Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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19/09/2003 (Nº 4) A CARTA DA TERRA COMENTADA - COM SUGESTÕES PARA TRABALHOS COM DOCENTES
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A CARTA DA TERRA COMENTADA - COM SUGESTÕES PARA TRABALHOS COM DOCENTES

(Módulos de Atividades indicado para coordenadoras)

 

Introdução

A Carta da Terra é um dos documentos mais significativos utilizados nas atividades que constituem a Educação Ambiental/EA:

 A idéia da Carta da Terra surgiu a partir da Eco 92, onde a ONU criou um órgão que posteriormente foi transformado na ONG Earth Council, com sede na Costa Rica. Uma de suas missões é elaborar e manter atualizada a Carta da Terra, uma declaração universal para orientar a humanidade a caminhar com o desenvolvimento sustentável e criar uma ética globalizada, um código de conduta para pessoas e nações rumo à sustentabilidade, capaz de refrear o consumismo predatório dos países ricos e eliminar a escassez extrema, não só de alimentos, como de educação, oportunidades, informação e meios de sobrevivência básicos[1] .

 Por isto, pela sua beleza e importância, apresentamos a proposta de trabalho integrado desta carta com educadores e educadoras, a fim de incentivar o seu uso como recurso para o desenvolvimento de uma nova consciência, oportunizando aos educadores e educadoras vivenciar valores que serão repassados para alunos e alunas.

A principal finalidade é a de proporcionar ao corpo docente uma vivência significativa deste importante documento de referência sobre a Educação Ambiental. Nós, educadores/as, devemos ter consciência de que é chegada a hora de MUDAR, de ousar, de buscar alternativas pedagógicas derrubando os muros das práticas educacionais tradicionais e cartesianas, deixando penetrar, no ambiente escolar, a valorização da vida, que nunca teve sua matrícula garantida nos bancos escolares. É claro que esta mudança deverá ser introduzida aos poucos, com calma, com sutileza e com muita reflexão. Mas, antes de buscar a mudança na educação, devemos buscar a mudança da nossa postura frente a vida, frente a educação, frente a mudança. Sabemos, então, que é preciso mudar, e mudar significa arriscar, ousar, acreditando nos propósitos que objetivam esta mudança. Cada um de nós precisará fazer uma avaliação da maneira como estamos vivendo. É desta forma que iniciaremos este trabalho de sensibilização: propondo uma reflexão individual, reflexão esta que será discutida em grupos através de atividades específicas.

A Carta da Terra foi aqui dividida em sete módulos que podem ser trabalhados em um curso específico ou em espaços de reuniões pedagógicas. Esperamos que este trabalho possa colaborar com a inserção da EA nas escolas. O texto original da Carta da Terra é apresentado na cor preta para destacar dos comentários e sugestões.

Berenice Gehlen Adams

Março/2003


  

Módulo 1

A CARTA DA TERRA

UNESCO (*)

PREÂMBULO

Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que no meio de uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que, nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações.

COMENTÁRIO - Em seu preâmbulo a Carta da Terra apresenta o retrato do caos que se instalou no processo do desenvolvimento da humanidade, e por incrível que pareça, para muitas pessoas ainda é difícil acreditar que estejamos vivendo momentos cruciais e decisivos na vida do planeta. Não é o caso de se utilizar idéias catastróficas, que mais imobilizam do que sensibilizam. Trata-se de enxergar com clareza que a “coisa está feia mesmo” e que é nosso dever fazermos algo para mudar este quadro sócio-ambiental.

SUGESTÃO: Sugerimos destinar um momento das reuniões pedagógicas para o estudo da Carta da Terra ou iniciar os módulos programáticos partindo da leitura do Preâmbulo – especificamente do primeiro parágrafo. A partir da leitura, realizar uma dinâmica que leve a uma auto-reflexão das posturas de cada um em relação ao ambiente, propondo as seguintes reflexões: “Como eu conduzo minha vida?”, “Quais são meus objetivos?”, “Sou uma pessoa muito consumista?”, “Tenho interesse nas questões ambientais?”, “Como é minha alimentação?”, “Sou muito influenciado pela mídia?”, “Tenho contatos periódicos com a Natureza?”. Estas e outras questões não deverão ser respondidas, a não ser internamente. Para realizar esta atividade podemos utilizar cartazes com as frases – ou escrever a frase no quadro e dar um minuto para refletir sobre ela, até que todas as frases sejam apresentadas – uma música de fundo é bem-vinda. A coordenação poderá fazer uma conclusão da reflexão dizendo que “sabemos que nosso sistema educacional vigente (com raras exceções) não leva em conta as questões ambientais, e que somos frutos desta educação. Portanto, não podemos, nem devemos nos sentir culpados pela atual situação ambiental, mas sim, estar abertos/as às mudanças necessárias que devem ocorrer para que nos tornemos seres conscientes e integrados ao ambiente”. Também é indicado utilizar recursos poéticos e/ou musicais para atividades de sensibilização como o poema a seguir:

 

Compromisso Terra

Berenice Gehlen Adams

 

Grande ser do universo: Terra

De infinitas faces

De infinitas formas de vida

De infinitas histórias e aventuras

Hoje

Com teu corpo doído e sofrido

Com teu sangue corrompido e manchado

Com tua pele machucada e queimada

Ainda persistes em acolher bem

O teu filho predador

Que é também predador de si próprio

Hoje é nosso dever

Assumirmos contigo

O compromisso de te cuidar

De te recuperar, de te regenerar

A começar pela própria regeneração humana

 

Por que a humanidade está cega

Pelas promessas

Das modernas ciências do saber

Que reconhecem, timidamente, a sua pequenez

Por não encontrarem alternativas

Para curar o mal causado a ti

E a todas as formas de vida que tu abrigas.

 

E é por teu amor incondicional

Que transcende a compreensão humana

Que assumimos o compromisso

De gritar por ti clamando alteridade,

caridade, amorosidade, respeito.

 

Terra

Grande ser do universo

A ti pedimos perdão

Pela nossa insensatez

Assumimos hoje

De forma individual e global

O compromisso de resgatar

A consciência integral

Para que cada ação nossa colabore

Para o nascimento de uma nova humanidade

Que te respeite, que te honre

Que te ame verdadeiramente.

