Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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04/06/2011 (Nº 36) A Cooperação Empresa e Organização Não Governamentais e a Preservação do Meio Ambiente: o caso da SOS Mata Atlântica
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A Cooperação Empresa e Organizações Não Governamentais e a Preservação do Meio Ambiente: o caso da SOS Mata Atlântica

A Cooperação Empresa e Organização Não Governamentais e a Preservação do Meio Ambiente: o caso da SOS Mata Atlântica

 

 

Sergio Luiz do Amaral Moretti

Universidade Nove de Julho

Av. Francisco Matarazzo, 612 – 2º andar

11- 3665 9342

moretti@uninove.br

 

Luciana Helena Crnkovic

Universidade Nove de Julho

crnkovic20@yahoo.com.br

 

Patrícia Aparecida dos Santos

 

Resumo

O objetivo deste estudo foi investigar a cooperação entre empresas e Organizações Não Governamentais ─ ONGs ─ que investem na melhoria e manutenção do meio ambiente. Com este propósito o trabalho buscou descrever o perfil dessas empresas e saber se a iniciativa pôde gerar uma melhor imagem delas no mercado. Para atender a este propósito foi realizado um estudo de caso, tendo como foco a SOS Mata Atlântica, uma das mais importantes e atuantes ONGs neste quesito, e também com os atores envolvidos em alguns dos projetos por ela coordenados. Entre as empresas foram selecionadas Bradesco, Universidade Nove de Julho e TAM Linhas Aéreas, e entre os beneficiários foi pesquisada uma escola envolvida com o projeto Mata Atlântica Vai à Escola ─ MAVE. Os resultados do estudo demonstraram que investimentos em causas ambientais podem gerar uma boa imagem para as empresas e que esta opção já se tornou mais comum entre elas. No entanto, para a SOS Mata Atlântica, os relatórios ambientais deveriam ser auditados por companhias independentes para obter maior credibilidade junto a órgãos reguladores e o público em geral.

Palavras-chave: Responsabilidade ambiental. SOS Mata Atlântica. ONGs. Stakeholders.

 

The Companies-NGO Cooperation and the Preservation of the Environment: the case of SOS Mata Atlântica

 

Abstract

The objective of this study was to investigate the cooperation between companies and non-governmental organizations - NGOs which invest in improving and sustaining the environment. The study describes the profile of these companies and wether the initiative can generate better image in the market. To meet this purpose we performed a case study focusing on the SOS Atlantic Forest, one of the most important and active NGOs in this matter and also with the actors involved in some of the projects under its coordination. Among the companies were selected Bradesco, Universidade Nove de Julho and TAM Linhas Aereas and among the beneficiaries was searched a school involved with the project Atlantic Forest goes to School - MAVE. The results showed that investments in environmental causes can generate a good image for business and this option has become more common among the firms. On the other hand a position shown by SOS Mata Atlantica was that environmental reports should be audited by independent companies to gain greater credibility with regulators and the general public.

Key words: Environmental responsibility. SOS Mata Atlântica. NGOs. Stakeholders.

 

JEL Classification: Enviromental and Ecological Economics-Q56/ Social Responsibility-M14

 

1 INTRODUÇÃO

Hoje, praticamente toda a humanidade reconhece a gravidade da crise ambiental que alcançou uma escala mundial, decorrente não de ações irresponsáveis de alguns, mas reflexo do modelo errôneo de desenvolvimento econômico e social (Câmara; Callado; Beltramini, 2008). Nesse contexto, diversas variáveis relacionadas com o comportamento do mercado econômico, globalização, evolução tecnológica, disponibilidade e maior acesso à informação têm afetado o meio ambiente. A sociedade passa por transformações que contribuem para mudanças no comportamento dos consumidores e consequentemente das empresas de diversos segmentos (TEODÓSIO, 2008). As empresas buscam posicionar suas marcas e produtos perante seus públicos, com grandes investimentos em publicidade dos seus projetos sociais e ambientais, além da disponibilização de relatórios, nos quais são demonstrados e declarados seus investimentos e comprometimento com a questão ambiental (BACKER, 2002).

De fato encontramo-nos diante de um dilema: uma parte do produto social deve retornar à natureza, por meio de investimento na manutenção e na preservação do ambiente natural, ou teremos que diminuir significativamente as possibilidades de usar recursos naturais para a produção. Portanto, a busca de um desenvolvimento sustentado abrange muitos fatores, aspectos econômicos, sociais e ambientais cuja harmonização é essencial para o futuro da vida humana no planeta.

Uma convergência de agendas na última década permitiu que essas dimensões fossem incluídas no debate e nas agendas de organismos internacionais, da sociedade civil e da comunidade empresarial. Esta agenda está baseada no triple botton line que procura equilibrar desenvolvimento social, preservação ambiental e lucro nos negócios (MORETTI, 2005). A partir do final da década de 1990, com o agravamento da questão social e o lento progresso das iniciativas ambientais, as propostas começaram a ficar mais abrangentes e incluir combinações de medidas no coração do triple botton line. O envolvimento das empresas tornou-se mais ativo e evidente. Nessa época, o movimento principia sua estruturação no Brasil, com a criação de vários institutos e fundações, como o Instituto Ethos, fundado em 1998.

