Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Práticas de Educação Ambiental
10/09/2018 (Nº 38) Uso da pegada ecológica em atividades educativas
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Uso da pegada ecológica em atividades educativas

Uso da pegada ecológica em atividades educativas

 Valdir Lamim-Guedes

Biólogo e Mestre em Ecologia pela Universidade Federal de Ouro Preto.

A pegada ecológica é uma ferramenta de contabilidade dos recursos que mede quanta natureza temos, quanta usamos, e quem usa o quê. Tal como num extrato bancário, a pegada pode determinar se estamos vivendo dentro do nosso orçamento ecológico ou se estamos consumindo os recursos da natureza mais rapidamente do que o planeta pode renová-los (AMEND et al., 2010). A pegada ecológica Representa a quantidade de hectares necessários para sustentar a vida de cada pessoa no mundo, isto é, quantos hectares uma pessoa necessita para produzir o que consome por ano (CERVI e CARVALHO, 2007). Cada hectare tem 10.000 metros quadrados, e quando tratamos de pegada ecológica, chamamos de hectare global (gha).

A ideia ao se calcular a pegada ecológica é reforçar que consumimos recursos naturais e impactamos a natureza com o nosso modo de vida. É demonstrar para qualquer classe de componentes como população, matéria-prima, tecnologia utilizada, que é razoável estimar uma área equivalente de terra e/ou água (CERVI e CARVALHO, 2007). De acordo com a definição apresentada por Wackernagel e Rees, a pegada ecológica é a área de ecossistema necessária para assegurar a sobrevivência de uma determinada população ou sistema. O método representa a apropriação de uma determinada população sobre a biocapacidade total do sistema.

“A Pegada Ecológica é uma grande ferramenta de comunicação. Pode ajudar a explicar um desafio complexo para o planeta a quaisquer audiências. Ela pode, pois, persuadir as pessoas porque não diz que deve fazer isto ou aquilo. Ela diz: Aqui está o desafio que todos nós partilhamos no planeta. Pode fazer sua escolha. Isso é muito poderoso para nós.” (Terry A‘Hearn in AMEND et al., 2010).

A ao apontar os pontos de maior impacto da uma pessoa, empresa, cidade ou País na natureza, permite que sejam discutidas soluções que estejam dentro das possibilidades de cada um. Com isto, estamos estimulando mudanças de comportamento reais. Por exemplo, para uma pessoa fazer a coleta seletiva talvez seja uma atitude que efetivamente diminua a sua pegada, que já é baixa (aproximadamente 1 gha). Mas esta mesma solução pode não ser adequada para uma outra pessoa que tem uma grande pegada (acima de 4 gha), e esta deve repensar como se locomove pela cidade e sobre o seu nível de consumo.

As quantidades e qualidades de terras e águas necessárias à manutenção de um número de pessoas são chamadas de áreas bioprodutivas (SATO et. al, 2010). Nessa contabilidade são consideradas as áreas de terra e mar necessárias para absorver carbono, terra para construir moradias e infraestrutura, terra e água para a biodiversidade. Se dividirmos a área bioprodutiva total do planeta pela população mundial, teremos cerca de 1,7 gha para cada habitante. Como a pegada ecológica média do planeta é de 2,7 gha por pessoa, estamos consumindo mais recursos do que a Terra pode fornecer, e com isto, estamos degradando de forma exacerbada o meio ambiente.

A utilização em ações educativas da pegada ecológica pode ser voltada para diferentes públicos, como estudantes, funcionários de empresas ou um público heterogêneo em eventos abertos. A ideia central é apontar qual é o impacto sobre o meio ambiente do tipo de vida que a pessoa leva e demonstrar os pontos que podem ser revistos. E, Independentemente do país ou cidade em que se vive, a pegada ecológica é um conceito universal, e lida com questões que nos afetam a todos nas nossas vidas diárias.

Segundo Sato et al. (2010), podemos definir 5 pontos chaves para refletirmos sobre a nossa pegada ecológica, este são, alimentação, bens de consumo, energia, moradia e transporte. Portanto, é em cima destes pontos chaves que podemos concentrar atividades que envolvam a pegada ecológica.

Utilizando a pegada ecológica em atividades educativas.

Pode-se começar a atividade com um debate. Questione se as pessoas presentes se elas têm noção do impacto do modo de vida delas na natureza. Algumas perguntas que podem ser realizadas:

·         Você já parou para pensar que a forma como vivemos deixa marcas no meio ambiente?

·         Qual o tamanho de sua pegada?

·         Qual a relação entre o seu cotidiano e o meio ambiente? Você já parou para pensar?

·         O que tem isso a ver com a minha própria vida?

E introduza o conceito de pegada ecológica, apresente que os principais pontos são alimentação, bens de consumo, energia, moradia e transporte. Na continuidade desta atividade, proponha que as pessoas calcule a pegada ecológica individual. Neste momento, você também pode apresentar a pegada de diferentes países.

Pode-se utilizar vários tamanhos de pés para representar as diferenças de Pegada global. Pegadas per capita de cinco países representado aqueles com maior consumo de recursos e aqueles com o mínimo são apresentadas a seguir. Os Países são Emirados Árabes Unidos, E.U.A., Alemanha, Brasil e Haiti. As pegadas destes países são, respectivamente, 11; 8; 5; 2,4 e 0,4 gha por habitante.

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Figura 1: Pegadas ecológicas de diferentes países. Imagem: V. Lamim-Guedes.

Mas o que realmente nos dizem as Pegadas?