 

Salve, Terra!

  

* Para finalizar o módulo, comentar sobre as atividades destacando pontos de dúvidas que ficaram em aberto.


Módulo 2

Terra, Nosso Lar

A humanidade é parte de um vasto universo em evolução. A Terra, nosso lar, está viva com uma comunidade de vida única. As forças da Natureza fazem da existência uma aventura exigente e incerta, mas a Terra providenciou as condições essenciais para a evolução da vida. A capacidade de recuperação da comunidade da vida e o bem-estar da humanidade dependem da preservação de uma biosfera saudável com todos seus sistemas ecológicos, uma rica variedade de plantas e animais, solos férteis, águas puras e ar limpo. O meio ambiente global com seus recursos finitos é uma preocupação comum de todas as pessoas. A proteção da vitalidade, diversidade e beleza da Terra é um dever sagrado.

COMENTÁRIO: Neste ponto do preâmbulo da Carta da Terra são ressaltados os valores mais preciosos relacionados à vida do planeta que são os sistemas ecológicos da biosfera. Os ecossistemas são encarregados por manter equilíbrio da vida no planeta. Até pouco tempo atrás não tínhamos a noção da finitude dos recursos extraídos da biosfera utilizados em larga escala para a produção de objetos que se destinam a dar comodidades para a humanidade. A prática da industrialização somente leva em conta as vantagens econômicas da exploração dos recursos naturais. Hoje sabemos que se este processo continuar neste ritmo, estaremos pondo em risco a vida das atuais e futuras gerações, bem como a vida do planeta. Faz-se necessário refletirmos sobre o quanto estamos contribuindo para a extinção destes recursos e o que é possível fazer para colaborar com a proteção da vida.

SUGESTÃO: Dando continuidade ao tema nas reuniões pedagógicas, ou módulo programático, ler este ponto da Carta da Terra para o grupo de educadores/as e propor uma reflexão sobre os hábitos de consumo. Utilizar uma técnica artística sugerindo que cada um crie um desenho, ou pintura cujo tema possa ser “Integração”, “Sustentabilidade”, “Ambiente” ou simplesmente “Terra”. Acrescentar ao trabalho uma frase que simbolize a aproximação do ser humano com a vida em seu amplo contexto, que será lida para todos como forma de concluir esta etapa. Se houver oportunidade, trabalhar a música “Terra, Planeta Água” de Guilherme Arantes. Também sugerimos o trabalho com o seguinte texto:

 

O NOSSO MEIO AMBIENTE

Berenice Gehlen Adams

Quando falamos em “nosso meio ambiente” é importante perceber o sentido da palavra “nosso” dentro de um diferente contexto. O sentido da palavra “nosso” não se refere a algo que nos pertence, como propriedade, como algum objeto sobre o qual temos posse. Falar em “nosso ambiente” diz respeito à “nossa forma de vida” como um todo.

                    Quando falamos em “nosso meio ambiente” estamos falando da nossa vida, em seu amplo contexto e tudo o que a ela se relaciona. Estamos incluídos neste meio ambiente, pois ele nos perpassa e somos parte dele.

Quando falamos que no meio ambiente encontramos tudo o que precisamos para viver, estamos falando de nossas necessidades vitais, pois sem ambiente não é possível existir vida.

Portanto, quando falamos em “nosso ambiente” devemos perceber que dele fazemos parte e que o que acontece com o meio ambiente acontece conosco. É como falar em “nosso grupo”, “nosso trabalho”, “nosso corpo”, “nosso universo”, como algo do qual fazemos parte e não de algo do qual somos donos ou temos domínio. 

Vivemos em um ambiente social, político, econômico, geográfico e cultural que nos coloca em uma posição privilegiada e separada do ambiente natural. Alguns discursos apresentam, em sua essência, que os recursos naturais existem exclusivamente para nos servir e que dele podemos fazer uso para o nosso próprio benefício, sem levar em conta a implicação disto para o meio ambiente e sem levar em conta a finitude dos recursos naturais. Esta cultura consumista, progressista, dissocia e distancia o ser humano da natureza e do meio ambiente colocando-o sempre no topo, em um pedestal. Somos “endeusados” por nós mesmos. É chegada a hora de perceber que tudo está relacionado como uma grande teia. É preciso destronar o ser humano como “rei” do universo. Somos nada, absolutamente nada, sem o nosso meio ambiente.

 

* Para finalizar o módulo, comentar sobre as atividades destacando pontos de dúvidas que ficaram em aberto.


Módulo 3

A Situação Global

Os padrões dominantes de produção e consumo estão causando devastação ambiental, redução dos recursos e uma massiva extinção de espécies. Comunidades estão sendo arruinadas. Os benefícios do desenvolvimento não estão sendo divididos equitativamente e o fosso entre ricos e pobres está aumentando. A injustiça, a pobreza, a ignorância e os conflitos violentos têm aumentado e é causa de grande sofrimento. O crescimento sem precedentes da população humana tem sobrecarregado os sistemas ecológico e social. As bases da segurança global estão ameaçadas. Essas tendências são perigosas, mas não inevitáveis.

COMENTÁRIO: Este ponto do preâmbulo aponta o problema sócio-ambiental proveniente dos modelos de produção e consumo. Além de provocarem a degradação ambiental e a extinção das espécies, provocam também a disparidade entre as classes sociais responsáveis por inúmeras formas de exclusão. Os seres humanos não têm as mesmas possibilidades de vida digna.

