Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2011 (Nº 37) REFLEXÕES SOBRE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL: SUA CONTRIBUIÇÃO NA FORMAÇÃO DE CIDADÃOS CONSCIENTES
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Educação Ambiental em Ação 37

REFLEXÕES SOBRE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL: SUA CONTRIBUIÇÃO NA FORMAÇÃO DE CIDADÃOS CONSCIENTES  

 

Aline de Sousa Oliveira¹

 

¹Pós – Graduanda em Especialização Lato - Sensu em Análise do Espaço Geográfico (Com ênfase na continuidade das pesquisas em Educação Ambiental) pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, Estrada do Bem Querer s/n, Km 04, Caixa Postal 95, CEP 45083-900. Departamento de Geografia – DG (77) 3424-8660, Vitória da Conquista – BA, Brasil. Email: linegeografia@yahoo.com.br.

 

Resumo: A Educação Ambiental (EA) é um caminho para que haja o direcionamento da formação cidadã, através do diagnóstico e análise da configuração política, econômica, social e cultural da sociedade. Então, ao compreender o espaço geográfico que está inserido o educando torna-se capaz, por meio do estudo direcionado por educadores ter uma visão mais ampla e questionadora sobre tudo o que envolve a realidade que presencia tanto na escola, como no ambiente familiar e social. As ações conscientizadoras devem ser iniciadas no ambiente escolar, pois é pela educação que os valores humanos são trabalhados em defesa de uma sociedade justa, igualitária e ambientalmente sustentável.

 

Palavras-Chave: Cidadania. Educação Ambiental. Escola.

 

Introdução

 

            A educação como mediadora da formação de cidadãos proporciona um desenvolvimento cognitivo, afetivo e social no direcionamento de acionar mudanças no meio ambiente e na sociedade, mas para isso ocorrer é necessário estimular o surgimento de valores humanos e sociais entre os educandos. Segundo Branco (2003) quando há [...] “o envolvimento de uma população, com vistas à promoção de melhoria ambiental, que reverterá em favor da própria população, encontra entraves sociais e econômicos” (BRANCO, 2003, p.11).

Ao abordar a história das sociedades, os sujeitos históricos, que são os cidadãos contribuem através de ações individuais e coletivas para a formação de um espaço social, uma organização, política, econômica, social e cultural mesmo em detrimento da segregação espacial estipulada pelo capitalismo, tanto no meio rural como urbano. Desse modo o sujeito deve conhecer seus direitos e deveres e questionar sua posição social, a qualidade de vida que é oferecida e o destino da sociedade na qual faz parte.

 

A CONCRETIZAÇÃO DOS VALORES HUMANOS PELA EDUCAÇÃO AMBIENTAL.

 

            A proposta de uma EA num cenário mundial globalizado, tecnológico e consumista deve seguir um caminho de relações que contribuem para o reconhecimento dos valores humanos, étnicos e morais, sendo importante salientar as responsabilidades de cada indivíduo, no contexto individual e coletivo, em sua comunidade, estado, nação e no planeta quanto às questões ambientais e educacionais.

            A EA nesse contexto é a base para o exercício da cidadania mútua, atribuindo aspectos voltados para uma educação crítica aos assuntos das relações sociais, onde o exercício da responsabilidade dos sujeitos, a prática de atividades sociais para uma melhor qualidade de vida e sustentabilidade, a inserção dos atores sociais em órgãos ambientais para intervir e opinar nas relações produtivas do Estado, podendo altera-lás é um meio de atribuir soluções e metas. Para chegar a esses ideais o desenvolvimento sobre esses assuntos e a mudança comportamental precisa ser delineada por uma educação que além de específica deve ser interdisciplinar no ambiente escolar, porque,

 

[...] a escola, por intermédio da cooperação e do favorecimento da construção da autonomia intelectual, poderá construir um sujeito capaz de exercer sua cidadania, pressuposto básico da educação ambiental, a qual deve considerar a formação dessa autonomia como instrumento cognitivo necessário para o desenvolvimento do cidadão. Conceitos abstratos como ética, política pública, sustentabilidade, Estado e democracia são essenciais para entender a educação ambiental em sua complexidade (BAETA & CASTRO, 2002, p. 106).

