Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2018 (Nº 38) Uma análise sócio-ambiental na perspecitva dos moradores do município de Lajes Pintadas (RN): Um desafio a sustentabilidade no Semi-Árido Brasileiro
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SEÇAO: ARTIGOS

Uma análise sócio-ambiental na perspecitva  dos moradores do município de Lajes Pintadas (RN): Um desafio a sustentabilidade no Semi-Árido Brasileiro

Richelly da Costa Dantas¹; Nilmara de Oliveira Alves2; Sílvia Regina Batistuzzo de Medeiros3; Viviane Souza do Amaral4

 

¹ Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e-mail: richelly@gmail.com.

2 Mestre em Bioquímica e Biologia Molecular da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e-mail: nilmara1@yahoo.com.br.

3 Pós-Doutora em Biologia Molecular pela Université de Lausanne, UNIL, Suiça, Professora pertencente ao Departamento de Biologia Celular e Genética da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Professora Colaboradora do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente PRODEMA/RN. Lagoa Nova/ Natal/RN, CEP. 59720-970. E-mail: sbatistu@cb.ufrn.br.

4 Doutora em Genética e Biologia Molecular pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, professora adjunta do Departamento de Biologia e Genética da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Professora Permanente do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente PRODEMA/RN. Lagoa Nova/ Natal/RN, CEP. 59720-970, e-mail: vamaral@ufrnet.br.

 

RESUMO: Diante das dificuldades na região do semi-árido localizada no nordeste brasileiro, o município de Lajes Pintadas que por muitos anos sofreu com a seca da região agreste potiguar, desde a década de 50 foi beneficiado com a construção de um açude público (Riacho da Cachoeira) onde mesmo, com a instalação da adutora, ainda é utilizado para beber, lavagem de utensílios domésticos, pesca e para lazer da população. A região onde o município esta inserido é rica em Radônio (Rn) natural, corroborando para uma qualidade de vida inferior dessa comunidade. Este artigo teve como objetivo realizar um estudo de percepção sócio-ambiental com 2,14% da população de Lajes Pintadas (RN). Nesse sentido, foram aplicados 100 questionários no período de Dezembro de 2010 a Fevereiro de 2011. A pesquisa foi dividida em três enfoques: identificação e perfil do entrevistado; conhecimento e preocupação com o meio ambiente e com o Açude. Os resultados mostraram que os moradores se preocupam com o meio ambiente (76%), porém, uma parte dos entrevistados (33%) afirma que causam muito prejuízo ao local onde vivem. Também, observou-se que 79% dos entrevistados afirmam nunca ter ouvido falar no Rn. Dessa forma, pretende-se que com os dados obtidos nessa pesquisa, sejam elaboradas atividades educacionais, que tenham o intuito a trocar experiência com a comunidade e a colaboração com projetos de conscientização dos problemas locais, em especial, a questão dos recursos hídricos e um maior conhecimento sobre o Radônio.

Palavras-chave: Análise sócio-ambiental, Recursos hídricos e Radônio.

 

1.      INTRODUÇÃO

 

O município de Lajes Pintadas, localizado no estado do Rio Grande do Norte (RN), caracteriza-se por ser uma área geológica rica em pegmatitos, que gera naturalmente o Radônio (Rn), um gás radioativo. De acordo com a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC) e o Programa Nacional de Toxicologia dos Estados Unidos (USNTP) o Rn, dependendo do período de exposição, pode causar desde problemas respiratórios até o desenvolvimento do câncer. Segundo os dados emitidos pela Secretaria Municipal de Lajes Pintadas, nos últimos três anos (2007 a 2010), 9% da população adquiriu algum tipo de câncer, sendo os mais freqüentes: pulmão, estômago, fígado, mama e próstata.

Outra problemática do município em estudo é a questão da seca na região do agreste do RN. Tendo como principal objetivo minimizar estas dificuldades, o açude Riacho da Cachoeira foi construído em 1953 e com isso, foi possível abastecer várias comunidades, incluindo a área em estudo. Entretanto, a água que chega a Lajes Pintadas através da adutora, hoje instalada, não beneficia toda a população e diante desse problema, algumas pessoas vivem às margens do açude e utilizam a água como fonte primária, ou seja, para beber, cozinhar, banhar-se assim como para lavagem de utensílios domésticos e roupas. (MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA, 2005).

