Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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04/06/2011 (Nº 36) A Natureza Sistêmica da Realidade: em busca de uma percepção sustentável para a humanidade
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A Natureza Sistêmica da Realidade: em busca de uma percepção sustentável para a humanidade

A Natureza Sistêmica da Realidade: em busca de uma percepção sustentável para a humanidade

 

 

Eduardo Beltrão de Lucena Córdula

 

 

Especialista em Supervisão Escolar (IESP); Licenciado em Biologia (UFPB); Pesquisador do GEPEC-GEPEC da UFPB/CE; Professor de Educação Básica do Município de Cabedelo-PB. E-mail: ecordula@hotmail.com

 

 

RESUMO

 

O planeta passa por profundas mudanças em virtude das modificações impostas pelo modo de vida da humanidade a ele, o que vem causando sérios desequilíbrios ambientais e que afetam diretamente o ambientes e a sociedade. Os estudos da natureza e da realidade vêm evoluindo ao longo dos séculos, e de visões fragmentadas de análise como a cartesiana, passando pela holonômica, ecológica, holística e culminando na sistêmica, onde o planeta passa a ser visto como um organismo em constante ritmicidade cíclica e com meios próprios de retorno da homeostase. Porém, no cerne destes eventos, que culminam em mudanças em todos os níveis no planeta, estamos nós seres humanos, que precisamos estar sensibilizados para entender e assimilar nosso papel neste sistema, para, definitivamente, conseguirmos continuarmos evoluindo e desenvolvendo nosso modo de vida, porém, sustentável e em equilíbrio com o meio ambiente.

 

Palavras-chave: Meio Ambiente; Ser Humano; Realidade Sistêmica.

 

1. Introdução

 

O todo, o planeta, o meio ambiente, é composto de partes que estão a todo o momento num ritmo de movimento contínuo, se relacionando a tal ponto que se envolvem para forma a realidade como a conhecemos. Neste sentido, estamos conectados e interagindo tanto com o meio, bem como, com os demais organismos a nossa volta, incluindo todos os seres humanos por vivermos em um sistema de sociedade. Mesmo em um simples ato de caminhar contemplativo, nos permite interagir com esta sistêmica global: tendo contato visual com outras pessoas e pelas quais passamos, trocamos olhares, gestos, palavras e, mentalmente, articulamos suposições deste pré-contato (CAPRA, 2006).  Além disto, há uma constante integração com o ambiente do qual precisamos na manutenção da vida (atmosfera, litosfera, hidrosfera). É uma teia interminável de interações bióticas e abióticas, que se repercutem localmente aos fenômenos descritos até um nível sistemático global, em uma teia ecológica que permite e sustenta a vida (CAPRA, 1996).

A todo o momento, portanto, afetamos tudo a nossa volta e somos também, afetados por tudo que nos envolve, seja a intensidade da luz, a temperatura ambiente no momento, um aroma dissolvido no ar, o canto dos pássaros, o incomodar incessante de uma mosca em busca de alimento sobrevoando e pousando sobre alguma parte de nosso corpo, bem como, da mesma forma reagimos e interagirmos, provocando reações motoras, emocionais e fisiológicas de nossa totalidade humana, que se volta para o meio influenciando o que está a nossa volta, em um processo contínuo e retro-alimentável de ação-reação-ação (CAPRA, 2006).

Para Capra (2006), tudo em nosso planeta está interligado em uma projeção sistêmica de interdependência tão tênue, e ao mesmo tempo necessária, que permite o sustentáculo da vida em nosso planeta. Estes sistemas são rítmicos, pois possuem ciclos de funcionamento e ocorrências que permitem sua estabilidade e, mesmo que entrem em desequilíbrio, encontram de alguma forma natural, meios para progressiva homeostase. A ritmicidade está presente em todos os seres vivos e no meio ambiente, sendo que “os modelos rítmicos são, portanto, um fenômeno universal (...)” (CAPRA, 2006, p.294).

