Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Práticas de Educação Ambiental
10/09/2011 (Nº 37) Prática “Ir à feira, a sustentabilidade nas pequenas coisas”.
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Educação Ambiental em Ação 37

Prática “Ir à feira, a sustentabilidade nas pequenas coisas”.

Valdir Lamim-Guedes¹ & Ana Luiza Oliveira-Vilela²

1. Biólogo e Mestre em Ecologia. E-mail: dirguedes@yahoo.com.br

2. Bióloga e Especialista em Gestão e Análise Ambiental.

Introdução:

Muitas cidades, até mesmo algumas capitais, ainda podem contar com feiras para a comercialização da produção de pequenos agricultores, isto é, espaços para a comercialização direta entre produtores e consumidores, sem o intermédio de Centrais de Abastecimento (CEASA). A maioria destes produtores tem a produção baseada na mão de obra familiar, vendendo o excedente produzido. Esta forma de comercialização de produtos agropecuários é muito importante para a economia local e para a sustentabilidade socioambiental, por contribuir para a geração de renda de agricultores familiares, com a redução dos impactos sobre o meio ambiente.

Ir a feira pode ser uma atividade muito interessante e informativa para os alunos. Vários assuntos podem ser abordados durante uma visita deste tipo, pertencentes a diversas disciplinas, por exemplo, economia, geografia, antropologia e biologia. E o mais importante, tratar as informações de forma contextualizada, abordando como os conteúdos teóricos tem relação com a prática. E ainda possibilitando que os alunos obtenham uma visão sobre vários aspectos comportamentais que são insustentáveis do ponto de vista ambiental e social.

Existem textos e artigos disponíveis na internet sobre as vantagens em se comprar produtos produzidos na região. Esta dinâmica foi baseada no texto “Ir a Feira: a Sustentabilidade nas Pequenas Coisas” de Valdir Lamim-Guedes e Jéssica Brito, publicado no site Ecodebate em 28 janeiro de 2010. O link para esta artigo é: http://www.ecodebate.com.br/2010/01/28/ir-a-feira-a-sustentabilidade-nas-pequenas-coisas-artigo-de-valdir-lamim-guedes-e-jessica-brito/

Objetivo:

Discutir e incentivar o consumo de alimentos localmente produzidos, aumentando a sustentabilidade local e diminuindo os impactos ambientais das grandes monoculturas.

Material necessário:

Caderno e lápis para as anotações. É sugerido o uso de câmeras fotográficas.

Descrição da prática:

A visita pode ser organizada por alguns professores, isto é muito interessante por proporcionar um intercâmbio maior entre diferentes disciplinas, possibilitando um debate mais produtivo sobre os temas abordados, superando a fragmentação do conhecimento. E ainda, permitir uma maior integração da comunidade escolar com a comunidade em que esta inserida, este é um fator essencial para um maior comprometimento das pessoas com a escola e com a educação dos alunos.

Temas

A seguir são apresentados alguns temas que podem ser tratados nesta dinâmica:

Produção agrícola. A diferenciação entre monocultura e policultura. A diversificação na produção de pequenos produtores, que geralmente utilizam mão de obra familiar, atende melhor as nossas necessidades alimentares.

Agrotóxicos. Muitos produtores têm pequenas propriedades com uma produção bastante diversificada e nem sempre usam agrotóxicos. Isto é uma característica positiva, mas nem sempre é a regra, portanto este tipo de afirmação tem que ser realizada com esta ressalva.

Agrobiodiversidade, ou diversidade agrícola, refere-se aos elementos que integram a produção agrícola: os espaços cultivados ou utilizados para criação de animais domésticos, as espécies direta ou indiretamente manejadas, como as cultivadas e seus parentes silvestres, ervas daninhas, parasitas, polinizadores, predadores, entre outros. e a diversidade genética a eles associada (também chamada de diversidade intraespecífica, ou seja, dentro de uma mesma espécie).

A diversidade de espécies numa área manejada pode colaborar para a conservação de um maior número de espécie, visto as interações ecológicas que ocorrem ali, sendo que muitas espécies são polinizadoras ou auxiliam no controle de pragas, portanto contribuindo diretamente para a produção agrícola.

Devido à elevada diversidade genética e ao grande potencial de adaptação o material genético contido na agrobiodiversidade apresenta valor estratégico para suportar alterações ambientais e fornecer variedades com características desejáveis num processo de seleção artificial, ou seja, quando a seleção é realizada pelo homem afim de obter o melhoramento genético e/ou desenvolvimento de novos cultivares, por exemplo, para adaptação às mudanças climáticas.

Transporte. Se a produção comercializada nas feiras é produzida na própria região, existe uma menor necessidade de transporte, isto reduz as emissões de gases poluentes e gases causadores de efeito estufa.

