Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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04/06/2011 (Nº 36) PREOCUPAÇÃO AMBIENTAL: UM ESTUDO EM CURSOS DA UFRRJ NA ÁREA DAS CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
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Preocupação Ambiental: um estudo em cursos das Ciências Humanas e Sociais da UFRRJ

PREOCUPAÇÃO AMBIENTAL: UM ESTUDO EM CURSOS DA UFRRJ NA ÁREA DAS CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS.

Maria da Conceição Gomes Valle¹;Silvestre Prado de Souza Neto²;Luiz Alexandre Valadão de Souza³

 

¹ Mestre em Gestão e Estratégia em Negócios

Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - valle@ufrrj.br

² Doutor em Administração

Universidade de São Paulo - spsneto@ufrrj.br

³ Mestre em Gestão e Estratégia em Negócios

Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – alexandre.valadao@ibest.com.br

 

 

RESUMO

 

O objetivo geral neste estudo é avaliar o nível de preocupação ambiental de estudantes dos cursos de Administração, Ciências Econômicas, Economia Doméstica e História da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Foram articuladas as modalidades de pesquisa: Descritiva, Exploratória e de Campo. O estudo apresenta uma análise quantitativa da percepção dos alunos quanto aos aspectos que envolvem a dimensão ambiental, realizada no primeiro período de 2009. Os dados foram coletados por meio da aplicação de um questionário, sendo a amostra constituída por alunos matriculados nos últimos períodos. A menor pontuação média foi encontrada nas questões que se referem ao empenho de esforço pessoal econômico ou de conforto para a preservação e conservação ambiental, o que indica que os estudantes tendem a não concordar em assumir custos pessoais, seja a nível financeiro ou de conforto individual para preservação do meio ambiente. Como Considerações Finais pode-se citar que os entrevistados apresentaram preocupação ambiental alta e consideram que, para melhorar a formação profissional, deveria ser obrigatória a inclusão de disciplinas de formação nas questões ambientais e preservação do meio ambiente.

 

ABSTRACT

 

The general objective of this study is to assess the level of environmental concern for students of Business, Economics, Home Economics and History of the Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Were articulated arrangements of research: descriptive, exploratory and field one. The study provides a quantitative analysis of students' perceptions regarding the aspects that involve the environmental dimension, held in the first period of 2009. Data were collected by a questionnaire, the sample consisted of students enrolled in last periods. The lowest average score was found in issues that relate to the commitment of staff effort or economic comfort for the environmental preservation and conservation, which indicates that students tend not to agree to take personal cost, either financially or individual comfort to preserve the environment. Final considerations can mention that respondents had high environmental concern and consider that, to improve vocational training should be mandatory to include training courses on environmental issues and environmental conservation.

 

PALAVRAS CHAVE: Meio Ambiente, Formação Acadêmica, Preocupação Ambiental.

 

1. INTRODUÇÃO

           

O crescimento acelerado da população do planeta acelerou também o processo de urbanização, bem como o crescimento da industrialização e provocou mudanças nos padrões de consumo do homem moderno, tornando-se uma ameaça à relação homem/natureza. A constatação de que a humanidade caminhava para o esgotamento ou a inviabilidade de recursos indispensáveis à própria sobrevivência gerou movimentos de defesa do ambiente, que passaram a lutar para diminuir o ritmo de exploração dos recursos naturais.

Nos últimos anos, a preocupação da população com o meio ambiente cresceu consideravelmente até o ponto de que muitas pessoas consideram que a proteção do meio ambiente é um problema urgente e imediato.

Entretanto apesar desta crescente conscientização sobre os problemas do meio ambiente, destaca Garcia (2001) que estudos realizados com estudantes universitários mostram que só uma porcentagem muito reduzida de pessoas afirma realizar condutas respeitosas com a proteção do meio ambiente.

A educação ambiental, um dos pilares do desenvolvimento sustentável, contribui para a compreensão fundamental da relação e interação da humanidade com todo o ambiente e fomenta uma ética ambiental pública a respeito do equilíbrio ecológico e da qualidade de vida (Tauchen e Brandli, 2006).

            Conhecer o grau de preocupação ambiental de universitários pode ser de grande importância tendo-se em conta que no futuro ocuparão cargos importantes no processo de decisão a respeito da gestão ambiental.