SUGESTÃO: Dando continuidade ao tema nas reuniões pedagógicas, ou módulo programático, ler este ponto da Carta da Terra para o grupo de educadores/as e propor uma reflexão sobre os hábitos sociais. Utilizar uma técnica de redação sugerindo que cada um crie um texto (pequeno) cujo tema possa ser “Solidariedade”, “Consumo” ou simplesmente “Degradação do Ambiente”. Após a realização da tarefa, dividir os participantes em grupos de cinco e cada grupo fará uma síntese dos trabalhos, reunindo as idéias mais importantes para serem apresentadas ao grande grupo. Também proponho o trabalho com a música “O Sal da Terra”, de Beto Guedes,  como recurso de sensibilização:

O Sal da Terra

Anda, quero te dizer nenhum segredo

Falo nesse chão da nossa casa, vem que tá na hora de arrumar

Tempo, quero viver mais duzentos anos

Quero não ferir meu semelhante nem por isso quero me ferir

Vamos precisar de todo mundo

Pra banir do mundo a opressão

Para construir a vida nova, vamos precisar de muito amor

A felicidade mora ao lado e quem não é tolo pode ver

A paz na Terra, amor

O pé na Terra

A paz na Terra, amor

O sal da Terra... És o mais bonito dos planetas

Estão te maltratando por dinheiro

Tu que és a nave, nossa irmã

Canta, leva tua vida em harmonia

E nos alimenta com teus frutos

Tu que és do homem, a maçã

Vamos precisar de todo mundo

Um mais um é sempre mais que dois

Pra melhor juntar as nossas forças é só repartir melhor o pão

É criar o paraíso agora para merecer quem vem depois

Deixa nascer o amor... Deixa fluir o amor

Deixa crescer o amor... Deixa viver o amor

O sal da Terra!!!

* Para finalizar o módulo, comentar sobre as atividades destacando pontos de dúvidas que ficaram em aberto.


Módulo 4

Desafios Para o Futuro

A escolha é nossa: formar uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros, ou arriscar a nossa destruição e a da diversidade da vida. São necessárias mudanças fundamentais dos nossos valores, instituições e modos de vida. Devemos entender que quando as necessidades básicas forem atingidas, o desenvolvimento humano é primariamente ser mais, não, ter mais. Temos o conhecimento e a tecnologia necessários para abastecer a todos e reduzir nossos impactos ao meio ambiente. O surgimento de uma sociedade civil global está criando novas oportunidades para construir um mundo democrático e humano. Nossos desafios ambientais, econômicos, políticos, sociais e espirituais estão interligados e juntos podemos forjar soluções includentes.

COMENTÁRIO: Este ponto do preâmbulo aponta o grande desafio que se apresenta neste contexto vigente: formar uma nova consciência provocando mudanças de atitudes que colaborem para minimizar os impactos sócio-ambientais já destacados. Estamos vivendo uma época de grandes transformações: sociais, econômicas, políticas, ambientais. Estas mudanças que estão acontecendo nem sempre são positivas, como quando o pobre fica cada vez mais pobre, o político fica cada vez mais corrupto, a economia mais decadente com o desemprego e com a falta de recursos para atender as necessidades da população, e o meio ambiente cada vez mais poluído e devastado. Desta forma, cai a qualidade de vida urbana e ocorre um descaso muito grande com o meio ambiente, tornando-o cada vez mais danificado. Encarar os problemas ambientais é essencial, pois é do ambiente que depende a qualidade de vida da população. É preciso que as pessoas se conscientizem para a conservação e preservação  do meio ambiente, pois isto sim trará inúmeras melhorias em nossa qualidade de vida. A sociedade pode se unir e exigir dos órgãos governamentais uma fiscalização das empresas que geram poluição, lixo tóxico, que ocasionam a falta de saúde da população em geral. A economia pode se voltar para o incentivo à reciclagem, ao reflorestamento, à preservação investindo em ações sócio-ambientais, dando oportunidade às empresas que estão inseridas no contexto do meio ambiente, gerando mais empregos. Os políticos deveriam apresentar projetos de preservação e de conservação do meio ambiente visando a melhoria da qualidade de vida.  Se hoje não tivermos uma postura e uma consciência ambiental, reparando os danos causados ao meio ambiente e evitando novos desastres ecológicos, a continuidade e a qualidade de vida estará comprometida. Este, sim, seria o maior erro que a humanidade poderia cometer contra ela própria.

SUGESTÃO: Dando continuidade ao tema nas reuniões pedagógicas, ou módulo programático, ler este ponto da Carta da Terra e os comentários apresentados para o grupo de educadores/as a fim de proporcionar uma reflexão sobre a importância de atitudes conscientes conectadas com o ambiente. Utilizar uma técnica de dramatização sugerindo que, em grupos, os participantes interpretem algo com os seguintes conceitos, relacionando-os com situações ambientais: RESPEITO, PRESERVAÇÃO, RECICLAGEM, POBREZA, ÁGUA, POLUIÇÃO, EXTINÇÃO, COLABORAÇÃO. Cada grupo receberá uma palavra e em poucos minutos combinarão algo para representar. Ao final da apresentação dizer o tema específico da apresentação.

Também sugerimos o texto abaixo que poderá ser lido para o fechamento do módulo:

Bons tempos aqueles...

Berenice Gehlen Adams

Era um dia quente, de verão, daqueles insuportáveis. A avó, sentada em sua cadeira de balanço, abana seu leque sem parar. Não mais suportando o calor, pede para Max, seu neto, abrir a janela. Com um suspiro aliviado, sente uma suave brisa tocar sua face enrugada. Já ia entardecendo.  A avó, saudosa, olha para o velho aparelho de ar condicionado. “Bons tempos aqueles”, pensa a avó.

 

O sol já ia se pondo no horizonte, e o neto, como de costume, começa a acender algumas velas distribuídas, estrategicamente, pela casa. Volta a sentar perto da avó e pede a ela que lhe conte como eram os tempos em que não havia o racionamento de energia elétrica. Com ares de tristeza, ela começa seu relato:

- Há muitos anos atrás, sempre havia energia elétrica disponível, dia e noite! Era tão prático que as pessoas nem se davam conta de sua importância. Raramente “faltava luz” e quando isto acontecia, a companhia recebia centenas de ligações com reclamações. Nas casas, quanto mais luzes acesas, aparelhos ligados, melhor. Era um desperdício total. Os aparelhos de ar condicionado ficavam permanentemente ligados. Até que começaram a ocorrer os primeiros “black outs”. A população foi avisada quanto aos riscos de racionamento, se não ocorresse uma mudança em relação ao consumo de energia. Muitas campanhas foram feitas, mas de nada adiantou. Aqueles que não podiam pagar eram os que mais poupavam, mas, em compensação, muitos diziam: “ Eu pago, então, uso a vontade”.  Ninguém acreditava que um dia chegaríamos a este ponto.

- Puxa, vovó! Então isso tudo é por causa da falta de consciência das pessoas? Será que elas não pensaram nas futuras gerações? – perguntou o neto.