 

Na formação de cidadãos conscientes a educação direcionada para as questões ambientais deve desenvolver e acionar a politização sobre o que aconteceu no mundo desde a Revolução Industrial, os motivos da empresa neocolonial, as guerras, as explosões nucleares no Japão, os motivos que prevaleceram na década de 60 a 70 que desencadearam os sinais de crise socioambiental, a necessidade de implantar uma Educação Ambiental: com temáticas envolvendo poluição e miséria, subnutrição, ausência de água potável no espaço urbano, falta de saneamento básico, tratamento adequado do lixo, crescimento da violência, diversidades étnicas e culturais nas regiões e a verdadeira relação entre os países desenvolvidos com os países subdesenvolvidos, entre outros fatores.

No paradigma da globalização e de suas especificidades excludentes, Guimarães (2000), exemplifica que,

 

Confirma-se assim na Educação Ambiental, um conhecido lema ecológico, o de “agir localmente e pensar globalmente”. Ressalva-se que este agir e pensar não são separados, mas sim constituem a práxis da Educação Ambiental, que atua consciente da globalidade que existe em cada local e indivíduo. Consciente de que a ação local e/ou individual age sincronicamente no global, superando a separação entre o local e o global, entre o indivíduo e a natureza alcançando uma consciência planetária, que não é apenas compreender, mas também sentir-se e agir integrado a esta relação Ser Humano/Natureza; adquirindo assim, uma cidadania planetária (GUIMARÃES, 2000, p. 80-81).

 

Um cidadão informado e integrado da lógica organicista com consciência crítica pode pelo coletivo direcionar ações de atuação e transformação deste modelo contemporâneo segregador para a construção de uma nova sociedade baseada na ética, igualdade de direitos e deveres com benéfica relação entre o homem e a natureza. Desse modo, convém discutir sobre “essa democracia ecológico-social, em que a “ecologia social relaciona a injustiça social com a injustiça ecológica” (BOFF, 1994, p. 16 apud GUIMARÃES, 2000, p. 83). É importante fazer a diferenciação entre a ecocidadania e a cidadania clássica que envolve o ser social. Loureiro (2002) faz duas ressalvas sobre esses temas:

 

Ecocidadania é um conceito consensualmente utilizado para expressar a inserção de uma nova ética – a ecológica – e seus desdobramentos na vida diária, em um contexto que, de modo crescente, possibilita a tomada de consciência individual e coletiva das responsabilidades, tanto locais e comunitárias quanto globais. Nesse conceito, amplia-se o sentimento de pertencimento à humanidade e a um planeta único, comumente identificado com a noção de cidadania planetária ou cosmopolita [...] a concepção clássica de cidadania é cumulativa e passiva, não atendendo à demanda de inclusão na sociedade global e de construção de uma responsabilidade ativa (LOUREIRO, 2002, p. 29). 

 

A cidadania ecológica e globalizada implica, por isso, a clara noção de direitos, deveres e responsabilidades cívicas (participação qualitativa na definição desses direitos e deveres) na busca de uma sociedade sustentável, o que envolve o plano ideocultural e o político-econômico [...] (LOUREIRO, 2002, p. 30). 

 

Mediante as idéias expostas por Loureiro nas citações acima, ele conclui que a mobilização social em defesa da consciência democrática sobre as questões ambientais abrangindo todas as classes sociais e a totalidade global deve percorrer o seguinte pensamento: “a consciência, para ser ecológica, precisa ser crítica” (LOUREIRO, 2002, p. 32).

            Outro ponto importante na formação de cidadãos defensores de uma EA é a ação da escola através de práticas educacionais coletivas e éticas que devem propiciar a transformação social no ambiente escolar e na comunidade. Para a realização dessas práticas os educandos devem ser estimulados para uma aprendizagem em favor de assumir a ética ambiental e cidadã, expressando os princípios éticos em situações reais, para que eles pratiquem constantemente, identificando e estruturando seus valores, emoções, sentimentos pelo estímulo de reflexões e das vivências na escola, na comunidade e no ambiente familiar.

Nessa perspectiva da formação cidadã mediada pela escola fica explícito que a igualdade ao acesso dos direitos e a liberdade podem ser considerados como um ideal que exige pela ação humana o compromisso de toda a sociedade, partindo do local para o global na construção de uma humanidade igualitária, não excludente, não linear e nem reducionista.

