Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2018 (Nº 38) A CONCEPÇÃO DE MEIO AMBIENTE DE UM GRUPO DE ALUNOS DO CENTRO EDUCACIONAL LINDOLFO JOSÉ TRIERWEILLER EM SINOP- MATO GROSSO
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Revista Educação Ambiental em Ação 38

A CONCEPÇÃO DE MEIO AMBIENTE DE UM GRUPO DE ALUNOS  DO CENTRO EDUCACIONAL LINDOLFO JOSÉ TRIERWEILLER EM SINOP- MATO GROSSO

 

 

Sinovia Cecília Rauber

Mestre em Ciências Ambientais, UNEMAT, Graduada em Biologia e Pedagogia Professora da Rede Municipal de Ensino de Sinop/MT

End. Rua das Primaveras, 4298, Centro. CEP: 78550-000 – Sinop/MT

  sinoviapy@yahoo.com.br

 

Rosimeire Vilarinho da Silva

Mestre em Ciências Ambientais, UNEMAT, Graduada em Pedagogia

Professora da Rede Municipal de Ensino de Sinop/MT

Profissional Técnico do Ensino Superior - UNEMAT

End. Av. Dos Ingás, 3001, Centro, Cep. 78550-000 – Sinop/MT 

rosimeirevilarinho@hotmail.com

 

                                                            Germano Guarim Neto

 Doutor em Botânica - INPA

Professor do Departamento de Botânica e Ecologia – UFMT

End. Av. Fernando Correa s/n Coxipó, Cep: 78060-900 – Cuiabá/MT

guarim@ufmt.br

 

 

 

Resumo

 

            Diante da necessidade de proporcionar uma reflexão sobre o tema Meio Ambiente no ensino formal, o trabalho teve por objetivo descrever as representações de Meio Ambiente de duas turmas de alunos do Ensino Fundamental do Centro Educacional Lindolfo José Trierweiller em Sinop/MT e verificar como a referida escola desenvolve esta temática. Foram aplicados questionários para duas turmas, uma do 6º ano e outra do 9º ano do Ensino Fundamental, no período vespertino. Também foi aplicado um questionário à direção da escola para levantamento de dados e descrição de como o tema é desenvolvido pela escola.  Através das representações reveladas constatou-se que se faz necessário um trabalho de sensibilização sobre o tema Meio Ambiente que considere também a dimensão social por meio da Educação Ambiental.

 

Palavras-chave: alunos; Meio Ambiente; representação; educação.

 

 

 

1. INTRODUÇÃO

 

 

A Política Nacional do Meio Ambiente foi instituída através da Lei Nº 6.938 de 1981, tendo como objetivo “a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no país, condições ao desenvolvimento socioeconômico,  aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana”.  Considera o Meio Ambiente como um patrimônio público a ser assegurado e protegido e o define como “um conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas(Art. 3º).

Para Reigota Meio Ambiente “é um lugar determinado e/ou percebido onde estão em relações dinâmicas e em constante interação os aspectos naturais e sociais” (2006, p. 21). Esse conceito ressalta a necessidade de uma compreensão holística do Meio Ambiente e não somente em seus aspectos bióticos e abióticos.

            Para o desenvolvimento desse tema no ensino formal os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997) propõe Meio Ambiente enquanto tema transversal, devendo ser abordado em todas as disciplinas. Em âmbito escolar segue-se o projeto político pedagógico, o qual prevê ou serve de base para os conteúdos didáticos específicos em cada etapa do ensino.

No Brasil, conforme orientação da Política Nacional de Educação Ambiental (Lei nº 9795/99) e do Programa Nacional de Educação Ambiental (PRONEA), o cenário é rico em ações relacionadas às questões sociais e ambientais. Suas ações destinam-se a assegurar, no âmbito educativo, a integração equilibrada das múltiplas dimensões da sustentabilidade - ambiental, social, ética, cultural, econômica, espacial e política - ao desenvolvimento do país, resultando em melhor qualidade de vida para toda a população brasileira, por intermédio do envolvimento e participação social na proteção e conservação ambiental e da manutenção dessas condições ao longo prazo.