- É, Max, – disse a avó – infelizmente as pessoas não deram ouvidos às campanhas e avisos. Agora, estamos sofrendo as conseqüências.

E o neto perguntou:

- E a senhora, vovó, poupava energia elétrica?

Inquieta e levantando-se da cadeira, a avó responde:

- Estou cansada, meu neto, tenho que me recolher. Por favor, apague as velas pois temos poucas, ainda. Boa noite!

Max fez o que a avó solicitou e ambos foram dormir.

A avó, naquela noite, custou para pegar no sono. Aquela pergunta do neto ficou ecoando em seus pensamentos durante muito tempo: “E a senhora, vovó, poupava energia elétrica?”.


Redação premiada no concurso Ação e Redação AES Sul – julho/2000 – Tema - Conscientização do bom uso da energia elétrica

Comentários sobre a redação:

Esta redação apresenta uma visão futurista a respeito dos riscos do racionamento de energia elétrica, em não havendo um consumo moderado no momento presente. Apresenta uma visão do senso comum que justifica o problema com a falta de conscientização por parte da população em não poupar energia. Com um olhar fora deste contexto, tão declarado e conhecido (a população sempre tem a "culpa", eximindo toda e qualquer responsabilidade dos poderes econômicos e/ou governamentais), podemos refletir que de vítimas acabamos sendo condenados a carregar uma culpa que é, na verdade, deste estrondoso processo de industrialização, de modernização, de consumismo, que passa por cima de tudo e de todos em busca de lucratividade e acúmulo de bens.

Devemos poupar energia por que somente desperdiça quem não reconhece a importância dela dentro do contexto global e universal.

Devemos, sim, poupar energia elétrica, não para não sermos "castigados" com o racionamento, mas pelo amor que temos com a natureza, com o ambiente, com a vida.

Devemos poupar energia por sabermos que este é um bem precioso, que é gerado por outro bem, bem maior, que é a natureza.

Devemos poupar energia por Amor ao Planeta!- Berenice Gehlen Adams – 

 

* Para finalizar o módulo, comentar sobre as atividades destacando pontos de dúvidas que ficaram em aberto.

 


 

Módulo 5

Responsabilidade Universal

Para realizar estas aspirações devemos decidir viver com um sentido de responsabilidade universal, identificando-nos com toda a comunidade terrestre bem como com nossa comunidade local. Somos ao mesmo tempo cidadãos de nações diferentes e de um mundo no qual as dimensões local e global estão ligadas. Cada um comparte responsabilidade pelo presente e pelo futuro, pelo bem estar da família humana e do grande mundo dos seres vivos. O espírito de solidariedade humana e de parentesco com toda a vida é fortalecido quando vivemos com reverência o mistério da existência, com gratidão pelo presente da vida, e com humildade considerando o lugar que ocupa o ser humano na natureza.

Necessitamos com urgência de uma visão de valores básicos para proporcionar um fundamento ético à emergente comunidade mundial. Portanto, juntos na esperança, afirmamos os seguintes princípios, todos interdependentes, visando um modo de vida sustentável como critério comum, através dos quais a conduta de todos os indivíduos, organizações, empresas de negócios, governos e instituições transnacionais será guiada e avaliada.

COMENTÁRIO: Este ponto do preâmbulo aponta a importância da união e do respeito para com todas as formas de vida e entre as diferentes culturas das raças humanas. Para tanto, são formulados princípios que nortearão atitudes que proporcionem o desenvolvimento de uma nova ética de vida que priorize o respeito às diferenças e ao ambiente.

SUGESTÃO: Dando continuidade ao tema nas reuniões pedagógicas, ou módulo programático, ler este ponto da Carta da Terra para o grupo de educadores/as e propor uma reflexão sobre a importância de aplicar princípios éticos tanto em nossa vida social como familiar. Em todos os lugares: no trabalho, em casa, na igreja, no comércio, na produção. Mas nada disto será possível se dentro de nós não tivermos claros quais os princípios que queremos e devemos seguir para alcançar um mundo justo e sustentável. Pode ser utilizada uma técnica de redação sugerindo que cada um crie um princípio ou um objetivo que possibilite uma mudança de atitude, partindo da idéia “O que eu posso fazer para colaborar com a mudança?” Ao final cada um relata o princípio ou objetivo que acha importante ser alcançado para possibilitar as mudanças de atitudes nos cidadãos e nas cidadãs. Distribuir o texto abaixo e pedir para um colega fazer a leitura oral. Comentar a atividade destacando pontos de dúvidas que ficaram em aberto.

Se a Terra falasse...

Berenice Gehlen Adams

Eu me chamo Terra. Tenho 4,6 bilhões de anos e abrigo centenas de milhares de seres vivos. Possuo muitas riquezas e inúmeros ecossistemas. Os oceanos cobrem cerca de dois terços de minha superfície. Sou envolvida pela atmosfera que chega a algumas centenas de quilômetros acima da minha crosta. Estou mudando constantemente desde que nasci. Por exemplo, na Era Glacial estive coberta por uma grossa camada de gelo. Houve o tempo dos Dinossauros que dominavam grande parte de meu ambiente, e que devido a mudanças naturais bruscas, não resistiram e acabaram morrendo. Apesar de todas estas mudanças, sentia-me bem, pois sabia que tudo fazia parte de um ciclo natural.

Muito tempo se passou e hoje em dia sinto-me fraca, muito fraca... Minhas florestas estão sendo destruídas por queimadas e desmatamentos, provocando inúmeras perdas de espécies animais e vegetais. Meus rios e oceanos estão sendo poluídos com lixo, dejetos e rejeitos de indústrias, e minha atmosfera está sendo danificada. O lixo acumulado demora a se decompor provocando feridas em minha crosta. Tudo está sendo destruído e só porque sou muito grande, apenas poucos acreditam que estou correndo perigo de vida, bem como todos os seres vivos que abrigo. Os próprios humanos (responsáveis por todo esse caos) sofrem de inúmeras enfermidades causadas pelo desequilíbrio ecológico, contaminação das águas, poluição, e nem por isso tomam as providências necessárias para reverter esta situação.