 

A questão da saúde das populações e do meio ambiente vem sendo considerada cada vez mais urgente e importante para a sociedade. A exposição humana a agentes químicos, físicos e/ou biológicos podem ser originadas tanto por fontes naturais como artificiais, podendo causar sérios danos a saúde das pessoas expostas.

Dessa forma, será possível a realização de um trabalho com bases locais, partindo da realidade do público alvo. Nesse contexto, o estudo da percepção ambiental é de grande importância. Para Davidoff, (1983) “a percepção define-se como o processo de organizar e interpretar dados sensoriais recebidos (sensações) para desenvolvermos a consciência do ambiente que nos cerca e de nós mesmos. A percepção implica interpretação.” Logo, cada indivíduo percebe, reage e responde diferentemente às ações sobre o ambiente em que vive. Saber como os indivíduos percebem o ambiente em que vivem, suas fontes de satisfação e insatisfação assim como sua inter-relação com o local ao qual está inserido é fundamental para a educação como um todo. As atividades que visam cidadania consciente serão feitas com base em estratégias educativas apropriadas à realidade social (KRASILCHIK; PONTUSSHKA, 2006)

 

É importante destacar que várias ações podem ser feitas para a preservação ambiental, como analisar as atitudes humanas sobre as forma de monitoramento ambiental, compreender a percepção dos moradores rurais, desenvolver programas de Educação Ambiental (E.A) que integrem conhecimentos de educadores, cientistas e agricultores entre outras (Gomez-Pompa; Kaus, 2000).

 

 

Diante da necessidade de se entender como a população de Lajes Pintadas (RN) compreende e age diante da relação do homem com a natureza, o presente trabalho tem como objetivo fazer uma análise da percepção sócio/ambiental, investigando a relação do açude Lajes Pintada com os moradores dessa comunidade e os conhecimentos prévios em relação ao Rn.

 

2.         MATERIAIS E MÉTODOS

 

2.1. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

O município de Lajes Pintadas está situado na mesorregião do Agreste Potiguar do RN e se encontra em uma distância de 135 quilômetros da Capital Natal. Além disso, limita-se com os municípios de São Tomé, Campo Redondo e Santa Cruz. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2010), o município apresenta uma população de 4.614 habitantes. O Açude Público, Riacho da Cachoeira, tem capacidade máxima de 6.000.000m3 (Figura1).

 

Figura 1. Localização do município de Lajes Pintadas (à esquerda) e o Açude Riacho da Cachoeira- RN (à direita)

  

2.2. APLICAÇÃO E ANÁLISE DOS QUESTIONÁRIOS

 

Para a coleta de dados foi utilizado um questionário com questões fechadas, que facilita a categorização das respostas para posterior análise, permitindo uma boa contextualização das questões. Além disso, foi feita uma questão aberta com o intuito de investigar o simples conhecimento sobre o meio ambiente em Lajes Pintadas (RN).

O protocolo para essa pesquisa (116/10 CEP/UFRN) foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) (CAAE 0132.0.051.000-10) em outubro de 2010. Foram pré-definidos os participantes da comunidade com idade igual ou superior a 18 anos, habitantes do município, de ambos os sexos, de qualquer etnia, grupo ou classe social. A escolha desses indivíduos foi feita de forma aleatória. Um total de 100 questionários foi aplicado no período de Dezembro de 2010 a Fevereiro de 2011, o que corresponde a 2,16% da população local. Todos os participantes foram voluntários e assinaram o termo de Consentimento Livre e Esclarecido sobre a pesquisa indicado pelo comitê de ética local.

Para a elaboração do questionário, foram realizadas entrevistas piloto, com 20 pessoas escolhidas aleatoriamente que residissem na cidade há mais de cinco anos e maiores de 18 anos. Este trabalho buscou conhecer a escolaridade, cultura, conhecimento da área e do tema a ser pesquisado. Cabe salientar, que estes questionários foram baseados em pesquisas científicas com o mesmo enfoque (SIQUEIRA, 2008; BEZERRA et al, 2008; GARCIA et al, 2011).

O questionário está dividido em três aspectos: identificação e perfil do entrevistado; conhecimento e preocupação com o Meio Ambiente e conhecimento do Açude Riacho da Cachoeira.

 Para a análise e interpretação dos dados foi usado o programa SPSS Statistics 15.0 (Statistical Package for the Social Science) e foram utilizadas técnicas estatísticas descritivas, como distribuição de freqüência e tabulação cruzada (ou crosstabs).