Neste contexto que foi proposto este estudo que tem por objetivo identificar o grau de preocupação ambiental de alunos dos cursos das Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). 

 

 

2 . REFERENCIAL TEÓRICO

 

 

2.1. Preocupação Ambiental

 

A preocupação ambiental da população tem sido um tema de constante atualidade, desde que no final dos anos sessenta quando se iniciaram as discussões sobre a degradação ambiental. Após a primeira conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano de 1972 percebeu-se a importância fundamental que o meio ambiente tem para nosso bem-estar e a necessidade de defendê-lo e melhorá-lo.

Os problemas socioambientais, que são antigos, e vem se somando ao longo de décadas ganharam nova perspectiva, gerando uma demanda da sociedade que se traduz em maior pressão pela institucionalização de soluções para estes problemas. (Oliveira, 2008).

Neste sentido, as Instituições de Ensino Superior tem papel fundamental na pesquisa desta temática, além de ser responsável pela formação profissional e humana dos estudantes. Desta forma, o estudo sobre a preocupação ambiental tem grande relevância para o desenvolvimento do papel institucional que a sociedade espera em relação as IES.

Os estudos desenvolvidos para se conhecer a preocupação ambiental dos indivíduos têm sido realizados, através de medidas de atitudes dos sujeitos.

Destaca Garcia (2001) que os estudos que introduziam as dimensões de Conservação e Contaminação do meio ambiente eram os que tinham maior consistência, e os que melhor representavam ou delimitavam o constructo de preocupação ambiental, reconhecendo que era um conceito amplo que incluía aspectos muito diversos.

            A escala de atitude é o método mais utilizado para se medir as atitudes. É composta por um conjunto de afirmações que devem ser respondidas de modo favorável ou desfavorável. Ressalta o autor citado que a escala Likert é uma das mais utilizadas para medir atitudes ambientais. Esta escala se baseia na apresentação aos respondentes de duas ou três alternativas de resposta favoráveis e duas ou três desfavoráveis intercaladas por uma resposta neutra, as quais é acrescentado um valor numérico. A pontuação final da atitude é obtida através da soma das pontuações em cada item.

As atitudes ambientais apresentam como principais características: qualidade direcional, estão orientadas para um objeto ou situação e se relacionam com ele; são valorativas, a relação que estabelece com o objeto ou situação implica em uma valoração afetiva e as atitudes implicam uma predisposição ou tendência para ação.

As atitudes são mais ou menos duradouras, e podem mudar já que estão submetidas a influências de caráter diverso.

             A escala de preocupação ambiental embora seja um instrumento muito utilizado em diferentes países apresenta limitações, pois para muitas pessoas é difícil reconhecer que não se preocupam com a degradação ambiental, uma vez que a preocupação com o meio ambiente é um tema muito atual.

            Para identificar estes efeitos recomendam Aragonés e Américo (1991) ser necessário incluir na relação de afirmações algum item que peça, aos respondentes, que sacrifiquem sua comodidade e bem-estar em favor da proteção do meio ambiente. Então, pode-se verificar se há variação nos níveis de preocupação ambiental.

 

 

2.2. Formação Ambiental no Ensino Superior

 

A dimensão ambiental no ensino superior ainda não é uma realidade em muitas Instituições. Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) – Lei 9.394 de 1996, a educação ambiental não aparece de forma explicita.

            A questão ambiental para Leff (2004) é uma “problemática social que transcende a incumbência das universidades e a refuncionalização da educação superior” para adaptar-se às mudanças globais do nosso tempo. Acrescenta ainda o autor que a formação ambiental discute os métodos tradicionais de ensino, colocando novos desafios à transmissão do saber. Tendo a universidade papel fundamental no processo de transformação do conhecimento e de mudanças sociais.

            Na visão de Tauchen e Brandli (2006) as instituições de ensino superior têm o papel de qualificar e conscientizar os futuros formadores de opinião para que incluam em suas práticas profissionais a preocupação com as questões ambientais. Porém ainda hoje são poucas as práticas observadas.

A formação ambiental destaca Leff (2004) implica em assumir com paixão e compromisso a criação de novos saberes e a recuperar a “função crítica prospectiva e propositiva do conhecimento”.