            Na relação ensino e aprendizagem o educador e o educando exercem a cidadania no cumprimento de seus direitos e deveres. Guimarães (2000) ressalta,

 

[...] que a Educação Ambiental é “uma dimensão a ser incorporada ao processo educacional, trazendo toda uma recente discussão sobre as questões ambientais e as conseqüentes transformações de conhecimento, valores e atitudes diante de uma realidade a ser construída” e que “o novo mundo que queremos, equilibrado e justo, requer o engajamento pessoal e coletivo de educadores e educandos no processo de transformações sociais [...] (GUIMARÃES, 2000, p. 64).

 

Dessa forma a participação dos educadores na construção de meios pedagógicos que inserem o educando no desenvolvimento de comportamentos voltados para a cidadania é essencial, contudo, “a educação ambiental é uma prática pedagógica. Essa prática não se realiza sozinha, mas nas relações do ambiente escolar, na interação entre diferentes atores, conduzida por um sujeito, os educadores (GUIMARÃES, 2004, p. 38).

Essa inter-relação propõe pela EA “[...] a transformação da escola, do mundo, da sociedade e de seus indivíduos [...]” (GUIMARÃES, 2004, p. 42), em detrimento de uma sociedade ambientalmente sustentável que por meio de,

 

[...] Um movimento contra-hegemônico é crítica ao paradigma cientificista-mecanicista que informa a sociedade moderna urbano-industrial; crítica ao seu modelo de desenvolvimento, ao seu modo de produção, com suas múltiplas determinações da realidade social, que se concretiza na proposta de uma modernização que é conservadora [...] (GUIMARÃES, 2004, p. 46).

 

Por outro lado, os educadores são convidados a abandonarem a escola informativa e adotar uma escola formativa, pois através do ensino formativo, a “informação e vivência participativa são dois recursos importantes do processo ensino-aprendizagem voltado para o desenvolvimento da cidadania” da “consciência ambiental” (PENTEADO, 2003, p. 52). Para Reigota (2001),

 

Se por um lado temos uma grande variedade de práticas que se autodefinem como sendo “educação ambiental”, mostrando a sua criatividade e importância, por outro lado temos práticas muito simplistas que refletem ingenuidade, oportunismo e confusão teórica, conceitual e política (REIGOTA, 2001, p. 17-18).

 

 

            Ao definir a relação entre o educador e o educando torna-se possível a construção do conhecimento sobre as questões ambientais. Segundo Penteado (2003, p. 52-53) os conteúdos para o ensino das questões ambientais são definidos pela seguinte relação de idéias: os direitos e deveres previstos em lei; que outros direitos e deveres se fazem necessários em situações novas; como novos direitos e deveres são construídos; o que é meio ambiente; como é o meio ambiente imediato (onde vivo); como os elementos do meio ambiente se transformam; como o meio ambiente reage às nossas ações; bem como experiências de participação social que propiciem a vivência de comportamentos individuais e coletivos organizados para conhecer direitos, deveres, interesses, necessidades, ações desenvolvidas e consequências desencadeadas, são componentes necessários deste processo educativo.

            Dessa maneira a direção para o ensino com uma aprendizagem concisa ao destacar o ser humano como agente da construção do espaço geográfico deve ser direcionada pelo método ativo[1] através do papel do educador. Segundo Nidelcoff (1979) o papel do educador é ajudar os educandos a ver, compreender, expressar, descobrir e assumir a realidade que eles vivem.

Esse método apresentado Nidelcoff é essencial para o desenvolvimento crítico do educando e em defesa de um ensino formativo, é o passo para que a armadilha paradigmática da força hegemônica de segmentos sociais dominantes não influenciem no direcionamento da educação de maneira tradicional. Então a ação individual do educador em estabelecer a força de guiar as ações para uma EA produz uma sinergia[2], na perspectiva de formar “dinamizadores de ambientes educativos (e não multiplicadores)” (GUIMARÃES, 2004, p. 134). Então, ao criar possibilidades de conhecimentos o educador estará contribuindo para que ocorra uma superação dos problemas ambientais não apenas por intervenções, mas por conscientização e sensibilização promovendo o sentimento de pertencimento à natureza.  

Diante, do conhecimento dos caminhos para a realização de uma EA o educador precisa se substanciar e analisar a ideologia apresentada por Cavalcanti, pois,

 

[...] no ensino, a construção do conhecimento do aluno é socialmente mediada. Não é uma atividade espontânea do sujeito; ela é, ao contrário, uma atividade consciente e intencionalmente direcionada por outro agente, que é o professor (CAVALCANTI, 2002, p. 32).