Eu sou o seu Planeta, o seu paraíso, presente de Deus, que lhes oferece tudo o que é necessário. Preciso da sua ajuda e peço que cuidem bem de mim plantando, reciclando, despoluindo, para que possamos viver em harmonia novamente, para que muitos animais e plantas continuem vivendo e para que as condições de vida humana melhorem, antes que seja tarde demais...

* Para finalizar o módulo, comentar sobre as atividades destacando pontos de dúvidas que ficaram em aberto.


Módulo 6

PRINCÍPIOS

COMENTÁRIO: Este ponto da Carta da Terra apresenta os Princípios que nortearão atitudes para a efetiva mudança. Esta sessão pode ser mais extensa que a dos módulos anteriores, pois trata dos específicos princípios norteadores da Carta da Terra. Estes princípios estão divididos em quatro temas que são:

I.                    RESPEITAR E CUIDAR DA COMUNIDADE DE VIDA

II.                  INTEGRIDADE ECOLÓGICA

III.                JUSTIÇA SOCIAL E ECONÔMICA

IV.                DEMOCRACIA, NÃO VIOLÊNCIA E PAZ

SUGESTÃO: A sugestão para trabalhar estes princípios é a de que o corpo docente seja dividido em quatro grupos e cada grupo será responsável por uma das temáticas. Em grupo serão discutidos todos os princípios de cada tema. Após a leitura e discussão destes princípios o grupo montará um painel para apresentar de forma criativa os princípios discutidos que serão apresentados ao findar o trabalho.

I. RESPEITAR E CUIDAR DA COMUNIDADE DE VIDA

 

1. Respeitar a Terra e a vida em toda sua diversidade.

a. Reconhecer que todos os seres são interligados e cada forma de vida tem valor, independentemente do uso humano.

b. Afirmar a fé na dignidade inerente de todos os seres humanos e no potencial intelectual, artístico, ético e espiritual da humanidade.

2. Cuidar da comunidade da vida com compreensão, compaixão e amor.

a. Aceitar que com o direito de possuir, administrar e usar os recursos naturais vem o dever de impedir o dano causado ao meio ambiente e de proteger o direito das pessoas.

b. Afirmar que o aumento da liberdade, dos conhecimentos e do poder comporta responsabilidade na promoção do bem comum.

3. Construir sociedades democráticas que sejam justas, participativas, sustentáveis e pacíficas.

a. Assegurar que as comunidades em todos níveis garantam os direitos humanos e as liberdades fundamentais e dar a cada uma a oportunidade de realizar seu pleno potencial.

b. Promover a justiça econômica propiciando a todos a consecução de uma subsistência significativa e segura, que seja ecologicamente responsável.

4. Garantir a generosidade e a beleza da Terra para as atuais e as futuras gerações.

a. Reconhecer que a liberdade de ação de cada geração é condicionada pelas necessidades das gerações futuras.

b. Transmitir às futuras gerações valores, tradições e instituições que apoiem, a longo termo, a prosperidade das comunidades humanas e ecológicas da Terra.

Para poder cumprir estes quatro extensos compromissos, é necessário:

II. INTEGRIDADE ECOLÓGICA

5. Proteger e restaurar a integridade dos sistemas ecológicos da Terra, com especial preocupação pela diversidade biológica e pelos processos naturais que sustentam a vida.

a. Adotar planos e regulações de desenvolvimento sustentável em todos os níveis que façam com que a conservação ambiental e a reabilitação sejam parte integral de todas as iniciativas de desenvolvimento.

b. Estabelecer e proteger as reservas com uma natureza viável e da biosfera, incluindo terras selvagens e áreas marinhas, para proteger os sistemas de sustento à vida da Terra, manter a biodiversidade e preservar nossa herança natural.

c. Promover a recuperação de espécies e ecossistemas em perigo.

d. Controlar e erradicar organismos não-nativos ou modificados geneticamente que causem dano às espécies nativas, ao meio ambiente, e prevenir a introdução desses organismos daninhos.

e. Manejar o uso de recursos renováveis como a água, solo, produtos florestais e a vida marinha com maneiras que não excedam as taxas de regeneração e que protejam a sanidade dos ecossistemas.

f. Manejar a extração e uso de recursos não renováveis como minerais e combustíveis fósseis de forma que diminua a exaustão e não cause sério dano ambiental.

6. Prevenir o dano ao ambiente como o melhor método de proteção ambiental e quando o conhecimento for limitado, tomar o caminho da prudência.

a. Orientar ações para evitar a possibilidade de sérios ou irreversíveis danos ambientais mesmo quando a informação científica seja incompleta ou não conclusiva.

b. Impor o ônus da prova àqueles que afirmam que a atividade proposta não causará dano significativo e fazer com que os grupos sejam responsabilizados pelo dano ambiental.

c. Garantir que a decisão a ser tomada se oriente pelas conseqüências humanas globais, cumulativas, de longo termo, indiretas e de longa distância.

d. Impedir a poluição de qualquer parte do meio ambiente e não permitir o aumento de sustâncias radioativas, tóxicas ou outras substâncias perigosas.

e. Evitar que atividades militares causem dano ao meio ambiente.

7. Adotar padrões de produção, consumo e reprodução que protejam as capacidades regenerativas da Terra, os direitos humanos e o bem-estar comunitário.

a. Reduzir, reutilizar e reciclar materiais usados nos sistemas de produção e consumo e garantir que os resíduos possam ser assimilados pelos sistemas ecológicos.

b. Atuar com restrição e eficiência no uso de energia e recorrer cada vez mais aos recursos energéticos renováveis como a energia solar e a do vento.

c. Promover o desenvolvimento, a adoção e a transferência equitativa de tecnologias ambientais saudáveis.

d. Incluir totalmente os custos ambientais e sociais de bens e serviços no preço de venda e habilitar aos consumidores identificar produtos que satisfaçam as mais altas normas sociais e ambientais.

e. Garantir acesso universal ao cuidado da saúde que fomente a saúde reprodutiva e a reprodução responsável.

f. Adotar estilos de vida que acentuem a qualidade de vida e o suficiente material num mundo finito.