Compete às instituições de ensino superior a responsabilidade na preparação das novas gerações para um futuro viável.

Na LDB a educação ambiental não é tratada explicitamente. A Lei propõe para Educação Básica o conhecimento “do mundo físico e natural” e a “compreensão do ambiente natural e social, do sistema político”. Para o Ensino Superior pode-se destacar o estímulo ao “conhecimento dos problemas do mundo presente” e uma produção científica sobre “temas e problemas mais relevantes”. Pode-se considerar que a LDB está incluindo a questão ambiental como tema de estudo.

Propõe ainda a LDB que a educação superior promova o “pensamento reflexivo” com isto se incorpora ao ensino uma formação mais completa dos estudantes, que vai além da simples transmissão de conhecimentos. Ao se incentivar este pensamento a Lei está contribuindo com o desenvolvimento da educação ambiental na universidade.

O parecer CNE/CES 776 de 13 de dezembro de 1997 estabelece a Orientação Geral para Diretrizes Curriculares dos Cursos de Graduação. O referido parecer assinala que as diretrizes curriculares são orientações para elaboração dos currículos e fixa princípios para que seja assegurada a flexibilidade e qualidade da educação oferecida aos estudantes. Assinala ainda que as Diretrizes Curriculares devem “Oferecer uma sólida formação básica, preparando o futuro graduado para enfrentar os desafios das rápidas transformações da sociedade, do mercado de trabalho e das condições de exercício profissional” (Brasil, 1997).

Em uma análise das Diretrizes Curriculares dos cursos em estudo pode-se observar que em todas foi destacada a necessidade de uma formação dentro de uma perspectiva de contextualização a realidade social e econômica e uma visão crítica dos fenômenos sociais, econômicos da realidade nacional e internacional, como pode ser observado abaixo.

            A Resolução n° 4, de 13 de julho de 2007, que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Ciências Econômicas, apresenta no Art. 3°, o perfil do formado:

“Capacitação e aptidão para compreender as questões científicas, técnicas, sociais e políticas relacionadas com a economia, revelando assimilação e domínio de novas informações, flexibilidade intelectual e adaptabilidade, bem como sólida consciência social indispensável ao enfrentamento de situações e transformações político-econômicas e sociais, contextualizadas, na sociedade brasileira e no conjunto das funções econômicas mundiais” (Brasil, 2007).

 

As Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Administração, instituídas pela Resolução nº 4, de 13 de julho de 2005, apresenta no Art. 5º, que os cursos deverão contemplar em seus projetos pedagógicos e em sua organização curricular:

“Conteúdos que revelem inter-relações com a realidade nacional e internacional, segundo uma perspectiva histórica e contextualizada de sua aplicabilidade no âmbito das organizações e do meio através da utilização de tecnologias inovadoras e que atendam aos seguintes campos interligados de formação. (Brasil, 2005).

 

As Diretrizes Curriculares do Curso de História propõem como perfil para os formados:

“Estar capacitado ao exercício do trabalho de Historiador, em todas as suas dimensões, o que supõe pleno domínio da natureza do conhecimento histórico e das práticas essenciais de sua produção e difusão. Atendidas estas exigências básicas e conforme as possibilidades, necessidades e interesses das IES, com formação complementar e interdisciplinar” (Brasil, 2002).

 

Pode-se concluir que é atribuição da universidade preparar os estudantes para atuar de modo positivo frente à problemática ambiental e que a universidade tem responsabilidade e papel fundamental no enfrentamento das questões ambientais, pois forma os futuros tomadores de decisões. Portanto o futuro profissional tem necessidade de dominar esses conteúdos, pois as organizações aos poucos estão incorporando a gestão ambiental e a demanda do mercado por profissionais capacitados está crescendo.

Destaca Garcia (2001) que as instituições educativas não são entidades neutras. São Instituições sociais que devem manter-se em contato direto com a realidade social respondendo a suas necessidades, portanto devem comprometer-se com a crise ambiental global que se está vivendo.

Nesse sentido a Agenda 21 aprovada na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992, fez um chamamento a instituições, administrações e governos para que aplicassem estratégias orientadas para o desenvolvimento sustentável em seus respectivos âmbitos de ação.