Educação alimentar. A diversidade de produtos: frutas, legumes, grãos e raízes, produtos de origem animal (ovos, frangos, queijo) e quitutes (como doces, biscoitos, roscas e pães), permite conversar com os alunos sobre a composição nutricional dos alimentos, explicando a pirâmide alimentar dentro dos produtos encontrado nas feiras.

Economia. Este tipo de atividade comercial apresenta menor tributação quando a comercialização é feita diretamente entre o produtor e o consumidor, evitando impostos em cascata e atravessadores, isto gera uma renda maior para os produtores rurais, injetando mais dinheiro na economia local.

Emprego. Junto à discussão sobre a agricultura familiar, pode-se apresentar suas vantagens, como maior geração de empregos do que a monocultura. Segundo o censo agropecuário de 2006, realizado pelo IBGE, 16,4 milhões de pessoas estavam trabalhando no campo (18,9% da população ocupada no país), destes 77,0% são de pequenos produtores e seus parentes. Embora a soma de suas áreas represente apenas 30,31% do total, as pequenas propriedades são responsáveis por 84,36% dos empregos deste setor. Mesmo que cada um deles gere poucos postos de trabalho, os pequenos estabelecimentos (área inferior a 200 ha) utilizam 12,6 vezes mais trabalhadores por hectare que os médios (área entre 200 e inferior a 2.000 ha) e 45,6 vezes mais que os grandes estabelecimentos (área superior a 2.000 ha).

Diversidade cultural e cultura popular. Em muitas feiras é possível observar uma grande diversidade cultural, são populações rurais de diferentes origens, como quilombolas, japoneses, descendentes de europeus. Isto permite uma discussão sobre a miscigenação na população brasileira. Além disto, muito da cultura popular pode ser observada, por exemplo, roupas, comportamentos, assim como produtos tracionais. Junto a isto, pode-se propor um debate sobre a homogeneização dos costumes alimentares proporcionada pela globalização e observar produtos locais e/ou tradicionais que fogem desta homogeneização.

Sustentabilidade. Os temas citados anteriormente têm como pano de fundo a temática envolvendo a sustentabilidade. Desta forma, ela é tratada como um tema transversal, o que é muito interessante! Com isto, os alunos estarão tendo contato com esta temática de forma natural e contextualizada.

Antes da visita

Faz parte do planejamento desta atividade a realização de atividades pelos alunos antes da visita. Estas podem ser debates realizados em sala de aula ou a exibição de um documentário, onde serão abordados os assuntos ou conceitos que serão utilizados durante a visita. Outra possibilidade é propor atividades para serem realizadas fora do período escolar, em casa, por exemplo. Neste caso, os alunos podem fazer entrevistas sobre a importância das feiras, procurarem o significado de alguns conceitos relacionados às feiras (economia local e agricultura familiar, por exemplo), ou então, escreverem um texto.

Visita

É interessante que durante a visita os alunos fiquem em grupos pequenos (10 alunos no máximo), evitando assim que alguns alunos permaneçam dispersos durante as atividades. A distribuição dos alunos em grupos é importante para que os alunos interajam com outras pessoas, além do circulo mais próximo de amizades.

É importante que os alunos não interajam apenas entre si e com os professores, estenda as conversas e explicações aos consumidores e vendedores. Isto poderá permitir comentários e opiniões diferentes que contribuam para a dinâmica.

Estimule o uso de câmeras fotográficas, além de ficar como registro desta atividade, posteriormente pode-se fazer um mural na escola com as fotos e serem utilizadas como material didático durante as aulas.

Avaliação

Para a avaliação da atividade, sugerimos a confecção de um relatório pelos alunos, ou outro trabalho em grupo ou individual. Se os alunos já souberem disto antes da visita, eles irão prestar mais atenção para a preparação das atividades exigidas. É importante que a avaliação utilize diferentes estratégias para avaliar os alunos, estimulando assim várias competências e habilidades destes.

Os alunos poderão tomar nota dos preços praticados na feira e comparar com os preços de produtos industrializados vendidos em supermercados. Provavelmente a lista de compras da feira será menor do que a feita no supermercado (comprando produtos industrializados). Além de permitir uma alimentação mais saudável, os alunos poderão observar que existem vantagens econômicas para as suas famílias ao frequentar as feiras, assim como para a sociedade e o meio ambiente, características que foram discutidas durante a visita.

Considerações finais

O estimulo a criação de novas feiras e a manutenção das existentes é uma estratégia para que seja possível um desenvolvimento regional mais sustentável ambientalmente e socialmente mais justo. A divulgação da importância das feiras deve ser também uma estratégia voltada para mudanças de comportamentos, sobretudo na educação infantil e dos jovens, para que seja possível a formação de cidadãos que avaliem racionalmente e com um olhar mais amplo suas escolhas na hora das compras, pois estas podem influenciar a qualidade ambiental e aspectos socais da região onde vivem.

Ilustrações: Silvana Santos