Dizem-nos algo sobre o tamanho do pé de uma pessoa, mas também sobre o seu rumo. Se ele assenta os seus pés com pressão, as pegadas serão profundas e memoráveis. Em Inglês, a palavra footprint conota esta interpretação especialmente bem: imprimir a sua marca em alguma coisa, deixar uma mensagem para trás (AMEND et al., 2010).

Promova um debate sobre o que representa pegada tão diferentes entre os países. Discuta o tipo de consumo médio das pessoas de cada país e o impacto que isto representa para o planeta. E questione: “A sua pegada é mais parecida com a de qual país?” O passo seguinte é calcular a pegada ecológica de cada participante.

Podemos calcular facilmente a pegada ecológica de uma pessoa utilizando sites que disponibilizam calculadoras, como o Global Footprint Network (GLOBAL FOOTPRINT NETWORK, 2011). No site, você escolhe o seu país de origem, no caso de escolher o Brasil, você terá a opção de usar a calculadora em inglês ou português.

Este tipo de calculadora, com uso de computador ligado a internet, é interessante para se trabalhar com alunos em idade de 11 aos 14 anos, sendo muito atraente por utilizar o computador.

No caso da impossibilidade em se utilizar o computador, produza um questionário com perguntas sobre o modo de vida das pessoas e atribua pontos para cada resposta, ao fim da atividade, calcula-se o total de pontos e a partir de tabelas específicas defini-se uma área em hectares que será a pegada ecológica da pessoa. Você poderá usar como exemplo o questionário disponibilizado na cartilha “Pegada Ecológica: que marcas queremos deixar no planeta?” produzido pelo WWF-Brasil (WWFBRASIL, 2007).

O que posso fazer pessoalmente na minha vida cotidiana?

Não é só uma questão de consumo individual (O que como? O que vou vestir? Que carro posso conduzir?), mas uma questão de padrões de mobilidade (Quão longe fica o trabalho? Como faço para chegar lá?) ou de energia (Quanta uso? Qual é a fonte de energia?). A contabilidade dos recursos é do auto-interesse de cada cidade, região e país.

Podemos utilizar a pegada ecológica como ponto de partida para pensar o nosso próprio consumo de recursos, para dar início a discussões sobre justiça social, sobre a desigualdade entre países, para questionar em que tipo de mundo queremos viver, e em que direção devemos desenvolver-nos.

Sugestões de atividades complementares

Atividade 1

Pode-se fazer círculos no chão com giz e preencher o interior com recortes de revistas. Corte os pedaços com diferentes pedaços, inclusive alguns pedaços em forma de pegada. Cada pedaço de papel simboliza parte da riqueza ecológica e os habitantes de um país. Quanto maiores as pegadas colocadas dentro do circulo, menos espaço existirá para outros habitantes e a riqueza ecológica também será reduzida.

Atividade 2 - Dia do Excesso

De acordo com cálculos efetuados pela ONG Global Footprint Network (GFN), o ‘Earth Overshoot Day’, ou o ‘Dia do Excesso’, é quando os habitantes da Terra já terão esgotado todos os recursos que o planeta lhes proporciona no período de um ano, passando a viver de créditos relativos ao próximo ano.

O presidente da GFN, Mathis Wackernagel, criado do conceito de pegada ecológica, explica que “se você gasta seu orçamento anual em nove meses, deve ficar provavelmente muito preocupado: a situação não é menos grave quando se trata de nosso orçamento ecológico”.

Em 2011, o Dia do Excesso foi em 27 de setembro. Isto significa que em 2011, a humanidade deverá utilizar 135% dos recursos que a Terra pode gerar em um ano, isto é, uma situação insustentável (GLOBAL FOOTPRINT NETWORK, 2011a).

Podem ser realizados eventos próximos da data do Dia do Excesso do ano. Para saber a data do próximo, basta acompanhar o site da GFN.

Bibliografia

AMEND; THORA; BARBEAU, BREE; BEYERS, BERT; BURNS, SUSAN; EIßING, STEFANIE; FLEISCHHAUER, ANDREA; KUS-FRIEDRICH, BARBARA; PATI POBLETE. Uma Grande Pegada num Pequeno Planeta? Contabilidade através da Pegada Ecológica. Ter sucesso num mundo com crescente limitação de recursos. In: Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ). A sustentabilidade tem muitas faces. 2010.

CERVI, J. L.; CARVALHO, P. G. M. A Pegada Ecológica: breve panorama do estado das artes do indicador de sustentabilidade no Brasil. VII Encontro Nacional de Economia Ecológica. Fortaleza. 2007.

GLOBAL FOOTPRINT NETWORK, 2011. Disponivel em: . Acesso em: Novembro 2011. Link para a calculadora:  HYPERLINK "http://www.footprintnetwork.org/en/index.php/GFN/page/calculators/" http://www.footprintnetwork.org/en/index.php/GFN/page/calculators/

GLOBAL FOOTPRINT NETWORK. Earth Overshoot Day 2011, 2011a. Disponivel em: . Acesso em: novembro 2011.

SATO, M.; OLIVEIRA, H.; ZANON, A. M.; VARGAS, I. A.; WISIACK, S. R. C.; PEREIRA, D. M. Processo Formativo Escolas Sustentáveis e Com-Vida. Ouro Preto: Universidade Federal de Ouro Preto, 2010.

WWFBRASIL. Pegada ecológica: que marcas queremos deixar no planeta? Brasilia, 2007. Link para Download: http://assets.wwf.org.br/downloads/19mai08_wwf_pegada.pdf.

 

 

 

Ilustrações: Silvana Santos