Destaca Kruglianskas (1993), que cada vez mais o administrador terá que tomar decisões para solucionar problemas ambientais ao invés de gerar impactos adversos ao meio ambiente. Não só o administrador tem que enfrentar questões ambientais, os demais profissionais de um modo geral também, em muitas situações, terão necessidade de tomar decisões que favoreçam a vida no planeta.

 

 

2.3. Dimensão Ambiental nas Organizações

 

Devido ao crescimento da importância das questões ambientais e a necessidade de se obedecer às regulamentações ambientais as empresas não podem mais ignorá-las. Aponta Dias (2006) que as organizações precisam incorporar as questões ambientais em seu planejamento estratégico, pois elas podem interferir nos custos finais dos produtos, destaca ainda que a má gestão ambiental pode afetar a continuidade do processo produtivo.

Segundo Scharf (2004:32), “no futuro bem próximo não haverá espaço para um plano de negócio que não seja sustentável, portanto seus concorrentes chegarão depois e enfrentarão custos maiores de adaptação”. Logo, todos os aspectos relacionados à formação profissional e humana dos universitários ganha relevo nesta perspectiva.

A formação de administradores para Gonçalves-Dias et al (2009), é um dos campos da educação nos quais os desafios de mudanças do comportamento ambiental se apresenta de maneira mais decisiva.

A incorporação da gestão ambiental nas organizações encontra-se, ainda hoje, em fase de implantação e tornou-se um desafio para as empresas, pois há necessidade de se conciliar os resultados de produção com as necessidades ambientais.

Jabbour e Santos (2007) ressaltam “a empresa que objetiva explorar as vantagens de uma gestão ambiental estratégica necessita empreender novas propostas para o desenvolvimento de seus produtos”.

Consideram Ávila e Paiva (2006), que a evolução e difusão de sistemas de gestão ambiental representam uma parte significativa do comprometimento em repensar a gestão da empresa.

As organizações, para Bateman e Snell (2006), Tachizawa (2008) e Dias (2006), devem incorporar a questão ambiental à gestão estratégica, pois concentrar-se na sustentabilidade ambiental possibilita o desenvolvimento de novos produtos, novos mercados, novas parcerias e nova propriedade intelectual que impulsiona o crescimento.

Neste contexto, em que as empresas implementam instrumentos de gestão ambiental a fim de responder com mais eficiência as atuais demandas do mercado, que os graduandos dos cursos da UFRRJ vão atuar e, portanto em sua formação se faz necessário a reflexão sobre a problemática ambiental da atualidade, pois como assinalam Tauchen e Brandli (2006) “ a missão das IES são o ensino e a formação dos tomadores de decisão do futuro”.

 

 

3. METODOLOGIA

 

Este estudo apresenta uma análise quantitativa da percepção dos alunos da UFRRJ quanto aos aspectos que envolvem a preocupação ambiental.

A metodologia utilizada buscou descrever preocupação ambiental dos alunos dos cursos de Graduação em: Administração, Ciências Econômicas, Economia Doméstica e História da UFRRJ. A pesquisa usada foi predominantemente descritiva. Foram articuladas também a Pesquisa Exploratória e a Pesquisa de Campo.

A Pesquisa de Campo foi efetuada através de um questionário aplicado aos alunos dos últimos períodos, dos cursos de Graduação: Administração, Ciências Econômicas, Economia Doméstica, e História, da UFRRJ no Campus Seropédica. Foram entrevistados 160 alunos que corresponde a 65,57% dos alunos matriculados (Tabela 01). O questionário era composto por um levantamento sociodemográfico dos estudantes, seguido de uma Escala de Preocupação Ambiental.

 

Tabela 01 – Percentual de alunos entrevistados distribuídos por Curso. 

 

Matriculados

Entrevistados

% de Entrevistados

Administração

95

59

62,1

Economia Doméstica

49

30

61,22

Ciências Econômicas

75

53

70,66

História

25

18

72

Total

244

160

 

Fonte: Coordenações de Cursos de Graduação da UFRRJ.