 

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO        

 

3.1. IDENTIFICAÇÃO E PERFIL DO ENTREVISTADO

Para conhecer o perfil dos participantes deste estudo de percepção ambiental, foram analisados os seguintes critérios: sexo, faixa etária, escolaridade e tempo de moradia no município.

Desta amostra de 100 indivíduos, observou-se que 70% são do sexo feminino e 30% do sexo masculino. Vale ressaltar que os questionários foram aplicados no horário matutino e durante as visitas, percebeu-se que a maioria dos homens estavam em horário de trabalho, o que justifica este resultado.

Com relação à idade dos entrevistados, foram definidas categorias de faixas etárias que compreendem desde os 18 até  acima de 60 anos. Observou-se que 13% dos participantes estão na faixa entre 18 e 20 anos e a maioria dos entrevistados possui entre 21 e 30 anos (29%), seguida pela faixa entre 31 e 40 anos (17%). Cerca de 30% da amostra apresentam a faixa etária entre 41 e 50 anos (14%) e entre 51 e 60 anos (14%). Logo, apenas 13% dos participantes tinham acima de 60 anos. É importante destacar que estes dados corroboram com os resultados publicados no IBGE (2010).

Quanto à escolaridade, apenas 2% dos entrevistados possuem ensino superior completo. Em contrapartida, 34% dos entrevistados possuem apenas o 1° grau incompleto e 12% não tem escolaridade, dados estes que simbolizam a baixa escolaridade dessa comunidade conforme o censo do IBGE (2010) (Figura 2). Vale ressaltar que os participantes que possuem maior escolaridade (a partir do 2° grau completo) apresentam uma faixa etária entre 18 e 30 anos.

Em relação ao tempo de moradia, verificou-se que 83% dos participantes habitam o município há mais de 10 anos. O tempo de moradia mostra a grande ligação que a população tem com a região, já que a maioria desses entrevistados mora no município desde que nasceram.

 

Figura 2. Escolaridade da População do município de Lajes Pintadas

 

3.2. CONHECIMENTO E PREOCUPAÇÃO COM O MEIO AMBIENTE

O interesse em investigar os conhecimentos prévios da população em relação ao ambiente é de grande importância, pois é possível observar se a comunidade tem um entendimento sobre essa temática. Dessa forma, é imprescindível que as pessoas conservem o meio ambiente no qual estão inseridas.

Segundo GARCIA et al., (2011) “Para que futuros projetos em E.A. sejam efetivados, é necessário conhecer as concepções de meio ambiente das pessoas envolvidas na atividade”. Nesse sentido, é importante entender o que a população conhece sobre o tema, para que posteriormente seja realizado um trabalho de E.A. com ferramentas já colhidas por meio desse grupo de perguntas. Assim, a E.A deve buscar valores que conduzam a uma convivência harmoniosa com o meio ambiente, corroborando com objetivo do presente estudo.

Entendendo isso, foram elaboradas algumas questões para analisar a relação entre o meio ambiente e os moradores assim como a compreensão dos participantes sobre a temática em estudo. A primeira questão se refere aos conhecimentos sobre o que faz parte do meio ambiente, como demonstrado na tabela 1.

 

 

Para você o que faz parte do Meio Ambiente?

 

Naturais

Rios, árvores, plantas, lagos, ar, céu, as pessoas...

22%

Artificiais

Praças, ruas, caçadas, parques, casas, estradas.

3%

Todas as alternativas

Naturais e Artificiais

75%

Tabela 1. Percentual das respostas para a pergunta: Para você o que faz parte do meio ambiente?

 

Pode-se observar que a maioria dos entrevistados (75%) entende que os aspectos naturais e artificiais estão interligados no meio ambiente e que essa visão antrópica não é tida mais separadamente. Essa idéia é recorrente diante de um conhecimento globalizado, onde todos fazem parte do meio ambiente e têm a sua devida importância na natureza. Entretanto, vale ressaltar que 22% da população ainda acreditam que apenas o que vêm direto da natureza, é exatamente o que faz parte do meio ambiente. Este é um pensamento muito pragmático do século XIX, quando o naturalismo era visto como a resposta para todos os acontecimentos, inclusive retirando o ser humano como parte desse conceito. De fato, muitos entendem que natureza e ambiente são coisas idênticas, surgindo assim à necessidade de uma percepção mais crítica, com elementos culturais e naturais, conferindo uma preocupação social adequada na dimensão ambiental (Diegues, 1996).