 

 

2. Evolução de Pensamentos

 

Neste processo rítmico de mudança, flutuação e desenvolvimento do universo exterior e interior, permitem que percebamos “energias sutis” que descrevem a natureza holonômica da realidade, onde ocorre a existência do “todo na parte e da parte do todo” (CAPRA, 2006, p.297) (Figura 1), que compreende aquilo que conseguimos perceber través de nossos sentidos e interpretações mentais (o universo e o planeta). Porém, para criar uma imagem desta visão, recorremos a modelos, semelhantes a fractais, onde de forma simplória traçamos círculos para designar a ritmicidade cíclica da vida e de suas interações do todo com suas partes e ao mesmo tempo a presença do todo em cada uma das partes (CAPRA, 2006, p.297). A este todo, poderíamos designar a concepção totalitária do meio ambiente, estando presente em cada ecossistema, em cada bioma, em cada hábitat, em cada organismo e em como se relacionam, estão interdependentes e interligados.

Este modelo (Figura 1) permite um fluxo e uma flexibilidade maior de interação e mobilidade do todo e entre as partes, possibilitando, em um eventual desequilíbrio, uma forma do sistema holonômico, encontrar por si próprio, a homeostase. Esta última é possível, devido ao sistema aberto e em constante contato com o meio interno e externo (CAPRA, 2006; CAPRA, 1996). Os círculos também representam a natureza cíclica do planeta – em constante movimento – propiciando a vida: gênese, desenvolvimento, evolução, sobrevivência e extinção ou retorno ao início do processo como protovida (princípio á vida – matéria e energia) (CAPRA, 1996).

 

 

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Figura 1 – Modelo simples da realidade Holonômica, com base no pensamento de Capra (2006).

 

            Para Maturana e Valera (1997), a organização cíclica dos seres vivos é denominada de autopoiese, com vários níveis organizacionais e diferentes ordens hierárquicas. Porém, sua teoria ainda é marcada pela fragmentação cartesiana de estudar e analisar as partes para entender o todo que compõe o organismo ou o ambiente (Figura 2). Os autores consideram os organismos como autopoiéticos moleculares. Porém, há de se considerar que esta teoria abre um novo caminho para o entendimento de nossa espécie, considerando níveis biológicos elementares até processos complexos de cogno-consciência.

 

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Figura 2 – Modelo Cartesiano do todo composto pelas partes, segundo pensamento de Capra (2006).

 

            A Ecologia trouxe ao longo do século XX contribuições fundamentais no entendimento da interligação entre os meios bióticos e abióticos, passando a uma forma linear de entendimento (em cadeia) (Figura 3), para um sistema ramificado em rede (teia), mas ainda fechado, possibilitando o desenvolvimento e manutenção da vida (Figura 4) (CAPRA, 1996).

 

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Figura 3 – Modelo Ecológico em Cadeia, construído com base no pensamento de Capra (1996).

 

 

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Figura 4 – Modelo Ecológico em Teia, construído com base no pensamento de Capra (1996).

 

A ênfase nas partes tem sido chamada de mecanicista, reducionista ou atomística; a ênfase no todo, de holística, organísmica ou ecológica. Na ciência do século XX, a perspectiva holística tornou-se conhecida como “sistêmica”, e a maneira de pensar que ela implica passou a ser conhecida como “pensamento sistêmico” (CAPRA, 1996, p. 33)

 

            O holismo (Figura 5) a princípio, considerava o estudo de todas as partes do meio ambiente, porém, as interconexões entre elas ainda ficavam mascaradas (CAPRA, 1996). Com a evolução gradativa das hipóteses, teorias e pensamentos filosóficos agregados a uma nova concepção da vida planetária, houve uma mudança na forma de observar e analisar os fenômenos naturais a partir das suas partes – pensamento cartesiano, linear e fragmentado – para, posteriormente, uma linha de pensamento do todo e de forma mais complexa (CAPRA, 1996; MATURANA; VARELA, 1997; LOVELOCK, 2006a; CAPRA, 2006).

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Figura 5 – Modelo do holismo, construído com base no pensamento de Capra (2006).