 

Na avaliação do grau de preocupação ambiental dos estudantes foi utilizada uma escala de atitudes. Optou-se por usar uma escala que medisse o conceito de conservação e contaminação do meio ambiente e que já tivesse sido validada. O uso de instrumentos de medida validados, para Aragonés e Américo (1991), facilita as comparações entre estudos, ajuda a acumulação de dados empíricos e permite que não ocorra comprometimento da investigação. Por isso a literatura sobre a temática aconselha a opção por uma escala já utilizada.

A Escala de Preocupação Ambiental proposta, composta por dezenove itens, foi adaptada do estudo de Melania Coya García (2001) desenvolvido na Universidade de Santiago de Compostela. As respostas se apresentavam em uma escala, em formato de Escala Likert, de cinco alternativas.

A pesquisa foi realizada no primeiro período de 2009, sendo a amostra constituída por alunos matriculados nos últimos períodos e obtida por oportunidade. Os dados coletados por meio da aplicação do questionário foram tabulados e analisados pelo programa “SPSS for Windows” (Statistical Package for Social Sciences), através da Estatística Descritiva e do teste de Scheffé.

 

 

4. ANÁLISE DOS RESULTADOS

 

Este estudo buscou analisar o grau de preocupação ambiental dos alunos através da pontuação obtida na “Escala de Preocupação Ambiental”. Esta pontuação foi calculada através do somatório global das repostas dos estudantes em cada um dos dezenove itens da escala. Este somatório poderia oscilar entre 19 e 95 pontos, assinalando a variação no grau de preocupação ambiental que possuíam.

Pode-se destacar que os estudantes superaram a pontuação média que se situava em 47,5 (Tabela 01). Este resultado indica um nível de preocupação ambiental alto. Segundo García (2001), este era um resultado esperado já que em outros estudos realizados com estudantes universitários, em que se utilizou a Escala de Preocupação Ambiental, foram obtidos resultados semelhantes. Assinalam Aragonés e Américo (1991) que quanto maior é o nível de educação maior é a preocupação ambiental manifestada pelos indivíduos.

 

Tabela 02 – Pontuação média obtida pelos cursos de graduação quanto à Preocupação Ambiental.

Cursos

Pontuação média

Administração

74,08

Economia Doméstica

75,03

Ciências Econômicas

74,11

História

73,11

Fonte: Dados da Pesquisa de Campo.

 

            O Gráfico 01 apresenta Pontuação média obtida pelos cursos de graduação quanto à Preocupação Ambiental. Pode-se observar que o curso de História apresentou a menor média, apresentando uma diferença de aproximadamente dois pontos, porém pela análise do teste de Scheffé pode-se constatar que a um nível de 0,05 não há diferença significativa entre as médias.

 

 

Gráfico 01: Pontuação média obtida pelos cursos de graduação quanto à Preocupação Ambiental

 

Ao se analisar a faixa etária dos entrevistados verificou-se que a maioria encontrava-se na faixa de 22 a 25 anos.

Aragonés e Américo (1991) afirmam que, na grande maioria das investigações sobre atitudes ambientais, as variáveis idade e nível de escolaridade são as que exercem maior influência. Sendo que os jovens e os indivíduos com maior nível de educação apresentam, em geral, maior preocupação ambiental.

Neste estudo não se pode estabelecer uma correlação entre a idade e a preocupação ambiental, pois enquanto na Economia Doméstica e História à medida que aumentava a idade aumentava a pontuação, no curso de Ciências Econômicas há grande irregularidade na pontuação.  

 

Tabela 03: Distribuição dos entrevistados por idade.

Cursos

18 a 21 anos

22 a 25 anos

26 a 30 anos

31 a 40 anos

Acima de 40 anos

 

N

Pontuação

N

Pontuação

N

Pontuação

N

Pontuação

N

Pontuação

Administração

22

72,81

29

75,1

5

75,6

3

70,33

0

0

Economia Doméstica

0

0

15

73,06

9

76,11

3

79,33

4

77,75

Ciências Econômicas

17

72,58

31

77,83

4

69,25

1

71

0

0

História

8

63,12

8

74,87

3

73,33

0

0

0

0

 

Observa-se no gráfico 02 que não há uma correspondência entre a faixa etária e a preocupação ambiental.

 

 

Gráfico 02: Distribuição dos entrevistados por idade.