Buscando ampliar essa integração nas últimas décadas, a sociedade civil tem se organizado por meio de ONGs que se destacam em relação às pressões que exercem sobre as companhias, contribuindo para que estas mudem de postura diante de questões de interesse público, quanto aos impactos sociais e ambientais de suas atividades. As empresas têm respondido a essas pressões, por meio de uma comunicação mais intensa dos seus investimentos socioambientais (MORETTI, 2005; SCHEPERS, 2006; WINSTON, 2002). O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) publicou em 2006 o relatório do estudo A Iniciativa Privada e o Espírito Público que mostrava 69% das empresas nacionais envolvidas com ações sociais junto às suas comunidades de entorno, cerca de 600 mil organizações que aplicaram aproximadamente R$ 5 bilhões em projetos envolvendo principalmente crianças (62%), mas já alcançando idosos e portadores de doenças graves (INSTITUTO DE PESQUISA ECONOMICA APLICADA, 2006).

O problema desta pesquisa se refere à necessidade de verificar a motivação para investir em projetos socioambientais e as consequências desse investimento para parceiros, patrocinadores e beneficiários. Assim, o objetivo desse estudo foi investigar a cooperação entre empresas e Organizações Não Governamentais ─ ONGs ─ que investem na melhoria e manutenção do meio ambiente. Com esse propósito foi realizado um estudo de caso tendo como foco uma ONG que trata da responsabilidade ambiental, neste caso a SOS Mata Atlântica.

O trabalho visa descrever o perfil das empresas que se envolvem e investem em causas ambientais e como essa iniciativa as torna mais competitivas. Buscaram-se elementos para estabelecer uma discussão contemporânea sobre as organizações e suas relações com seus públicos, tanto internos quanto externos. A seção seguinte apresenta o referencial teórico, depois os procedimentos metodológicos, seleção e perfil da amostra. Na sequência, são apresentados os resultados e análises do estudo, as considerações finais e recomendações para futuros trabalhos.

 

2 O TERCEIRO SETOR E AS ONGS

As origens do termo Terceiro Setor – TS ─ tiveram grande influência do pensamento econômico e, até meados da década de 1980 pelo menos, foram dominados pelo jargão dessa disciplina. A divisão aparentemente arbitrária, na verdade, reflete a visão da economia clássica segundo a qual a sociedade se divide em setores, conforme a finalidade econômica. Assim, os agentes sociais seriam de natureza jurídica pública ou privada. Por motivos ideológicos ou de insuficiência teórica, e ou conceitual, não há consenso sobre uma ordem natural nos três setores que são considerados por esta abordagem; a prática, contudo, levou a que o governo fosse colocado em primeiro lugar, e essa é a forma como é tratado atualmente pela maioria dos autores.

Para Fernandes (1995), o Mecenato também poderia ser incluído nesse conjunto de termos, por sua associação com a contribuição generosa realizada voluntariamente por cidadãos às artes e às ciências. Reforçando este aspecto, Alves (2002) desenvolve a perspectiva que as teorias econômicas enfatizam ser o Terceiro Setor cria de uma falha do mercado ou do governo, que não são capazes de suprir as necessidades da sociedade. Há, portanto, uma ausência ou uma insuficiência estrutural que deve ser suprida. Quando a carência ocorre, as pessoas procuram, ou formam organizações não lucrativas que providenciam os serviços e mesmo produtos que o mercado e o governo não conseguem suprir. Entre as teorias ligadas à transformação do Estado, as mais interessantes para este caso são as que procuram ligar o surgimento do Terceiro Setor à falência do Welfare State. A tendência associativa deste setor permite suprir a incapacidade do Estado em cumprir com as obrigações assumidas pela política de bem-estar.

As entidades que englobam o terceiro setor são caracterizadas principalmente por não objetivar o lucro, prestarem serviços de utilidade pública e por se tratar de organizações criadas por iniciativas de pessoas físicas ou jurídicas e financiadas por capital público ou privado. O pressuposto básico de que as organizações do TS preenchem as lacunas deixadas pelo Estado é defendido por diversos autores (BROWN; KALEGAONKAR, 2002; EDWARDS; FOWLER, 2002; LIMA, 2002; LINDENBERG; DOBEL 1999; PORIO, 2009).

Ainda dentro dessa vertente, há aqueles que defendem o surgimento do Terceiro Setor sob a perspectiva das ONGs. Esse campo tem uma linha de desenvolvimento bastante específica graças às peculiaridades que cada país enfrenta em relação às razões de existir um setor não lucrativo e não governamental. No Brasil e na América Latina, essas associações frutificaram na resistência ao autoritarismo, o que as difere de suas congêneres europeias e norte-americanas. Na Ásia, originaram-se das missões religiosas e caritativas.

As ONGs tiveram um papel crucial na afirmação da diversidade e das identidades tolhidas por uma generalização da sociedade civil que não faz justiça aos múltiplos setores que habitam seu interior e que desejam e precisam ser ouvidos. O movimento seria marcado por uma face multifacetada, na qual se misturavam movimentos sociais, políticos, ambientais e de gêneros diversos (LINDENBERG; DOBEL, 1999; MORETTI, 2005; SCHEPERS, 2006; WINSTON, 2002). Sua característica marcante foi o monitoramento das políticas públicas, mantendo estreita cooperação com entidades não governamentais internacionais.