 

            Atualmente, temos a concepção sistêmica (Figura 6) que engloba os pensamentos ecológicos, holonômicos, holismo e autopoiese, para o entendimento do funcionamento do sistema planetário, em como estamos afetando-o e em como ele nos afeta, e quais as causas ambientais que se repercutirão ao longo das décadas (CAPRA, 1996; MATURANA; VARELA, 1997; LOVELOCK, 2006a; CAPRA, 2006).

 

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Figura 6 – Modelo Sistêmico das relações, construído com base no pensamento de Capra (2006).

 

3. Ser Humano Sistêmico

 

Para uma visão mais ampla do mundo em que vivemos, há uma necessidade de rompimento das barreias dos modelos científicos cartesianos e reducionistas, que prendem a mente em processos cognitivos limitados e lineares (CAPRA, 2006). “Em última análise, esses problemas precisam ser vistos, exatamente, como diferentes facetas de uma única crise, que é, em grande medida, uma crise de percepção” (CAPRA, 1996, p.23).

Cada ser humano possui este ritmo vital, uma bioenergia que interage com as pessoas a nossa volta, tanto de forma harmônica como desarmônica. O que não aprendemos ainda é lidar com nosso ritmo, reconhecê-lo, saber sua sintonia e como ele afeta as demais pessoas, de forma neutra, negativa ou positiva. Quando aprendermos a lidar com o ritmo vital, estaremos dando um enorme passo para aprenderemos a tolerar, a respeitar, a mudar – ideal humano (CAPRA, 2006), em um processo de cura da humanidade do ser humano para autopreservação das futuras gerações (BOFF, 1999).

 

Um entrelaçamento semelhante de ritmos parece ser responsável pela vinculação entre os bebês e suas mães e, muito provavelmente, entre as pessoas apaixonadas. Por outro lado a oposição, a antipatia e a desarmonia surgem quando os ritmos de dois indivíduos não estão em sincronia (CAPRA, 2006, p. 296).

 

Esta ritmicidade bioenergética se traduz em um pensamento sistêmico que poucas pessoas no planeta ao longo da história, em comparação com a população de mais de 6 bilhões de seres humanos, conseguiram desenvolver, pois se desapegaram dos problemas diários impostos por este modo de vida neocapitalista que consome a essência humana (VERNIER, 1994). Sendo assim, conseguiram encontrar um meio de interagir de forma salutar com os demais seres vivos e o ambiente à sua volta (BOFF, 1999).

 

O reconhecimento de que é necessária uma profunda mudança de percepção e de pensamento para garantir a nossa sobrevivência ainda não atingiu a maioria dos líderes de nossas corporações, nem os administradores e os professores de nossas grandes universidades (CAPRA, 1996, p. 24).

 

Mas imaginemos se, de fato, houvesse um abandono maciço deste nosso modo de vida. Uma mudança radical destas provocaria um impacto caótico ao sistema sócio-econômico global, desencadeando problemas ainda mais graves do que já temos em nossas cidades. Por esta razão, que, há décadas, se vem tentando sensibilizar os seres humanos e poucos resultados estão sendo alcançados. O que deve haver é uma mudança progressiva mas contínua, da tecnologia em nosso modo de vida, para uma tecnologia sustentável (DIAS, 2002), caso contrário nunca alcançaremos uma modelo de desenvolvimento tão desejado desde a Agenda 21 (DIAS, 2004).

 

A partir do ponto de vista sistêmico, as únicas soluções viáveis são as soluções “sustentáveis”. O conceito de sustentabilidade adquiriu importância-chave no movimento ecológico e é realmente fundamental (CAPRA, 1996, p. 24).

 

Como cidadãos, é nosso dever modificar nossa percepção do mundo, nosso ritmo bioenergético de viver, de ser influenciado por banalidades a que damos tanto valor.  Devemos sim, caminhar para uma cura afetiva de nossa humanidade (BOFF, 1999), e em busca do autorefazimento pessoal que se refletirá em vários níveis de nossa existência – social e ambiental (MATURANA; VARELA, 1997). Com isto, passaremos a ver holisticamente as pessoas, para uma co-existência em uma verdadeira sociedade no sentido epistemológico, integrada ao planeta e a tudo e a todos que nele estão. (CÓRDULA, 2011).