8. Avançar o estudo da sustentabilidade ecológica e promover a troca aberta e uma ampla aplicação do conhecimento adquirido.

a. Apoiar a cooperação científica e técnica internacional relacionada à sustentabilidade, com especial atenção às necessidades das nações em desenvolvimento.

b. Reconhecer e preservar os conhecimentos tradicionais e a sabedoria espiritual em todas as culturas que contribuem para a proteção ambiental e o bem-estar humano.

c. Garantir que informações de vital importância para a saúde humana e para a proteção ambiental, incluindo informação genética, estejam disponíveis ao domínio público.

III. JUSTIÇA SOCIAL E ECONÔMICA

9. Erradicar a pobreza como um imperativo ético, social, econômico e ambiental.

a. Garantir o direito à água potável, ao ar puro, à segurança alimentar, aos solos não contaminados, ao abrigo e saneamento seguro, distribuindo os recursos nacionais e internacionais requeridos.

b. Prover cada ser humano de educação e recursos para assegurar uma subsistência sustentável, e dar seguro social [médico] e segurança coletiva a todos aqueles que não são capazes de manter-se a si mesmos.

c. Reconhecer ao ignorado, proteger o vulnerável, servir àqueles que sofrem, e permitir-lhes desenvolver suas capacidades e alcançar suas aspirações.

10. Garantir que as atividades econômicas e instituições em todos os níveis promovam o desenvolvimento humano de forma eqüitativa e sustentável.

a. Promover a distribuição eqüitativa da riqueza dentro e entre nações.

b. Incrementar os recursos intelectuais, financeiros, técnicos e sociais das nações em desenvolvimento e aliviar as dívidas internacionais onerosas.

c. Garantir que todas as transações comerciais apóiem o uso de recursos sustentáveis, a proteção ambiental e normas laborais progressistas.

d. Exigir que corporações multinacionais e organizações financeiras internacionais atuem com transparência em benefício do bem comum e responsabilizá-las pelas conseqüências de suas atividades.

11. Afirmar a igualdade e a eqüidade de gênero como pré-requisitos para o desenvolvimento sustentável e assegurar o acesso universal à educação, ao cuidado da saúde e às oportunidades econômicas.

a. Assegurar os direitos humanos das mulheres e das meninas e acabar com toda violência contra elas.

b. Promover a participação ativa das mulheres em todos os aspectos da vida econômica, política, civil, social e cultural como parceiros plenos e paritários, tomadores de decisão, líderes e beneficiários.

c. Fortalecer as famílias e garantir a segurança e a criação amorosa de todos os membros da família.

12. Defender, sem discriminação, os direitos de todas as pessoas a um ambiente natural e social, capaz de assegurar a dignidade humana, a saúde corporal e o bem-estar espiritual, dando especial atenção aos direitos dos povos indígenas e minorias.

a. Eliminar a discriminação em todas suas formas, como as baseadas na raça, cor, gênero, orientação sexual, religião, idioma e origem nacional, étnica ou social.

b. Afirmar o direito dos povos indígenas à sua espiritualidade, conhecimentos, terras e recursos, assim como às suas práticas relacionadas a formas sustentáveis de vida.

c. Honrar e apoiar os jovens das nossas comunidades, habilitando-os para cumprir seu papel essencial na criação de sociedades sustentáveis.

d. Proteger e restaurar lugares notáveis, de significado cultural e espiritual.

IV. DEMOCRACIA, NÃO VIOLÊNCIA E PAZ

13. Fortalecer as instituições democráticas em todos os níveis e proporcionar-lhes transparência e prestação de contas no exercício do governo, a participação inclusiva na tomada de decisões e no acesso à justiça.

a. Defender o direito a todas as pessoas de receber informação clara e oportuna sobre assuntos ambientais e todos os planos de desenvolvimento e atividades que poderiam afetá-las ou nos quais tivessem interesse.

b. Apoiar sociedades locais, regionais e globais e promover a participação significativa de todos os indivíduos e organizações na toma de decisões.

c.  Proteger os direitos à liberdade de opinião, de expressão, de assembléia pacífica, de associação e de oposição [ou discordância].

d. Instituir o acesso efetivo e eficiente a procedimentos administrativos e judiciais independentes, incluindo mediação e retificação dos danos ambientais e da ameaça de tais danos.

e. Eliminar a corrupção em todas as instituições públicas e privadas.

f. Fortalecer as comunidades locais, habilitando-as a cuidar dos seus próprios ambientes e designar responsabilidades ambientais a nível governamental onde possam ser cumpridas mais efetivamente.

14. Integrar na educação formal e aprendizagem ao longo da vida os conhecimentos, valores e habilidades necessárias para um modo de vida sustentável.

a. Oferecer a todos, especialmente a crianças e jovens, oportunidades educativas que os habilite a contribuir ativamente para o desenvolvimento sustentável.

b. Promover a contribuição das artes e humanidades assim como das ciências na educação sustentável.

c. Intensificar o papel dos meios de comunicação de massas no sentido de aumentar a conscientização dos desafios ecológicos e sociais.

d. Reconhecer a importância da educação moral e espiritual para uma subsistência sustentável.

15. Tratar todos os seres vivos com respeito e consideração.

a. Impedir crueldades aos animais mantidos em sociedades humanas e diminuir seus sofrimentos.

b. Proteger animais selvagens de métodos de caça, armadilhas e pesca que causem sofrimento externo, prolongado ou evitável.

c. Evitar ou eliminar ao máximo possível a captura ou destruição de espécies que não são o alvo [ou objetivo].

16. Promover uma cultura de tolerância, não violência e paz.

a. Estimular e apoiar os entendimentos mútuos, a solidariedade e a cooperação entre todas as pessoas, dentro e entre nações.

b. Implementar estratégias amplas para prevenir conflitos violentos e usar a colaboração na resolução de problemas para manejar e resolver conflitos ambientais e outras disputas.

c. Desmilitarizar os sistemas de segurança nacional até chegar ao nível de uma postura não provocativa da defesa e converter os recursos militares em propósitos pacíficos, incluindo restauração ecológica.

d. Eliminar armas nucleares, biológicas e tóxicas e outras armas de destruição de massa.

e. Assegurar que o uso de espaços orbitais e exteriores mantenham a proteção ambiental e a paz.

f. Reconhecer que a paz é a integridade criada por relações corretas consigo mesmo, com outras pessoas, outras culturas, outras vidas, com a Terra e com o grande Todo do qual somos parte.