As ONGs ambientalistas começaram a se organizar e realizar eventos paralelos aos encontros oficiais da Organização das Nações Unidas – ONU ─ na década de 1990. De acordo com Furriela (2002), o Banco Mundial chegou a mudar suas políticas e a criar instâncias para tratar de questões ambientais por pressão das ONGs. A Agenda 21, obra oriunda do evento promovido pela ONU no Rio de Janeiro em 1992, conhecido como ECO-92, estabelece, no seu capítulo 27, o fortalecimento do papel das ONGs, como parceiras para um desenvolvimento sustentável; reconhecendo o papel dessas como fundamental na modelagem e implantação da democracia participativa. O poder de influência das ONGs cresceu na medida em que foram se profissionalizando e ocupando mais espaço na mídia.

 

2.1 ONGs Ambientalistas e a Responsabilidade Social das Empresas RSE

Considerando o processo de formação de estratégias socioambientais corporativas quanto às demandas de mercado de regulação e comunicação, Schepers (2006) enfatizou as ONGs como representantes da sociedade civil quando criticam políticas empresariais ou governamentais e a forma de implantação destas. De acordo com o autor, a disponibilização de relatórios sociais e ambientais efetuada nas últimas décadas por multinacionais são respostas que estas dão às pressões exercidas por ONGs, que expõem, para o grande público, situações que comprometem a imagem das empresas, principalmente no que diz respeito a decisões incorretas sobre a questão socioambiental, por afetar comunidades locais, regionais ou internacionais.

O autor destacou o caso da Nike, que envolveu a contratação de mão de obra infantil por um dos seus fornecedores, demonstrando a fragilidade da imagem e reputação de empresas, quando grupos de ONGs divulgam na mídia práticas e condutas de cunho negativo. Diversos autores (LINDENBERG; DOBEL, 1999; SCHEPERS, 2006; WINSTON, 2002) afirmam que há uma pressão para que as companhias divulguem suas ações sociais. De acordo com Calixto (2008), a divulgação de informações socioambientais efetuada por empresas, através dos seus relatórios anuais, representa um dos meios mais utilizados na comunicação entre a empresa e seus stakeholders e também favorece a disponibilização dos efeitos das suas decisões econômicas.

 

2.2 A SOS Mata Atlântica

Em um momento especial para o país, com a eleição de Tancredo Neves pelo Colégio Eleitoral, e o início da Nova República, surgia, em 20 de setembro de 1986, a Fundação SOS Mata Atlântica. Trata-se de uma entidade privada, sem vínculos partidários ou religiosos e sem fins lucrativos (ROCHA; FELDMANN; 2006). O complexo Estuarino Lagunar, de Iguape – Cananeia-Paranaguá ─ foi o local escolhido para a reunião na qual se discutiriam as maneiras e ações mais pertinentes para criar-se um projeto de sustentabilidade que pudesse abranger o país. A intenção era que a democracia se comprometesse com o meio ambiente.

No período de novembro de 1987 a março de 1988, a Fundação SOS Mata Atlântica realizou a maior campanha publicitária em nível nacional sobre conservação do meio ambiente. Nessa oportunidade surgiu a bandeira brasileira perdendo o verde, e uma frase que dizia estão tirando o verde da nossa terra. O objetivo principal da Fundação é defender os 5% restantes da Mata Atlântica e ambientes associados, tais como manguezais e restingas, valorizar a identidade física e cultural das pessoas que habitam essas áreas, além de preservar o patrimônio histórico presentes nessas regiões. Hoje a Fundação possui uma equipe de profissionais que trabalham em projetos que vão desde a criação e implantação de programas ambientais até acompanhamento de desmatamento por meio de imagens de satélites.

Para desenvolver seus projetos e programas de ação, a Fundação conta com o apoio de seus mais de 200 mil filiados, contribuições de simpatizantes, venda de material promocional e trabalho voluntário, além de doações e patrocínios de empresas privadas. A Fundação também possui uma loja virtual, onde se vende produtos ambientalmente corretos, cuja renda contribui para a sustentabilidade financeira da ONG (ROCHA; FELDMANN; 2006).

Atualmente presidida por Roberto Klabin, a Fundação é coordenada por um Conselho Administrativo, formado por 15 pessoas, que traz a experiência profissional de diferentes áreas. É composta por um Conselho Consultivo, um Conselho Colaborador e um Conselho Fiscal, todos constituídos por voluntários de diversos segmentos da sociedade. Além disso, um corpo de profissionais altamente capacitados trabalham em programas de educação ambiental, voluntariado e mobilização, desenvolvendo projetos e ações em diversas áreas, desde o plantio de mudas de espécies nativas até aprimoramento da legislação e políticas ambientais (FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA, 2008).

A Captação de Recursos da Fundação SOS Mata Atlântica busca investimentos da iniciativa privada e de pessoas físicas, tanto para criar novos projetos que focalize a conservação e preservação da Mata Atlântica, quanto para dar andamento e subsídio a projetos já existentes. Em 2008, as atividades desenvolvidas incluíram a implantação do sistema de licenciamento da marca com empresas de produtos e serviços, a operacionalização da campanha de filiação e fidelização de seus filiados, a operacionalização da loja virtual e a manutenção das parcerias já existentes com diferentes organizações (Fundação SOS Mata Atlântica, 2008).