 

Encarar estes problemas como se fossem separados e não-relacionados conduz a soluções de curta duração e pouco alcance, que muito freqüentemente criam mais problemas ambientais de longo alcance, que os que são resolvidos (TANNER, 1978, p.18).

 

Cabe a cada um de nós, portanto, decidirmos o que queremos para o planeta e para nós mesmos, nesta e para as gerações futuras (CAPRA, 1996; TANNER, 1978; DIAS, 2004).

 

 

4. O Futuro da Humanidade

 

Estamos em pleno século XXI, o tão esperado momento da humanidade, vislumbrado, sonhado e até temido por muitos ao longo da história, como o término ou renascimento áureo da nova era. Para alguns houve a decepção, mas para muitos a esperança de um tempo onde as mazelas que afligem o ser humano não mais existiriam, e sim, estaríamos em franco desenvolvimento harmônico, prospero e de plenitude de nossa espécie no planeta (CÓRDULA, 1999).  Utopicamente, uma sociedade sem medo do futuro, mais voltada para o presente e para contemplação da vida em todas as suas formas. Mas pelo contrário, estamos ainda caminhando opostamente a todo este cenário de nirvana social. Temos em verdade, que nos preocuparmos em curarmos a nós mesmos, para entrarmos em equilíbrio sistêmico com a nossa própria espécie, para consequentemente, com o meio ambiente (CÓRDULA, 2009). A humanidade busca incessantemente pela evolução tecnológica ao longo dos séculos, numa competição ilusória de poder e hegemonia que influenciou gerações a finco, e que foram levadas a esquecerem de evoluir espiritualmente e socialmente, nas relações interpessoais, o que garantiria uma humanidade mais humana e sustentável. Lembremos que sempre é tempo e há tempo para mudanças e novos paradigmas para a humanidade (BOFF, 1999).

 

À medida que o século se aproxima do fim, as preocupações com o meio ambiente adquirem suprema importância. Defrontamo-nos com toda uma série de problemas globais que estão danificando a biosfera e a vida humana de uma maneira alarmante, e que pode logo se tornar irreversíveis (CAPRA, 1996, p. 23).

 

O Aquecimento Global é ainda motivo de preocupação para muitos cidadãos conscientes e para a comunidade científica, mas para poucos governantes e detentores capitalistas da economia mundial, que, articulam propostas e metas, mas na prática pouco se tem feito de concreto, rumo à sustentabilidade da humanidade (CAPRA, 2006; CÓRDULA, 2010).

Porém, estudos mostram que não precisamos mais nos preocupar com a Terra em si, já que ela possui seus processos naturais de retornar a homeostase (CAPRA, 2006), pois, o grande paradigma climático, está agora, se revertendo no Resfriamento Global (RIDENOUR, 2002). De alguma forma, Gaia não sucumbe à força impetuosa da humanidade, que é guiada por ações de consumo desenfreado dos seus recursos naturais e que decretam o destino de todos que nela habitam (CAPRA, 2006; LOVELOCK, 2006a). Este planeta, do qual fazemos parte, e corriqueiramente chamamos de nosso, é que nos possui, e não podemos simplesmente lutar contra ele, modificando-o, intoxicando e destruindo a vida que nele brota, evolui e é prospera em todas as suas formas e complexidades sistêmicas de interação (CAPRA, 2006; CÓRDULA, 2010).

 

Quanto mais estudamos os principais problemas de nossa época, mais somos levados a perceber que eles não podem ser entendidos isoladamente. São problemas sistêmicos, o que significa que estão interligados e são interdependentes (CAPRA, 1996, p.23).

