Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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19/09/2003 (Nº 4) A ÁGUA NOSSA DE CADA DIA
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A  ÁGUA NOSSA DE CADA DIA

 

                                                                                   “Até que o sofrimento lhe ensine,

                                                                                o homem não avaliará o valor da água.”

                                                                                                          (Lord Byron, 1789-1824)

 

Segundo Abrahan V. Faundez e Ricardo V. Horta, 1998,  Água é  um composto químico estável, formado pela união de dois elementos: Hidrogênio (H) e Oxigênio (O) os quais existem separadamente na natureza. Sua fórmula química molecular é H2O . Tal fórmula nos indica que uma molécula de água está constituída por dois átomos de hidrogênio e um átomo de oxigênio. A água própria para o consumo humano deve ser incolor, inodora, transparente, de sabor agradável e não deve conter mais do que 2 gramas de sais dissolvidos por litro e estar a uma temperatura entre 8 e 11 graus centígrados, não conter nenhuma espécie de germes infecciosos e nenhuma substância nociva à saúde. Entretanto, nestes últimos tempos ela  tem se apresentado  nas mais variadas formas (lama, pastosa, etc.),  aparência (vermelha, marrom, verde, escura, etc.) e de diversos aromas, devido às sucessivas agressões que  vem sendo vítima por parte de quem depende dela, tem consciência da sua importância  mas que tem sido insensível, tratando-a com irresponsabilidade e desprezo.

Possivelmente este precioso líquido apareceu no planeta há alguns bilhões de anos e se encontra até  hoje presente  nos estados sólido, líquido e gasoso. O nosso planeta está localizado numa posição privilegiada, o que faz com que podemos utilizar a água em todos os seus estados. Se a Terra estivesse mais próximo do Sol, receberia mais energia e, possivelmente, todo o líquido precioso evaporaria. Se estivesse mais distante, é possível que os oceanos estariam congelados.

Calcula-se que na Terra tenha aproximadamente uns 38 milhões de km3 de água doce, dos quais 29 milhões em estado sólido nas calotas polares. Aproximadamente 4 milhões se encontram na parte subterrânea e 5 milhões de km3 na  superfície do planeta.

De toda água do planeta 97,2% está representada pelos mares. Os outros cerca de 3% formam os rios, lagos, nuvens e vapor d’água; destes 3%,  aproximadamente 76% estão sob forma de gelo nas calotas polares. A água contida nas calotas polares é cerca de 100 vezes  mais  que as águas dos lagos, rios e da atmosfera.

O Brasil tem 12% das reservas mundiais de água potável. Entretanto, desperdiça 30% de sua água tratada. No nosso país a agricultura  consome 70% das águas, a indústria 15% e os outros 15% ficam para o abastecimento doméstico.  No mundo os percentuais são os seguintes: agricultura consome 69%,  a indústria é responsável por 23% do consumo, e o uso doméstico com 8%. (WWF).

Segundo o Guía Metodologica de Educación Ambiental, Chile, 1998,  na agricultura para se produzir uma tonelada de trigo, consome-se 1.500.000 litros de água;  aproximadamente 4.000.000 de litros de água são gastos para produzir uma tonelada de arroz. Quando comemos um quilo de pão devemos ter em mente que durante o processo de fabricação deste importante alimento foram gastos aproximadamente 1.500 litros desta bebida sagrada. Quanto à indústria, para se fabricar uma tonelada de cimento são necessários 3.500 litros de água; durante o processo de fabricação de uma tonelada de aço, consome-se  250.000 litros do precioso líquido, e para produzir uma tonelada de papel o consumo está situado entre 220.000 a 380.000 litros.

 Imagine esta folha de papel que você está lendo...Quanto ao uso da água em nossos lares, uma pessoa consome em  média 250 litros durante todas as suas atividades diárias.  

De acordo com a Lei Estadual-ES No. 5.818 que estabelece a Política Estadual de Recursos Hídricos, a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico e um bem de domínio público. Salienta ainda a referida lei que todos devem ter acesso a água desde que não comprometa sua disponibilidade e qualidade para o abastecimento público.

A mencionada lei, dentre outras providências, cita na Seção VI, Art. 24 que a cobrança pela utilização dos recursos hídricos tem como objetivo reconhecer a água como bem econômico e dar ao usuário a indicação de seu real valor e incentiva a racionalização do uso da mesma.