 

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este trabalho adotou o método do estudo de caso para investigar a cooperação entre empresas e Organizações Não Governamentais ─ ONGs ─ que investem na melhoria e manutenção do meio ambiente. Este procedimento se impôs já que os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente evidentes e múltiplas fontes de evidências são usadas. Para Yin (2005, p. 29), “os estudos de caso, da mesma forma que os experimentos, são generalizáveis a proposições teóricas, e não a populações ou universos... seu objetivo é expandir e generalizar teorias”. Um dos propósitos do estudo de caso, segundo Gil (1996), é a exploração de situações da vida real das quais os limites não estão definidos claramente, sendo apropriado em pesquisas exploratórias, tanto de um quanto de múltiplos casos.

A partir das descobertas na revisão da literatura, verificou-se a necessidade de investigar não só a prática da SOS Mata Atlântica diretamente da própria instituição, mas também estender a pesquisa para seus parceiros/patrocinadores e beneficiários, já que são eles que podem fornecer as múltiplas visões necessárias para se compreender a totalidade da questão ambiental.

A investigação desenvolveu-se por meio de questionários baseados em um roteiro customizado para cada um dos três públicos. Com esse procedimento, assegurou-se que cada respondente expusesse sua opinião específica sobre o papel desempenhado no conjunto do estudo.

Os parceiros/patrocinadores investigados foram os responsáveis pelo gerenciamento das ações socioambientais do Playcenter, Bradesco, TAM e Universidade Nove de Julho – Uninove. No caso do Playcenter é o departamento de Marketing. Para o Bradesco, as ações e o acompanhamento da parceria entre a empresa e a fundação partem do departamento de Responsabilidade Socioambiental. Na Universidade Nove de Julho e na TAM o setor responsável por cuidar dessa parceria é o departamento de Relações Institucionais e Comunidade. 

No caso dos beneficiários, os entrevistados foram duas professoras da Escola Estadual Prof. Elói Lacerda, localizada na cidade de Osasco, região metropolitana do Estado de São Paulo, e participante do programa MAVE.

Para o caso da SOS Mata Atlântica o entrevistado foi um dos responsáveis pelo gerenciamento das ações de parcerias; usou-se também o material distribuído pela empresa para se completar as informações.

 

4 PRINCIPAIS RESULTADOS E DISCUSSÃO

Esta seção apresenta os resultados da aplicação dos questionários na ordem em que ocorreram. Ao final será apresentado um quadro resumo das principais descobertas.

 

4.1 A visão dos Parceiros / Patrocinadores

            Dentro desse novo cenário empresarial e de mercado, os empresários passaram a vislumbrar a gestão ambiental não como uma imposição, mas como uma oportunidade de competitividade no mercado. Nas entrevistas com alguns patrocinadores da Fundação SOS Mata Atlântica foi possível perceber que o contato com a Fundação se dava por intermédio de diferentes departamentos que assumiam em cada caso a responsabilidade pela parceria. Pode-se perceber que o relacionamento é determinado pela estratégia e a visão que cada empresa tem da questão ambiental ou mesmo social.

O investimento em questões ambientais está alinhado com a estratégia de competitividade dessas organizações, pois além da parceria com a Fundação SOS Mata Atlântica, elas possuem outros projetos. Elas se mostraram esclarecidas quanto ao conceito de desenvolvimento sustentável, e cada uma com seu ponto de vista tece uma teia simbolizando a amplitude que esse assunto tem para toda a sociedade.

O argumento do triplle botton line foi utilizado em todos os casos para justificar as ações baseadas no tripé desenvolvimento econômico, social e ambiental, mostrando uma visão integrada da questão. A revisão da literatura apontou que, na visão de Schindler e Naigeborin (2004), o protagonismo dos empreendedores sociais é capaz de produzir desenvolvimento sustentado, qualidade de vida e mudanças de paradigmas. São ações sociais que beneficiam comunidades menos privilegiadas, oferecendo oportunidades concretas de transformação de setores tradicionalmente excluídos das principais agendas nacionais. E que a gestão passou a fazer parte dos negócios das organizações sem fins lucrativos, tornando mais efetivas as ações voltadas para garantir sua sustentabilidade. Esta implica a integração dos aspectos financeiros, sociais e ambientais, sendo pré-requisito essencial para a sobrevivência e o sucesso do negócio (MELO NETO; BRENNAND, 2004).

A crença de que investir no meio ambiente pode gerar bons negócios foi convergente em diversos pontos, como o de que o investimento no meio ambiente tem sido positivo para as organizações que participaram da pesquisa. As discordâncias dos respondentes referem-se às justificativas apresentadas, que vão desde investimentos na qualidade de vida dos funcionários em busca de maior motivação até o desenvolvimento de projetos ambientais e sociais, para melhorar a imagem da empresa no mercado.

As empresas veem a promoção da sustentabilidade como forma de manter a competitividade do próprio negócio, ainda mais se tratando de empresas do setor industrial. Dessa forma, essas organizações inserem em suas estratégias o cuidado e respeito pelo meio ambiente, e analisam a divulgação dessas ações não apenas como marketing, mas como forma de mostrar que a empresa cumpre sua parte, incentivando, assim, outras a procederem da mesma maneira. Essa questão mostrou claramente que os praticantes da gestão ambiental são conscientes de sua responsabilidade e do poder de influência em relação aos seus stakeholder.