 

Na Tabela 03 é apresentada a distribuição dos estudantes quanto ao sexo. Esta é uma variável que exerce influência nos resultados. Verifica-se que em todos os cursos a população feminina apresentou maior preocupação ambiental. Estes resultados são semelhantes a estudos realizados anteriormente. Destaca García (2001) que “numerosos estudos assinalam que a população feminina apresenta uma tendência mais pro ambientalista que a masculina”.

 

Tabela 04: Distribuição da pontuação média, quanto à preocupação ambiental, dos entrevistados por gênero.

 

Cursos

Masculino

Feminino

 

N

Pontuação

N

Pontuação

Administração

24

72,58

35

75,11

Economia Doméstica

3

58,3

27

77

Ciências Econômicas

29

73

24

75

História

7

69,28

11

76,27

Fonte: dados da Pesquisa

 

Verifica-se que no resultado obtido, na análise de dados da escala de Preocupação Ambiental a menor média, entre os entrevistados do sexo feminino, foi 75,84 % em entre a população masculina foi 68,29 %. Este resultado, como demonstrado no Gráfico 03, confirma que as mulheres, neste estudo, apresentam maior preocupação ambiental, independente do curso de graduação.

 

 

Gráfico 03: Distribuição da pontuação média, quanto à preocupação ambiental, dos entrevistados por gênero.

 

Quanto à influência da renda familiar sobre a preocupação ambiental, Aragonés e Américo (1991) destacam que a renda influencia em uma maior preocupação ambiental. Os resultados apresentados na Tabela 04 mostram que a maior concentração de estudantes está na faixa salarial de 1 a 3 salários, porém não há regularidade na pontuação obtida. Não se pode estabelecer uma correlação entre renda familiar e preocupação ambiental.

 

Tabela 04: Distribuição da pontuação média dos estudantes em relação à faixa salarial da família dos alunos.

Cursos

Faixa Salarial

1 a 5

5 a 7

7 a 10

Mais de 10

 

N

Pontuação

N

Pontuação

N

Pontuação

N

Pontuação

Administração

20

74,45

7

85

16

74,31

16

68,66

Economia Doméstica

21

76,28

4

64,75

4

78

1

80

Ciências Econômicas

12

70,91

24

74,7

9

74,22

9

75,44

História

6

73,83

3

69,66

3

77,33

5

73,2

Fonte: dados da Pesquisa

 

A primeira faixa salarial abrange uma distribuição maior que as demais faixas. Isto pode ter exercido alguma influência no resultado quanto à preocupação ambiental dos estudantes.

            Na Tabela 05 são apresentados os resultados obtidos em quatro questões que visam confrontar a disposição em sacrificar sua comodidade e bem-estar em favor da proteção ambiental dos respondentes.

            Verificou-se que estas questões obtiveram as menores médias de toda escala. As médias da questão 1 (Necessitamos de leis severas para proteger o Meio Ambiente, mesmo que isto signifique aumento de preços dos produtos de consumo ou que diminua o número de postos de trabalho em um dado Município.) e da questão 17 (Estaria disposto a gastar mais para consumir produtos que reconhecidamente fazem uso adequado dos recursos naturais.) indicam atitudes menos positivas com o compromisso pessoal de assumir os custos da preservação e conservação do meio ambiente.

            Na questão 14 (Ainda que o transporte público contamine menos, prefiro utilizar carro ou moto particular.) a pontuação indica uma preocupação menor com a questão ambiental, pois muitos alunos não estão dispostos a sacrificar a comodidade do transporte particular, ainda que a contaminação pelo transporte público seja menor.

            Na questão 19 (O governo poderia cobrar uma pequena taxa para financiar projetos de conservação e preservação ambiental.) o resultado demonstra que os respondentes tendem a discordar da necessidade de assumir mais um custo pessoal para contribuir na conservação do meio ambiente.

 

Tabela 05: Pontuação média obtida pelos cursos nas Questões que se referem ao esforço pessoal econômico ou de conforto.

