes problemas sócio-ambientais. Através disto, procuramos conscientizar às pessoas e através de planejamentos, desenvolver uma estratégia didática de conservação ambiental.

De acordo com (LOUREIRO, 2005): “Considerando que a conservação das áreas protegidas igualmente depende de estratégias adotadas nos programas de educação ambiental, torna-se então, de grande importância que elas sejam planejadas e implementadas adequadamente”.

Sendo assim, a necessidade de um planejamento prévio das ações realizadas em áreas protegidas torna-se fundamental para um bom desempenho dos programas de educação ambiental nos locais a serem realizados, assim como a devida implementação do mesmo, fazendo com que além de enriquecimento cultural, também estejamos preservando e valorizando o tão inestimável meio ambiente que vivemos.

 

Conclusões

 

A implementação do trabalho apresentado foi satisfatório para relacionar a necessidade de planejamento de atividades educativas na área, assim como sua conservação e preservação. Torna-se fundamental uma adequação entre monitores e alunos, para que o trabalho seja conduzido de forma contínua, ou seja, fazendo com que não se interrompa a educação ambiental no local, preservando, e divulgando o meio ambiente que possuímos.

As trilhas foram desenvolvidas com o intuito de harmonizar estudantes e professores com a natureza ao seu redor, fazendo com que aprendam a conviver e respeitar o meio ambiente da melhor forma possível, e trazendo melhorias para a sociedade.

Desta forma, o ato de educar torna-se fator crucial para que desenvolvamos posturas críticas e conscientizadas nas crianças e adolescentes a quem procuramos atingir. O meio ambiente necessita de uma preocupação especial, já que é crucial para a sobrevivência e agradável convivência entre seres humanos.

 

Agradecimentos

 

À Universidade Federal de Uberlândia e à Secretaria Municipal de Meio Ambiente.

 

 

Referências

 

BAUMAN, Z. Em busca da política. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.

BELART, J. L. Trilhas para o Brasil. Boletim FBCN, Rio de Janeiro, v.13, n.1, p.49 -51 1978.

BRITO, M. C. W. Unidades de conservação: intenções e resultados. São Paulo: Annablume, FAPESP: 2000. 229 p.

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FERREIRA, I. M. Cerrado: Classificação geomorfológica de Vereda. IX Simpósio Nacional Cerrado. II Simpósio Internacional de Savanas Tropicais. Desafios e estratégias para o equilíbrio entre sociedades, agronegócios e recursos naturais. Parlamundi, Brasília, DF. Out, 2008.

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KÖPPEN, W.  Roteiro para classificação climática. [S.1.: s.n.], 1970. 6p. Mimeografado.

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Ilustrações: Silvana Santos