É interessante destacar que 76% dos participantes afirmaram que sempre se preocupam com o meio ambiente. Esses dados estão mostrados na Figura 3 e é de fundamental importância para a interpretação da consciência ambiental que está sendo analisada. Segundo Leff (2001), a cidadania surge questionando a ordem atual estabelecida, legitimando novos valores e direitos do homem, de maneira que os movimentos de cidadania, mesmo sem uma clara condução estratégica de suas ações, aparecem no cenário das ações ambientais moldando novos atores sociais, fora do foco de atração das burocracias estatais e dos círculos empresarias, forjando assim, através de ações pró-ambientais, que reivindicam a autodeterminação de suas condições de existência e a auto-gestão de seus modos de vida, uma nova consciência no exercício da plena cidadania.

 

 

 

Figura 3. Percentual das respostas para a pergunta: Você se preocupa com o meio ambiente?

 

Quando questionados sobre o grau de prejuízo que os moradores traziam ou não ao Meio Ambiente, 42% afirmaram não causar nenhum prejuízo. Entretanto 33% dos participantes disseram que causam muito prejuízo, dado este alarmante no que diz respeito à preservação e conservação do meio, mostrando que uma parte da população ainda não reconhece a importância da relação entre o homem e a natureza (Figura 4).

Figura 4. Percentual das respostas para a pergunta: No seu dia-a-dia você considera que causa algum prejuízo ao meio ambiente?

 

Curiosamente, selecionou-se o grupo que afirma causar muito prejuízo ao meio ambiente e cruzou-se com os resultados referentes à preocupação que os moradores têm em relação ao meio em que vivem. Logo, foi visto que 79% dos participantes afirmaram que se preocupam com o meio, mas causam algum prejuízo ao mesmo. Diante dessa situação, sugere-se a realização de um trabalho de E.A de forma que esse conhecimento seja incluído nas escolas, famílias e na comunidade como um todo, pois a preocupação com o ambiente por si só não é suficiente. É necessário também que os conceitos e valores sejam expressos com a atitude correta. Ao analisar os problemas mencionados pelos entrevistados percebe-se que o esgoto (36%), o lixo (31%) e a poluição do açude (22%) foram os mais citados. Com esses dados é possível perceber que os moradores deste município não citam a poluição do Açude como o principal problema (Figura 5).

 

Figura 5. Percentual das respostas para a pergunta: Cite um problema ambiental que você acha que existe em sua cidade.

 

Por conseguinte, selecionaram-se apenas os entrevistados que citou a poluição do açude como o principal problema ambiental existentes no município.  A partir desses dados, foi feito o cruzamento com os resultados referentes à preocupação que os participantes têm em relação ao meio ambiente. Logo, encontrou-se que 63% dos moradores que se preocupam com o meio em que vivem, também acreditam que o açude da cidade está poluído.

Paralelamente, outra questão discutida com os entrevistados, avalia o grau dos problemas ambientais no município. Dentro desse contexto, 39% dos participantes julgaram que são graves 43% que são regulares, 15% que são baixos, e 3% não souberem responder. Estes dados corroboram com a maioria dos entrevistados que afirmam que os problemas ambientais existentes em sua cidade são de natureza regular ou grave como são os casos dos esgotos, o lixo e a poluição do açude que foram citados como problemas ambientais que deveriam ser tratados, mostrando a preocupação e o poder de observação dessa comunidade.

 

3.4 CONHECIMENTOS DO AÇUDE RIACHO DA CACHOEIRA

De fato, a comunidade científica vem se preocupando com a qualidade disponível de recurso hídrico, que cada vez mais sofre os efeitos oriundos das atividades antrópicas e/ou natural. Com isso, resolveu-se pesquisar o modo como a população do município de Lajes Pintadas preserva e conserva o açude local, denominado Riacho da Cachoeira.

O primeiro questionamento sobre esse tema é sobre a qualidade da água do Açude Riacho das Lajes Pintadas. Logo, percebe-se que a maioria dos participantes (68%), considera a água do açude ruim para o consumo (Figura 6).  Esse dado é justificado através da sua utilização, já que o açude é usado para banhar matar a sede de animais, alem disso várias casas se encontram as margens desse açude, onde a maioria não possui saneamento. Com isso a maioria dos moradores possui a consciência de que várias são as atividades antrópicas que são desenvolvidas nesse recurso hídrico, e que isso corrobora para uma diminuição na qualidade desta água.