As razões de essas empresas se tornarem parceiras da Fundação SOS Mata Atlântica foram enfatizadas como a repercussão do apelo da sociedade às questões ambientais no âmbito empresarial. Nesse contexto pode-se observar que as parcerias se estabeleceram como forma de conciliar negócios com preservação ambiental, evitando, ou reduzindo, a degradação da natureza e tornando a contribuição para a preservação da Mata Atlântica, até então sustentada por ações isoladas, num ato permanente. Além disso, o vínculo com uma instituição como a Fundação SOS Mata Atlântica favorece as ações das empresas junto com seus funcionários, parceiros e demais colaboradores, além da garantia de o investimento estar sendo, de fato, realizado em projetos idôneos e que trarão retornos positivos em longo prazo.

No que se refere aos benefícios que a empresa obteve a partir do momento que começou a patrocinar projetos ambientais, nota-se que há diferenças a serem consideradas. O Bradesco e o Playcenter obtiveram benefícios diretos, aliando a comercialização dos produtos que levam a marca da parceria. Mas não somente no aspecto econômico pode-se vislumbrar benefícios. O meio ambiente é diretamente beneficiado com os recursos provenientes da parceria comercial, viabilizando o plantio de mais de 26 milhões de mudas de árvores. O aspecto social é favorecido, com o envolvimento de várias famílias no projeto da SOS Mata Atlântica, e também outros benefícios indiretos como a exposição no mercado.

No caso da Uninove e da TAM os benefícios são intangíveis, mesmo assim percebe-se o reconhecimento sobre a importância da parceria. As pessoas em geral, alunos ou não, se interessam e acham a participação da empresa positiva. A questão sobre o que seria necessário para que mais empresas se voltem para questões socioambientais constatou que o principal fator é a falta de conhecimento sobre como ajudar e participar desses projetos. A este problema adiciona-se a adequação a essa realidade, pois, antes de firmar uma parceria ambiental, é preciso que a empresa faça uma reflexão interna e busque se adequar às questões ambientais, como, por exemplo, minimizar impactos que ela mesma pode causar para posteriormente começar a divulgar, implantar projetos e realizar parceria.

Assim, no que diz respeito ao envolvimento do setor privado com as questões socioambientais, são necessárias ações mais fortes e específicas, como uma fiscalização mais acirrada quando se trata de empresas que degradam o meio ambiente, e maiores recompensas governamentais voltadas à questão do incentivo.

No que tange à forma como o consumidor pode influenciar as empresas para que estas se tornem ambientalmente responsáveis, pode-se identificar que houve um fator comum nas respostas dos entrevistados. Todos defendem a ideia de que a arma do consumidor é seu poder de tomar a decisão de compra ou não. O reconhecimento do forte poder de barganha do consumidor faz com que as empresas trabalhem em prol das questões socioambientais, ajam eticamente e respeitem a natureza. Caso contrário, corre o risco de deixar de vender e, como consequência, irá perder mercado. Foi destacado ainda que as empresas estão perfeitamente conscientes de que o consumidor é a razão de sua existência, portanto, devem se adequar às preferências de seu público.

A pesquisa também buscou levantar a opinião das empresas sobre quais as ações e o que é preciso ser feito para que a sociedade em geral se conscientize e respeite o meio ambiente. Nesta questão houve uma ampla concordância entre os respondentes, no sentido de que a conscientização, a educação e a informação devem ser desenvolvidas desde a infância. Quanto ao funcionamento da parceria com a Fundação SOS Mata Atlântica nos aspectos operacionais, relacionamento e custos, foi constatado que cada empresa tem uma estrutura específica nessa parceria. Se por um lado algumas investem em um único programa, como é o caso da TAM, outras têm uma relação contínua de troca, uma aliança estratégica que faz parte da atividade empresarial, como acontece no Bradesco, no Playcenter e na Uninove, que procuram desenvolver projetos ou produtos que favoreçam os projetos da Fundação e também agreguem valor a empresa.

 

4.2 A visão dos Beneficiários

Nesta seção serão analisadas as entrevistas realizadas em uma das escolas beneficiadas com o programa Mata Atlântica Vai à Escola ─ MAVE. O objetivo do questionário foi analisar como as pessoas envolvidas e afetadas pelos projetos da fundação avaliam a importância de manterem projetos e programas voltados para a valorização e a melhoria da sociedade, em âmbito social ou ambiental. Algumas questões são iguais ao questionário dos parceiros, justamente para que haja um confronto de ideias e com elas se possa formar um quadro comparativo.

Como o sistema atual de produção e consumo em massa, a velocidade para o esgotamento é alta, significando desequilíbrio na lei da oferta e procura. Não se pode esquecer que só se pode discutir qualidade de vida após ter assegurado as condições básicas para a própria vida no planeta. Tudo que colocar em risco a vida no planeta não fará sentido algum para a qualidade de vida, pois a situação óbvia para demanda de qualidade de vida é a própria vida. Assim, analisar a percepção dos beneficiários é fundamental para a percepção dos efeitos dessa parceria entre empresas e ONGs.

No que se refere ao conceito de desenvolvimento sustentável, ambas ressaltam a busca do desenvolvimento econômico com a preservação ambiental. Além disso, a importância dessas parcerias empresas/ONGs foi ressaltada por favorecer o processo de conscientização que se inicia pela criação de projetos/programas entre indústria, comércio e comunidade, visando às melhorias socioambientais numa região de forma conjunta e harmoniosa.

Quanto à opinião das professoras sobre de que maneira o consumidor pode influenciar as empresas para que estas se tornem ambientalmente responsáveis, observou-se, mais uma vez, a importância do consumidor nesse processo. As professoras responsabilizam os consumidores pela aquisição de produtos biodegradáveis e a preocupação com as informações provenientes deles, além da necessidade de tomarem conhecimento, acompanhar os projetos das empresas quanto ao desenvolvimento de práticas que não esgotem os recursos para o futuro.