No Estado de Mato Grosso a Educação Ambiental é proposta como essencial na educação, devendo estar presente de forma articulada em todos os níveis e modalidades do ensino, conforme a Lei nº7888/2003 que institui a Política Estadual de Educação Ambiental.

No município de Sinop-MT, a Educação Ambiental está prevista na Lei Orgânica Municipal (1990), no Plano Diretor (2006), e mais recentemente no Plano Municipal de Educação (2008) como necessidade de ser promovida em todos os níveis do Ensino Público Municipal.

            Diante da necessidade de proporcionar uma reflexão sobre o tema Meio Ambiente no ensino formal, esse trabalho teve por objetivo descrever as representações de Meio Ambiente de duas turmas de alunos do Ensino Fundamental do Centro Educacional Lindolfo José Trierweiller em Sinop/MT e verificar como a referida escola desenvolve esta temática.

 

2. MATERIAIS E MÉTODOS

 

            A pesquisa foi realizada no mês de julho de 2010 no Centro Educacional Lindolfo José Trierweiller em Sinop-MT, que foi criado no ano de 1996, autorizada sob a resolução Nº 10/2008 do Conselho Municipal de Educação. A escola atende 803 alunos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental, com um IDEB de 4,7.

Para obtenção das representações de Meio Ambiente dos alunos utilizou-se um questionário estruturado, que de acordo com Triviños (2009) “são meios neutros e adquirem vida quando o pesquisador os ilumina com determinada teoria” (p. 137).

Os questionários foram aplicados em duas turmas, sendo uma do 6º ano e outro do 9º ano do Ensino Fundamental. Optou-se por essas turmas para fazer uma análise comparativa, observando se há diferença relevante nas concepções de Meio Ambiente entre elas, dada as turmas serem das séries/anos finais do Ensino Fundamental. Foi aplicado um questionário à direção da escola para levantamento de dados e descrição de como o tema é desenvolvido pela escola.

 

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

 

Foram aplicados 24 questionários, obtendo a representação de Meio Ambiente dos alunos, bem como os aspectos observados do caminho de suas casas até a escola. Os alunos residem em sua maioria no Bairro Jardim Imperial, o mais próximo da escola, e também em outros como: Novo Estado, Jardim Boa Esperança, Jardim Europa, Jardim das Violetas, Santa Rita, Jardim Paraíso, Jardim Vitória Régia, Jardim Itália II e Maria Vindilina, demonstrando uma diversidade de público atendido, tanto da área central como da área periférica da cidade. Os alunos do 6º ano apresentam idade entre 10 e 12 anos. Já os do 9º ano têm faixa etária entre 13 e 15 anos, sendo a maioria deles nascidos em Sinop/MT.

            Para o desenvolvimento do tema Meio Ambiente no ensino formal é fundamental o conhecimento prévio dos alunos, pois a escola, sendo um espaço de interação social, promotora de conhecimentos, trabalha com público diverso, com diferentes experiências, costumes, valores, necessidades e potenciais a serem estimulados.

            Para isso, é de suma importância o conhecimento das representações desse grupo social, pois de acordo com Alves-Mazzotti (1994), as representações trabalham como teorias que orientam a interferência de grupos na sociedade, por isso são denominadas como saber do senso comum. Assim sendo “as representações sociais equivalem a um conjunto de princípios construídos interativamente e compartilhados por diferentes grupos que através delas compreendem e transformam sua realidade” (REIGOTA, 1997, p.70). 

            Desse modo Reigota (1997), identifica três categorias que definem a representação social de Meio Ambiente, sendo elas a Naturalista: onde o meio ambiente é considerado sinônimo de natureza, traduzindo-se em elementos bióticos e abióticos, onde o ser humano é considerado um elemento externo; Antropocêntrica: o meio ambiente é reconhecido pelos seus recursos naturais que estão em função da espécie humana; Globalizante: o meio ambiente é reconhecido pelas relações entre sociedade e natureza, sendo o homem integrante deste processo.  Sendo assim, a Tabela 1 abaixo mostra as representações das duas turmas.