O que se observa na lei que ela conclama a todos nós para uma reflexão muito séria sobre o assunto. Por exemplo, quando ela diz que é uma recurso natural limitado, entenda-se que nós não podemos fabricar a água como se fosse uma carro, uma camisa  e muito menos construir um rio para passar na propriedade de alguém. A água é um bem finito. Ou seja, ela tem fim! Não que ela sairá do planeta;  ela irá para outros locais onde  será amada e venerada por alguém e que neste local ela poderá “se reproduzir”  através do ciclo da chuva. Assim, devemos refletir sempre quando estamos saciando nossa sede: um dia de verão, com o termômetro próximo aos 40 graus  estamos caminhando ou trabalhando  e quando sentimos sede e não encontramos água para beber!  Por isso que este precioso líquido tem um real valor e estamos pagando por isso. Diante do quadro que se nos apresenta é necessário mudar a nossa forma de agir, não somente com a água, mas também com todo o ambiente que compõe a nossa comunidade, nosso município, estado, país, continente, mundo e o cosmo. 

Por isso é imperiosa a participação de toda a sociedade no processo de gerenciamento das águas, a integração dos esforços entre as instituições, órgãos governamentais e a população. Todos têm que assumir uma quota de responsabilidade nesta importante missão que é a de usar racionalmente esta finita fonte de vida. Os que possuem terreno e dentro deles possuem  alguma nascente ou os que têm seus terrenos cortados por algum rio ou repousam lagos devem estar preparados e envolvidos com firme propósito de utilizar estar importante commodity com um profundo grau de sustentabilidade. Os que não foram abençoados em seus terrenos com este presente, poderão desenvolver técnicas para a coleta de águas das chuvas. Já os que não se encaixam nestas categorias, cada um na sua área de atuação, seja ela de caráter profissional,  recreativa, cultural, etc., através do nível de conhecimento que domina, deverão orientar, informar, concientizar os outros cidadãos para demonstrar na prática atos que possam melhorar o uso e o relacionamento com a nossa água de cada dia. Só consciência  não basta. É preciso  intervir na realidade, através de ações diárias em prol do meio ambiente.

Para que a água chegue às nossas casas ela passa por um longo e custoso processo que envolve enormes investimentos. São os seguintes as etapas deste importante processo de colocar este líquido  vital em nossas mesas:

 * Captação 

* Pré-cloração

      * Adição de agente coagulante

        * Floculação 

   * Decantação

* Filtração

*Desinfeccão e Fluoretação

 *  Controle acidez / alcalinidade

            * Reservatório e distribuição

                                                                        (Mov. Cid. pelas Águas-2001)  

Após uma leitura e reflexão sobre o caminho trilhado pela água até chegar às nossas torneiras em condições para o consumo é de se esperar que, a partir deste momento, haja uma maior preocupação e responsabilidade quando utilizarmos a água em nossas atividades diárias. O Artigo 7o da Declaração Universal dos direitos da Água diz que “A água não deve ser desperdiçada, nem poluída, nem envenenada. De maneira geral sua utilização deve ser feita com consciência e discernimento para que não se chegue a uma situação de esgotamento ou deterioração da qualidade das reservas atualmente disponíveis.”

A pesar do artigo nos fazer um chamamento à responsabilidade no uso da água, é muito comum vermos  algumas pessoas desperdiçando água quando estão limpando as calçadas, que deveriam ser varridas com a vassoura e não com o líquido precioso. Em outra situação percebemos o mesmo comportamento, quando estão lavando seus carros é comum parar para conversar e deixar a mangueira vazando, sem entretanto, se importar com o desperdício. Crianças (e porque não dizer os adultos) também adoram brincar com água. Esta água que está vazando fará falta para outra  pessoa, em outro lar, bairro, empresa, escola, etc.  Por outro lado, já é hora de aproveitarmos a água que liberamos da máquina de lavar roupa ou  da lavadora dos pratos, da água que lavamos a casa: esta água poderia ser canalizada para dar descarga no sanitário (se este estiver abaixo), lavar o piso ou outra superfície  da residência; e se esta mesma água não contiver produtos químicos poderá ser usada para aguar o jardim, a horta ou dar um bom banho nos animais. Podemos também utilizar a água do cozimento dos vegetais, legumes ou carnes e aproveitá-la para cozinhar o arroz ou outro alimento

Uma outra prática frequênte é  deixar a torneira da pia aberta enquanto escovamos os dentes,  o registro do chuveiro também aberto quando tomamos banho.  Contudo, já é possível perceber pequenas mas significativas mudanças por parte  da população, quanto ao desenvolvimento de bons hábitos o que demonstra um aumento do nível de consciência ambiental,  através da aquisição de novos conhecimentos, habilidades e a incorporação de novas atitudes e valores, demostrando uma real preocupação quanto ao uso de forma racional e responsável de nossos recursos hídricos.   