Nesse contexto o processo de conscientização dos clientes é fundamental e complementa a questão anterior. Reconhece-se que a questão toda parte de um processo de educação e consciência, buscando um equilíbrio entre a satisfação pessoal e a sustentabilidade. Ressaltam, ainda, que as ações devem ser praticadas no dia a dia, causando impacto na compra de produtos, fazendo com que as empresas se empenhem em melhorar o seu produto, para não causarem danos à natureza, contribuindo para a melhoria da economia e da vida no planeta.

O projeto colaborou com os professores para o desenvolvimento de atividades e ações em prol da conservação do ambiente e do bioma Mata Atlântica, multiplicando conhecimentos e incentivando alunos à reflexão e à adoção de novas práticas ambientais, principalmente na conservação e na valorização da escola, além de fornecer material educativo de excelente conteúdo, capacitação dos professores e a participação dos alunos em eventos, como o projeto Viva à Mata.

No que se refere à importância da SOS Mata Atlântica para a sociedade, nota-se que as entrevistadas reconhecem seu papel relevante para a sociedade, pois se preocupam com o ser humano e a natureza. Sua luta é de conscientizar, alertar, informar, educar, mobilizar e capacitar a comunidade para exercerem a cidadania para a melhor qualidade de vida e a preservação de nossas matas.

Na questão sobre por que as empresas deveriam patrocinar projetos e ações vinculados a Fundação SOS Mata Atlântica, destacam-se o caráter sério, a idoneidade e preocupação com o futuro. Quanto ao trabalho realizado pelas empresas e a importância do mesmo na promoção da sustentabilidade, as professoras falam da necessidade de assumir a responsabilidade social como forma de equilíbrio entre tecnologia e meio ambiente, além de adotar as melhores práticas para tornar mais sustentáveis seus processos produtivos.

A avaliação dessas profissionais sobre sua participação no projeto desenvolvido por uma ONG foi, de fato, enriquecedora, elas o qualificam como muito importante como professora e cidadã, pois conscientiza, educa e ensina a educar sobre as formas de como contribuir com a sociedade e o meio ambiente para termos uma melhor qualidade de vida. Além da entrevista com as professoras, foi realizada uma conversa aberta com os alunos estudantes da 8ª série do Ensino Fundamental na Escola Estadual, participantes do projeto Mata Atlântica Vai à Escola, com o objetivo de conhecer suas opiniões e considerações sobre o programa.

Ao analisar as respostas, foi possível constatar que o projeto contribui diretamente para a aprendizagem e conscientização dos alunos, não apenas na escola, mas na comunidade à que pertencem, e do papel de cidadão que devem exercer em sociedade. Alguns participam do projeto há três anos e sentem-se integrados a ele. Isso pode ser observado em atitudes simples, como reciclar matérias, evitar jogar lixo no chão, ler mais sobre o tema, além de conscientizar familiares, amigos e vizinhos com cartazes e ações nos bairros. Os alunos acreditam que essas atitudes estão incorporadas ao seu cotidiano e futuramente essas ações poderão trazer bons resultados.

 

4.3 A visão da Fundação SOS Mata Atlântica

Os objetivos da Fundação SOS Mata Atlântica podem ser resumidos pela missão da instituição:

 

promover a conservação da diversidade biológica e cultural, estimulando as ações para o desenvolvimento sustentável do Bioma Mata Atlântica e ecossistemas sob sua influência, e promover a educação e o conhecimento sobre a Mata Atlântica por meio da mobilização, capacitação e estímulo ao exercício da cidadania socioambiental. (FUNDAÇÂO MATA ATLANTICA, 2008, p. 3).

 

Quanto ao conceito de desenvolvimento sustentável, procura-se identificar a descrição de sustentabilidade no ponto de vista da fundação, que pode ser descrita como o desenvolvimento que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de atendê-las no futuro. Assim, enfocando a gestão ambiental, buscou-se entender o ponto de vista da fundação no que se refere à importância das empresas no patrocínio e na colaboração com as causas ambientais. Observou-se que a participação da iniciativa privada é fundamental. Atualmente, a causa ambiental ou marketing ambiental são temas recorrentes, e muito se deve pela insistência das empresas em mostrar seus projetos e trabalhos, porém ainda é preciso que as empresas (não todas) tenham a questão ambiental incorporada nos negócios e na cultura da empresa, e o marketing e a boa imagem da empresa será uma consequência natural.

Ainda enfatizando a gestão ambiental, a Fundação descreve que existem basicamente três perfis de empresas:

 

1.     As que querem fazer marketing, que são as que investem durante um período, fazem uma campanha de marketing e depois param. A SOS não condena esse tipo de empresa, pois é com esse primeiro contato, voltado à área de marketing, que muitas empresas percebem que este é o caminho correto. Algumas que inicialmente queriam apenas fazer propaganda acabam aderindo à causa e se comprometendo efetivamente com as questões ambientais; O que a fundação condena e se recusa a fazer são as parcerias com empresas que poluem, fazem um estrago enorme no meio ambiente e depois querem fazer uma campanha para mostrar que são ambientalmente responsáveis, criando a falsa imagem de empresa idônea.