 

Figura 6. Percentual das respostas para a pergunta: Como você considera a qualidade da água do açude do seu município se pudesse avaliá-lo?

 

Tendo em vista que 68% dos entrevistados consideram a qualidade da água do Açude ruim, buscou-se investigar se os mesmos consumem a água disponível neste recurso hídrico. Os dados mostraram que 30,8% dos participantes afirmam que a água do açude é ruim, porém, utilizam a água para beber, tomar banho, pescar, dentre outras atividades. Por outro lado, 84% dos participantes acreditam que a utilização da água do açude para o consumo, pode causar  algum prejuizo à saúde.

Dentro desse contexto, observou-se que 65% dos entrevistados consideram a água do açude tanto ruim como prejudicial a saúde (Figura 7). Este dado confirma a idéia que os participantes desta pesquisa acreditam que o açude do município passa por problemas ambientais. Todavia, muitos participantes não se preocupam em preservar o meio onde vivem, fato este que mostra a necessidade de atividades educacionais voltadas nesse sentido. A “educação deveria ser capaz de reorientar as premissas do agir humano em sua relação com o meio ambiente” (Grün, 2003). A prática de conhecer para preservar é de extrema importância para adquirir uma identidade de cidadania no ambiente em se vive, sendo capaz assim de entender e interpretar as atividades sociedade e natureza.

 

 Figura 7. Cruzamento das respostas para as perguntas: Como você considera a qualidade da água do açude do seu município se pudesse avaliá-lo? / Você acha que a água do açude pode prejudicar a sua saúde?

 

Visto a problemática na região sobre o Rn, um dos questionamentos desta pesquisa foi investigar se as pessoas de Lajes Pintadas tinham algum conhecimento a respeito desse gás radioativo. Logo, notou-se que 79% dos entrevistados afirmam nunca ter ouvido falar no Rn e os outros 21%, relataram que conhecem ou que já ouviram falar de sua existencia. Diante desse resultado, é necessário que seja realizado junto com a EA um trabalho de divulgação do conhecimento científico sobre o Rn através de palestras e distribuição de um material educativo como panfletos.

Quando obteve-se os resultados com relação as porcentagem da população que possuiam ou não algum conhecimento sobre o Rn, cruzou-se o número de pessoas que não possuem a ciência  sobre o gás com a parcelada da população entrevistada que utiliza a água do açude para consumo direto ou indireto. O resultado mostrou que aproximadamente 64% da população entrevistada desconhecem o Rn e consomem a água, como mostra a figura 8.

 

Figura 8. Cruzamento das respostas para as perguntas: Com relação ao açude da cidade, como você utiliza esse recurso? / você já ouviu falar de Radônio?

 

Em contraste com os impactos que essa população afirma trazer com relação à natureza, a figura 9 mostra que 54% da população não consegue imaginar o município sem o Açude, 22% afirma nunca ter pensado que isso pudesse acontecer e uma pequena parcela (24%) dessas pessoas entrevistadas afirmam imaginar a cidade sem o açude.  

 

Figura 9. Percentual das respostas para a pergunta:  Você imagina o Município de Lajes Pintadas sem o Açude?

 

A escolha pelo trabalho com percepção ambiental traz a necessidade de aquisição de informações sobre os conhecimentos que os moradores do município têm em relação ao tema estudado. Para uma melhor compreensão da relação da população com o açude, foi feita um pergunta aberta, na qual se pede para descrever “O que o Açude representa para você?”. Com o intuito de facilitar a interpretação das diferentes respostas, estas foram classificadas em duas categorias: positivas e negativas conforme Garcia et al. (2010). Dentre as positivas, 73% dos entrevistados escolheram essa categoria, como mostrado na seguinte resposta:

“Representa muito pra mim, ficará para sempre guardado na minha memória, esse açude foi a nossa salvação quando não tinha água da CAERN, em 1993 teve uma época de muita seca, e usávamos a água do açude para lavar roupa, tomar banho, dar descarga, a água abastecia as casas, sem esse açude os animais iam morrer de fome e sede” (Mulher, 65 anos).