Ao invés de nos preocuparmos com os grandes problemas ambientais mundiais seria melhor fazer a nossa parte dentro da nossa casa, na nossa rua, na comunidade, no bairro, e desta forma, o mundo todo iria mudar para melhor. A minha ação local, poderá ter consequência global. Se uma pessoa contaminar a nascente de um rio, certamente o impacto catastrófico será sentido ao longo de todo o seu percurso, ou seja, longe da fonte geradora do impacto,  o que poderia ocasionar desde a mortandade da vida aquática, contaminação de alimentos que são produzidos  com  a irrigação, até problemas de saúde nas pessoas que moram bem distante, que se utilizam desta água para beber e preparar seus alimentos.    

É muito provável que dentro de 15 ou 20 anos não teremos mais água própria para o consumo doméstico ou para outras finalidades. Então, diante desta situação ou mudamos de comportamento o mais rápido possível ou teremos que enfrentar preços exorbitantes daqui em diante  para consumir o precioso líquido. É muito provável que em alguns locais nem pagando os habitantes terão água para beber.  Ou mudamos por amor ou pela dor!                  

Alguns dados que merecem  ser lembrados quando utilizamos a nossa água de cada dia:

 

·          Segundo o Relatório das Nações Unidas (Setembro de 2002), alerta para o futuro do

·          planeta, informando que 40% da população mundial já enfrenta escassez de água, e  que 2, 2 milhões de pessoas morrem a cada ano por beberem água contaminada.

·        Aproximadamente 21 países já sofrem com a escassez de água

·        A partir de 2025, segundo a ONU, teremos uma séria crise de abastecimento de água, atingindo 2,8 bilhões de pessoas

·        Conflitos violentes pelo controle da água são registrados em 70 regiões do planeta

·        O consumo mundial de água dobra a cada 20 anos

·        A disponibilidade  de água per capita no planeta foi reduzida em 60% nos últimos 50 anos

·        25% da população do planeta não tem acesso à  água potável

·        No mundo, 50%  da água que vai para as grandes cidades é desperdiçada; no Brasil este percentual chega a 40%.

·        99% da água existente no planeta não está disponível para o uso humano

·        No mundo ocorrem 4 milhões de casos de diarréia por ano.

·        72% dos leitos hospitalares são ocupados por pacientes vítimas de doenças transmitidas pela água.

·        58% dos municípios brasileiros não têm água tratada.

·        Na América Latina, entre 1992 e 1995, houve 1 milhão de casos de cólera, com 10 mil mortes. (Min.Saúde/OMS)

·         

Portanto, não devemos perder tempo. É chegada a hora de cada um dar a sua contribuição, porque no meio ambiente tudo e todos estão dentro de um mesmo  “espaço.” Não adiante alguém dizer que  “isto não é comigo.” Alguém poderá não ser o responsável por cometer algum tipo de crime ambiental, mas certamente todos nós sofreremos as nefastas consequências.

Do contrário vamos enfrentar  amargas dificuldades num futuro bem próximo. A sobrevivência da nossa espécie  e de outras depende de nós mesmos. Se o homem  foi capaz de causar tantos danos ambientais, ele certamente,  também deverá ser capaz de  reparar  ou amenizar seus efeitos maléficos. Evidentemente, ele deverá  sentir a necessidade, ter instrumentos adequados e possuir um nível de consciência bem mais elevado do que  quando provocou os impactos negativos.  

Prof. Zenobio Eloy fardin

Graduado em Geografia

Pós-Graduação em EPB

Mestrando em Educação (enfoque Educação Ambiental)

Telefax (02) 3336-3418

E-mail: zenobiofardin@bol.com.br

 

 

 

Ilustrações: Silvana Santos