Para finalizar o módulo, comentar sobre as atividades destacando pontos de dúvidas que ficaram em aberto.


Módulo 7

O CAMINHO ADIANTE

Como nunca antes na história o destino comum nos conclama a buscar um novo começo. Tal renovação é a promessa dos princípios da Carta da Terra. Para cumprir esta promessa, temos que comprometer-nos a adotar e promover os valores e objetivos da Carta.

Isto requer uma mudança na mente e no coração. Requer um novo sentido de interdependência global e de responsabilidade universal. Devemos desenvolver e aplicar com imaginação a visão de  um modo de vida sustentável a nível local, nacional, regional e global. Nossa diversidade cultural é uma herança preciosa e diferentes culturas encontrarão suas próprias e distintas formas de realizar esta visão. Devemos aprofundar e expandir o diálogo global gerado pela Carta da Terra, porque temos muito que aprender da continuada busca de verdade e de sabedoria.

A vida muitas vezes envolve tensões entre valores importantes. Isto pode significar escolhas difíceis. Porém necessitamos encontrar caminhos para harmonizar a diversidade com a unidade, o exercício da liberdade com o bem comum, objetivos de curto prazo com metas de longo prazo. Todo indivíduo, família, organização e comunidade têm um papel vital a desempenhar. As artes, as ciências, as religiões, as instituições educativas, os meios de comunicação, as empresas, as organizações não governamentais e os governos são todos chamados a oferecer uma liderança criativa. A parceria entre governo, sociedade civil e empresa é essencial para uma governabilidade efetiva.

Para construir uma comunidade global sustentável, as nações do mundo devem renovar seu compromisso com as Nações Unidas, cumprir com suas obrigações respeitando os acordos internacionais existentes e apoiar a implementação dos princípios da Carta da Terra junto com um instrumento internacional legalmente vinculante com referência ao ambiente e ao desenvolvimento.

Que o nosso tempo seja lembrado pelo despertar de uma nova reverência face à vida, por um compromisso firme de alcançar a sustentabilidade, pela rápida luta pela justiça e pela paz e pela alegre celebração da vida.

COMENTÁRIO: O fechamento da Carta da Terra nos sensibiliza e nos comove, ao mesmo tempo em que nos incentiva a buscar a mudança que não só é necessária como também possível, se acreditarmos que temos capacidade para isto. Neste sentido a Educação Ambiental torna-se uma importante aliada da Carta da Terra porque é através da educação propriamente dita que alcançamos mudanças:

A educação ambiental fomenta novas atitudes nos sujeitos sociais, e novos critérios de tomada de decisões dos governos, guiados pelos princípios de sustentabilidade ecológica e diversidade cultural, internalizando-os na racionalidade econômica e no planejamento do desenvolvimento. Isto implica em educar para formar um pensamento crítico, criativo e prospectivo, capaz de analisar as complexas relações entre processos naturais e sociais, para atuar no ambiente com uma perspectiva global, mas diferenciada pelas diversas condições naturais e culturais que o definem. (LEFF, 2001:256).

SUGESTÃO: Refletir sobre o texto de fechamento da Carta da Terra e, para encerrar, fazer a leitura do conto a seguir:

 

A Alma da Escola

 Berenice Gehlen Adams

  Era uma vez uma Escola. Uma Escola que nasceu de um sonho: o sonho de tornar as pessoas capazes de viver em sociedade com amor, respeito, alegria, de forma organizada, onde cada um aprenderia a desenvolver seu potencial criativo para bem viver com todos os seres, em um ambiente saudável e feliz. Era uma Escola que educava para a vida. Nesta Escola havia muitos professores e alunos que viviam alegres e em harmonia. Uns aprendiam com os outros; todos ensinavam a todos. Aprendiam que tudo na Terra tem valor. Sempre respeitavam a todos, principalmente os mais velhos. Eram solidários, amigos e demonstravam uma grande integração e respeito ao ambiente.

Com o passar dos anos, a Escola foi crescendo e aos poucos foi mudando. Só que esta mudança não foi uma boa mudança porque os professores começaram a ficar severos, punitivos, exigentes, e tudo o que tinha valor eram notas altas, letra bonita, bom comportamento, conhecimento - quanto mais, melhor. Com isto as crianças deixaram de ser alegres e curiosas. Estudavam para tirar boas notas, escreviam bonito para agradar o professor, decoravam a matéria para provas e comportavam-se bem para evitar que chamassem os pais, para reclamações. Aqueles que não se enquadravam, passaram a ser considerados incapazes e improdutivos.

Pouco a pouco, a Escola foi ficando cada vez mais triste. Até que um dia a alma da Escola começou a chorar muito. Pois é, Escola tem alma, vocês sabem... Vendo aquela triste mudança a Escola pensou: “Tenho que fazer alguma coisa! Isto não pode continuar assim!”. Foi então que ela se lembrou do velho Sábio que morava numa montanha próxima. O Sábio conhecia a Escola desde pequenina. A Escola chamou o passarinho bem-te-vi, que voava por ali, e pediu que mandasse um recado ao Sábio. O pássaro, sem demora, voou até o alto da montanha, e com um belo, mas triste, trinado, passou ao sábio o recado.

Antes de descer a montanha, o Sábio entrou na caverna, pegou algumas sementes, enrolou-as numa folha de bananeira e seguiu em direção da Escola.

Chegando lá, o Sábio logo viu que as coisas não andavam bem. Percebeu que estava faltando, naquela Escola, o principal: o amor pela vida. Ficou observando como as crianças brincavam/brigavam e como os professores davam suas aulas. Como era um sábio, logo entendeu o por quê da Escola estar pedindo socorro. Esperou o sinal do final da aula e depois que todos haviam partido para suas casas, sentou-se no pátio e, de olhos fechados, pôs-se a conversar com a Escola.

- Querida Escola, vejo que as coisas não vão bem, mas não fique triste. Estou aqui para ajudá-la!