2.     As que têm que fazer compensação ambiental. Naturalmente elas têm a obrigação de realizar algum projeto ambiental, como reflorestamento, por exemplo;

3.     As que acreditam na causa e na importância do meio ambiente para seus negócios. Que tem o compromisso e se esforça para que as práticas e boas atitudes ambientais estejam alinhadas aos seus negócios e com isso acabam com uma boa imagem perante o consumidor;

 

Referente ao que falta e o que pode ser feito para que mais empresas se engajem nas questões socioambientais, percebe-se que a falta de profissionais qualificados e com conhecimento sobre meio ambiente influencia nesse tipo de investimento. Profissionais de diferentes áreas devem ter visão ambiental, isso vale para qualquer curso, administração, comércio exterior, pedagogia etc. O profissional, independentemente de sua área de atuação, pode contribuir com o meio ambiente e a sustentabilidade da empresa, bastando para isso ter o conhecimento necessário.

Quanto ao fato do investimento no meio ambiente gerar bons negócios, pode-se constatar que, na visão da Fundação, a empresa que souber utilizar melhor os recursos naturais terá uma boa imagem com o consumidor e a redução de custos com energia, água, resíduos e consequentemente economia de capital, além de garantir melhor qualidade de sua produção, pois, oferecendo melhor qualidade de vida aos funcionários, poderá obter ganhos com melhor rendimento do trabalho e menos gastos com saúde.

Para a SOS Mata Atlântica, o consumidor é fundamental na conscientização ambiental. Afinal, ele é a razão de a empresa existir. Se o cidadão decide não comprar de uma empresa porque usa mão de obra escrava ela pode vir a falir, então terá que se adaptar e mudar a conduta. O mesmo vale para meio ambiente, fato que está ficando cada vez mais claro para o consumidor que cada vez mais tem o poder de mudar as atitudes da empresa.

Quando se trata de gerar a conscientização da sociedade para com o meio ambiente, a Fundação acredita que as pessoas precisam ser sensibilizadas para depois tomarem consciência dessa necessidade. Toda mudança é um processo, e cada um tem seu tempo. Este processo envolve muitas coisas, muitos temas, e é difícil para as pessoas, especialmente para os adultos, mudar seus hábitos de maneira rápida. É muito importante investir na educação das crianças, pois elas sim têm o poder de mudar os adultos.

No que se refere às oportunidades de longo prazo para a SOS Mata Atlântica, em relação ao meio ambiente em âmbito geral, constatou-se que a área ambiental está em franca ascensão, tanto para as empresas quanto para o terceiro setor. A ampla discussão do tema, o aumento das informações, a formação de novos profissionais, tudo isso em conjunto com ações de ONGs comprometidas e conscientes será o diferencial que trará a credibilidade e qualidade dos serviços oferecidos.

Beneficiários dos projetos conduzidos pela Fundação SOS Mata Atlântica são unânimes em relação ao envolvimento de atores e agentes: todos devem se envolver, população, governos, empresas, outras ONGs. Em alguns casos o vínculo deixou de ser exclusivamente de patrocínio e por essa razão a SOS Mata Atlântica consegue levar a questão ambiental mais fortemente para dentro da organização.

Ao buscar identificar as dificuldades que a Fundação enfrenta para conquistar parceiros/patrocinadores para manutenção de seus programas ou desenvolvimentos de seus projetos, percebe-se sua posição privilegiada, pois é muito procurada pelas empresas, em virtude de sua marca forte, além de ser respeitada pelos projetos que desenvolve. Contudo, ainda assim encontra dificuldades, pois a maior parte dessas empresas cria uma expectativa em relação ao que querem investir e o retorno que vão obter. A SOS tem critérios para estabelecer parcerias e oferece para as empresas contrapartidas de acordo com o investimento realizado, mas na maioria das vezes as empresas querem receber mais e dar menos.

O Quadro 1 apresenta um resumo do levantamento realizado e exposto acima.

 

 

 

Parceiros /Patrocinadores

Beneficiários

SOS Mata Atlântica

Responsável pela parceria

Departamentos de Marketing, Responsabilidade socioambiental;

Rel. Institucionais e Comunidade

Escolas

População

Comunidades

Empresas

Governo

População em geral

Outras ONGs

Conceito de desenvolvimento sustentável

Relações humanas na utilização dos recursos naturais; Pensar o ambiente e

Relações com os stakeholders.

Busca do desenvolvimento econômico com  preservação ambiental.

O desenvolvimento que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de atendê-las no futuro.

 

Por que as empresas devem investir no meio ambiente?

Retorno positivo para a imagem da empresa, a sociedade e o meio ambiente.

Promover a responsabilidade social e o equilíbrio entre meio ambiente e tecnologia

Por ser uma empresa consciente;

Para fazer compensação ambiental;

Para divulgar a imagem da empresa de forma positiva.

Por que investir na SOS?

Empresa idônea;

Forma de conciliar negócios e meio ambiente.

Caráter sério;

Idoneidade;

Preocupação com o futuro.

Consciência ambiental;

Melhores resultados a sociedade;

Consequente melhora na imagem da empresa.

Benefícios obtidos

Venda de produtos vinculados à imagem da ONG;

Melhora na imagem da empresa no mercado.

Desenvolvimento de ações locais de conservação do ambiente e do bioma;

Conscientização dos alunos e comunidade.