           

Para Lovelock (2006a), o planeta Terra não é simplesmente uma massa sólida sobre influencias gravitacionais do sol e do universo, e sim, Gaia, uma entidade de grande complexidade e em constante manutenção do equilíbrio das suas condições superficiais, para propiciar e sustentar a vida.

 

Uma visão da Terra como um sistema auto-regulador constituído da totalidade dos organismos, rochas de superfície, oceano e atmosfera estreitamente unidos como um sistema em evolução (LOVELOCK, 2006a, p. 155).

 

Infelizmente, este processo de auto-refazimento do planeta, em virtude, das reação as mudanças brutais impomos a ele ao longo dos séculos, se refletem em escala global, delineando um novo mapa abiótico (geológico, climático, aquífero, etc.) e biótico (biosfera), como reflexo de seus processos cíclicos em busca da homeostase ecossistêmica (CAPRA, 2006; LOVELOCK, 2006b). No meio deste, estamos nós, e apesar de sermos os organismos adaptáveis, por modificarmos o ambiente ou introduzir artificialmente maneiras de propiciar a nossa sobrevivência, não estamos nos percebendo dentro deste processo (MATURANA; VARELA, 1997) e, consequentemente, as tragédias humanas ocorrem, onde centenas ou milhares de vidas são ceifadas rapidamente, por tsunamis, vulcões, tornados, terremotos, enchentes, nevascas, etc. – e nos sentimos impotentes perante tal processo, mas o que temos que fazer é entender que isto continuará a ocorrer até a completo equilíbrio planetária (DIAS, 2004; CAPRA, 2006). Mas quando estes processos irão diminuir e minimizar seus impactos, isto não sabemos (RIDENOUR, 2002). O que sabemos é por que começaram e em qual momento de nossa história iniciaram, já que, somos protagonistas deste processo que denominamos de crise ecológica (CARSON, 1969; VERNIER, 1994; CAPRA, 2006).

 

Há soluções para os principais problemas de nosso tempo, algumas delas até mesmo simples. Mas requerem uma mudança radical em nossas percepções, no nosso pensamento e nos nossos valores (CAPRA, 1996, p.23)

 

Segundo Tanner (1978, p.19), na busca de soluções para a sobrevivênica do planeta, temos que ter como objetivo, que a “(...) humanidade seja capaz de se manter indefinidamente, num sistema de equilíbrio dinâmico com a Terra e seus recursos”.  Esta busca da humanidade para Boff (1999), é de uma necessidade urgente de uma nova ethos (casa) humana, designando uma nova ética mundial e nas formas de relação interpessoal e intrapessoal com o meio ambiente, sendo o que chama simplificadamente de cuidar.

 

O que se opõe ao descuido e ao descaso é o cuidado. Cuidar é mais que um ato; é uma atitude. Portanto, abrange mais que um momento de atenção, de zelo e de desvelo. Representa uma atitude de ocupação, preocupação, de responsabilização e de envolvimento afetivo com o outro (BOFF,1999 , p. 33).

 

Segundo Capra (1996), para termos um novo paradigma de valores, temos que ter primeiramente, uma mudança na forma de pensamento interativo, que irá alterar a nossa percepção do mundo, possibilitando uma reflexão profunda de nosso modelo de vida sócio-econômico e tecnológico, para que permita que valores como conservação, cooperação, qualidade e parcerias sejam incorporadas verdadeiramente a nossa vida cotidiana (Figura 7).

 

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Figura 7 – Mapa conceitual da dinâmica do pensamento integral (sistêmico) e seus valores, com base no pensamento de Capra (1996)

 

            Este processo de autopoiese que é a busca do auto-refazimento do ser humano como entidade única, singular e social (MATURANA; VARELA, 1997), e ao mesmo tempo intimamente relacionada como parte interativa do meio ambiente, possibilitará uma cura planetária de todos os paradigmas socioambientais (BOFF, 1999).