Cursos

Pontuação média por Questão

1

14

17

19

Administração

3,59

2,97

3,92

2,58

Ciências Econômicas

3,0

3,13

3,66

2,55

Economia Doméstica

2,8

3,2

3,97

2,53

História

2,83

3,0

3,0

2,06

Fonte: Dados da Pesquisa

 

Neste gráfico ficou demonstrado que o curso de História apresenta a menor preocupação ambiental dos quatro cursos da UFRRJ, pois apresentou as menores médias. A questão 19 obteve a menor média em todos os cursos. Este resultado indica que os estudantes tendem a não concordar que devam assumir custos pessoais para preservação e conservação do meio ambiente.

           Gráfico 04: Pontuação média obtida pelos cursos nas Questões que se referem ao esforço pessoal econômico ou de conforto.

 

Para finalizar, a análise da Escala de Preocupação Ambiental considerou pertinente estabelecer uma possível relação entre a percepção da necessidade de formação ambiental dos estudantes e sua preocupação ambiental. Para isto se observou os resultados obtidos na Questão 8 “Nas Universidades deveria ser obrigatória a inclusão de disciplinas de formação nas questões ambientais e preservação do meio ambiente”), apresentados na Tabela 06. Observa-se que os valores encontrados são muito superiores à média por questão (2,5) e indicam que os alunos concordam em que deveria ser obrigatória a inclusão de disciplinas de formação nas questões ambientais e preservação do meio ambiente. Verifica-se ainda que o curso de História apresentou, nesta questão, também, a menor média.

 

 

Tabela 06: Distribuição da pontuação média dos estudantes em relação à obrigatoriedade da inclusão de disciplinas de formação ambiental.

 

Cursos

Média na Questão 8

Administração

3,9

Ciências Econômicas

3,89

Economia Doméstica

4,67

História

3,67

Fonte: Dados da Pesquisa

 

O Gráfico 05 demonstra  que os alunos são favoráveis à inclusão de disciplinas que favoreçam uma boa formação ambiental. Embora o curso de História apresente a menor média pela análise, a um nível 0,05, do teste de Scheffé não há diferenças significativas entre essas médias.

Gráfico 05: Distribuição da pontuação média dos estudantes em relação à obrigatoriedade da inclusão de disciplinas de formação ambiental.

 

 

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

           

            A pontuação obtida nas diferentes questões indica que os estudantes apresentam alta preocupação ambiental.

As menores médias foram encontradas nas questões que se referem ao empenho de esforço pessoal econômico ou de conforto para a preservação e conservação ambiental isto indica que os estudantes tendem a não concordar em assumirem custos pessoais, seja a nível financeiro ou de conforto individual para preservação do meio ambiente.

Os alunos consideram que, para melhorar a formação profissional, deveria ser obrigatória a inclusão de disciplinas de formação nas questões ambientais e preservação do meio ambiente.

Neste sentido, este estudo contribui com as atuais reflexões referentes ao desenvolvimento de currículos de cursos de graduação mais adequados as demandas contemporâneas.

Além disso, é válido ressaltar que a UFRRJ vem se empenhando em desenvolver currículos universitários cada vez mais atuais; sendo assim novos estudos que ampliem o número de cursos de graduação estudados se faz necessário.

Em conclusão, são recomendados que estudos no nível de pós-graduação sejam realizados, para determinar a preocupação ambiental dos estudantes e também com a finalidade de mapear o que é oferecido aos mesmos em termos de disciplinas e práticas em sustentabilidade.

 

 

 

 

 

 

 

6. REFERÊNCIAS

 

ARAGONÉS, J. I. e AMÉRIGO, M.. Un estudio empírico sobre las actitudes ambientales. (1991). Revista de Psicología Social, v. VI, n. 2, p. 223-240. Disponível em: http://dialnet.unirioja.es/servlet/fichero_articulo?codigo=111760&orden=0. Acesso em: 03 de abr. 2010.

 

AVILA, G. J.; PAIVA, E. L. (2006). Processos operacionais e resultados de empresas brasileiras após a certificação ambiental ISO 14001. Gestão & Produção,  São Carlos,  v. 13,  n. 3.  

BATEMAN, T. S; SNELL, S. A. (2006). Administração: Novo Cenário Competitivo. Tradução Bazán Tecnologia e Lingüística Ltda. 2. ed. São Paulo: Atlas.

 

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Ilustrações: Silvana Santos