Promover a conservação da diversidade biológica e cultural do Bioma Mata Atlântica; promover o conhecimento sobre a Mata Atlântica; mobilizar, capacitar e estimular a cidadania socioambiental.

Por que outras empresas não investem

Falta de conhecimento;

Falta de maturidade e adequação ambiental

Falta de consciência.

Falta de profissionais com visão e com conhecimento de questões ambientais.

Papel do Consumidor

O elo principal da cadeia;

Capaz de determinar onde e como as empresas investem.

Buscar informações;

Acompanhar projetos;

Reciclar;

Compras conscientes.

Fundamental na conscientização ambiental por ter o poder de comprar ou não nas mãos.

Como conscientizar pessoas sobre o meio ambiente?

Conscientização, a educação e a informação desde a infância.

Projetos, programas educacionais e sociais, integrando empresas e comunidade;

Primeiro sensibilizar;

Depois conscientizar;

Desenvolver projetos.

Quadro 1: Resumo dos resultados das categorias analisadas

Fonte: Elaborado pelos autores

 

 

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

o objetivo desse estudo foi investigar a cooperação entre empresas e Organizações Não Governamentais ─ ONGs ─ que investem na melhoria e manutenção do meio ambiente. Pode-se concluir, com base na revisão da literatura e nos resultados encontrados na pesquisa de campo que, no modelo de desenvolvimento predominante e nas mais variadas instâncias da sociedade, ainda aparece bastante arraigada a racionalidade econômica tradicional. Este tem sido um forte obstáculo para um progresso mais acelerado de medidas apropriadas, pois é incongruente com a proposta de sustentabilidade ambiental. A questão urgente que se coloca é como superar este impasse. Os resultados reforçaram que são vários e diversos os caminhos possíveis, que eles estão entrelaçados compondo um cenário complexo para a questão ambiental. Talvez um dos passos fundamentais seja a mudança de racionalidade econômica para uma racionalidade ambiental (LAYRARGUES, 2002; LEFF, 2006).

Assim, dentro deste novo cenário empresarial e de mercado, os empresários passaram a considerar a gestão ambiental não mais como uma imposição, mas sim como uma oportunidade, uma ferramenta de competitividade no mercado globalizado. Neste contexto, surgiu o chamado marketing verde, produtos e serviços direcionados a um segmento específico que valoriza e consome produtos ecologicamente corretos, ou ainda empresas prestadoras de serviços que fazem parcerias com ONGs reconhecidamente competentes, como forma de associar sua imagem a projetos ambientais, melhorando sua competitividade e contribuindo para uma ação socioeconômica e ambiental, mais ampla e consciente.

A utilização das parcerias empresas/ONGs como ferramenta de competitividade induz a sociedade à pratica do consumo responsável. Auxilia a sensação de que a população faz parte do ecossistema e que possui grande poder de interferência positiva e/ou negativa. Uma percepção mais apurada do consumidor, traduzida em atitude crítica no momento da compra, muito contribuirá para acelerar investimentos em tecnologias limpas, produtos e posicionamentos ecologicamente corretos e responsáveis. Tal mudança poderá permitir os ajustes necessários para a conquista e manutenção de melhores índices de qualidade de vida, baseado na sustentabilidade dos sistemas natural e econômico. Caso as parcerias empresas/ONGs forem encaradas como uma iniciativa voltada à competitividade, seus resultados podem se tornar o diferencial da empresa no mercado e contribuir para a longevidade de sua existência. As mudanças naturais são lentas, mas as alterações ambientais provocadas pelo homem são violentas e suas consequências, imprevisíveis. Desenvolver a economia ambientalmente sustentável requer parcerias entre profissionais de áreas interdisciplinares e entre empresas e ONGs.

Adotar essas parcerias mostra-se como um processo de articulação das ações dos diferentes agentes e atores sociais que interagem em um determinado espaço. Sua ação visa garantir a adequação dos meios de exploração dos recursos naturais, com base em princípios e diretrizes previamente definidos. Isto torna a parceria empresa/ONG uma atividade política voltada à formulação de princípios e diretrizes, à estruturação de sistemas gerenciais e à tomada de decisões que têm por objetivo promover de forma coordenada o inventário, controle, proteção e conservação do ambiente, visando atingir o objetivo estratégico do desenvolvimento sustentável.

É importante ressaltar que a SOS Mata Atlântica exerce um papel muito relevante no desenvolvimento das dimensões sustentáveis dos empreendimentos analisados, por meio de sua parceria com as empresas estudadas pode-se observar a preocupação e a necessidade de se constituir redes sustentáveis no estímulo em busca deste novo paradigma do desenvolvimento para o Brasil. Este trabalho pode desdobrar-se ainda em sugestões para outras pesquisas: propõe-se estudo semelhante relacionado a empreendimentos sociais de outros Estados e regiões. Outras parcerias visando setores diferentes, como o de descarte de resíduos tóxicos, podem ser investigadas para criar um banco de dados que permita evoluir este campo de pesquisa.

As implicações gerenciais deste estudo são que seus resultados mostram aspectos positivos das parcerias entre empresas e ONGs especializadas nas ações que aquelas pretendem desenvolver. Tal relacionamento agrega conhecimento a todos os envolvidos. O estudo apresentou experiências de diferentes setores, em áreas distintas, com o intuito de contribuir para a difusão de programas que contribuam para uma maior conscientização do engajamento de todos para a preservação do meio ambiente.

 

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Ilustrações: Silvana Santos