 

 

5. Conclusão

 

Há uma condição de inatingibilidade das pessoas, ou seja, não estamos sensibilizando-as verdadeiramente para uma mudança de vida, de percepção do mundo a sua volta, e isto, precisa ser incorporado a nossa cidadania e a nossa consciência. Portanto, a forma como se vem tentando sensibilizar a humanidade, para que um futuro próspero e sustentável venha a existir para contemplação e sobrevivência desta geração que aqui está, precisa ser modificado, para em todos os níveis da sociedade e na base da formação humana, resgatar cognitivamente, afetivamente e espiritualmente a humanidade do ser humano.

O tempo não para, e o planeta continua a encontrar meios para superar as mudanças impostas a ele pela humanidade e, como a existência que possibilita a vida é cíclica, rítmica e sistêmica, nossa ótica para garantir um futuro para as próximas gerações, deve estar centradas em nós mesmos.

Nós aprendemos ao longo da vida e precisamos re-aprender a se ver no ambiente em que habitamos. Precisamos também, ao mesmo tempo, entender nossa conexão com ele e com o todo. Necessitamos ter sensibilidade aos paradigmas socioambientais e mudar gradativamente toda a base evolutiva de nossa sociedade técnico-científica, repensando de uma forma sustentável e de ação efetiva, e não utópica, sem deixar que as próximas gerações herdem o que agora, precisa ser mudado.

 

 

REFERÊNCIAS

 

BOFF, L. Saber Cuidar: Ética do humano – compaixão pela terra. 16ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 199p., 1999.

 

CARSON, R. Primavera Silenciosa. 2ª ed. Tradução de Raul de Polillo. São Paulo: Melhoramentos, 304p., 1969.

 

CAPRA, F. A Teia da Vida. Tradução de Newton Roberval Eichemberg. São Paulo: Cultrix, 255p., 1996.

 

______. O Ponto de Mutação. Tradução Álvaro Cabral. São Paulo: Cultrix, 445p., 2006.

 

CÓRDULA, E. B. L. Ou um Novo Mundo?. In: GUERRA, R. A. T. Educação Ambiental: textos de apoio. João Pessoa, PB: Ed. Universitária da UFPB, p.46-47, 1999.

 

______. Novos Rumos da ESA. Revista Eletrônica Educação Ambiental em Ação, n° 29, Ano VIII, Set./Nov. 2009. Disponível em: http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=732&class=04. Acesso em: 24 set. 2009.

 

______. Meio Ambiente, Ser Humano e Aquecimento Global.       Revista Eletrônica Educação Ambiental em Ação, n° 34, Ano IX, 05 dez. 2010. Disponível em: http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=922&class=02. Acesso em 05 dez. 2010b.

 

______. O Futuro da Humanidade. Jornal da Paraíba, Cidades, João Pessoa, PB, 26 jan. 2011, p.05.

 

DIAS, G. F. Iniciação à Temática Ambiental. São Paulo: Gaia, 110p., 2002.

 

DIAS, G. F. Educação Ambiental: princípios e práticas. São Paulo: Gaia, 555p., 2004.

 

LOVELOCK, J. A Vingança de Gaia. Tradução de Ivo Korytowski. Rio de Janeiro: Intrínseca, 159p., 2006a.

 

LOVELOCK, J. Gaia: cura para um planeta doente. Tradução Aleph T. Eichemberg, Newton R. Eichemberg.  São Paulo: Cultrix, 192p., 2006b.

 

MATURANA, H.; VARELA, F. De Máquinas e Seres Vivos: autopoiese – a organização do vivo. 3ª ed. Tradução de Juan Acuña Llorens. Porto Alegre, RS: Artes Médicas, 138p., 1997.

 

RIDENOUR, A. New Research Indicates the Earth May Be Cooling. National Policy Analises, 2002. Disponível em: http://www.nationalcenter.org/NPA388.html. Acesso em: 20 jan. 2011.

 

VERNIER, J. O Meio Ambiente. 2ª ed. Tradução de Maria Appenzeller. Campinas, SP: Papirus, 1994.

 

TANNER, R. T. Educação Ambiental. São Paulo: Summus e EDUSP, 1978.

Ilustrações: Silvana Santos