Em contraste, 27% dos entrevistados escolheram a categoria negativa, onde a maioria afirmava que o açude não representa nada, outras não conseguiram responder o porquê da falta de importância. Destaca-se, então, um dos depoimentos desta categoria, onde uma mulher de 46 anos demonstra a irrelevância do Açude para ela, já que sua residência é abastecida através da adutora:

“Para mim não tem interferência nenhuma, porque a minha água é encanada” (Mulher, 46 anos).

A análise desta questão aberta corroborou com todas as questões fechadas, já que se percebe que a população tem ciência da importância da conservação do meio ambiente, assim como a acuidade do Açude para preservação de todas as formas de vida existentes na região. Segundo Santos e Brito (2009), este tipo de análise permite interpretar e avaliar o processo de degradação ambiental, processo este de extrema importância para o planejamento de ações ambientais.

 

4. CONCLUSÕES e PERSPECTIVAS

De acordo com os dados obtidos, é possível concluir que:

·        A população da cidade de Lajes Pintadas possui ciência sobre a Natureza e Meio ambiente, porém muitas possuem uma visão Naturalista.

·        Ressalta-se que 64% dos entrevistados consomem a água do Açude e afirmam nunca ter ouvido falar do Rn.  

·        Observou-se que os entrevistados assumem sua responsabilidade diante aos problemas ambientais existentes no município.

·        Notou-se que a interação dos moradores com natureza é bastante intensa, pois a maioria dos depoimentos mostraram preocupação com o Açude e com a sobrevivência dos seres vivos que dependem da disponibilidade desse recurso hídrico.

·        Constatou-se que parte dos entrevistados afirma que causam muito prejuízo ao Meio Ambiente. Com isso, a região de Lajes Pintadas necessita de atividades educacionais, principalmente voltadas para a E.A., que visem a contribuir diretamente com toda a comunidade, seja em sua qualidade de vida, ambiental, econômico e social.

Tendo assim a perspectiva que:

·        Os dados obtidos neste trabalho servirão de base para a elaboração de atividades de E.A. na região semi-árida do Estado do Rio Grande do Norte, visando atingir o objetivo principal que é a sensibilização da população para os problemas locais, em especial, a questão dos recursos hídricos em regiões de escassez de água e um maior conhecimento sobre o Radônio.

 

5. REFERÊNCIAS

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DAVIDOFF, L. (1983). Introdução à Psicologia. São paulo: Mc Graw-Hill.

 

DIEGUES, A.C. (1996). O Mito Moderno da Natureza Intocada. São Paulo, Hucitec, 168p.

 

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GARCIA, A. F.S.; AMARAL, V.S. do; MEDEIROS, S.R.B de (2011). Percepção Ambiental no Sertão do Estado do Rio Grande do Norte: Um estudo de caso. Educação Ambiental em Ação, n° 25.

 

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GRÜN, Mauro. (2003) A Outridade da Natureza na Educação Ambiental. In: 26a Reunião Anual da ANPED. Poços de Caldas.

 

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MARCON, A. E.; FERREIRA, D. M.; MOURA, M. F. V.; CAMPOS, T. F.C.; AMARAL, V. S.; AGNEZ-LIMA, L. F.; DE MEDEIROS, S. R. B. (2010). Genotoxic analysis in aquatic environment under influence of cyanobacteria, metal and radioactivity. Chemosphere N°81(6), p. 773-780

MARIN, Andreia Aparecida (2008). Pesquisa em educação ambiental e percepção Ambiental. Pesquisa em Educação Ambiental vol. 3, n. 1 – pp. 203-222.

 

MINISTERIO DE MINAS E ENERGIA SECRETARIA DE GEOLOGIA, MINERAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO MINERAL (2005). DIAGNÓSTICO DO MUNICÍPIODE LAJES PINTADAS.

 

KRASILCHIK, M. & PONTUSSHKA, N. N. (Org.). (2006). Pesquisa Ambiental: Construção de um Processo Participativo de Educação e Mudança. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo. 272 p.

 

Leff, E. (2001). Saber Ambiental. Petrópolis, Editora Vozes.

 

SANTOS, Margarida V. Maia dos; BRITO, Natilene Mesquita (2009). A percepção ambiental em relação ao Rio Anil de alunos da unidade integrada Professora Zuleide Bogéa do Bairro do Anil, em São Luis, MA. In: Anais do Congresso Iberoamericano de educación ambiental. San Clemente del Tuyú, Argentina.

 

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Ilustrações: Silvana Santos