 

Tabela1: Representação de Meio ambiente dos alunos

Categorias

           6º ano

9º ano

Naturalista

          40%

50%

Antropocêntrica

          50%

43%

Globalizante

          10%

7%

           

Verifica-se que a visão naturalista e antropocêntrica é predominante nas duas turmas, ou seja, o Meio Ambiente ainda é visto como natureza, recurso e está em função das necessidades humanas. Como revelam as falas:

Meio ambiente para mim é uma coisa muito importante. É uma coisa que está em nossas mãos que a gente comanda (M, 11 anos, 6º ano – antropocêntrica).

 

O Meio ambiente para mim ou para os outros talvez é o ambiente em que vivemos. No caso as nossas florestas, pois sem elas não existiria a madeira [...] é a fonte de nossa sobrevivência (M, 14 anos, 9º ano – antropocêntrica).

 

 Para mim é como a Amazônia, árvores, rios, mata e principalmente os bichos (F, 14 anos 9º ano - naturalista).

 

É um lugar que não há queimada, desmatamento e caça ilegal, é um lugar que a gente pode conviver em paz com a natureza e os animais (M, 12 anos, 6º ano - naturalista).

           

            Acredita-se que estas representações de Meio Ambiente aparecem com maior intensidade devido o município de Sinop estar inserido no Bioma Amazônico, constantemente debatido pela mídia, onde são evidenciados aspectos do desmatamento, queimadas entre outros. Ainda pode estar relacionado à maneira como o tema é tratado na escola, sendo mais enfatizado na disciplina de ciências.

Para compreender a visualização de Meio Ambiente vivenciada pelos alunos, questionou-se sobre o que eles observam no Meio Ambiente do caminho de suas casas até a escola. No Quadro 1 estão elencados os aspectos observados, sendo agrupados nas categorias natural, modificado e negativo.

 

Quadro 1: Aspectos observados no Meio Ambiente no caminho de casa até a escola

Aspectos

Observações

6º ano

Observações

9º ano

 

Naturais

Animais, árvores,

Flores, pássaros, plantas, reserva

Animais, árvores, flores, floresta, grama, pessoas, plantas, viveiro

 

Modificados

Asfaltamento de ruas, carros, casas, construções, maquinários trabalhando, estabelecimentos comerciais, ruas, motocicletas

Automóveis, casas, estradas, madeira, urbanização

 

Negativos

Desmatamento, fogo, fumaça, lixo, Poluição

Desmatamento, desperdício de água, emissão de gases, lixo, mau cheiro, poeira, poluição, queimadas, respiração abafada

           

Nos aspectos naturais, os componentes da flora e da fauna são evidenciados nas duas turmas, porém os alunos do 9º ano apresentam a observação “pessoas” como parte do Meio Ambiente. O que já demonstra uma visão mais ampla do Meio Ambiente.

Os aspectos modificados pelo homem são mais detalhados pelos alunos do 6º ano. Porém, os alunos do 9º ano os compreende com a observação “urbanização”. Dentre os aspectos negativos que foram mais perceptíveis, estão presentes os mais debatidos nos meios de comunicação como: desmatamento, queimada, lixo e poluição.

É possível constatar que nos aspectos naturais os componentes da flora e da fauna são evidenciados, não havendo diferença relevante entre as duas turmas, sendo que os alunos do 9º ano trazem as pessoas como parte desse Meio Ambiente. Já nos aspectos modificados pelo homem são mais diversificados na turma do 6º ano. Dentre os aspectos negativos que são perceptíveis para as duas turmas estão: desmatamento, queimada/fogo, lixo e poluição. E são visualmente os que mais estão presentes no dia a dia dos alunos e são também os mais debatidos nos meios de comunicação. Já os alunos do 9º ano revelam aspectos mais sensíveis ao corpo humano como: mau cheiro e respiração abafada.