A Escola, então, falou:

- Sabe o que é, Sábio, não estou me sentindo muito bem. Sinto muito frio e muita tristeza, pois ninguém mais sorri como outrora. As crianças estão ficando adultas cedo demais. Brigam, competem, não lêem mais histórias e falam como se fossem “gente grande”, e o que é pior, os professores valorizam mais as crianças que se portam assim. Não estão mais preocupados em educar para a vida e sim educar para o trabalho, para o vestibular, e para melhor competir com o seu semelhante. Isto está gerando muita discórdia e ressentimento. Eles estão, professores e alunos, distanciando-se cada vez mais do ambiente e dos seres que também têm direito a vida.  O que devo fazer, Sábio? Estou muito fraca e acabarei morrendo. O que restará será simplesmente um prédio frio, sem vida, sem alma, apenas um depósito de pessoas grandes e pequenas...

O Sábio, após pensar um pouco, falou:

 - Este é um sério problema, Escola, mas todo problema tem solução. Trouxe comigo algumas sementes de conscientização que colhi de uma linda árvore. Elas serão espalhadas antes do início das aulas. Logo, começarás a sentir alguns efeitos. Quando as sementes começarem a brotar, professores e crianças ficarão mais sensíveis e começarão a sentir falta do contato com a natureza, do respeito, da amizade, do amor. Aos poucos passarão a perceber o que é realmente importante para a vida e tudo começará a modificar.

- Mas, Sábio, como farei isto? Como poderei espalhar as sementes?

O Sábio riu e disse:

- Não te preocupes! Deixarei as sementes no canto do telhado e pedirei ao amigo Vento para fazer isto. Durante sete dias ele soprará estas minúsculas sementes que se espalharão pelo ar e entrarão no coração de cada um. Aos poucos as sementes germinarão e frutificarão. Porém, é preciso ter paciência.

A Escola respondeu que era difícil ter paciência, mas que iria fazer um esforço, pois sabia que valeria a pena. Falou, então, ao Sábio:

- Sábio, sei que não deveria ter deixado chegar a este ponto tão crítico. Mantive meus olhos fechados por muito tempo e não estava conseguindo ver esta realidade, até que a tristeza passou a ser insuportável. Acredito que vamos conseguir, com estas sementes, trazer de volta a VIDA e o AMOR que está faltando.

E o Sábio diz:

- Escola, tenha fé e confiança. Logo, logo perceberás as mudanças. Na medida em que conhecerem melhor a si próprios, tanto professores como alunos, passarão a ver e viver com respeito por tudo e por todos. E isto sairá pelos portões afora, chegará aos lares e por fim estará em todos os lugares: fábricas, indústrias, igrejas, hospitais, parques, florestas... Agora, tenho que ir!

A Escola despede-se do Sábio com palavras de agradecimento, e de repente, chama-o de volta:

- Senhor Sábio, tenho uma pergunta! Onde conseguiste tais sementes? Que árvore tão maravilhosa é esta?

O Sábio retorna alguns passos e responde serenamente:

- Foi numa árvore especial, muito grande, muito linda, mas pouco conhecida e compreendida. É chamada Árvore da Educação Ambiental.

Daquele dia em diante, a alma da Escola voltou a sorrir...

 

* Para finalizar o módulo, comentar sobre as atividades destacando pontos de dúvidas que ficaram em aberto.


Conclusão

 

Este trabalho possibilitará aos educadores e educadoras uma vivência da Carta da Terra incentivando mudanças de atitude, contribuindo para uma assimilação deste importante documento de referência para a prática da Educação Ambiental. A Carta da Terra é um compromisso ético com a integridade da vida em seu amplo contexto.

 

Assumir este compromisso é um ato de cidadania planetária, conceito este presente na Ecopedagogia apresentada por Moacir Gadotti. Para este autor “A ecopedagogia implica uma reorganização dos currículos para que incorporem certos princípios defendidos por ela. Esses princípios deveriam, por exemplo, orientar a concepção dos conteúdos e a elaboração de livros didáticos. Piaget nos ensinou que os currículos devem complementar o que é significativo para o aluno. Sabemos que isto é correto, mas incompleto. Os conteúdos curriculares têm de ser significativos para o aluno, e só serão significativos para ele se esses conteúdos forem significativos também para a saúde do planeta, para o contexto mais amplo (...) A ecopedagogia defende ainda a valorização da diversidade cultural, a garantia para manifestações ético-política e cultural das minorias étnicas, religiosas, políticas, sexuais, a democratização da informação e a redução do tempo de trabalho, para que todas as pessoas possam participar dos bens culturais da humanidade. A ecopedagogia, portanto, é também uma pedagogia da educação multicultural (...) Ela não se dirige apenas aos educadores, mas aos habitantes da Terra em geral (...) a ecopedagogia pretende ir além da escola: ela pretende impregnar toda a sociedade” (GADOTTI, 2000 : 92;93).

 


Referências

ADAMS, Berenice G. Projeto Vida – Educação Ambiental: http://sites.uol.com.br/projetovida

GADOTTI, Moacir. Pedagogia da Terra. São Paulo: Editora Fundação Peirópolis, 2000.

http://www.geocities.com/Heartland/Valley/5990/carta.html

LEFF, Enrique. Saber Ambiental Sustentabilidade Racionalidade Complexidade Poder. Petrópolis: Vozes, 2001 .


NOTA

(*) No dia 14 de março de 2000 na Unesco em Paris foi aprovada depois de 8 anos de discussões em todos os continentes, envolvendo 46 países e mais de cem mil pessoas, desde escolas primárias, esquimós, indígenas da Austrália,do Canadá e do Brasil, entidades da sociedade civil, até grandes centros de pesquisa, universidades e empresas e religiões a Carta da Terra. Ela deverá ser apresentada e assumida pela ONU no ano 2002 com o mesmo valor da Declaração dos Direitos Humanos. Por ela poder-se-ão agarrar os agressores da dignidade da  Terra, os Pinochets anti-ecológicos em qualquer parte do mundo e levá-los aos tribunais. Na Comissão de Redação estavam  Mikhail Gorbachev, Maurice Strong, Steven Rockfeller, Mercedes Sosa, Leonardo Boff e outros. Aqui segue a Carta para ser discutida em todos os âmbitos.



[1] Histórico da Carta da Terra extraído do site  http://www.geocities.com/Heartland/Valley/5990/carta.html

Contatos com a autora: projetovida@uol.com.br

Site: http://sites.uol.com.br/projetovida

Ilustrações: Silvana Santos