 

Segundo Vasconcellos (2007) o educador contribui para a formação do “caráter da personalidade, da consciência, da cidadania do educando”, mas esse trabalho de condução depende daquilo que é de interesse a esse sujeito e quais as suas relações sociais entre família, escola, sociedade e perspectivas éticas e cidadãs. Contudo, o educador independente da realidade escolar onde está inserido a sua posição como mediador permite o despertar para a socialização, a valorização e a transformação de um ambiente escolar e social aberto ao “saber” e a “mudança”.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

A interligação dos assuntos ecológicos, éticos e pedagógicos na formação social da humanidade, onde se encontra, todavia, a figura da escola e dos educadores como mediadores da formação do cidadão, percussores da elaboração de projetos e resoluções de nível pedagógico e científico deve ser estudada compilando a essência do saber, do agir, numa subseqüente diversidade de análises no ensino da EA. Então é conveniente na EA canalizar aquilo se almeja partindo do local para o global, agindo para formar uma rede de conhecimentos para o educando, sobre a sociedade atual, pois a juventude do século XXI é multimídia, em decorrência dos diversos meios de comunicação, ficam cientes de múltiplas posições sobre várias temáticas (Educação Sexual, Educação para o Trânsito e etc.) e a EA também sofre essa conceitualização ecológica, ambiental e muitas vezes não crítica e social.

 

REFERÊNCIAS

 

BRANCO, Sandra. Educação ambiental. Metodologia e prática de ensino. Rio de Janeiro: Dunya, 2003.

 

CAVALCANTI, Lana Souza. Geografia e práticas de ensino. Goiânia: Alternativa, 2002.

 

GUIMARÃES, Mauro. Educação Ambiental: No Consenso um embate? 1ª ed. Campinas, São Paulo: Papirus, 2000. (Coleção Papirus Educação).

 

GUIMARÃES, Mauro. A formação de educadores ambientais. Campinas, São Paulo: Papirus, 2004.

CASTRO, Ronaldo Souza de; BAETA, Anna Maria Bianchini. Autonomia intelectual: condição necessária para o exercício da cidadania. In: LOUREIRO, Carlos Frederico Bernardo; LAYRARGUES, Philippe Pomier; CASTRO, Ronaldo Souza de. (Orgs.). Educação Ambiental: repensando o espaço da cidadania. 2ª Ed. São Paulo: Cortez, 2002.

 

LOUREIRO, Carlos Frederico Bernardo. Teoria Social e questão ambiental: pressupostos para uma práxis crítica em educação ambiental. In: LOUREIRO, Carlos Frederico Bernardo; LAYRARGUES, Philippe Pomier; CASTRO, Ronaldo Souza de (Orgs.). Sociedade e meio ambiente: a educação ambiental em debate. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2002.

 

NIDELCOFF, Maria Tereza. A escola e a compreensão da realidade. São Paulo: Brasiliense, 1979.

 

PENTEADO, Heloisa Dupas. Meio ambiente e formação de professores. 5ª ed. São Paulo: Cortez, 2003. (Coleção Questões da Época, v. 38).

 

REIGOTA, Marcos. O que é educação ambiental. São Paulo: Brasiliense, 2001. (Coleção Primeiros Passos; 292). 3ª reimpressão da 1ª edição de 1994).

 

VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Para onde vai o professor? Resgate do professor como sujeito de transformação. 12ª ed. São Paulo: Libertad, 2007. (Coleção Subsídios Pedagógicos do Libertad, v. 1).


 

[1] Método ativo. Pressupõe que o processo pedagógico seja aberto, democrático e dialógico entre os alunos, entre eles e os professores e a administração da escola, com a comunidade em que vivem e com a sociedade civil em geral. (REIGOTA, 2001, p. 39).

 

[2] Sinergia: É a força resultante de um movimento conjunto que se produz por uma intenção e ação coletiva, concentrada em objetivos comuns e no ritmo de um conjunto orgânico, gerando um fenômeno qualitativamente superior do que se tivesse sido produzido por uma soma de esforços individualizados. (GUIMARÃES, 2004, p. 133).

Ilustrações: Silvana Santos