Vale ressaltar, que houve um  pequeno avanço  em relação a compreensão de Meio Ambiente, quando compara-se  as duas turmas (6º e 9º ano). Pode-se constatar que os alunos do 9º ano apresentam uma visão mais abrangente de Meio ambiente, trazendo a figura humana como parte deste.

Sendo assim é importante que a escola continue discutindo o Meio Ambiente enquanto tema transversal, pois é papel dela proporcionar aos alunos vivências, experiências, que os levem a uma compreensão cada vez mais ampla de Meio Ambiente, pois esse:

Vai além das dimensões biofísicas, quanto à vegetação, o hídrico, a fauna, os solos, a atmosfera. Envolve da mesma forma a dimensão sociocultural que é constituída pelos processos epistemológicos e societais, portanto as configurações dos conhecimentos, das técnicas, das estruturas e das relações sociais (ZART, 2004, p. 13).

Segundo informações da coordenação, a escola desenvolve o tema Meio Ambiente “por meio de projetos em parceria com o programa AGRINHO e de forma interdisciplinar, fazendo um resgate entre o aprender para a escola e o aprender para a vida, fazendo que a escola deixe de ser um mundo à parte.

            Cabe ressaltar que a escola desenvolve projeto de iniciativa externa, sendo essa situação observada na maioria das escolas do município. Isso se deve a carência de materiais e metodologias que contemplem o tema, revelando a necessidade de uma política de incentivo local. Nesse caso é importante que a escola atente para sua realidade e utilize dessas ferramentas numa concepção crítica.

 

 

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

           

Observou-se que alunos do 9º ano apresentam uma visão mais ampla  de Meio Ambiente, mesmo ainda tímida, mas revelam um indicativo fundamental que é presença das pessoas no Meio Ambiente, ou seja o compreendem de forma mais holística. 

Nesse sentido, ainda se faz necessário um trabalho de sensibilização sobre o tema que considere também a dimensão social, já iniciando no 6º ano do Ensino Fundamental, assim como também o aprofundamento das discussões acerca da temática no 9º ano, possibilitando uma visão ainda mais crítica acerca dos aspectos socioambientais.

Assim sendo a Educação Ambiental no ensino formal, desempenha um importante papel na formação da cidadania dos alunos, para que esses possam sentir-se em constante interação com o Meio Ambiente. Para isso, é importante a proposição de uma política de formação continuada com os professores, pois é através de estudos, discussões, diálogos e reflexões que esses atores podem promover a implementação dessa abordagem no ensino formal.

 

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

ALVES-MAZZOTTI, A. J. Representações sociais: aspectos teóricos e aplicações à educação. Em aberto, Brasília, INEP, v. 14, n. 61, p. 60-78, 1994.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: introdução aos parâmetros curriculares nacionais. Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília : MEC, 1997.

BRASIL. Lei nº9795/99. Institui a Política Nacional de Educação Ambiental. Brasília: 1999.

BRASIL. Lei Nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Estabelece a Política Nacional do Meio Ambiente. Disponível em www.planalto.gov.br/ccivil Acesso em 20 de fev. 2010.

MATO GROSSO. Lei Nº 7888 - 2003. Institui a Política Estadual de Educação ambiental. Cuiabá-MT: 2003.

REIGOTA, M. Meio ambiente e representação social. 2ª Ed. São Paulo: Cortez, 1997.

REIGOTA, M. O que é Educação Ambiental. São Paulo: Brasiliense, 2006.

SINOP. Prefeitura Municipal. Lei Orgânica de Sinop. Sinop-MT: 1990.

SINOP. Lei 029/2006. Cria o Plano Diretor de Sinop. Sinop-MT: 2006.

TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. 1ª ed. – 18ª reimpr. – São Paulo: Atlas, 2009.

ZART, L. L. Educação Ambiental Crítica: o encontro dialético da realidade vivida e a utopia imaginada. Cáceres/MT: Unemat Editora, 2004.

 

 

Agradecimentos

 

Agradecemos a direção da escola pela recepção e autorização para realização de nossa pesquisa e aos alunos participantes, que colaboraram com nosso trabalho. 

Ilustrações: Silvana Santos